15/01/2011

José Garcês: Entrar para O Mosquito, era entrar pela porta grande do jornalismo infantil.

Chama-se José dos Santos Garcês e nasceu em Lisboa em 1928. Depois de uma passagem pelo Pluto, estreou-se em O Mosquito em 1946, tendo depois passado por quase todos os títulos de banda desenhada criados em Portugal.
Hoje, quase 70 anos depois da sua estreia, continua a fazer dos quadradinhos o seu dia-a-dia.

- Antes de ser autor, suponho que foi leitor do Mosquito. Essa experiência contribuiu para fazer de si um autor de BD?
José Garcês -
A partir dos 7 anos (1936) tornei-me leitor de O Mosquito. Lembro-me que o descobri porque me deram uma construção de armar que ele tinha publicado e a partir daí passei a ser seu leitor.

- Como explica o fascínio que O Mosquito exercia sobre os seus leitores?
JG -
O Mosquito tinha um material muito bom, as bandas desenhadas inglesas. O Cardoso Lopes era um grande conhecedor desse ambiente e escolheu o melhor que havia na altura para O Mosquito. Eram histórias de encantar, espantosas, ficção muito bem contada e desenhada.

- Quais as séries e autores d’O Mosquito que mais o marcaram?
JG
- Assim de repente recordo “Rob the Rover – Pelo mundo fora”, “O Capitão Bill, o grumete Bell e o cozinheiro Ball”, “O Voo da Águia”… Depois vieram os espanhóis, em especial Jesus Blasco, que tive oportunidade de conhecer e com quem convivi muitos anos, autor do Cuto, que marcou uma época.

- Como chegou a autor de O Mosquito?
JG -
Eu tinha colaborado com o Pluto, um jornal dirigido pelo Roussado Pinto, que era mais ou menos uma cópia de O Mosquito, no qual fazia grafismos e ilustrações.
Quando o Pluto acabou, eu tinha desenhado uma história para a revista que, soube mais tarde, o Roussado Pinto apadrinhou junto do Cardoso Lopes, que a aceitou e publicou.
Estreei-me assim, n’O Mosquito, o jornal da minha infância, que marcou uma época, a 12 de Outubro de 1946, com “O Inferno Verde”.

- Como funcionava O Mosquito?
JG -
Eu apresentava o projecto da história. Depois de aprovado, entregava as páginas desenhadas, por vezes com um pequeno texto, sendo depois o texto final escrito pelo Raul Correia, com a sua verve literária, como era hábito então.

- Que memórias guarda dessa época?
JG -
Lembro-me perfei-tamente que havia um grande interesse pel’O Mosquito, porque ainda não havia televisão.
O Mosquito e, depois, O Diabrete, tinham muita importância na época. Entrar para O Mosquito, naquele tempo, era entrar pela porta grande do jornalismo infantil. N’O Mosquito havia um convívio estupendo. Tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com o Cardoso Lopes, o Raul Correia, o Vítor Péon, o Eduardo Teixeira Coelho…

- De que maneira a sua experiência no Mosquito marcou o seu trajecto de autor?
JG -
Em primeiro lugar, pelo que já apontei: o contacto com grandes autores.
E também porque ganhei alguma disciplina, que era muito necessária na nossa arte, aprendi a trabalhar com a censura… Aprendi muito n’O Mosquito.

- Quer partilhar algum episódio curioso dessa época?
JG -
Lembro-me de uma visita que fizemos às oficinas de O Mosquito, quando ainda era estudante da António Arroio, na qual nos foi pedido que fizéssemos um desenho para ser passado para uma chapa de offset. Uma vez o desenho terminado, foi feita uma prova do mesmo que me foi entregue e que ainda hoje guardo como recordação da minha primeira visita a O Mosquito, quando eu ainda nem sequer sonhava vir a publicar na revista.

- Tem a colecção de O Mosquito?
JG -
Tive a colecção de O Mosquito, mas agora só tenho alguns números soltos, princi-palmente da sua fase final. Mas tenho as folhas das minhas colaborações n’O Mosquito.

- Tem algum projecto de banda desenhada em curso? Qual? Quando e onde será publicado?
JG -
Estou a terminar algo que estava engatilhado desde anos anteriores, um trabalho sobre o lince ibérico, que vai ser editado pela Liga da Protecção da Natureza, com apoio de fundos europeus. São apenas 22 páginas, baseadas num texto de um biólogo. O livro deverá sair no primeiro semestre de 2011, eventualmente no Festival de BD de Moura, uma vez que esta zona está incluída na área do lince ibérico.
Entretanto, tenho também praticamente pronta a História de Silves, que a câmara local deverá editar durante este ano.

(Versão integral da entrevista que serviu de base ao texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Janeiro de 2011)

4 comentários:

  1. Anónimo4/6/14 12:29

    Vim aqui por curiosidade à procura deste senhor porque o conheci na minha ilha, ilha Terceira quando ele cá veio.
    É bom saber que continua com os seus trabalhos.
    Um bem haja ao senhor José Garcês. Luísa Silva.

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    1. Cara Luísa Silva
      Agradeço a visita e sim, José Garcês continua activo a trabalhar em banda desenhada como há tantos faz!

      Boas leituras!

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  2. Anónimo5/6/14 17:18

    Boa tarde,
    Uma vez que mantém contacto com ele, peço que lhe transmita que sou a pessoa que o recebeu (acompanhado pelo nosso comum amigo José Guedes) por uma noite na freguesia dos Biscoitos, na ilha Terceira e que lhe mando cumprimentos.
    Obrigada,
    Luísa Silva

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    1. Vou fazê.lo da próxima vez que estiver com ele.

      Boas leituras!

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