30/09/2010
As Melhores Leituras de Setembro
Tintin no País dos Sovietes, Tintin no Congo, Tintin na América (Edições ASA, nova tradução), de Hergé
J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga #65, #66, #67 (Mythos Editora), de Giancarlo Berardi (argumento), Enio, Marco Jannì e Thomas Campi (desenho)
Jerry Spring L'Intégrale en noir et blanc #1 - 1954/1955 (Dupuis), de Jijé
André Carrilho - O Rosto do Alpinista (Assírio & Alvim + El Corte Inglés), de João Paulo Cotrim
Sous-sols (Futuropolis), de Pierre Wazem (argumento) e Tom Tirabosco (desenho)
Tif e Tondu - L'intégrale #1 (Dupuis), de Rosy (argumento) e Will (desenho)
Tex Gigante #23 – Patagónia (Mythos Editora), de Mauro Boselli (argumento) e Pasquale Frisenda (desenho)
Happy Sex (Edições ASA), de Zep
Blacksad #4 - O inferno, o silêncio (Edições ASA), de Díaz Canales (argumento) e Janjo Guarnido (desenho)
29/09/2010
Blacksad #4 – O inferno, o silêncio
Juan Días Canales (Argumento)
Juanjo Guarnido (desenho e cor)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
240 x 320 mm, 56 p., cor, cartonado
Resumo
Blacksad e Weekly vão a Nova Orleães para procurarem Sebastian “Little Hand” Fletcher, um pianista de jazz (deficiente de uma mão!) caído em desgraça pelo seu vício de heroína, a pedido de Fausto Lachapelle, ex-músico medíocre e produtor musical bem sucedido com um cancro em fase terminal.
À medida que a investigação decorre, o felino descobre que nem tudo é o que parece é e que há segredos escondidos que alguns querem que permaneçam assim.
Leituras relacionadas
ASA,
Blacksad,
Juan Días Canales,
Juanjo Guarnido,
opinião
28/09/2010
Tif et Tondu
#1 – Le Diabolique M. Choc
Les Intégrales Dupuis
Rosy (argumento)
Will (desenho)
Dupuis (Bélgica, Março de 2007)
218 x 286 mm, 160 p., cor, cartonado
Resumo
Este é o primeiro tomo da republicação integral das aventuras de Tif e Tondu - que durante décadas foram um dos sustentáculos da revista belga “Spirou” - aqui agrupadas por temáticas.
Este volume inicial, para além de um dossier sobre a série e os seus criadores, inclui as histórias “La Main blanche”, “Le retour de Choc” e “Passez Muscade”, originalmente publicadas em 1955 e 1956, e respectivamente 4º, 5º e 6º álbuns da dupla.
Desenvolvimento
Sim, este é mais um (excelente) integral francófono presente na minha bedeteca, um tipo de edição cada vez mais vulgar nos catálogos de editoras como a Dupuis, a Dargaud ou a Lombard.
Neste caso, reúne três aventuras marcantes da dupla Tif e Tondu, correspondentes aos primeiros embates com Monsieur Choc, o seu grande rival.
Antes disso, no entanto, o ponto forte da edição: o dossier, com muitas ilustrações e documentos, alguns deles inéditos, que mostram a pré-história da dupla – quando Tondu, o barbudo, era ainda um…selvagem! Porque antes de adquirirem o visual que hoje lhes conhecemos, Tif e Tondu deram algumas voltas. A começar pelo facto de Tif ter nascido sozinho, em 1938, só depois tendo conhecido o seu companheiro. Este dossier inclui igualmente apontamentos sobre o vilão de serviço, a relação dos autores, a sua forma de trabalhar e outros documentos da época, que revelam um tempo e uma forma de estar e de fazer BD hoje (quase) inimaginável.
As aventuras de Tif e Tondu, de forte pendor aventuroso e policial, são simples e (hoje) algo ingénuas, tramas lineares, com suspense e acção, mas cativantes e, de certeza, apelativas para os jovens a quem então se dirigiam. Em suma, pode dizer-se que são bem representativas de uma certa época da banda desenhada franco-belga.
As três histórias aqui incluídas, narram outras tantas vitórias (sempre incompletas, para assegurar futuras continuações) sobre o recorrente vilão - “um dos maiores génios do mal do planeta” - cuja face está sempre oculta, geralmente por um elmo metálico. Este facto, a par da sua inteligência – revelada na complexidade dos planos que elabora - e da sua elegância - até quando comparado com as restantes personagens, mais próximas do padrão humorístico franco-belga (baixas, de traços arredondados, narizes grandes, um certo ar caricatural), se assim posso escrever – aumenta a sua aura de mistério e cria mesmo uma certa simpatia junto dos leitores.
A presença de Tif e Tondu oscila entre protagonistas involuntários (mais no início do volume) e motores da acção (na sua parte final, assumindo progressivamente o seu papel de “heróis”), sendo o todo de leitura agradável, embora estas histórias não atinjam o nível do Spirou, de Franquin, ou do Gil Jourdan, de Tillieux, para citar outros dois pilares da revista “Spirou”, contemporâneos de Tif e Tondu.
Graficamente, a linha clara de Will, servida por cores quentes e planas, é de uma grande legibilidade, sendo o seu traço dinâmico e diversificado q.b., para cativar o leitor e assegurar o ritmo de leitura adequado.
A reter
- O formato, o dossier, a recuperação de clássicos, o preço…
Menos conseguido
- Se admiro a restauração (e actualização…) das cores originais, confesso que preferia o aspecto retro (as tramas visíveis nas manchas de cor, as bochechas rosadas, o tom amarelado das margens das páginas…) visível nalgumas das reproduções de páginas originais da revista “Spirou” incluídas na edição…
Curiosidades
- Até ao momento a Dupuis já publicou sete tomos desta colecção.
Les Intégrales Dupuis
Rosy (argumento)
Will (desenho)
Dupuis (Bélgica, Março de 2007)
218 x 286 mm, 160 p., cor, cartonado
Resumo
Este é o primeiro tomo da republicação integral das aventuras de Tif e Tondu - que durante décadas foram um dos sustentáculos da revista belga “Spirou” - aqui agrupadas por temáticas.
Este volume inicial, para além de um dossier sobre a série e os seus criadores, inclui as histórias “La Main blanche”, “Le retour de Choc” e “Passez Muscade”, originalmente publicadas em 1955 e 1956, e respectivamente 4º, 5º e 6º álbuns da dupla.
Desenvolvimento
Sim, este é mais um (excelente) integral francófono presente na minha bedeteca, um tipo de edição cada vez mais vulgar nos catálogos de editoras como a Dupuis, a Dargaud ou a Lombard.
Neste caso, reúne três aventuras marcantes da dupla Tif e Tondu, correspondentes aos primeiros embates com Monsieur Choc, o seu grande rival.
Antes disso, no entanto, o ponto forte da edição: o dossier, com muitas ilustrações e documentos, alguns deles inéditos, que mostram a pré-história da dupla – quando Tondu, o barbudo, era ainda um…selvagem! Porque antes de adquirirem o visual que hoje lhes conhecemos, Tif e Tondu deram algumas voltas. A começar pelo facto de Tif ter nascido sozinho, em 1938, só depois tendo conhecido o seu companheiro. Este dossier inclui igualmente apontamentos sobre o vilão de serviço, a relação dos autores, a sua forma de trabalhar e outros documentos da época, que revelam um tempo e uma forma de estar e de fazer BD hoje (quase) inimaginável.
As aventuras de Tif e Tondu, de forte pendor aventuroso e policial, são simples e (hoje) algo ingénuas, tramas lineares, com suspense e acção, mas cativantes e, de certeza, apelativas para os jovens a quem então se dirigiam. Em suma, pode dizer-se que são bem representativas de uma certa época da banda desenhada franco-belga.
