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25/02/2013

Maurice Rosy (1927-2013)


Maurice Rosy (2011)
Foto de D. Pasamonik no ActuaBD
O belga Maurice Rosy faleceu no passado dia 23, contava 85 anos de idade.
Natural de Fontaine-l’Évêque, onde nasceu a 17 de Novembro de 1927, foi contratado em 1954 pelas Éditions Dupuis como “dador de ideias”, função criada especialmente para ele. Dois anos depois era promovido a director artístico da revista “Spirou”, cargo que ocuparia até 1971 em companhia de Yvan Delporte.
Durante esse período colaborou com Franquin em dois álbuns de Spirou e Fantásio - “O Ditador e o Cogumelo” e “Os Piratas do Silêncio” – e escreveu argumentos para séries como Jerry Spring, Tif e Tondu (onde foi o criador do vilão de serviço, M. Choc), Bobo, Boule e Bill, Max o explorador e Átila, que os portugueses puderam descobrir em revistas como Cavaleiro Andante, Tintin, Spirou, Jacaré ou Jornal da BD.
A partir de 1974 dedicou-se à ilustração de livros infantis e de publicações periódicas, bem como à publicidade.

04/11/2010

Attila – L'Intégrale

Maurice Rosy e Kornblum (argumento)
Derib (desenho)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado


Resumo
Attila é um cão que, por ter sido objecto de experiências científicas adquiriu a capacidade de falar e de andar erecto. Transformado em agente dos serviços secretos suíços, haveria de viver cinco aventuras longas e duas curtas.
Os quatro primeiros álbuns – “Un métier de chien”, “Attila au chateau”, “Le mystère Z14” e “La merveilleuse surprise d’Odée” – publicados entre 1967 e 1973, e as duas histórias curtas, datadas de 1969 e 1970, estão incluídas no presente volume. Ou seja, todas as desenhadas por Derib. De fora ficou apenas “Bak et Flak étonnent Attila”, desenhado por Didgé, muito mais tarde, em 1987.

Desenvolvimento
Série menor – pode dizer-se, pela duração e pela importância - dos anos de ouro da revista Spirou, “Attila” tem mesmo assim motivos de sobra que justifiquem a sua leitura, ainda para mais numa bela edição como esta.
Correspondendo à imagem gráfica que geralmente se associa à revista – o traço semi-realista de Derib só surgiria anos depois – com personagens simpáticas, agradáveis e de narizes grandes, privilegia o relato misto de aventura e humor (maioritariamente baseado nas situações causadas pela dupla condição de Attila: cão/quase humano e pelas trapalhadas de Bourrilon), com bastante acção e sem momentos mortos. O seu tom inicial, aconselha-o maioritariamente para um público infanto-juvenil (de quem fez as delícias na altura da sua publicação), pela forma como consegue apelar ao seu imaginário rico e diversificado, mas a consistência das histórias e o bom ritmo narrativo possibilitam um bom par de horas de leitura leve e descontraída a qualquer apreciador de BD.
Na história inicial, de apresentação do herói e de alguns dos seus companheiros e adversários habituais, Attila surge na peugada de espiões que pretendem roubar documentos secretos da Suíça. No entanto, rapidamente a sua indisciplina e a sua capacidade de iniciativa levam-no para outro tipo de confusões e para aventuras mais quotidianas, em especial protegendo o pequeno Odée, que conhece por acidente, herdeiro de um castelo que desperta muitos interesses.
Ao lado de Attila, actua normalmente o trapalhão Bourrilon, que teoricamente lhe deve servir de cobertura, tendo o protagonista várias vezes à ajuda e cobertura de um coronel do exército suíço; mais tarde – anunciando o declínio da série e a derrapagem para o tom de ficção-científica – aparecerá Z14, outro cão falante e o responsável por esse facto, o inventor e cientista Professor Comant. Todos juntos terão que fazer frente a Grismouron, o interesseiro tutor de Odée, e a Labouf e Lerazé, os seus pouco dotados cúmplices.
Curioso é notar como os quatro álbuns (e, mais tarde, também o quinto), publicados com meses ou anos de intervalo, funcionam como um todo, com cada nova aventura a começar exactamente no mesmo momento e no local onde a anterior terminara, o que permite lê-las como se de um todo se tratasse, o que é reforçado pelo (re)aparecimento constante daqueles que pareciam protagonistas menores.

A reter
- Mais uma vez a qualidade desta edição integral: o papel, o preço, o dossier inicial que conta a história e o percurso do herói e dos seus autores.
- O humor e a simplicidade do relato – apesar disso bem escrito e desenvolvido – reflexo de um outro tempo e de outra maneira de fazer BD.

Menos conseguido
- A forma como o tom dos relatos vai mudando ao longo do volume, afastando-se progressivamente das “histórias de fadas” que Odée tanto aprecia e transformando-se (quase) em pura ficção-científica, com laboratórios secretos, engenhos voadores e improváveis viagens à Lua, desenquadrados do traço utilizado por Derib. Não admira que este tenha decidido abandonar a série após o quarto álbum.
- Sei que editorialmente estes volumes – talvez por razões funcionais ou práticas – costumam ser limitados a 240 (suculentas) páginas, mas foi pena que o 5º tomo das aventuras de Attila não tenha sido incluído na edição, mesmo tendo sido desenhado 14 anos depois por outro autor e sem conhecimento dos argumentistas (!), uma vez que a história existia desde o final do tomo 4 e surge na sequência das anteriores.

