08/11/2010

Dot & Dash













Cliff Sterrett
(argumento e desenho)
Libri Impressi

(Portugal, Outubro de 2010)
300 x 213 mm, 64 p., cor, brochado

Resumo
Dot & Dash (literalmente ponto e traço, a letra ‘a’ no Código Morse) foram publicados originalmente entre 1926 e 1928 para os jornais americanos, como topo da mais famosa criação de Sterrett, “Polly and Her Pals”, na qual fizeram algumas breves aparições. Primeiro como uma tira, depois como tira dupla com vinheta inicial de título.
Esta é uma edição integral da série, completamente restaurada com a habitual competência e paixão por Manuel Caldas, o que possibilita descobri-la no esplendor do seu deslumbrante colorido original.
A edição, trilingue (português, inglês e espanhol, no que diz respeito à introdução, já que a banda desenhada é muda) abre com uma completa apresentação da série por Domingos Isabelinho.

Desenvolvimento
Coisas simples.
Eis o que eu poderia ter escrito no resumo acima: coisas simples.
A isso (a essa coisa tão complicada...) se resume Dot & Dash: à observação, quase sempre simples, quase sempre surpresa, quase sempre descoberta, dos pequenos nadas do dia-a-dia, aqueles pelos quais todos passamos mas dos quais raramente nos apercebemos. Uma poça gelada, um pássaro a cantar, um esquilo a saltar, a sombra que nos acompanha, as pegadas que deixamos impressas no solo, os pingos de chuva, um gato, um cão, um coelho, uma rã ou um caracol.
Dot & Dash são peritos em vê-los, pasmam de surpresa, surpreendem-se com facilidade, assustam-se com mais facilidade ainda, fingem coragem quando o medo facilmente os domina, fogem quase sempre, aborrecem-se, adormecem mesmo, às vezes. Mais ricos, porque viram, tocaram, sentiram, cheiraram, olharam, desco-briram (mesmo que muitas vezes o que viram-tocaram-sentiram-cheiraram-olharam-descobriram não corresponda à realidade “real” mas apenas à que eles “realizaram”).
Se Sterrett se revela perito em mostrar-nos o que Dot & Dash vêem, salientando o pormenor, descobrindo-nos o banal, deslumbrando-nos com a cor, divertindo de forma ingénua e simpática, a par disso, aqui e ali, diverte-se também a alienar a tal realidade “real”, transformando sombras ou valetas em buracos ou poças de tinta, enganando o leitor e também as suas personagens, aumentando nesses casos o efeito cómico.
Personagens que são duas – o nome evidencia-o – dois cães – eram um cão e um gato nos primeiros meses da tira – pequenos e curiosos, irrequietos e que gostam de andar, conhecer, mexer e descobrir.
E que a nós, meros leitores, agarrados a cadeiras, mesas de trabalho, sofás televisivos, importa também descobrir, talvez para abrir a porta – nem que seja só uma fresta – a um outro eu, mais curioso, menos conformista, mais disposto a ver, tocar, sentir, cheirar, olhar, descobrir…

A reter
- A simpli-cidade aparente e desar-mante, mas (também por isso) genial da estrutura narrativa da série.
- A cor, deslumbrante.
- O ritmo, a um tempo contemplativo e dinâmico.
- A edição em si, claro está. Não podia ser de outra forma com Manuel Caldas como responsável…
- Se encomendar o livro directamente ao editor (Manuel Caldas), recebê-lo-á antes de ele chegar às livrarias e com ele receberá um poster de tiragem limitada reproduzindo uma enorme página de jornal de 1928 com “Dot & Dash” e “Polly and Her Pals”. Para além disso isso permitirá que o editor recupere mais depressa (e sem perder a margem que normalmente entrega à distribuidora) o dinheiro investido na edição, contribuindo para que novo livro (quem sabe se o também genial “Polly and Her Pals”) seja editado mais rapidamente!

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