As três histórias aqui incluídas, narram outras tantas vitórias (sempre incompletas, para assegurar futuras continuações) sobre o recorrente vilão - “um dos maiores génios do mal do planeta” - cuja face está sempre oculta, geralmente por um elmo metálico. Este facto, a par da sua inteligência – revelada na complexidade dos planos que elabora - e da sua elegância - até quando comparado com as restantes personagens, mais próximas do padrão humorístico franco-belga (baixas, de traços arredondados, narizes grandes, um certo ar caricatural), se assim posso escrever – aumenta a sua aura de mistério e cria mesmo uma certa simpatia junto dos leitores.
A presença de Tif e Tondu oscila entre protagonistas involuntários (mais no início do volume) e motores da acção (na sua parte final, assumindo progressivamente o seu papel de “heróis”), sendo o todo de leitura agradável, embora estas histórias não atinjam o nível do Spirou, de Franquin, ou do Gil Jourdan, de Tillieux, para citar outros dois pilares da revista “Spirou”, contemporâneos de Tif e Tondu.
Graficamente, a linha clara de Will, servida por cores quentes e planas, é de uma grande legibilidade, sendo o seu traço dinâmico e diversificado q.b., para cativar o leitor e assegurar o ritmo de leitura adequado.
A reter
- O formato, o dossier, a recuperação de clássicos, o preço…
Menos conseguido
- Se admiro a restauração (e actualização…) das cores originais, confesso que preferia o aspecto retro (as tramas visíveis nas manchas de cor, as bochechas rosadas, o tom amarelado das margens das páginas…) visível nalgumas das reproduções de páginas originais da revista “Spirou” incluídas na edição…
Curiosidades
- Até ao momento a Dupuis já publicou sete tomos desta colecção.
Leituras relacionadas
Dupuis,
integral,
Rosy,
Tif e Tondu,
Will
27/09/2010
Sous-sols
Pierre Wazem (argumento)
Tom Tirabosco (desenho)
Futuropolis (França, Agosto de 2010)
200 x 300 mm, 120 p., bicromia, cartonado
Resumo
Uma experiência com o acelerador de partículas do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), aparentemente “engole” o sol, mergulhando uma cidade e os seus arredores na escuridão há já três semanas, provocando medo, desespero, motins, em resumo, o caos.
Um dos seus habitantes, uma jovem que sempre teve problemas de relacionamento e integração, adormece e acorda nos subterrâneos daquele equipamento, onde encontra um cientista perdido desde que a experiência teve lugar.
Desenvolvimento
Se o ponto de partida desta história desenvolvida pelos suíços Wazem e Tirabosco é a hipótese científica da absorção da luz por um buraco negro, a narrativa pouco tem de científico – e o pouco que tem é distorcido de forma deliciosa pelo argumentista para servir o seu relato - desenvolvendo-se numa ténue fronteira entre a realidade e o fantástico, mas com um tom íntimo, doce e sereno, que não deixa de surpreender e atrair o leitor
A protagonista – sem nome no relato – procura uma irmã gémea desaparecida durante um sono profundo, mas também a si mesma. Desde nova teve grandes dificuldades de relacionamento e de integração, vivendo como que num casulo, isolada do mundo, longe dos outros, fechada em si mesma. Com os seus medos e sonhos; recalcando desejos, procurando esquecer experiências traumáticas, numa cidade impessoal como – cada vez mais – são todas as cidades, desenvolvendo desde muito cedo uma realidade paralela onde se refugiou (e ainda vive?).
Com ela, vão-se cruzando o tal cientista, também perdido nos subterrâneos, a esposa deste que acaba de evitar um assalto feito por um jovem, ex-colega da protagonista.
O relato é estranho, ou melhor, estranhos são alguns dos seus acontecimentos: o assalto falhado, os laços desconhecidos que parecem unir todos os intervenientes, a gémea que dorme três semanas seguidas e desaparece durante o sono… A ponto de o leitor colocar em causa alguns deles e até a existência de todas as personagens.
Os encontros entre eles são serenos – excepto quando os monstros interiores do passado que o tempo não conseguiu vencer/esquecer conseguem quebrar as amarras a que foram sujeitos – surgindo nas suas conversas mais dúvidas do que certezas, mais perguntas do que respostas. Tantas quantas as dúvidas que ficam no leitor no final do relato – em aberto e com muitas pistas que obrigam a nova(s) releitura(s) e possibilitam várias interpretações.
Como certeza, fica a convicção de que Wazem e Tirabosco, como uma curta galeria de personagens, conseguiram, de forma sensível e terna, conduzir-nos num relato – cuja leitura não é fácil, concordo - pausado e íntimo pelo interior do ser humano, as suas recordações, a sua fragilidade, a solidão, o tempo da infância que acaba tão cedo (às vezes tão abruptamente...), com o qual provocam sensações antagónicas de serenidade e inquietude.
A reter
- O traço arredondado, grosso e expressivo dos lápis de Tirabosco, assente nas três cores por que optou – preto, branco, azul – e na forma como trabalha as texturas para obter volume, bem adaptado ao ritmo lento da história
- O tom sereno e ao mesmo tempo inquietante do relato, que decorre num mundo onírico à beira da catástrofe iminente.
- A forma como a história é apresentada que, se de início provoca alguma estranheza, com a continuação obriga o leitor a embrenhar-se nela, avançando e recuando para conseguir estabelecer pontos de equilíbrio e desfrutar plenamente dela.
Tom Tirabosco (desenho)
Futuropolis (França, Agosto de 2010)
200 x 300 mm, 120 p., bicromia, cartonado
Resumo
Uma experiência com o acelerador de partículas do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), aparentemente “engole” o sol, mergulhando uma cidade e os seus arredores na escuridão há já três semanas, provocando medo, desespero, motins, em resumo, o caos.
Um dos seus habitantes, uma jovem que sempre teve problemas de relacionamento e integração, adormece e acorda nos subterrâneos daquele equipamento, onde encontra um cientista perdido desde que a experiência teve lugar.
Desenvolvimento
Se o ponto de partida desta história desenvolvida pelos suíços Wazem e Tirabosco é a hipótese científica da absorção da luz por um buraco negro, a narrativa pouco tem de científico – e o pouco que tem é distorcido de forma deliciosa pelo argumentista para servir o seu relato - desenvolvendo-se numa ténue fronteira entre a realidade e o fantástico, mas com um tom íntimo, doce e sereno, que não deixa de surpreender e atrair o leitor
A protagonista – sem nome no relato – procura uma irmã gémea desaparecida durante um sono profundo, mas também a si mesma. Desde nova teve grandes dificuldades de relacionamento e de integração, vivendo como que num casulo, isolada do mundo, longe dos outros, fechada em si mesma. Com os seus medos e sonhos; recalcando desejos, procurando esquecer experiências traumáticas, numa cidade impessoal como – cada vez mais – são todas as cidades, desenvolvendo desde muito cedo uma realidade paralela onde se refugiou (e ainda vive?).
Com ela, vão-se cruzando o tal cientista, também perdido nos subterrâneos, a esposa deste que acaba de evitar um assalto feito por um jovem, ex-colega da protagonista.
O relato é estranho, ou melhor, estranhos são alguns dos seus acontecimentos: o assalto falhado, os laços desconhecidos que parecem unir todos os intervenientes, a gémea que dorme três semanas seguidas e desaparece durante o sono… A ponto de o leitor colocar em causa alguns deles e até a existência de todas as personagens.
Os encontros entre eles são serenos – excepto quando os monstros interiores do passado que o tempo não conseguiu vencer/esquecer conseguem quebrar as amarras a que foram sujeitos – surgindo nas suas conversas mais dúvidas do que certezas, mais perguntas do que respostas. Tantas quantas as dúvidas que ficam no leitor no final do relato – em aberto e com muitas pistas que obrigam a nova(s) releitura(s) e possibilitam várias interpretações.
