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10/10/2016

Lucky Luke chega mais depressa aos 70

Cumprem-se hoje 70 anos sobre a estreia de Lucky Luke e uma das novidades é que o “cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra” afinal é mais velho.

25/03/2015

Tex, Lucky Luke e o juiz Roy Bean







O acaso fez-me ler quase de seguida duas bandas desenhadas que têm, se não como protagonista, pelo menos como personagem central, uma das velhas lendas do Oeste, o juiz Roy Bean, que se considerava “a única lei a oeste de Pecos”.

18/07/2013

Les Personnages de Lucky Luke…

…et la véritable histoire de la conquête de l’Ouest  












Obra colectiva
Sophia Publications
França, 11 de Julho de 2013
240 x 305 mm, 128 p., cor, cartonado
10,90 €



Está neste momento distribuído n(algum)as bancas portuguesas – eu comprei o meu exemplar no quiosque do El Corte Inglès de Vila Nova de Gaia, onde havia uns 20 exemplares (!) – este livro que aborda o universo de Lucky Luke numa perspectiva histórica.
Como ponto de partida tem onze álbuns – “Carris na Pradaria”, “Lucky Luke contra Joss Jamom”, “Os primos Dalton”, “Corrida para Oklahoma”, “Billy the Kid”, “Arame Farpado na Pradaria”, “Calamity Jane”, “A diligência”, “Jesse James” e “Mã Dalton” (parte deles editados recentemente pela ASA com o jornal Público) – que na óptica dos autores desta obra evocam onze momentos chave da história americana como a construção do caminho-de-ferro, a guerra da Secessão ou as mulheres no oeste.
A evocação dos protagonistas destas aventuras, dos seus autores – Morris e Goscinny – e uma análise da série completam uma das raras abordagens teóricas existentes sobre o mais famoso western humorístico dos quadradinhos.
Este livro, que tem também uma versão “de livraria”, mais cara, é a segunda dedicada pela revista “Historia” a universos da banda desenhada, depois de dois tomos (que também apareceram por cá) sobre “Les personnages de Tintin dans l’histoire”, e foi distribuído simultaneamente em France com o “Le Point”, na Bélgica com “La Libre Belgique” e “La Dernière Heure” e na Suiça com “Le Temps”.

A título de curiosidade assinale-se a tiragem de 200 mil exemplares e o facto de na contracapa vir impresso o preço para outros sete países diferentes, incluindo Portugal, Canadá, Marrocos e Tunísia, o que pressupõe uma distribuição (muito) alargada, de cujo sucesso dependerá a edição de um segundo volume.

15/05/2013

Lucky Luke: Calamity Jane











René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
ASA/Público
Portugal, 15 de Maio de 2013
215 x 285 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
4,95 €



Se, como muitos, teria muitas outras séries e/ou colecções a sugerir – e que preferia, de longe - para serem editadas pelo jornal Público e a ASA, penso que esta segunda colecção de Lucky Luke foi uma boa escolha. Porque, convém que a minoria que compra regularmente BD se lembre, estas colecções não são só para eles, mas tentam também chegar – e chegam com certeza, senão as suas vendas não as sustentariam - a um público mais genérico.
Sob este ponto de vista, a reedição de um excelente lote de títulos clássicos de Lucky Luke – do melhor que a série tem – há muito esgotados entre nós, com a benesse de um preço muito convidativo (em tempo de crise), só pode ser louvada.


Posto isto, deixo uma breve análise a “Calamity Jane”, que encerra com chave de ouro esta colecção. Se em Lucky Luke, as mulheres em papéis com algum protagonismo são uma raridade, este álbum é uma digna excepção, mesmo que dificilmente se reconheça Calamity Jane (aliás  Martha Jane Cannary) como uma boa representante do sexo dito belo e frágil. Porque, reconheça-se, ela não é uma coisa nem outra.
Figura lendária do oeste – cuja lenda, ao que parece, ela própria alimentou como neste álbum é reforçado – Calamity Jane – que a BD já tratou de outras formas – serve a Goscinny para explorar em tom mordaz as diferenças entre sexos e os estereótipos geralmente ligados ao feminino, num tempo e num meio onde imperavam a violência, a falta de cortesia e mesmo de respeito.
O banho de Lucky Luke, as experiências culinárias, a hipocrisia das beatas, o episódio do professor de etiqueta ou o chá com a nata da sociedade feminina, são mais uma série de momentos irresistíveis, numa história em que se chega a ter pena dos facínoras que o cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra desta vez enfrenta.

