‘Não
há nenhum velho louco nesta história, Mathias...
Apenas um homem
idoso sozinho diante da morte...’
In
Mille
anos pour une agonie
O
recente falecimento de Christian Godard, levou-me a pegar no segundo
integral de Martin
Milan, a
sua maior criação. Há muito na pilha de leituras a fazer,
juntamente com o volume #3 e a aguardar pelo #4, foi a possibilidade
de reler uma das mais singulares e tocantes séries da banda
desenhada clássica franco-belga.
Entre
as leituras nostálgicas e/ou de (re)descoberta
do passado que (nalguns
casos não conheci e que)
têm
marcado de forma significativa algumas das minhas últimas escolhas
está - inevitavelmente;
teria
que ser, mais cedo ou mais tarde - este
Martin
Milan
em forma de integral.
Em
2010, a banda desenhada portuguesa era surpreendida com o lançamento
de As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy, que viriam a
demonstrar - mais três livros e quatro anos depois - que os
quadradinhos nacionais eram capazes de chegar a leitores fora do
habitual nicho de consumidores do género e podiam ter como
protagonistas heróis recorrentes e marcantes.
Descobertos a bom preço, a compra destes
integrais foi irresistível, apesar da quase total ausência de
referências, para além das
certezas que
garante a assinatura de Serge Le Tendre como argumentista. E, claro,
pelo ‘fraquinho’ que tenho por westerns. E ainda bem, porque Chinaman,
lido quase em maratona ou mais exatamente ao longo de uns 12/15 dias,
e com outras
leituras pelo meio, revelou-se uma agradável surpresa.
Admirador
confesso de western,
tenho ainda assim algumas lacunas nas
minhas leituras do género, uma delas agora (parcialmente) suprida:
Durango
uma criação de Yves Wolf, também autor
completo da (aconselhável) série Lonesome,
que a Gradiva tem no seu catálogo.
Com
este quarto volume, fica fechada em pouco mais de um ano a recuperação de todos os
tablóides de Horácio, escritos e desenhados por Maurício de Sousa,
para os suplementos infantis dos jornais Folha de São Paulo e
Estado de São Paulo.
Nome
maior de uma família de autores - que em reconhecimento pela sua
qualidade artística os irmãos Adriano e Alejandro adoptaram como
pseudónimo comum para as obras nascidas no estúdio doméstico -
Jesus Blasco foi um dos autores que deslumbrou gerações de leitores
portugueses - bem para além do Cuto adolescente que entre nós ficou
como sua marca maior, com as suas aventuras vividas um pouco por todo
o mundo conhecido - e desconhecido.
Conhecido
como criador e pai inspirado dos
Schtroumpfs, de Johan et Pirlouit e de
Benoit Bruisefer, Peyo legou-nos outra
criação, possivelmente menos mediatizada, mas à qual dedicou
muitos anos - de 1949 a 1991, embora com
grandes hiatos - e toda a sua capacidade
artística: Poussy, o gato.
Volto
ao tema da memória que me serviu de mote há algumas semanas e que previa na altura se
prolongasse por mais alguns textos mas, o multiplicar de edições e
das consequentes leituras acabou por adiar a análise aos dois livros
que proponho hoje. Neles,
a memória funciona a dois tempos.
O
tempo passa a correr. Entre a compra do último álbum (português)
que faltava na minha colecção, a leitura 'integral' das histórias
cá publicadas e a satisfação do desejo de conhecer mais aventuras
de Yoko Tsuno, a
engenheira electrotécnica nipónica, passou mais de ano e meio, sem
que de tal me apercebesse realmente. Adequadamente,
este integral tem por título: À
la poursuite du temps...
Podia
ter terminado o ano - e
muito bem - com
o Family
Tree
de ontem, mas a verdade é
que
neste ano se acentuou a minha necessidade de, pontualmente, mergulhar
nestes oásis de genuína ingenuidade e génio narrativo que são as
grandes séries clássicas franco-belgas, por
isso esta opção por este volume integral de Benoîr Brisefer para
fechar o ano aqui em As Leituras do Pedro, no que às análises de
obras diz respeito.
Li
há muitos anos - num Mosquito
antigo…?
Num Mundo
de Aventuras…?
- um conto intitulado A
melhor prenda era… Reflexo
de uma era - a da ditadura portuguesa, de um certo miserabilismo
cultivado à exaustão, tinha um tom delicodoce mas, vá lá saber-se
porquê, ficou-me o título na memória e penso que não é a
primeira vez que me serve de mote. Se
ficaria bem - para mais nesta quadra - apontar como melhor prenda as
utopias mundialistas e socialmente correctas, como a paz no mundo, o
fim da pandemia ou a recuperação ecológica do planeta,
pessoalmente contento-me com um bom livro. Que tem a vantagem de o
ser - boa prenda - em qualquer altura ou época. E
até repetidamente.
Ao
longo das últimas semanas, li estes dois integrais, que o acaso
juntou na minha pilha
de leituras, (quase que) em ‘modo revista’. Que é como quem diz,
ao ritmo errático de umas quantas páginas ou
uma ou duas histórias curtas por
dia (ou dias), sem obrigações temporais nem pré-determinações
horárias, aproveitando momentos mortos quotidianos. Dessa
forma, de algum modo, evoquei os (bons) tempos em que as séries eram
(primeiramente) consumidas em revista e evitei a(lguma) repetição
que este tipo de compilações (sempre) acarreta.
Escolhido
sem grandes referências - para além da mais evidente, o nome de
François Walthéry na capa, que foi suficiente para me convencer -
este primeiro integral de Rubine
revelou-se uma interessante proposta, embora não pelos motivos que à
partida seriam mais expectáveis.
Cruzei-me
várias vezes com Jordi Bernet nos últimos 20 anos do século XX.
Uma
única vez presencialmente - em Angoulême? em
Barcelona? convidando-o para uma presença no Salão Internacional de
BD do Porto que nunca se concretizou - a maior parte delas como
leitor ávido. Num dos casos de Kraken
-
agora reunido nesta aconselhável edição integral.
Com
a leitura iniciada em meados da década de 1990 e feita ao longo da
primeira mão-cheia de álbuns, ao ritmo da edição francesa,
até final do século passado, Pin
Up foi uma série cuja
conclusão,
pelos mais diversos motivos, fui
adiando
ao longo de quase duas décadas (!). Terminei-a
agora - aliás, fi-la (em parte,
de novo) toda, de seguida, na
edição integral espanhola - confirmando os seus
muitos méritos mas também alguns
pontos menos meritórios.