Como certeza, fica a convicção de que Wazem e Tirabosco, como uma curta galeria de personagens, conseguiram, de forma sensível e terna, conduzir-nos num relato – cuja leitura não é fácil, concordo - pausado e íntimo pelo interior do ser humano, as suas recordações, a sua fragilidade, a solidão, o tempo da infância que acaba tão cedo (às vezes tão abruptamente...), com o qual provocam sensações antagónicas de serenidade e inquietude.
A reter
- O traço arredondado, grosso e expressivo dos lápis de Tirabosco, assente nas três cores por que optou – preto, branco, azul – e na forma como trabalha as texturas para obter volume, bem adaptado ao ritmo lento da história
- O tom sereno e ao mesmo tempo inquietante do relato, que decorre num mundo onírico à beira da catástrofe iminente.
- A forma como a história é apresentada que, se de início provoca alguma estranheza, com a continuação obriga o leitor a embrenhar-se nela, avançando e recuando para conseguir estabelecer pontos de equilíbrio e desfrutar plenamente dela.
Leituras relacionadas
Futuropolis,
Tirabosco,
Wazem
24/09/2010
Bernard Prince - Menace sur le fleuve
Yves H.(argumento)
Hermann (argumento e desenho)
Le Lombard (França, Setembro de 2010)
220x298 mm, 48 p., cor, cartonado
Le Lombard (França, Setembro de 2010)
220x298 mm, 48 p., cor, cartonado
É posto hoje à venda no mercado francófono o 18º tomo das aventuras de Bernard Prince (dos quais cerca de metade foram editados em álbum em Portugal), intitulado “Menace sur le fleuve”.
Herói criado no Tintin belga em 1966 por Greg (argumento) e Hermann (desenho), Prince o marinheiro ex-agente da Interpol, marcou uma época juntamente com os seus companheiros Barney Jordan, um marujo experiente e irrascível, e Djinn, um adolescente curioso e destemido, num tempo em que a banda desenhada franco-belga trilhava alegremente o caminho da aventura, tal como o Cormoran, barco dos três heróis em causa, singrava os mares.
Ao fim de 13 álbuns, Hermann, chamado por temáticas mais adultas, abandonou Prince, que viveria ainda mais quatro histórias escritas por Greg, e divididas em partes iguais por Dany e Aidans, no que respeita ao desenho.
Agora, 22 anos depois desse abandono, Hermann regressa a um dos heróis que nos fez felizes. E a ele também embora “não o tenha feito por nostalgia”, uma vez que a ideia partiu do seu filho Yves H., como o veterano desenhador contou durante o Festival de BD de Beja, em Maio último. E se no principio Hermann recusou, hoje reconhece que o filho “tinha razão”.
A editora Lombard “ficou encantada com a perspectiva” e o projecto avançou. Se de início Hermann não gostou “muito de regressar a este passado”, aos poucos os seus sentimentos mudaram e acabou por ser “uma experiência muito agradável”. As reacções foram desde logo “muito boas, houve muita receptividade”, tanto que Ives H. “já disse que se funcionar bem quer escrever outro”!
O argumento original “era bom, mas não era uma história à Greg”, pelo que o desenhador achou necessário acrescentar “algumas ideias nesse sentido”, para não haver uma ruptura demasiado grande com o passado de Bernard Prince, embora “as diferenças sejam grandes”. Não só porque “os tempos são outros” mas também porque as “últimas histórias de Greg já não eram tão boas, há quem diga que ele tinha perdido o ‘fogo sagrado’, mas o “facto de fazer histórias para 10 pessoas ao mesmo tempo também não ajudava”.
Em “Menace sur le fleuve” Prince, Jordan e Djinn regressam à América Latina, numa aventura onde vão reencontrar velhos conhecidos, como El Lobo e alguém que procura uma vingança. Um puro relato de aventura e acção, com ritmo e adrenalida q.b., que segundo Yves H., terminará “num combate mortal em que o gosto de sangue e lama se misturarão”.
Herói criado no Tintin belga em 1966 por Greg (argumento) e Hermann (desenho), Prince o marinheiro ex-agente da Interpol, marcou uma época juntamente com os seus companheiros Barney Jordan, um marujo experiente e irrascível, e Djinn, um adolescente curioso e destemido, num tempo em que a banda desenhada franco-belga trilhava alegremente o caminho da aventura, tal como o Cormoran, barco dos três heróis em causa, singrava os mares.
Ao fim de 13 álbuns, Hermann, chamado por temáticas mais adultas, abandonou Prince, que viveria ainda mais quatro histórias escritas por Greg, e divididas em partes iguais por Dany e Aidans, no que respeita ao desenho.
Agora, 22 anos depois desse abandono, Hermann regressa a um dos heróis que nos fez felizes. E a ele também embora “não o tenha feito por nostalgia”, uma vez que a ideia partiu do seu filho Yves H., como o veterano desenhador contou durante o Festival de BD de Beja, em Maio último. E se no principio Hermann recusou, hoje reconhece que o filho “tinha razão”.
A editora Lombard “ficou encantada com a perspectiva” e o projecto avançou. Se de início Hermann não gostou “muito de regressar a este passado”, aos poucos os seus sentimentos mudaram e acabou por ser “uma experiência muito agradável”. As reacções foram desde logo “muito boas, houve muita receptividade”, tanto que Ives H. “já disse que se funcionar bem quer escrever outro”!
O argumento original “era bom, mas não era uma história à Greg”, pelo que o desenhador achou necessário acrescentar “algumas ideias nesse sentido”, para não haver uma ruptura demasiado grande com o passado de Bernard Prince, embora “as diferenças sejam grandes”. Não só porque “os tempos são outros” mas também porque as “últimas histórias de Greg já não eram tão boas, há quem diga que ele tinha perdido o ‘fogo sagrado’, mas o “facto de fazer histórias para 10 pessoas ao mesmo tempo também não ajudava”.
Em “Menace sur le fleuve” Prince, Jordan e Djinn regressam à América Latina, numa aventura onde vão reencontrar velhos conhecidos, como El Lobo e alguém que procura uma vingança. Um puro relato de aventura e acção, com ritmo e adrenalida q.b., que segundo Yves H., terminará “num combate mortal em que o gosto de sangue e lama se misturarão”.
A Vitamina BD que tem editado praticamente toda a bibliografia recente de Hermann, acompanhará também esta edição, sendo que a versão nacional – intitulada “Ameaça sobre o rio” – será “impressa nesta ou na próxima semana”, conforme revelou o seu editor, Pedro Silva. Por isso, “o livro poderá - não é uma certeza - ser colocado à venda no final de Outubro”, possivelmente só “na BdMania e em mais duas ou três lojas que ainda se vão aguentando e pagando”. As velhas questões relacionadas com as dificuldades de distribuição e pagamento possivelmente invalidarão a sua chegada “ao resto dos pontos de venda”.
Leituras relacionadas
Bernard Prince,
Hermann,
Le Lombard,
Yves H.
23/09/2010
Fantôme
Suk Jung-hyun (argumento e desenho)
Casterman (França, Abril de 2007)
170 x 241 mm, 200 p., cor, brochado com sobrecapa
Devido à coexistência (nos mercados ocidentais) de comics, BD franco-belga e mangas, e às múltiplas influências que daí resultam, alguns acreditam que no futuro (não tão distante) toda a produção de BD convergirá para um mesmo padrão. Tenho dúvidas, porque continuo a acreditar na capacidade criativa dos autores.
