Produção familiar
Nome maior de uma família de autores - que em reconhecimento pela sua qualidade artística os irmãos Adriano e Alejandro adoptaram como pseudónimo comum para as obras nascidas no estúdio doméstico - Jesus Blasco foi um dos autores que deslumbrou gerações de leitores portugueses - bem para além do Cuto adolescente que entre nós ficou como sua marca maior, com as suas aventuras vividas um pouco por todo o mundo conhecido - e desconhecido.
Com uma obra vasta e diversificada, com diferentes registos e origens, em bom tempo a ECC Ediciones decidiu reuni-la em volumes integrais, quatro até agora, dedicados a personagens, numa colecção própria. Entre dois do Cuto e um de Anita Diminuta, surgiu este integral de Los Guerrilleros, uma das muitas incursões de Blasco - e dos seus irmãos… - no western, género grande na altura, com Jerry Spring e Blueberry a brilharem a grande altura na Bélgica, e hoje em renovação e renascimento.
Los guerrilheiros, curiosamente, foi uma série de apenas quatro episódios, publicados originalmente na revista Spirou belga, entre 1968 e 1973, e em bom tempo recuperados pela ECC Ediciones em volume único de capa dura, com uma introdução tripla que descreve a forma de trabalhar dos irmãos Blasco, o seu percurso na época e as diferentes publicações de Los Guerrilleros na Bélgica e em Espanha.
Western de contornos tradicionais, apresenta no entanto algumas características distintivas. Desde logo no trio de protagonistas: Ray, o potencial herói, atirador rápido e alvo das atenções das belas mulheres com quem se cruza, mas incapaz de as amar devido a um acontecimento trágico do seu passado; Yuma, um índio de lealdade a toda a prova mas participação intermitente; Pedro Alvarado de Gusmán, um mexicano mentiroso e ladrão, amante de pulque, que revela pontualmente laivos de humanidade e usa a mentira tanto para enganar e enriquecer como como arma salvadora. Aparentemente criado para introdução de uma nota de humor, acaba por se revelar o verdadeiro protagonista, centro de todas as narrativas, muito bem utilizado para acrescentar um tom mais humano aos relatos.
Com o argumento sucessivamente entregue a Miguel Cussó, Larraz e ao próprio Jesus Blasco, Los Guerrilleros não foge muito aos estereótipos do género, entre oportunistas que tentam comprar ranchos a todo o custo, prisioneiros para escoltar e entregar, o combate a um bando de irmãos que espalha o terror no Texas ou a libertação de uma cidade oprimida. Apesar disso, não posso deixar de indicar duas notas de originalidade: a primeira, a evocação de um antepassado de Pedro, com os momentos do passado e do presente a sobreporem-se, um pouco à maneira do capitão Haddock e do Cavaleiro de Hadoq em O Tesouro de Rackham, o terrível; a segunda, no episódio terminal, o mais consistente dos quatro, a adopção de uma identidade falsa para ganhar alguns dólares, por Pedro, que o converte em atípico heróis abstémio.
Este belo integral, em que se destaca a excelente impressão que realça o traço fino, clássico, realista e dinâmico dos Blasco e a sua mestria na gestão dos contrastes de luz/sombra e branco/negro, foi para mim a oportunidade para descobrir como nunca a tinha visto esta obra dos Blasco e recordar vinhetas e sequências que a sua leitura há décadas no Mundo de Aventuras deixou vincadas na minha memória.
Los
Guerrilleros Integral
Miguel
Cussó, Larraz e Jesus Blasco (argumento)
Jesus
Blasco (desenho)
ECC
Ediciones
Espanha,
Fevereiro de 2018
225
x 310 mm, 192 p., pb, capa dura
25,00
€
(capa disponibilizada por ECC Ediciones; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
As aventuras desenhadas pelo Grande Jesus Blasco, foram durante os anos 70 e 80, uma das mais agradáveis surpresas que eu li, avidamente nas páginas das revistas Cuto e MA.
ResponderEliminarSeria uma boa ideia uma ou mais, editora publicar obras destas. E por que não em conjunto com um jornal?