Nos
últimos meses,
por razões que agora não vêm ao caso,
as minhas leituras, numa parte não desprezável,
têm sido marcadas por uma carga de pura
nostalgia,
num regresso a séries (Tiger
Joe,
Paul
Foran,
Yalek...)
que, numa segunda linha, marcaram a minha adolescência
e tinham ficado lá. Ou, de forma mais abrangente, numa
recuperação/descoberta de um género,
a BD franco-belga,
que continua a ser a minha principal praia, na sua vertente de séries
(Ric Hochet, Bob Morane, Sammy, Les Tuniques Bleues, Luc Orient...)
a que hoje devemos chamar clássicas.
Dia
15
de Abril
é o dia do Desenhador, em homenagem a Leonardo Da Vinci, e
foi esse o pretexto,
juntamente com os 30 anos de O
Corvo,
para uma entrevista com Luís Louro publicada no Jornal
de Noticias. A
versão integral, bem mais extensa, pode ser lida já a seguir.
Um
homem e uma criança empurram com dificuldade um carrinho de
supermercado ao longo de uma estrada. São pai e filho, como
descobrimos rapidamente, mas a condição que sem-abrigo que
intuíamos para eles revela-se errada. São sobreviventes de uma
catástrofe
que reduziu a humanidade a pouco mais do que à selvajaria animal e
que nunca é explicada e seguem passo após passo em busca da ilusão
de um local melhor para viver.
Corria
o ano de 2010 e a febre zombie de The
Walking Dead
espalhava-se pelos pequenos ecrãs mais depressa do que a epidemia de
origem desconhecida que provocava o ressuscitar dos mortos. Agora, já com as 10 temporada de The Walking Dead vistas - e nalguns casos revistas - bem como os respectivos spin-off, a Devir, numa atitude de louvar, regressa a esta banda desenhada, num formato cada vez mais corrente hoje em dia: tomos volumosos, no caso com mais de meio milhar de páginas, a solução escolhida para terminar a edição lusa num período de tempo razoável.
Como
um vício - que no entanto faz cada vez menos efeito, mas ainda sem
ter chegado ao ponto de o largar - continuo a ser atraído por
Hermann - pela sua obra… - álbum após álbum, meio ano após meio
ano…
Com
a publicação deSermão de Santo António aos Peixes, terceiro
volume da colecção Levoir/RTP, Clássicos
da Literatura Portugueses em BD,
no passado dia 2
de Abril, oportunidade para
mais uma vez ouvir os autores sobre como correu o processo e a
colecção, em entrevistas feitas por correio electrónico,
separadamente.
Se
começou por ser cómica, daí a sua designação americana, e se se
expandiu ao vestir traço realista para narrar todo o género de
aventuras, a banda desenhada, que aos poucos assumiu também o género
histórico e a adaptação de romances e filmes, em décadas recentes
tem demonstrado à exaustão a sua capacidade para servir todas as
temáticas. A autobiografia, por exemplo ou, mais além e
ousadamente, a reportagem ou reflexões sobre a sociedade, o nosso
mundo, a sua viabilidade e o seu futuro, têm comprovado a
pluralidade e todo o potencial de uma forma narrativa que durante
muitos anos foi considerada por muitos “para as crianças”.
O Amadora BD - Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora já
revelou o cartaz da edição de 2024, as respectivas datas e algumas
dos seus conteúdos.
A
Bedeteca, biblioteca de banda desenhada a funcionar no Centro
Comercial Brasília, no Porto, inaugura hoje, dia 6 de Abril, às 16 horas, na
Galeria de Ilustração e Banda Desenhada Mundo Fantasma, a exposição
Os
Fanzines em Portugal: Anos 70, 80 e 90.
Para
que a banda desenhada continue a ter leitores - e não fique refém
daqueles por quem o tempo vai passando inexoravelmente - é
necessário que as novas gerações desde cedo apreendam as suas
regras e subtilezas.
Quem
viveu por dentro do mundo da banda desenhada nos anos 1980 e 1990,
antes do aparecimento das tecnologias que revolucionaram também a
impressão, e tinha aspirações a ser autor, inevitavelmente ou
quase passou pelos fanzines, ou seja pelas edições amadoras. É
o caso de Dário Duarte, a identidade secreta (pública) de Derradé
que, entre os jornais em que colaborou, os fanzines que auto-editou e
algumas edições um pouco mais profissionalizadas em que publicou,
foi traçando um retrato do mundo universitário em que vivia então,
que obviamente era também um retrato de um certo Portugal. Entre as
suas criações da época, destacam-se duas que foram recorrente na
sua obra impressa: os Bad Summer Boys, uma banda punk de garagem, e
Bubas, uma projecção em que se adivinham apontamentos
auto-biográficos.
Há
quem defenda que só existe um punhado de histórias para contar e o
que varia são as épocas, os locais e as roupagens com que são
vestidas as personagens que as vão interpretar. E acima de tudo, a
forma como são (re)contadas. Por
essa ordem de ideias, Noir
Burlesco é
(mais) uma variação de uma temática tantas vezes abordada, aquela
que tem por base o eterno triângulo amoroso.