Não sendo exemplo disto, até porque tal ainda não se concretizou, este "Fantôme", de Suk Jung-hyun, ilustra, de alguma forma, como tal se poderá traduzir: o traço, hiper-realista, e as cores estão mais próximos do conceito europeu de BD do que daquilo que costumamos associar (do que conhecemos?) à produção asiática; o desenvolvimento dos diálogos e as várias cenas de acção têm indiscutivelmente a marca manga (nu caso manhwa - BD coreana); a teoria de conspiração subjacente ao argumento, apela a uma temática bem americana.
Servida por uma planificação cinematográfica e dinâmica, a história, passada num futuro próximo, em que um cataclismo natural reduziu drasticamente a população, agora reunida num único estado, trazendo a vantagem do fim das guerras - mas também a necessidade de criar tensões para justificar a única força policial existente e a sua relação com um canal de TV -, lê-se bem e permite arriscar a extrapolação de que a massificação referida terá aspectos positivos quando significar o aproveitamento do que cada um daqueles géneros tem de melhor.
(Texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 27 de Maio de 2007)
Casterman (França, Abril de 2007)
170 x 241 mm, 200 p., cor, brochado com sobrecapa
Devido à coexistência (nos mercados ocidentais) de comics, BD franco-belga e mangas, e às múltiplas influências que daí resultam, alguns acreditam que no futuro (não tão distante) toda a produção de BD convergirá para um mesmo padrão. Tenho dúvidas, porque continuo a acreditar na capacidade criativa dos autores.
Não sendo exemplo disto, até porque tal ainda não se concretizou, este "Fantôme", de Suk Jung-hyun, ilustra, de alguma forma, como tal se poderá traduzir: o traço, hiper-realista, e as cores estão mais próximos do conceito europeu de BD do que daquilo que costumamos associar (do que conhecemos?) à produção asiática; o desenvolvimento dos diálogos e as várias cenas de acção têm indiscutivelmente a marca manga (nu caso manhwa - BD coreana); a teoria de conspiração subjacente ao argumento, apela a uma temática bem americana.
Servida por uma planificação cinematográfica e dinâmica, a história, passada num futuro próximo, em que um cataclismo natural reduziu drasticamente a população, agora reunida num único estado, trazendo a vantagem do fim das guerras - mas também a necessidade de criar tensões para justificar a única força policial existente e a sua relação com um canal de TV -, lê-se bem e permite arriscar a extrapolação de que a massificação referida terá aspectos positivos quando significar o aproveitamento do que cada um daqueles géneros tem de melhor.
(Texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 27 de Maio de 2007)
22/09/2010
Comment le cancer m'a fait aimer la télé et les mots croisés
Miriam Engelberg (argumento e desenho)
Delcourt (França, Fevereiro de 2007)
165x230 mm, 144 p., pb, brochado com badanas
Este é o diário da convivência da norte-americana Miriam Engelberg, com o seu cancro da mama, desde a sua descoberta, passando pelas diversas fases subsequentes: estados de depressão, desânimo, negação, raiva, operação, radioterapia, quimioterapia, etc.
O que surpreende nesta obra, servida por um desenho pouco menos do que incipiente, mas de leitura fácil e fluente, é a exposição total de Miriam, com os seus temores e as suas ansiedades, perdida perante a reviravolta que a doença provocou na sua vida, como numa primeira fase tentou ignorar a incontornável nova realidade, através de técnicas de "esvaziamento mental" (palavras cruzadas, consumo obsessivo de televisão) - e como viria a encontrar a via "salvadora" na realização de BD, quer enquanto terapia, quer enquanto realização de um sonho de sempre - a rejeição sistemática à religião (e principalmente aos "religiosos"), e expondo questões como o desconforto da operação, os vómitos, o (difícil) relacionamento com os outros, as relações sexuais, a escolha de uma peruca, etc.
Ao mesmo tempo, o tom da abordagem é cáustico e irónico, de um humor desconcertante, atenuando o peso do drama, sem, no entanto, lhe retirar o seu lado emocional e extremamente doloroso.
Miriam Engelberg faleceu em 2006 após a publicação do seu livro nos Estados Unidos.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Janeiro de 2010)
Delcourt (França, Fevereiro de 2007)
165x230 mm, 144 p., pb, brochado com badanas
Este é o diário da convivência da norte-americana Miriam Engelberg, com o seu cancro da mama, desde a sua descoberta, passando pelas diversas fases subsequentes: estados de depressão, desânimo, negação, raiva, operação, radioterapia, quimioterapia, etc.
O que surpreende nesta obra, servida por um desenho pouco menos do que incipiente, mas de leitura fácil e fluente, é a exposição total de Miriam, com os seus temores e as suas ansiedades, perdida perante a reviravolta que a doença provocou na sua vida, como numa primeira fase tentou ignorar a incontornável nova realidade, através de técnicas de "esvaziamento mental" (palavras cruzadas, consumo obsessivo de televisão) - e como viria a encontrar a via "salvadora" na realização de BD, quer enquanto terapia, quer enquanto realização de um sonho de sempre - a rejeição sistemática à religião (e principalmente aos "religiosos"), e expondo questões como o desconforto da operação, os vómitos, o (difícil) relacionamento com os outros, as relações sexuais, a escolha de uma peruca, etc.
Ao mesmo tempo, o tom da abordagem é cáustico e irónico, de um humor desconcertante, atenuando o peso do drama, sem, no entanto, lhe retirar o seu lado emocional e extremamente doloroso.
Miriam Engelberg faleceu em 2006 após a publicação do seu livro nos Estados Unidos.
(Texto publicado no Jornal de Notícias de 21 de Janeiro de 2010)
Leituras relacionadas
autobiografia,
Delcourt,
Engelberg
21/09/2010
Gus, #1 – Nathalie
Christophe Blain (argumento e desenho)
Dargaud (França, Janeiro de 2007)
245 x 298 mm, 80 p., cor, cartonado
Christophe Blain, como outros autores da sua geração (Sfar, Guibert…). encara a BD, antes de tudo, como um meio para contar histórias. Isso era já notório em "Le Réducteur de Vitesse", com que se revelou em 1999, ou em "Isaac, o pirata", de que a Polvo editou em português três tomos.
E é visível também em "Gus, #1 - Nathalie" (Dargaud), um western, desconcertante e atípico (no bom sentido), que poderia igualmente ser um conto medieval, actual ou de ficção-científica, pois o seu propósito é divagar sob a forma como os homens se relacionam (ou não…) com as mulheres.
Para isso, apresenta-nos Gus, Clem e Gratt, três salteadores (pontualmente xerifes!) bem sucedidos na sua vida de pilhagens, mas insatisfeitos na busca das suas "almas gémeas".
Numa história sensível mas irónica (que se adivinha) nascida ao correr da pena, que combina habilmente o real com os pensamentos, sentimentos e desejos dos intervenientes, Blain concede-se (e a nós) uma imensa liberdade gráfica, esquecendo questões "clássicas" como as proporções do corpo humano ou a constância da aparência das personagens, para colocar o seu traço simples e nervoso, parco em pormenores mas admiravelmente expressivo, sensual no tratamento das personagens femininas e capaz até de ser evocativo, ao serviço de uma total eficácia narrativa, que prende e carrega o leitor até à última e significativa prancha.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 14 de Janeiro de 2007)
Leituras relacionadas
Christophe Blain,
Dargaud,
Gus,
opinião
20/09/2010
As Aventuras de Tintin repórter do “Petit Vingtième” no País dos Sovietes
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado
5+1 Razões para ler este álbum
1. Para descobrir a “pré-história” de uma das mais importantes obras gráficas e literárias do século XX.
2. Como documento da forma de pensar de uma determinada época.
3. Para descobrir as influências do cinema (mudo) em Tintin.
4. Para descobrir como surgiu a poupa de Tintin.
5. Para admirar a única vez que Tintin foi visto a escrever uma reportagem.
+1. Qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 142 p., cor, cartonado
5+1 Razões para ler este álbum
1. Para descobrir a “pré-história” de uma das mais importantes obras gráficas e literárias do século XX.
2. Como documento da forma de pensar de uma determinada época.
3. Para descobrir as influências do cinema (mudo) em Tintin.
4. Para descobrir como surgiu a poupa de Tintin.
5. Para admirar a única vez que Tintin foi visto a escrever uma reportagem.
+1. Qualquer razão é válida e boa para ler um álbum de Tintin.
