Seguir o fio da meada
Sherlock
Holmes, o detetive criado por sir Arthur Conan Doyle, que se estreou
em 1887 em Um
estudo em vermelho,
notabilizou-se pela sua capacidade dedutiva, obtendo sucesso nas suas
investigações graças à cuidada interpretação de factos e
provas.
Alvo
de inúmeras adaptações e versões, tem uma das mais interessantes
e desafiadoras em Na
cabeça de Sherlock Holmes - O Caso do Bilhete Escandaloso,
que em Portugal teve recentemente edição integral pela Arte de
Autor e A Seita.
A proposta dos autores, Cyril Lieron e Benoit Daham, é genial e, a um tempo, simples e complexa. A base do relato é levar os leitores a entrarem, literalmente, na cabeça do investigador, transformada num local em que existe uma biblioteca, um laboratório e outros espaços onde o detetive vai procurar e/ou analisar os indícios. Para além de poderem penetrar na cabeça de Holmes, os leitores podem também acompanhar o seu raciocínio e a forma como a investigação é feita, seguindo, ao longo das páginas, o 'fio da meada', um cordel vermelho que figurada mas graficamente vai passando de página para página acompanhando os raciocínios e as descobertas do detetive.
A narrativa apresenta igualmente aquilo que se poderá designar como "efeitos especiais", obtidos através de alguns artifícios, como, desde logo, a silhueta de Holmes recortada na capa para se poder espreitar para a sua mente, as sugestões de dobra ou sobreposição de algumas páginas para completar imagens obter efeitos diferentes ou a observação de pormenores à transparência, que os tornam reveladores.
Graficamente, as páginas apresentam uma grande complexidade em termos de construção, obrigando o leitor a ter atenção permanente para captar tudo, mas uma vez percebida a estrutura, a leitura revela-se bastante acessível, para o que contribui o traço semi-caricatural e extremamente expressivo empregue por Benoit Daham.
Na origem de O Caso do Bilhete Escandaloso, que poderia perfeitamente ter sido escrito por Conan Doyle, está o desaparecimento de algumas pessoas após assistirem a um determinado espectáculo de magia, o que levará Holmes e Watson - e com eles os leitores - a mergulharem numa investigação intrincada e intensa que, no final, revelará motivações bastante complexas.
Na
cabeça de Sherlock Holmes
- O Caso do Bilhete Escandaloso
Cyril
Lieron (argumento)
Benoit
Daham
(desenho)
Arte
de Autor e A Seita
Portugal,
Outubro de 2024
245
x 320 mm, 104
p., cor,
capa dura
29,00
€
(versão revista do texto publicado na edição online do Jornal de Notícias a 29 de Novembro de 2024 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Arte de Autor e A Seita; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Sem comentários:
Enviar um comentário