Paco Roca
Astiberri (Espanha,
Novembro de 2010)
175 x 250 mm, 128 p.,
cartonado
16,00 €
Resumo
Na Primavera de 1957, cinco desenhadores de primeiro plano –
Carlos Conti, Guillermo Cifré, Joseph Escobar, Eugenio Giner e José Peñarroya –
decidem deixar a Editorial Bruguera para criarem a sua própria casa editorial a a sua própria revista - Tio Vivo - e
serem, assim, os únicos donos do seu trabalho e dos seus originais.
Esta é a história desse (ilusório) acto (revolucionário) em
plena Espanha franquista.
Desenvolvimento
Este livro é um documentário – mais fiel e preciso do que,
possivelmente, se pode imaginar – sobre um momento marcante da história da “historieta”
espanhola, bem enquadrado no tempo em que decorreu, em que a televisão começava
a mostrar-se, a corrida espacial entre russos e americanos se agudizava e o
regime franquista impunha medidas cada vez mais duras.
Mas façamos um ponto da situação. A Editorial Bruguera,
criada em 1910 como El Gato Negro, era, nos anos 1950, a mais importante
editora espanhola de BD, com revistas como Pulgarcito, com uma (estonteante)
tiragem que ultrapassava o milhão de exemplares semanais, e personagens
hiper-populares como El Repórter Tribulete, Zipi y Zape, Doña Urraca, Las
Hermanas Gilda ou Mortadelo y Filemón.
Fundada por Juan Bruguera, entretanto substituído pelos
filhos Pantaleón e Francisco, assentava num trabalho minucioso e num controle
ao pormenor, numa estrutura na qual os desenhadores eram simples operários,
cujo único direito era o do pagamento das páginas (se) regularmente entregues.
A editora reservava para si a posse dos originais, o direito de lhes impor
todas as correcções – no argumento e no desenho - que julgasse necessárias, o
direito de os reimprimir gratuitamente sempre que lhe aprouvesse.
Foi contra este estado de coisas, agravado pela pressão das
entregas, a necessidade de redobrarem a produção para garantirem a sua
subsistência, o desprezo manifestado por familiares e amigos por quererem
passar a vida a fazer “desenhitos”, que os autores acima referidos tentaram rebelar-se,
criando uma das primeiras editoras geridas pelos próprios artistas, experiência
de (algum) sucesso mas de pouca duração, como esta (bela) história de Paco Roca
(muito bem) mostra.
É verdade que o autor espanhol, dono de uma belíssima linha
clara, não se mostra neste livro tão virtuoso como em obras anteriores, e que a
planificação é algo monótona, o que talvez fosse difícil de evitar pois quase
toda a trama assenta nas conversas entre os protagonistas. O que, se provoca
algumas quebras no ritmo de leitura, acentua o tom assumido de documentário –
de época, atrevo-me a escrever – que, se numa fase inicial pode parecer
estranho ao leitor, rapidamente se torna natural e até estimulante.
Feita de avanços e recuos – que vão acompanhando motivos e
razões para as diversas atitudes assumidas ao longo do cerca de ano e meio que
a história dura - a narrativa assenta também em páginas cuja cor de fundo –
sempre suave – se vai alterando de acordo com o estado de espírito – da euforia
à depressão – dos cinco protagonistas que, não por acaso, coincidem também com
estações do ano. De alguma forma, pode dizer-se que a trama parte de um “sonho
de uma noite de primavera” (em tons de rosa bebé), passa pelo calor (emocional)
de um verão sufocante (em ocre) e tem o seu epílogo (traído…) no
azul-acinzentado que marca as páginas invernais onde tem lugar o (inevitável) desfecho.
Terminada a leitura, fechado o livro, ao documentário
(lido), sobrepõe-se, como o autor explica no posfácio, o acto de justiça e de
reconhecimento para com os autores que, na infância, o divertiram, fizeram
sonhar e “amar os cómics”, e a declaração de amor à arte (desenhada) que Paco
Roca escolheu como sua.
A reter
- A bela homenagem feita aos quadradinhos espanhóis (não
seria magnífica obra similar sobre os bastidores do Mosquito, Papagaio ou
Diabrete?).
- O tom de documentário de época assumido e conseguido.
- O belo trabalho cromático de Paco Roca, que tem por base a
substituição do branco habitual (dos fundos de páginas, balões e outros
pormenores) pelas três cores (rosa, ocre, azul-acinzentado) que marcam as
diferentes épocas da história.
Curiosidades
- El Invierno del Dibujante foi contemplado, entre vários
outros, com os prémios para Melhor Álbum e Melhor Argumento no Salon
Internacional del Comic de Barcelona, em 2011.
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