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18/09/2010
17/09/2010
Blacksad: um novo álbum e um filme
As Edições Asa distribuem hoje nas livrarias FNAC, em simultâneo com a edição original francesa, o álbum “Blacksad: O inferno, o silêncio”, quarto tomo desta série escrita por Juan Díaz Canales e desenhada por Juanjo Guarnido. O álbum chegará às restantes livarias do país em Outubro.
Premiada um pouco por todo o mundo e tendo conquistado os favores do público e da crítica, “Blacksad”, que retoma a tradição dos grandes autores do género, é um policial negro ambientado em meados do século XX que nos primeiros três álbuns revisitou temas como a intriga em meios cinematográficos (em "Algures entre as sombras"), o racismo e o Ku-Klux-Klan ("Artic nation") ou a caça aos comunistas nos EUA ("Alma vermelha").
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16/09/2010
Leituras DC Comics de Setembro
Títulos da DC Comics editados pela Panini Comics (Brasil) distribuídos este mês nas bancas portuguesas:
Batman #87
Superman #87
Superman & Batman #55
Liga da Justiça #86
Batman #87
Superman #87
Superman & Batman #55
Liga da Justiça #86
15/09/2010
Tex Edição de Ouro #45 – O Passado de Kit Carson
Mauro Boselli (argumento)
Marcello (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Novembro de 2009)
135 x 177 mm, 332 p., pb, brochado
Resumo
Após 25 anos de separação, os sobreviventes da temível quadrilha conhecida como Os Inocentes voltam a reunir-se, para levarem a cabo uma vingança há muito ansiada.
Ao mesmo tempo, Tex Willer e o seu filho, Kit, chegam a Tucson para se encontrarem com Kit Carson, mas descobrem que este partiu para Bannock, após ter liquidado um elemento daquela quadrilha. Enquanto seguem no encalço do seu amigo, Tex aproveita para contar ao filho um episódio do passado daquele, recheado de crime, violência e ódio, evocando as razões para tudo voltar a despertar agora, um quarto de século volvido. Nesse episódio está incluída uma relação romântica de Kit Carson, da qual pode ter nascido uma bela jovem.
1. Soa a contradição – é-o sem dúvida – mas um dos segredos da longevidade de Tex – mais de 60 anos e algumas centenas de histórias – é, por um lado, a fidelidade a um modelo (estereotipado) o western puro e duro e, por outro lado, a capacidade regular de inovação e renovação dentro desse modelo em histórias que geralmente destoam (para melhor) da média habitual da série.
O Passado de Kit Carson é um desses casos.
2. Habituados, na banda desenhada clássica, a heróis mais ou menos eternos, descobrir que têm um passado – ou que passaram a tê-lo… - é sempre uma surpresa. Mas também uma forma de o autor dar consistência à criação, tornando-a mais credível, mais humana, mais próxima dos leitores que seguem as suas andanças. É isso que acontece em O Passado de Kit Carson, com o aliciante de incluir uma antiga relação romântica do ranger.
3. Curiosamente, o escritor de O Passado de Kit Carson é Mauro Boselli, mais conhecido como argumentista do (menos interessante) Zagor, que nesta data (1994) fazia a sua estreia em Tex.
4. Uma estreia que tem de ser qualificada como de luxo, em que construiu uma das mais interes-santes histórias do ranger e dos seus amigos, em que alterna a acção no presente com longos flashbacks que ajudam o leitor a entender as razões do que se passa no tempo actual. Este recurso, dá também um menor protagonismo aos heróis, ausentes nalgumas dezenas de páginas da longa história, ajudando a narrativa a respirar e a ganhar consistência.
5. Os vários elementos presentes – a origem e intenções da quadrilha dos inocentes, no passado e no presente; a relação de Kit com o xerife Ray Clemonds e a bela Lena, que constituem um autêntico triângulo amoroso; a trágica história da cidade de Bannock; a força dos diversos sentimentos presentes: amor, ódio, amizade, coragem, raiva, vingança;, o papel relevante das figuras femininas; a longa e bem caracterizada galeria de personagens, a aproximação de Tex e do filho ao momento presente; o clímax final - são bem geridos e doseados, com diálogos, acção, suspense e surpresas q.b., originando um relato interessante, denso, bem urdido e explanado, com tudo o que é necessário para agradar aos amantes do western em particular e aos de banda desenhada de aventuras em geral.
6. Sei que muitos vão discordar, mas pessoal-mente lamento que tenha sido Carlo Marcello (1929-2007) o escolhido para a desenhar. Ou pelo menos que o seu desenho não tenha estado sempre ao melhor nível que demonstra em diversas páginas, pois os desequilíbrios gráficos são demasiados para se explicarem apenas pela extensão do relato e pelos prazos a cumprir. Porque se há alturas em que os rostos, corpos humanos, animais, cenários e jogos de luz e sombras se revelam primorosos, noutras páginas a escassez de tempo (ou o recurso a assistentes?) é por demais notória.
(Texto publicado originalmente no Tex Willer Blog)
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14/09/2010
Leituras da Turma da Mónica de Setembro
Títulos da Turma da Mônica editados pela Panini Comics (Brasil) distribuídos este mês nas bancas portuguesas:
Mônica #39
Cebolinha #39
Cascão #39
Chico Bento #39
Magali #39
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #39
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #39
Almanaque da Mônica #20
Almanaque do Cebolinha #20
Almanaque do Cascão #20
Turma da Mônica – Colecção Histórica #16
Turma da Mónica – Saiba mais #30 – Oswaldo Cruz
Turma da Mônica Jovem #21
Mônica #39
Cebolinha #39
Cascão #39
Chico Bento #39
Magali #39
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #39
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #39
Almanaque da Mônica #20
Almanaque do Cebolinha #20
Almanaque do Cascão #20
Turma da Mônica – Colecção Histórica #16
Turma da Mónica – Saiba mais #30 – Oswaldo Cruz
Turma da Mônica Jovem #21
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13/09/2010
Jerry Spring - L'intégrale en noir et blanc - Tome 1 – 1954/1955
Jijé (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Agosto de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Primeiro volume da edição integral a preto e branco de Jerry Spring, reúne os álbuns “Golden Creek (Le secret de la mine abandonnée)", “Yucca Ranch", "Lune d'argent" e "Trafic d'armes", originalmente publicados em 1954 e 1955.
Desenvolvimento
Pertenço a uma geração para quem o western era (um)a (das) aventura(s) em estado puro. E ainda é!
Por isso – e como leitor do “Mundo de Aventuras”, que me formou para um gosto eclético dentro dos quadradinhos – Jerry Spring foi um dos heróis que (também) encheu os meus sonhos. Blueberry e Buddy Longway, para mim, surgiram mais tarde, Tex (para desgosto do José Carlos Francisco), só em anos recentes, outros heróis menores (na dimensão que ocupam na história da BD) por lá passaram também mas deixando marca menos impressiva.
Assim, quando antevi a possibilidade de reencontrar Spring, numa edição com esta qualidade, para mais no preto e branco original, preferido por Jijé em detrimento da cor mais comercial, não hesitei. E o mínimo que posso dizer é que valeu a pena. Porque o reencontro com este herói da minha juventude, não destruiu nada da imagem que a minha memória guardava e ainda acrescentou a (re)descoberta de um clássico incontornável da 9ª arte.