Nota final: (Re)li “Calamity Jane” na edição da Meribérica/Líber de 1989, e foi de lá que extraí as imagens que ilustram este texto.


08/05/2013

Lucky Luke – A Escolta











René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
ASA/Público
Portugal, 1 de Maio de 2013
215 x 285 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
4,95 €



Uma das coisas que surpreende nesta colecção que a Asa e o Público dedicaram a Lucky Luke, é o facto de os álbuns terem entre 45 e 60 anos (!) e, apesar disso, manterem (quase todos) uma frescura e um humor a toda a prova, como se o tempo não tivesse passado sobre eles.
Se a contribuição de Goscinny, no argumento, é fundamental para isto, será injusto ignorar ou menosprezar o trabalho gráfico de Morris, cujo traço muito legível, dinâmico, ágil e expressivo foi sempre uma mais-valia na série que, recorde-se ele criou a solo.
“A Escolta” recupera Billy The Kid – uma notável caricatura de um dos bandidos mais famosos do Velho Oeste – 13 anos depois da sua estreia no álbum com o seu nome - pois Lucky Luke tem que o levar da prisão, onde cumpre uma pena de 1247 anos de trabalhos forçados, a um estado vizinho para ser julgado por outros crimes.
A alfinetada mordaz ao complexo – e por vezes incongruente - sistema judicial norte-americano – de que o final é a cereja no topo do bolo – é um dos aspectos maiores desta divertida história, em que também se destacam os retratos das sucessivas cidades que o duo atravessa na sua viagem.
A recuperação do terror que Billy the Kid inspira nos locais do Texas que já tinha assolado – em delicioso contraste com a forma como é tratado no Novo México onde vai ser agora julgado – a inépcia total de Bert Malloy a quem Billy alicia para o tentar libertar, a fleuma de Lucky Luke – no rodeo, na viagem, em tribunal, nas situações perigosas… - e os pequenos apontamentos com os Dalton e Rantanplan, pouco mais do que meros figurantes neste álbum, são mais razões que justificam a leitura de mais um clássico de Lucky Luke e da BD franco-belga. 


01/05/2013

Lucky Luke em Maio


(Público/ASA)

1 de Maio 


Arame farpado na pradaria
8 de Maio


15 de Maio


E já seguir vem aí a colecção… (Ainda) não posso dizer!
Afinal já posso, já se vê no Público: a seguir a Lucky Luke engata o Marsupilami.

24/04/2013

Lucky Luke – O 20.º de Cavalaria











René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
ASA/Público
Portugal, 10 de Abril de 2013
215 x 285 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
4,95 €



Chamada de urgência por Washington para tentar parar uma revolução índia eminente, Lucky Luke vai deparar com o rígido coronel Mac Straggle, um militar à moda antiga. É o reencontro do cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra com uma classe recorrente nas suas histórias, a par dos bandidos (muitos vezes os Dalton), dos índios e dos  políticos, os militares.
A foi a estes últimos que Goscinny, com o habitual talento e humor, dedicou “O 20.º de Cavalaria”, uma crítica bem-disposta e satírica à instituição militar, visando (certeira e) particularmente a sua disciplina, tradição e protocolos, tendo como base a dupla relação pai/filho//comandante/soldado que une o coronel MacStraggle e Grover.



Para além disso, há neste álbum uma série de outros factores de interesse como a possibilidade de descobrir um Lucky Luke (ainda) fumador – em oposição aos malefícios do tabaco índio (!) - ou a confirmação da existência de lojas chinesas já no velho Oeste (ou Este, depende do ponto de partida…) a par de alguns gags memoráveis como a exploração da linguagem de sinais de fumo índios ou as sucessivas transições de nome que transformam Raposa Com Duas Penas em Raposa Nauseada…
De passagem, algumas alfinetadas aos políticos – veja-se a importância dada à revolução índia logo no início - e o habitual – e genial! - recurso a trocadilhos e situações recorrentes (o vendedor de chapéus, os efeitos do cachimbo de paz índio, as quebras de protocolo militar) que provocam (pelo menos…) um sorriso aberto.
Factores diversos que fazem deste Lucky Luke – depois de “Billy the Kid” - mais um grande clássico da série e da BD franco-belga de leitura obrigatória.

Nota final: Para postar aqui este texto em tempo útil, (re)li “O 20.º de Cavalaria” na edição da Meribérica/Líber de 1987, e foi de lá que extraí as imagens que o ilustram.



