Sim, pois, mas...
As
editoras e, de forma incontornável, os autores também, gostam de
sequelas, prequelas e relatos paralelos de séries de sucesso.
Garantem mais vendas, mais lucros, mais mediatismo
Por
outro lado, os leitores também gosta de sequelas, prequelas e
relatos paralelos das séries que mais apreciam. Permitem-lhes
conhecer o passado, antever
o futuro, conhecer a origem ou o fim das personagens que admiram.
O
seu sucesso é quase sempre certo, muitas vezes até independente da
inspiração dos seus criadores, sejam eles os mesmos ou outros.
Foi o primeiro volume de Blacksad stories: Weekly, que me inspirou esta reflexão.
É um bom exemplo porque, apesar de Blacksad ser indiscutivelmente uma série de (grande) sucesso - e altamente aconselhável - conta poucos álbuns, apenas 7 (sete, leram bem) em duas dúzias de anos - mas possivelmente esse sucesso também assenta neste ponto: a (menor) quantidade, potencia a (maior) qualidade. Por isso, contudo, por mais que se façam reedições e novas edições, com novas capas, extras ou integrais, faltam-lhe novidades para fazer funcionar o mercado; que é como quem diz, vender mais (e mais) exemplares.
Por tudo isto mas, também, acredito, pela exigência que os autores sempre colocaram na série, porque tinha uma história paralela para contar, Juan Diaz Canales decidiu revelar-nos a juventude de Weekly, o repórter que ajuda e assombra repetidamente o protagonista Blacksad.
E, a verdade, é que se sai muito bem da empreitada em que se meteu. Filho de emigrantes na América prometida, a viver com uma avó beata e a perder as faculdades mentais, Dustin Kalisnowszczyzna tenta (já) fazer pela vida, dividido entre a fotografia, a carreira policial, a reportagem e, até, a banda desenhada (ou a foto-novela?), vai ter de aceitar o que lhe surge, nem que seja um trabalho de faz tudo numa agência funerária.
Num mundo em que prevalecem as opiniões fortes e a força de quem não as tem e em que - como sempre - os poderosos oprimem os outros e tentam impôr as suas ideias ou a sua gritante falta delas, Dustin vai ter de escolher lados e fazer opções nem sempre fáceis.
Narrador por excelência, Canales serve-nos um novo e vibrante retrato da América de meados do século passado, com humor, realismo e liberdade ficcional q.b., como sempre nos habituou. Chega até, imaginem lá, a recriar - com as liberdades que se compreendem e aceitam - a criação do Comics Code Authority - que durante décadas limitou, censurou e até proibiu a publicação de banda desenhada na terra que a viu (?) nascer - pelo menos enquanto meio de massas.
Só que - e por isso também Blacksad só conta 7 álbuns - o desenhador original, Juanjo Guarnido tem-se entregue a outros projectos - igualmente aliciantes e sedutores, para ele e para os leitores, como O Burlão nas Índias ou A Sombra das Luzes - e por isso Weekly teve de ser entregue a outro artista.
Um senão muito significativo para mais numa série que assenta de forma tão importante, tão marcante no virtuosismo gráfico de Guarnido, cuja ausência é marcante desde as primeiras pranchas... É verdade que Giovanni Rigano, o desenhador escolhido para esta prequela, vai demonstrando uma melhoria assinalável ao longo da narrativa - ou nós vamos-nos habituando às especificidades do seu traço... - mas sem nunca atingir o nível do desenhador inicial. Pessoalmente, tive muitas vezes a impressão que as personagens não combinavam com os cenários, parecendo ter sido col(oc)adas neles...
Se não chega para não aconselhar a leitura, esta acaba por deixar um certo travo amargo pois falta-lhe a espectacularidade visual que Guarnido habitualmente nos proporciona.
Blacksad
Stories: Weekly
Juan
Díaz Canales (argumento)
Giovanni
Rigano
(desenho)
Ala
dos Livros
Portugal,
Outubro
de 2025
235
x 310 mm, 64
p., cor, capa dura
19,95
€
(imagens disponibilizadas pela Ala do Livros; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)



Sem comentários:
Enviar um comentário