09/04/2012

El Invierno del Dibujante













Paco Roca
Astiberri (Espanha, Novembro de 2010)
175 x 250 mm, 128 p., cartonado
16,00 €


Resumo
Na Primavera de 1957, cinco desenhadores de primeiro plano – Carlos Conti, Guillermo Cifré, Joseph Escobar, Eugenio Giner e José Peñarroya – decidem deixar a Editorial Bruguera para criarem a sua própria casa editorial a a sua própria revista - Tio Vivo - e serem, assim, os únicos donos do seu trabalho e dos seus originais.
Esta é a história desse (ilusório) acto (revolucionário) em plena Espanha franquista.

Desenvolvimento
Este livro é um documentário – mais fiel e preciso do que, possivelmente, se pode imaginar – sobre um momento marcante da história da “historieta” espanhola, bem enquadrado no tempo em que decorreu, em que a televisão começava a mostrar-se, a corrida espacial entre russos e americanos se agudizava e o regime franquista impunha medidas cada vez mais duras.

Mas façamos um ponto da situação. A Editorial Bruguera, criada em 1910 como El Gato Negro, era, nos anos 1950, a mais importante editora espanhola de BD, com revistas como Pulgarcito, com uma (estonteante) tiragem que ultrapassava o milhão de exemplares semanais, e personagens hiper-populares como El Repórter Tribulete, Zipi y Zape, Doña Urraca, Las Hermanas Gilda ou Mortadelo y Filemón.
Fundada por Juan Bruguera, entretanto substituído pelos filhos Pantaleón e Francisco, assentava num trabalho minucioso e num controle ao pormenor, numa estrutura na qual os desenhadores eram simples operários, cujo único direito era o do pagamento das páginas (se) regularmente entregues. A editora reservava para si a posse dos originais, o direito de lhes impor todas as correcções – no argumento e no desenho - que julgasse necessárias, o direito de os reimprimir gratuitamente sempre que lhe aprouvesse.
Foi contra este estado de coisas, agravado pela pressão das entregas, a necessidade de redobrarem a produção para garantirem a sua subsistência, o desprezo manifestado por familiares e amigos por quererem passar a vida a fazer “desenhitos”, que os autores acima referidos tentaram rebelar-se, criando uma das primeiras editoras geridas pelos próprios artistas, experiência de (algum) sucesso mas de pouca duração, como esta (bela) história de Paco Roca (muito bem) mostra.
É verdade que o autor espanhol, dono de uma belíssima linha clara, não se mostra neste livro tão virtuoso como em obras anteriores, e que a planificação é algo monótona, o que talvez fosse difícil de evitar pois quase toda a trama assenta nas conversas entre os protagonistas. O que, se provoca algumas quebras no ritmo de leitura, acentua o tom assumido de documentário – de época, atrevo-me a escrever – que, se numa fase inicial pode parecer estranho ao leitor, rapidamente se torna natural e até estimulante.
Feita de avanços e recuos – que vão acompanhando motivos e razões para as diversas atitudes assumidas ao longo do cerca de ano e meio que a história dura - a narrativa assenta também em páginas cuja cor de fundo – sempre suave – se vai alterando de acordo com o estado de espírito – da euforia à depressão – dos cinco protagonistas que, não por acaso, coincidem também com estações do ano. De alguma forma, pode dizer-se que a trama parte de um “sonho de uma noite de primavera” (em tons de rosa bebé), passa pelo calor (emocional) de um verão sufocante (em ocre) e tem o seu epílogo (traído…) no azul-acinzentado que marca as páginas invernais onde tem lugar o (inevitável) desfecho.

Terminada a leitura, fechado o livro, ao documentário (lido), sobrepõe-se, como o autor explica no posfácio, o acto de justiça e de reconhecimento para com os autores que, na infância, o divertiram, fizeram sonhar e “amar os cómics”, e a declaração de amor à arte (desenhada) que Paco Roca escolheu como sua.

A reter
- A bela homenagem feita aos quadradinhos espanhóis (não seria magnífica obra similar sobre os bastidores do Mosquito, Papagaio ou Diabrete?).
- O tom de documentário de época assumido e conseguido.
- O belo trabalho cromático de Paco Roca, que tem por base a substituição do branco habitual (dos fundos de páginas, balões e outros pormenores) pelas três cores (rosa, ocre, azul-acinzentado) que marcam as diferentes épocas da história.

Curiosidades
- El Invierno del Dibujante foi contemplado, entre vários outros, com os prémios para Melhor Álbum e Melhor Argumento no Salon Internacional del Comic de Barcelona, em 2011.


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