17/04/2013

Lucky Luke #11 - Os Dalton regeneram-se











René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
ASA/Público
Portugal, 17 de Abril de 2013
215 x 285 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
4,95 €



Neste álbum, hoje à venda com o jornal Público  de novo chamado a Washington por causa dos Dalton, Lucky Luke descobre surpreendido que desta vez não pretendem que os capture novamente, mas sim que os tire da prisão.
A ideia é que o ambiente prisional não recupera os bandidos mas os faz piorar e por isso os Dalton vão ter direito a um mês para provarem que podem ser cidadãos exemplares longe dos ares prisionais… vigiados por Lucky Luke. Se o conseguirem, as muitas penas que têm para cumprir serão comutadas.


Este é o pretexto – a seguir para conseguir mais cortes na despesa pelo Estado português…? - para mais uma divertida aventura repleta de contrastes: o esforço dos Dalton por cumprirem a (peregrina…) proposta face à sua natureza que os puxa para o crime; a indecisão do protagonista face à ideia original e às reacções dos quatro irmãos; a posição dos cidadãos de Tortilla Gulch face aos Dalton, primeiro temendo-os quando eles tentam ser amigáveis, depois não acreditando na sua (inevitável) recaída…


Tudo condimentado por Goscinny com muito humor, gags memoráveis, trocadilhos bem conseguidos e saídas inovadoras de situações recorrentes. A par disso, consegue ainda traçar um retrato cáustico do ser humano, da sua volubilidade e da facilidade com que faz julgamentos e muda de opinião.
Mais um clássico desta colecção, a (re)ler com prazer.

Nota final: (Re)li “Os Dalton regeneram-se” na edição da Meribérica/Líber de 1987 (com a contracapa toda enrugadinha…) e foi de lá que extraí as imagens que ilustram este texto.


04/04/2013

Lucky Luke em Abril

(Público/ASA)

As Colinas Negras
3 de Abril 


Os Dalton no Canadá
10 de Abril 


Os Dalton regeneram-se
17 de Abril

O 20.º de Cavalaria
24 de Abril

28/03/2013

Lucky Luke – Billy The Kid








  
Colecção Lucky Luke #8
René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
ASA/Público
Portugal, 27 de Março de 2013
215 x 285 mm, 48 p., cor, 
brochado com badanas
4,95 €



Esta semana distribuído com o jornal Público, este é para mim, um dos melhores títulos do “cowboy que dispara mais rápido que a própria sombra”, que no meu subconsciente tinha ganho contornos quase míticos.
Li-o pela primeira vez há muitos – muitos! – anos nuns quantos fascículos da revista Tintin que alguém me emprestou – é verdade, embora tendo-a lido toda, não coleccionei esse título tão marcante da BD nacional – e não me lembro de o ter voltado a reler, embora tenha ficado com uma fortíssima memória dele.


O reencontro com Billy The Kid (personagem histórico do velho Oeste), o adolescente malcriado e birrento que aterrorizava Fort Weakling, teve, por isso, contornos especiais para mim.
E o primeiro facto que me apraz registar – o que nem sempre tem acontecido em casos semelhantes - é que as minhas memórias se revelaram acertadas e a (re)leitura do álbum, misto de descoberta e recordação, constituiu um momento de grande prazer.
Nesta época – o álbum data originalmente de 1953 – Morris prosseguia a sua rápida ascensão enquanto criador gráfico de eleição, com um traço muito expressivo e de um dinamismo notável, recebendo um excelente contributo de Goscinny: um argumento particularmente inspirado, consistente e certeiro, recheado de gags muito divertidos, em que Lucky Luke se vê obrigado a passar para o lado errado da lei para conseguir finalmente o seu propósito: vencer o jovem Billy e convencer a população (aterrorizada) a depor contra ele.
Uma espécie de terapia de choque – incrementar o terror, para o mal parecer menos sofrível – que surgindo como um elemento divertido – até pelos contornos de que se reveste – não deixa de fazer pensar e de se tornar incómodo por serem recorrentes na Histórias – aos mais diversos níveis – tantos exemplos semelhantes.
E, qual cereja no topo do bolo, antes do envio do fora-da-lei para cumprir a justa pena, Lucky Luke não deixa de lhe aplicar o correctivo devido a todos que, como ele, são birrentos e malcriados: um belo par de surras no rabo, por muito que isto possa soar herético em termos do (doentio) politicamente correcto que hoje se vive.