Apesar de se considerar mais desenhador do que argumentista, a verdade é que Jijé, neste western, revela dotes mais do que suficientes para prender o leitor ao longo das narrativas, diversificadas dentro de alguns dos habituais estereótipos do género, bem conseguidas e consistentes, graças também ao seu ritmo acelerado, muitas vezes trepidante, devido à riqueza e variedade de planos e enquadramentos utilizados por Jijé.
Por isso não se compreende porque por vezes recorreu a outros colegas de profissão (Goscinny, Rosy…) até porque, apesar de aceitar os seus pontos de partida, no decurso dos álbuns acabou sempre por seguir o seu instinto, para desagrado deles.
As histórias incluídas neste tomo, as primeiras de Spring, revelam já um protagonista sólido e bem definido e um fio condutor sólido e credível, apesar de ligeiras discrepâncias menores, e mostram como Jijé soube beber nas suas inspirações (narrativas e gráficas) embora dotando a sua personagem de roupagens originais.
Desde logo, pelo carácter humanista de Jerry, cowboy romântico por excelência, gentleman por baixo da pele (não muito grossa) de homem do Oeste, como comprovam várias situações em que opta pelo diálogo e não pela violência, pela compaixão e não pela brutalidade desnecessária. E, também, pelo humor patente ao longo dos relatos, presente em muitos dos diálogos de Jerry ou, por exemplo, pela cobiça despertada por Ruby em todos aqueles com quem o herói se cruza em “Lune d’Argent”.
Se o protagonismo pertence ao americano – por vezes herói a solo dos relatos – a seu lado está quase sempre o mexicano Pancho que com ele forma um dueto (fisicamente) equiparável a muitos outros existentes na BD, pois Jerry é alto e atlético, enquanto Pancho é baixo e gorducho. No entanto, Pancho actua menos como contrapartida cómica e (bem) mais como verdadeiro parceiro, revelando, muitas vezes, mais bom senso e experiência, e contribuindo assim para salvar(-se e a)o amigo de situações limite.
O desenho de Jijé, mesmo sujeito a prazos apertados e ao seu excesso de trabalho – era então o faz-tudo da revista Spirou e das edições Dupuis – se foi traçado a pincel com rapidez e celeridade, não o denota, revelando antes um desenhador por excelência que, felizmente, a BD foi roubar à pintura. A planificação adoptada, com apenas três tiras por prancha, frequentemente ocupadas com uma única vinheta, deixa o seu desenho respirar e ajuda mesmo a realçar as suas principais qualidades: um traço elegante, ágil e muito dinâmico, e uma excelente utilização de manchas de negro utilizadas com mestria para guiar os olhos do leitor e destacar na brancura da página os pontos principais da acção.
Jijé sente-se tão à vontade com a figura humana – sejam os protagonistas delgados ou rechonchudos, novos ou velhos, homens ou (bonitas) mulheres - como no desenho de (soberbos e imponentes) cavalos. Nos cenários, em que montanhas e planícies tomam a primazia a aglomerados urbanos, adivinha-se que Jijé os conheceu e percorreu (durante uma viagem aos Estados Unidos), conseguindo transmitir-lhes uma aura realista e uma credibilidade que o recurso ou a “prisão” a documentação fotográfica muitas vezes não permite. Este aspecto contribui decisivamente para a solidez realista deste western, o que não invalida que o herói ganhe sempre no final, por muitas provas e atribulações que tenha de atravessar. Como aliás convém!
A reter
- Já o escrevi algumas vezes (e disse-o muitas mais), mas não me canso de o repetir: estou rendido aos volumes “integrais” francófonos. Pela irrepreensível qualidade gráfica, pela relevância e diversidade da documentação incluída (esboços, capas originais, arquivos de base, fotos, contextualização histórica da obra, etc.), pela importância das obras reproduzidas, pelo preço acessível. E também, neste caso concreto, “tout-court” pelo valor sentimental que Jerry Spring tem para mim. Não admira que tenha cada vez mais tomos destes na minha biblioteca…
- A qualidade do traço de Jijé, pormenorizado, rico, ágil, dinâmico, apesar de sujeito aos prazos apertados e à rapidez de execução. Por isso, se justificam as palavras de Derib (autor de Buddy Longway): “sou o único a considerar Jijé o maior desenhador de bandas desenhadas realistas?”.
Curiosidades
- Estreado em Portugal no “Cavaleiro Andante”, logo em 1956, em Portugal Jerry Spring passou também pelas páginas do “Zorro”, “Spirou” (1ª e 2ª séries) e “Selecções BD” (2ª série), para além do já citado “Mundo de Aventuras”. Quatro dos álbuns escritos e desenhados por Jijé - El Zopilote, Pancho em Apuros, Cavalos de Montana e Lobo Solitário - foram editados a cores pelas Edições 70, entre 1983 e 1984.
- Assistente de Rob-Vel, de quem herdou Spirou, Jijé privou (e trocou experiências e ajuda nos trabalhos quando os prazos apertavam) com Morris e Franquin, tendo um certo Jean Giraud dado os primeiros passos na BD no seu estúdio, em pranchas deste mesmo Jerry Spring, cuja influência gráfica é bem notória nos primeiros álbuns de Blueberry.
Dupuis (Bélgica, Agosto de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Primeiro volume da edição integral a preto e branco de Jerry Spring, reúne os álbuns “Golden Creek (Le secret de la mine abandonnée)", “Yucca Ranch", "Lune d'argent" e "Trafic d'armes", originalmente publicados em 1954 e 1955.
Desenvolvimento
Pertenço a uma geração para quem o western era (um)a (das) aventura(s) em estado puro. E ainda é!
Por isso – e como leitor do “Mundo de Aventuras”, que me formou para um gosto eclético dentro dos quadradinhos – Jerry Spring foi um dos heróis que (também) encheu os meus sonhos. Blueberry e Buddy Longway, para mim, surgiram mais tarde, Tex (para desgosto do José Carlos Francisco), só em anos recentes, outros heróis menores (na dimensão que ocupam na história da BD) por lá passaram também mas deixando marca menos impressiva.
Assim, quando antevi a possibilidade de reencontrar Spring, numa edição com esta qualidade, para mais no preto e branco original, preferido por Jijé em detrimento da cor mais comercial, não hesitei. E o mínimo que posso dizer é que valeu a pena. Porque o reencontro com este herói da minha juventude, não destruiu nada da imagem que a minha memória guardava e ainda acrescentou a (re)descoberta de um clássico incontornável da 9ª arte.
Apesar de se considerar mais desenhador do que argumentista, a verdade é que Jijé, neste western, revela dotes mais do que suficientes para prender o leitor ao longo das narrativas, diversificadas dentro de alguns dos habituais estereótipos do género, bem conseguidas e consistentes, graças também ao seu ritmo acelerado, muitas vezes trepidante, devido à riqueza e variedade de planos e enquadramentos utilizados por Jijé.
Por isso não se compreende porque por vezes recorreu a outros colegas de profissão (Goscinny, Rosy…) até porque, apesar de aceitar os seus pontos de partida, no decurso dos álbuns acabou sempre por seguir o seu instinto, para desagrado deles.
As histórias incluídas neste tomo, as primeiras de Spring, revelam já um protagonista sólido e bem definido e um fio condutor sólido e credível, apesar de ligeiras discrepâncias menores, e mostram como Jijé soube beber nas suas inspirações (narrativas e gráficas) embora dotando a sua personagem de roupagens originais.