Curiosidades
- Este é um trabalho dos primórdios da carreira do grande Derib – saído do estúdio de Peyo onde trabalhava nos Schtroumpfs (!) – bem longe ainda do estilo e da temática western que o faria notado com “Buddy Longway”, “Celui qui est né deux fois” ou “Red Road”.
- A primeira história de Attila foi publicada em Portugal, no suplemento Quadradinhos, do jornal A Capital, na sua segunda série, entre 1972 e 1974. Foi em bicromia e sob o título “Ofício de cão”, como mostra a prancha aqui reproduzida.
- “Attila no castelo”, foi um dos títulos que integrou a revista Spirou (2ª série), em 1979.

28/09/2010

Tif et Tondu

#1 – Le Diabolique M. Choc
Les Intégrales Dupuis
Rosy (argumento)
Will (desenho)
Dupuis (Bélgica, Março de 2007)
218 x 286 mm, 160 p., cor, cartonado


Resumo
Este é o primeiro tomo da republicação integral das aventuras de Tif e Tondu - que durante décadas foram um dos sustentáculos da revista belga “Spirou” - aqui agrupadas por temáticas.
Este volume inicial, para além de um dossier sobre a série e os seus criadores, inclui as histórias “La Main blanche”, “Le retour de Choc” e “Passez Muscade”, originalmente publicadas em 1955 e 1956, e respectivamente 4º, 5º e 6º álbuns da dupla.

Desenvolvimento
Sim, este é mais um (excelente) integral francófono presente na minha bedeteca, um tipo de edição cada vez mais vulgar nos catálogos de editoras como a Dupuis, a Dargaud ou a Lombard.
Neste caso, reúne três aventuras marcantes da dupla Tif e Tondu, correspondentes aos primeiros embates com Monsieur Choc, o seu grande rival.
Antes disso, no entanto, o ponto forte da edição: o dossier, com muitas ilustrações e documentos, alguns deles inéditos, que mostram a pré-história da dupla – quando Tondu, o barbudo, era ainda um…selvagem! Porque antes de adquirirem o visual que hoje lhes conhecemos, Tif e Tondu deram algumas voltas. A começar pelo facto de Tif ter nascido sozinho, em 1938, só depois tendo conhecido o seu companheiro. Este dossier inclui igualmente apontamentos sobre o vilão de serviço, a relação dos autores, a sua forma de trabalhar e outros documentos da época, que revelam um tempo e uma forma de estar e de fazer BD hoje (quase) inimaginável.
As aventuras de Tif e Tondu, de forte pendor aventuroso e policial, são simples e (hoje) algo ingénuas, tramas lineares, com suspense e acção, mas cativantes e, de certeza, apelativas para os jovens a quem então se dirigiam. Em suma, pode dizer-se que são bem representativas de uma certa época da banda desenhada franco-belga.
As três histórias aqui incluídas, narram outras tantas vitórias (sempre incompletas, para assegurar futuras continuações) sobre o recorrente vilão - “um dos maiores génios do mal do planeta” - cuja face está sempre oculta, geralmente por um elmo metálico. Este facto, a par da sua inteligência – revelada na complexidade dos planos que elabora - e da sua elegância - até quando comparado com as restantes personagens, mais próximas do padrão humorístico franco-belga (baixas, de traços arredondados, narizes grandes, um certo ar caricatural), se assim posso escrever – aumenta a sua aura de mistério e cria mesmo uma certa simpatia junto dos leitores.
A presença de Tif e Tondu oscila entre protagonistas involuntários (mais no início do volume) e motores da acção (na sua parte final, assumindo progressivamente o seu papel de “heróis”), sendo o todo de leitura agradável, embora estas histórias não atinjam o nível do Spirou, de Franquin, ou do Gil Jourdan, de Tillieux, para citar outros dois pilares da revista “Spirou”, contemporâneos de Tif e Tondu.
Graficamente, a linha clara de Will, servida por cores quentes e planas, é de uma grande legibilidade, sendo o seu traço dinâmico e diversificado q.b., para cativar o leitor e assegurar o ritmo de leitura adequado.

A reter
- O formato, o dossier, a recuperação de clássicos, o preço…

Menos conseguido
- Se admiro a restauração (e actualização…) das cores originais, confesso que preferia o aspecto retro (as tramas visíveis nas manchas de cor, as bochechas rosadas, o tom amarelado das margens das páginas…) visível nalgumas das reproduções de páginas originais da revista “Spirou” incluídas na edição…

Curiosidades
- Até ao momento a Dupuis já publicou sete tomos desta colecção.
- Naturalmente, Tif e Tondu fizeram parte dos sumários das duas vidas que a revista “Spirou” teve em Portugal, tendo também passado (pelo menos) pelas páginas do “Jacaré” e do “Jornal da BD”.
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