19/02/2013

Lucky Luke em Fevereiro

(Público/ASA)

Lucky Luke contra Pat Poker
06/02/2013


Fora-da-Lei
13/02/2013


O elixir do Doutor Doxey
20/02/2013


Lucky Luke e Phil Defer
27/02/2013

07/02/2013

Lucky Luke contra Pat Poker












Morris
ASA/Público
(Portugal, 6 de Fevereiro de 2013)
215 x 285 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
4,95 € (com o jornal)



Resumo
Primeiro dos 15 álbuns da nova colecção de Lucky Luke disponibilizada pela ASA e o jornal Público, este álbum inclui dois episódios complementares:  “Limpeza em Red-City” e “Tumulto em Tumbleweed”, no qual Lucky Luke enfrenta um mesmo adversário: Pat Poker, um jogador sem escrúpulos.

Desenvolvimento
Há obras que ficam marcados pela passagem do tempo; esta, datada de 1953, é uma delas. Curiosamente, esse efeito deve-se menos à inexorável sucessão de horas, dias, meses, anos que todos sofremos, do que à evolução que o “cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra” experimentou nos anos seguintes.
Aliás, uma marca distintiva deste livro – dos livros iniciais de Lucky Luke – é a hesitação que se nota em Morris entre o western (puro) semi-caricatural e o registo maioritariamente humorístico.
E, na verdade, se no conjunto este último (já) prevalece, ainda há nesta (e nas outras) história(s) uma série de apontamentos de um registo mais duro. Veja-se, a título de exemplo, quantos adversários Luckey Luke (literalmente) despachou a tiro nesse percurso (e o próximo álbum desta colecção, “Fora-da-lei”, nisso é paradigmático); repare-se no cigarro (permanentemente) no canto da boca; atente-se no que ele faz à doninha mal-cheirosa (p. 10)…
Frutos, também, de épocas e formas de narrar aos quadradinhos diferentes (e não, isso não implica que sejam obrigatoriamente piores, eram apenas outras, possivelmente menos artificiais, mais verdadeiras…), que, afinal, conferem a este “Lucky Luke contra Pat Poker” fundamentalmente um papel documental.
Até porque, nessa hesitação (de Morris) sobre qual o rumo a seguir, Lucky Luke acaba por surgir algo indefinido e algumas situações encaixam menos bem no todo, o que valoriza ainda mais a influência que Goscinny veio a ter na personagem e na série, fazendo dela uma referência incontornável na BD de humor.
O que não belisca nem diminui o talento gráfico do autor completo que Morris era então, (já) dono de um traço inconfundível e capaz de tornar dinâmica (mesmo) uma narrativa assente numa planificação tão rígida e tradicional como neste caso.

A reter
A diferença que faz, no preço final do álbum, uma tiragem de 750/1000 exemplares (o normal hoje em dia na maioria das edições nacionais de BD) ou a tiragem maior necessária para distribuir com o jornal - que eu suponho não deverá ultrapassar os 3 mil exemplares...


03/02/2013

Lucky Luke volta ao Público



O Público lança a colecção Lucky Luke, em edição de capa mole, a partir de 6 de Fevereiro. 
Uma colecção que engloba 15 das primeiras aventuras criadas para Lucky Luke, nunca antes editadas pelo jornal.
Os títulos que se podem encontrar nesta colecção já não estão há diversos anos no mercado, fazendo desta colecção uma oportunidade única de recolher algumas das mais emblemáticas aventuras do herói que dispara mais rápido que a sua própria sombra.
Todas as Quartas, por mais 4,95€, com o Público.

O primeiro volume é “Lucky Luke contra Pat Poker”.
Nas duas aventuras dos primórdios da série (Nettoyage à Red-City e Tumulte à Tumbleweed) que compõem este álbum, Lucky Luke e Jolly Jumper enfrentam um jogador de póquer sem escrúpulos. Pat Poker domina pelo medo Red-City e o herói é chamado a restabelecer a lei e a ordem.
Uma missão idêntica leva-o em seguida a Tumbleweed, onde um brutamontes aterroriza os habitantes e os poucos forasteiros que por ali passam. Lucky Luke reencontra Pat Poker, que se tinha refugiado na cidade e se associara a Angel Face para enfrentar o herói. O estratagema de nada lhes serve, pois acabam ambos na prisão.