Desde logo, pelo carácter humanista de Jerry, cowboy romântico por excelência, gentleman por baixo da pele (não muito grossa) de homem do Oeste, como comprovam várias situações em que opta pelo diálogo e não pela violência, pela compaixão e não pela brutalidade desnecessária. E, também, pelo humor patente ao longo dos relatos, presente em muitos dos diálogos de Jerry ou, por exemplo, pela cobiça despertada por Ruby em todos aqueles com quem o herói se cruza em “Lune d’Argent”.
Se o protagonismo pertence ao americano – por vezes herói a solo dos relatos – a seu lado está quase sempre o mexicano Pancho que com ele forma um dueto (fisicamente) equiparável a muitos outros existentes na BD, pois Jerry é alto e atlético, enquanto Pancho é baixo e gorducho. No entanto, Pancho actua menos como contrapartida cómica e (bem) mais como verdadeiro parceiro, revelando, muitas vezes, mais bom senso e experiência, e contribuindo assim para salvar(-se e a)o amigo de situações limite.
O desenho de Jijé, mesmo sujeito a prazos apertados e ao seu excesso de trabalho – era então o faz-tudo da revista Spirou e das edições Dupuis – se foi traçado a pincel com rapidez e celeridade, não o denota, revelando antes um desenhador por excelência que, felizmente, a BD foi roubar à pintura. A planificação adoptada, com apenas três tiras por prancha, frequentemente ocupadas com uma única vinheta, deixa o seu desenho respirar e ajuda mesmo a realçar as suas principais qualidades: um traço elegante, ágil e muito dinâmico, e uma excelente utilização de manchas de negro utilizadas com mestria para guiar os olhos do leitor e destacar na brancura da página os pontos principais da acção.
Jijé sente-se tão à vontade com a figura humana – sejam os protagonistas delgados ou rechonchudos, novos ou velhos, homens ou (bonitas) mulheres - como no desenho de (soberbos e imponentes) cavalos. Nos cenários, em que montanhas e planícies tomam a primazia a aglomerados urbanos, adivinha-se que Jijé os conheceu e percorreu (durante uma viagem aos Estados Unidos), conseguindo transmitir-lhes uma aura realista e uma credibilidade que o recurso ou a “prisão” a documentação fotográfica muitas vezes não permite. Este aspecto contribui decisivamente para a solidez realista deste western, o que não invalida que o herói ganhe sempre no final, por muitas provas e atribulações que tenha de atravessar. Como aliás convém!
A reter
- Já o escrevi algumas vezes (e disse-o muitas mais), mas não me canso de o repetir: estou rendido aos volumes “integrais” francófonos. Pela irrepreensível qualidade gráfica, pela relevância e diversidade da documentação incluída (esboços, capas originais, arquivos de base, fotos, contextualização histórica da obra, etc.), pela importância das obras reproduzidas, pelo preço acessível. E também, neste caso concreto, “tout-court” pelo valor sentimental que Jerry Spring tem para mim. Não admira que tenha cada vez mais tomos destes na minha biblioteca…
- A qualidade do traço de Jijé, pormenorizado, rico, ágil, dinâmico, apesar de sujeito aos prazos apertados e à rapidez de execução. Por isso, se justificam as palavras de Derib (autor de Buddy Longway): “sou o único a considerar Jijé o maior desenhador de bandas desenhadas realistas?”.
Curiosidades
- Estreado em Portugal no “Cavaleiro Andante”, logo em 1956, em Portugal Jerry Spring passou também pelas páginas do “Zorro”, “Spirou” (1ª e 2ª séries) e “Selecções BD” (2ª série), para além do já citado “Mundo de Aventuras”. Quatro dos álbuns escritos e desenhados por Jijé - El Zopilote, Pancho em Apuros, Cavalos de Montana e Lobo Solitário - foram editados a cores pelas Edições 70, entre 1983 e 1984.
- Assistente de Rob-Vel, de quem herdou Spirou, Jijé privou (e trocou experiências e ajuda nos trabalhos quando os prazos apertavam) com Morris e Franquin, tendo um certo Jean Giraud dado os primeiros passos na BD no seu estúdio, em pranchas deste mesmo Jerry Spring, cuja influência gráfica é bem notória nos primeiros álbuns de Blueberry.
11/09/2010
A Batalha do Bussaco – A Derrota Fatal dos Marechais de Napoleão Bonaparte
No âmbito das comemorações dos 200 anos da Batalha do Bussaco, é lançado hoje, sábado, 11 de Setembro, às 16 horas, no Convento de Santa Cruz do Bussaco, na Mealhada, o álbum de banda desenhada “A Batalha do Bussaco – A Derrota Fatal dos Marechais de Napoleão Bonaparte”, da autoria de José Pires.
O livro, que retrata detalhadamente um momento crucial da história portuguesa e europeia, será apresentado pelo Coronel José Geraldo, director do Jornal do Exército.
A Batalha do Bussaco é um álbum publicado pela Âncora Editora, com o patrocínio da Câmara Municipal de Mealhada.
O livro, que retrata detalhadamente um momento crucial da história portuguesa e europeia, será apresentado pelo Coronel José Geraldo, director do Jornal do Exército.
A Batalha do Bussaco é um álbum publicado pela Âncora Editora, com o patrocínio da Câmara Municipal de Mealhada.
Leituras relacionadas
Âncora Editora,
José Pires,
Lançamento
10/09/2010
Tintin no Congo
Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo das aventuras de Tintin, leva o reporter até ao antigo Congo belga, sob o pretexto de escrever uma série de reportagens.
Desenvolvimento
1. A obra
Esta é uma das mais ingénuas narrativas de Tintin, sem grande fio condutor, que quase se limita a ser uma sucessão de gags – alguns bem conseguidos - que têm por tema o confronto com os inimigos de Tintin, caçadas a animais exóticos ou encontros com a população local. Apesar disso, é uma obra de uma grande legibilidade, que em termos narrativos visuais revela já todas as (muitas) qualidades de Hergé.
Revisitada hoje, quase oitenta anos depois da sua génese, revela-se bastante datada e tem que ser encarada como tal, como um documento da forma de pensar de uma época. E é assim que deve ser lida. E é assim que deve ser analisado e compreendido o olhar complacente e de alguma superioridade de Tintin em relação aos negros e a atitude subserviente destes em relação ao herói que reconhecem e admiram.
Por isso, as variadas acusações de racismo e os múltiplos processos de que está a ser alvo em tribunal, apenas podem significar uma de duas coisas: ignorância por parte dos seus autores, ou uma vontade desmesurada de se colocarem em bicos de pés à custa da obra de Hergé…
E o mesmo se poderá dizer das acusações de desrespeito pelos direitos dos animais (seja lá isso o que for), feitas por umas tantas pessoas e organizações com demasiado tempo livre, face às matanças – nalguns casos bem divertidas – que Tintin vai cometendo.
2. O formato
Se o traço de Hergé é suficientemente legível e expressivo para aguentar bem a redução de tamanho adoptado pela ASA para esta sua primeira edição de Tintin, próximo do comic americano ou do próprio livro, a verdade é que qualquer redução de tamanho é penalizadora para a completa fruição de uma obra gráfica. Reconhecendo diversas vantagens ao actual formato (a começar pelo preço), pessoalmente, prefiro o tamanho tradicional.
3. A tradução
Esta edição da ASA apresenta também uma nova tradução. Sendo um dos álbuns de Hergé com menos texto, se num ou noutro balão poderia haver opções mais felizes (nalguns casos utilizadas na anterior edição da Verbo) globalmente fiz a sua leitura sem que nada me chocasse ou soasse especialmente mal.
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo das aventuras de Tintin, leva o reporter até ao antigo Congo belga, sob o pretexto de escrever uma série de reportagens.
