Com
a publicação, incompleta, iniciada em português há um quarto de
século, o primeiro ciclo das Fábulas
da Terras Perdidas
está agora finalmente disponível na nossa língua. E numa edição
integral da Arte de Autor, com os quatro tomos do primeiro ciclo e um
belo caderno de extras, com uma dimensão que raramente temos visto
por cá.
Barcelona,
últimos estertores do século XIX. Vidal, Balaguer i Carbonell,
considerado pelos seus pares um dos prodígios do modernismo catalão,
está cada vez mais introvertido e irascível. Suspenso
o mecenato do pai, que sempre o apoiou, recusa separar-se dos seus
quadros, perdendo vendas avultadas e a possibilidade de pagar as
muitas dívidas e endireitar a sua vida. O
início desta espiral descendente coincidiu com a desaparecimento de
Mar Noguera Monzó, sua musa e amante, após a pintura de um belo
retrato dela.
Não
é a primeira vez que a banda desenhada adapta O
Inferno de Dante,
incluindo uma versão Disney de texto integral, mas possivelmente o
horror e a grandiosidade daquele local de castigo eterno, capaz de
provocar temores no mais corajoso e íntegro, nunca foram retratados
de uma forma tão magnífica e espectacular como nesta versão dos
irmãos Paul e Gaëtan Brizzi, que A Seita e a Arte de Autor
disponibilizaram em português desde a passagem do primeiro pela edição deste ano do Maia BD.
Em
tempo de Jogos Olímpicos - ainda que tenham terminado ontem - nada mais natural do que um álbum que, de
alguma forma versa o tema, mais exactamente a mais estranha das
maratonas, a que foi corrida em Saint-Louis,
Estados Unidos, em 1904.
Marinheiro,
contrabandista, espírito livre Jon Rohner, é tanto um émulo
distante de Corto Maltese, quanto um aventureiro inspirado na
literatura de aventuras de autores como Jack London ou Robert Louis
Stevenson. Aliás, a proximidade deste último é bem maior, como
comprova a leitura do volume integral Jon
Rohner,
que a Arte de Autor acaba de editar.
Esta
história tem por cenário o Beco do Bebé com Bigode. A artéria não
se chama assim, claro, mas quase todos esqueceram o barão que lhe
deu nome, quando um vândalo de trazer por casa decidiu pintar um
farfalhudo bigode no bebé da publicidade a um sabonete, que decora o
muro no fundo da rua.
Com
a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril ainda como pano de fundo,
permanece a necessidade de lembrar o que a revolução quis mudar e
fazer e não deixa de ser uma coincidência agradável a publicação
recente
deste livro, Jonas
Fink: Inimigo do povo,
cuja acção decorre numa ditadura de outro tom, a Checoslováquia
"vermelha" do bloco soviético da década de 1950, mas em
que os métodos repressivos e os efeitos que provocavam eram
indiscutivelmente similares.
Como
um vício - que no entanto faz cada vez menos efeito, mas ainda sem
ter chegado ao ponto de o largar - continuo a ser atraído por
Hermann - pela sua obra… - álbum após álbum, meio ano após meio
ano…
Há
quem defenda que só existe um punhado de histórias para contar e o
que varia são as épocas, os locais e as roupagens com que são
vestidas as personagens que as vão interpretar. E acima de tudo, a
forma como são (re)contadas. Por
essa ordem de ideias, Noir
Burlesco é
(mais) uma variação de uma temática tantas vezes abordada, aquela
que tem por base o eterno triângulo amoroso.
Em
Portugal, Jean-Marc Rochette é conhecido como autor do volume I
e do volume IIde
O
Expresso do Amanhã
(Levoir, 2020), a banda desenhada que esteve na origem da série
homónima da Netflix, uma história de sobrevivência de uns quantos
eleitos ou privilegiados, transformada em luta de classes no interior
de um extenso comboio, que circula a grande velocidade, numa viagem
interminável pela superfície coberta de neve do planeta Terra. Revelado
na época áurea da mítica revista (À
Suivre),
Rochette tem agora editado, pela Arte de Autor, O
Lobo
que, curiosamente, é também uma história de sobrevivência, de
novo numa paisagem regularmente coberta de neve, os Alpes franceses.