(Textos da responsabilidade do Público)




27/04/2012

Gringos Locos













Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem data anunciada)
48 p., cor





Regresso a “GringosLocos” para anunciar que este álbum vai finalmente ser posto à venda no mercado francófono no próximo dia 4 de Maio.
Narração ficcionada de uma famosa viagem aos Estados Unidos e México feita por Jijé com a mulher, quatro filhos, Franquin e Morris, nos anos 50, teve o lançamento inicialmente anunciado para 12 de Janeiro, mas foi diversas vezes adiado devido à controvérsia que opôs os descendentes de Jijé e Franquin aos autores, Yann e Schwartz.
Agora, após obtenção de um acordo, mediado pela editora Dupuis, o álbum será finalmente posto à venda, aumentado de um caderno de 10 páginas com fotos dessa viagem e uma longa entrevista de José-Louis Bocquet a Benôit Gillain, um dos filhos de Jijé, na qual ele evoca muitas das memórias que guarda dessa verdadeira odisseia e esclarece, contextualiza ou complementa, os aspectos da banda desenhada que chocaram os filhos de Jijé e a filha de Franquin pelo retrato distorcido dos seus pais e os levaram a oporem-se inicialmente à edição desta obra.
Direito de resposta para uns, limitação à liberdade de expressão para outros, a polémica levantada por este caso – que certamente só existiu devido à importância dos três autores em causa no panorama da BD franco-belga - não ficará certamente por aqui e, para além de ter servido como uma boa campanha publicitária extra para um álbum, de si já muito aguardado, poderá ter aberto precedentes que só o futuro confirmará.
Se em termos puramente criativos, o dossier nada adianta ao álbum que (man)tém muitos motivos de interesse, pois está bem escrito e desenhado e é francamente divertido, em termos históricos revela-se determinante pois ajuda a compreender – no seu tempo - e a conhecer melhor três homens – três autores de banda desenhada de excepção - que marcaram uma época e cujas obras continuam actuais e a serem (re)lidas hoje em dia e contribui decisivamente para a escrita de (mais) uma página marcante da História das histórias aos quadradinhos criadas na Bélgica e na França.

 


27/01/2012

Gringos Locos













Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem data anunciada)
48 p., cor, cartonado


Resumo
Em 1948, Jijé, com a mulher e quatro filhos que tinham entre 1 e 10 anos de idade, partiu para os Estados Unidos, igualmente na companhia de Franquin e Morris. Jijé partia temendo uma próxima guerra nuclear em solo europeu e os três pretendiam arranjar emprego nos Estúdios Disney.
Essa viagem, agora evocada na forma de banda desenhada, transformou-se num autêntica odisseia, que acabou por durar 5 anos. Nela, cruzaram os EUA e o México a bordo de um único automóvel, dormiram ao ar livre ou em tendas e sobreviveram graças ao dinheiro que iam recebendo, referente às pranchas que iam desenhando e enviando para a Dupuis.
Durante a sua estadia nos EUA, Jijé, Franquin e Morris, viriam a conhecer Harvey Kurtzman e os outros fundadores da revista MAD, bem como René Goscinny, o que contribuiu para terem um papel decisivo na modernização da BD belga aquando do seu retorno ao país natal.
Este primeiro volume, que se inicia com a partida da Bélgica, conclui-se com os autores a viverem no México e Franquin a receber a notícia de que deveria substituir Jijé à frente de Spirou.