Desenvolvimento
1. A obra
Esta é uma das mais ingénuas narrativas de Tintin, sem grande fio condutor, que quase se limita a ser uma sucessão de gags – alguns bem conseguidos - que têm por tema o confronto com os inimigos de Tintin, caçadas a animais exóticos ou encontros com a população local. Apesar disso, é uma obra de uma grande legibilidade, que em termos narrativos visuais revela já todas as (muitas) qualidades de Hergé.
Revisitada hoje, quase oitenta anos depois da sua génese, revela-se bastante datada e tem que ser encarada como tal, como um documento da forma de pensar de uma época. E é assim que deve ser lida. E é assim que deve ser analisado e compreendido o olhar complacente e de alguma superioridade de Tintin em relação aos negros e a atitude subserviente destes em relação ao herói que reconhecem e admiram.
Por isso, as variadas acusações de racismo e os múltiplos processos de que está a ser alvo em tribunal, apenas podem significar uma de duas coisas: ignorância por parte dos seus autores, ou uma vontade desmesurada de se colocarem em bicos de pés à custa da obra de Hergé…
E o mesmo se poderá dizer das acusações de desrespeito pelos direitos dos animais (seja lá isso o que for), feitas por umas tantas pessoas e organizações com demasiado tempo livre, face às matanças – nalguns casos bem divertidas – que Tintin vai cometendo.
2. O formato
Se o traço de Hergé é suficientemente legível e expressivo para aguentar bem a redução de tamanho adoptado pela ASA para esta sua primeira edição de Tintin, próximo do comic americano ou do próprio livro, a verdade é que qualquer redução de tamanho é penalizadora para a completa fruição de uma obra gráfica. Reconhecendo diversas vantagens ao actual formato (a começar pelo preço), pessoalmente, prefiro o tamanho tradicional.
3. A tradução
Esta edição da ASA apresenta também uma nova tradução. Sendo um dos álbuns de Hergé com menos texto, se num ou noutro balão poderia haver opções mais felizes (nalguns casos utilizadas na anterior edição da Verbo) globalmente fiz a sua leitura sem que nada me chocasse ou soasse especialmente mal.
09/09/2010
Pérolas a Porcos #8 – Pérolas de sábado à noite
Stephen Pastis (argumento e desenho)
Bizâncio (Portugal, Março de 2010)
210 x 220 mm, 130 p., pb, brochado com badanas
Não hesito em afirmar que Pérolas a Porcos (Pearls before Swine, no original) é uma das mais geniais tiras diárias em publicação. É verdade que um dos seus epítetos poderia ser “Feios, um porco e maus”, pois este é um retrato cínico e cruel mas irresistível do ser humano (todos nós), mostrando o seu pior lado, quer fale do racismo, da violência, da reciclagem, da religião, do desporto, dos programas televisivos, dos grupos de auto-ajuda, das novas tecnologias ou do comércio enganoso. Porque Pastis, o seu autor, traça-o com diálogos inteligen-tes, mordazes, certeiros, finamente irónicos, absurdamente deliciosos ou deliciosamente absurdos, com um notável e irresistível non-sense, baseando-se nos piores defeitos da humanidade– o egoísmo, a maldade, a ganância, a inveja, o oportunismo, a estupidez, a falta de educação – transpostos para uma série de animais antropomorfizados e sem nada que os permita classificar como “fofinhos”: um rato egoísta, impertinente e oportunista; um porco a quem chamar estúpido é um grande elogio; uma zebra simplista e ingénua mas com uma grande vontade de viver; um bode sensato e lúcido, mas pouco interveniente.
A esta base – sólida, consistente e cujos diálogos têm sempre algo de inesperado – há que acrescentar uma série de personagens ocasionais ou recorrentes, com tanto de surpreendente quanto de insólito: Chuckie, o carneiro (não antropomorfizado!) que por isso só faz “béééé” (há tante gente assim!), Herb, o maquinista (miniatura!) dos comboios (em miniatura!), os pictogramas que bem conhecemos da sinalização de portas de WC, uma anémona-do-mar, um par de nozes, bonequinhos vickings efeminados, Barbara Bush, os cérebros “autóno-mos” dos anti-heróis que protagoni-zam a série, o bélico pato-de-guarda, Andy o cão acorrentado com vontade de correr mundo (e com mala feita), Steve e Orville os hamsters de gaiola, o próprio Pastis, descoberto ou acossado pelas suas criações, etc., etc.! Como último achado, surgem os “peixes do tecto” que, sentados no topo da tira, tentam pescar os seus protagonistas!
Neste oitavo tomo, a relação de ódio/von-tade de comer entre a zebra e os (muito, mas mesmo muito) estúpidos crocodilos assume um maior protagonismo, semelhante mesmo ao desfrutado pelo rato e o porco, e é ainda condimentada (passe o termo), pelos novos vizinhos, uns leões fêmea-dependentes.
No entanto, o grande destaque vai para novo cruzamento com uma tira “rival”, desta vez a sossegada e ingénua “Family Circus”, cujo espírito próprio e singularidades gráficas, são vítimas do humor de Pastis e das (más) acções do rato e companhia.
Bizâncio (Portugal, Março de 2010)
210 x 220 mm, 130 p., pb, brochado com badanas
Não hesito em afirmar que Pérolas a Porcos (Pearls before Swine, no original) é uma das mais geniais tiras diárias em publicação. É verdade que um dos seus epítetos poderia ser “Feios, um porco e maus”, pois este é um retrato cínico e cruel mas irresistível do ser humano (todos nós), mostrando o seu pior lado, quer fale do racismo, da violência, da reciclagem, da religião, do desporto, dos programas televisivos, dos grupos de auto-ajuda, das novas tecnologias ou do comércio enganoso. Porque Pastis, o seu autor, traça-o com diálogos inteligen-tes, mordazes, certeiros, finamente irónicos, absurdamente deliciosos ou deliciosamente absurdos, com um notável e irresistível non-sense, baseando-se nos piores defeitos da humanidade– o egoísmo, a maldade, a ganância, a inveja, o oportunismo, a estupidez, a falta de educação – transpostos para uma série de animais antropomorfizados e sem nada que os permita classificar como “fofinhos”: um rato egoísta, impertinente e oportunista; um porco a quem chamar estúpido é um grande elogio; uma zebra simplista e ingénua mas com uma grande vontade de viver; um bode sensato e lúcido, mas pouco interveniente.
A esta base – sólida, consistente e cujos diálogos têm sempre algo de inesperado – há que acrescentar uma série de personagens ocasionais ou recorrentes, com tanto de surpreendente quanto de insólito: Chuckie, o carneiro (não antropomorfizado!) que por isso só faz “béééé” (há tante gente assim!), Herb, o maquinista (miniatura!) dos comboios (em miniatura!), os pictogramas que bem conhecemos da sinalização de portas de WC, uma anémona-do-mar, um par de nozes, bonequinhos vickings efeminados, Barbara Bush, os cérebros “autóno-mos” dos anti-heróis que protagoni-zam a série, o bélico pato-de-guarda, Andy o cão acorrentado com vontade de correr mundo (e com mala feita), Steve e Orville os hamsters de gaiola, o próprio Pastis, descoberto ou acossado pelas suas criações, etc., etc.! Como último achado, surgem os “peixes do tecto” que, sentados no topo da tira, tentam pescar os seus protagonistas!
Neste oitavo tomo, a relação de ódio/von-tade de comer entre a zebra e os (muito, mas mesmo muito) estúpidos crocodilos assume um maior protagonismo, semelhante mesmo ao desfrutado pelo rato e o porco, e é ainda condimentada (passe o termo), pelos novos vizinhos, uns leões fêmea-dependentes.
No entanto, o grande destaque vai para novo cruzamento com uma tira “rival”, desta vez a sossegada e ingénua “Family Circus”, cujo espírito próprio e singularidades gráficas, são vítimas do humor de Pastis e das (más) acções do rato e companhia.
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