Desenvolvimento
Este é um projecto que Yann acalentava há muitos anos. Nasceu das conversas informais que teve com Franquin (a quem chegou a propor desenhá-lo) e com Morris, quando trabalhou com ambos, e foi crescendo nas suas gavetas ao longo dos anos, ao ouvir aqui e ali anedotas sobre essa mítica viagem. Chaland, que chegou a traçar-lhe uma curta biografia em BD: “La vie exemplaire de Jijé - foi outro dos nomes apontados para o desenhar, mas como a visão de um e outro era díspar, também aí o projecto não avançou.
Finalmente, depois de trabalhar com Schwartz em “Spirou – Le groom vert-de-gris”, Yann propôs-lhe o argumento de “Gringos Locos”, que foi aceite de imediato.
Só para se ter uma ideia da importância deste livro, note-se que foi pré-publicado – em simultâneo, apesar das diferentes periodicidades – no jornal Le Soir e nas revistas Spirou e L’Immanquable.
O álbum é francamente divertido. Por um lado, porque Yann escreve muito bem, combinando a actualidade no México e Estados Unidos com alguns flashbacks ou cenas sonhadas ou imaginadas (nos quadradinhos) pelos autores. Por outro, porque nele são transcritos uma série de gags que parecem apenas possíveis nos quadradinhos, mas que na verdade existiram. É o caso da batalha de água – que incluiu despejar uma banheira cheia pelas escadas abaixo – que teve lugar na véspera da partida, quando as malas já estavam feitas, o que obrigou os 3 autores a partirem vestidos com pijamas (!) emprestados (!!), o facto de terem passado a noite toda a desenhar rachadelas e falhas de pintura na casa, como vingança contra a senhoria, o desenharem as suas bandas desenhadas em frente e verso para pouparem nos portes ou perseguição à família Gillain após terem tentado, inadvertidamente, entrar numa igreja só para negros!
Para além disso Yann recheou o seu argumento com alusões a séries dos autores ou a cenas bem conhecidas dos quadradinhos, o que, sem prejuízo dos outros, possibilita um outro nível de leitura ao leitor mais conhecedor.
Graficamente, Schwartz mais uma vez, revela-se um contador nato aos quadradinhos, com uma linha clara de cores fortes e vivas, muito dinâmica e expressiva, que cativa facilmente o leitor e com a qual acentua os (muitos) momentos cómicos do relato.
Fica, para o fim, o retrato traçado por Yann e Schwartz daqueles três nomes fundamentais da banda desenhada franco-belga e mundial: Franquin, assume a personalidade depressiva e pouco confiante que lhe era (re)conhecida, em absoluto contraste com o humor que expressava nas suas criações; Morris, por seu lado, surge como um brincalhão e um conquistador incorrigível (bem diferente do circunspecto senhor de alguma idade que conheci há anos no Porto);Jijé é apresentado quase com uma personalidade bipolar, capaz dos maiores arrojos mas também das maiores hesitações.

A polémica
E é neste ponto, que assenta a polémica que envolve esta obra.
Recapitulemos: “Gringos Locos” deveria ter sido lançado no passado dia 12 de Janeiro. No entanto, a editora Dupuis, mesmo tendo 35 mil exemplares já impressos, suspendeu-o. Actualmente, a única referência ao álbum no site da editora, é a notícia da anulação de um concurso com ele relacionado.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
Se algumas fontes chegam ao ponto de afirmar que houve ameaças de retirar do fundo de catálogo da Dupuis as obras de Jijé e Franquin (e até de Morris), Romain Gillain Muñoz, neto de Jijé, há anos radicado em Portugal, negou-o peremptoriamente a As Leituras do Pedro.
Segundo ele, “não há guerra nenhuma com a Dupuis”, nem “foram feitas quaisquer ameaças”. A boa relação entre estas duas partes “já vem desde os anos 1940”, estando apenas a decorrer “conversações para tentarem chegar a um acordo”. A interdição de publicação deste álbum – e do segundo tomo que lhe deverá suceder, sobre a estadia do trio em Nova Iorque – nunca foi equacionada.
Ainda segundo Romain, a família de Jijé, pede apenas a hipótese de beneficiar “de um direito de resposta”, que poderá ser na forma de um encarte a incluir nos álbuns, em que seja afirmado que se trata apenas de “uma obra livremente ficcionada, apesar de conter alguns elementos verdadeiros, e não de uma biografia factual autorizada”, e no qual possam “transmitir uma imagem mais exacta de quem foi o seu pai e avô”.
A principal questão que aponta à obra de Yann e Schwartz é a imagem “demasiado beata e católica do avô, que não corresponde de forma alguma à sua forma de estar, ele que a certa altura deixou mesmo de frequentar a missa”, reforçada “pelo facto de surgir sempre de sandálias – que raramente calçou - como era uso dos missionários católicos” e de ele estar constantemente “a proferir palavrões, que ele nunca utilizava, para mais no dialecto de Bruxelas, que não dominava”.
A isto acrescenta algumas outras questões, como a forma “deselegante e incómoda como é abordada a relação de Jijé com a II Guerra Mundial”, ele que chegou a ser acusado de colaboracionismo, “o que sempre o incomodou, apesar de ser sabido que recebeu durante a guerra vários resistentes em sua casa e que nunca se gabou disso”. E que foi algo de todo inesperado porque Yann e Schwartz, em “Le Groom vert-de-gris”, “tinham dado o rosto de Jijé ao líder da resistência belga, Jean Doisy, um comunista bem conhecido que foi seu amigo”.
Igualmente a questão monetária apresentada – no álbum Annie, esposa de Jijé, pede a Morris e Franquin que paguem o alojamento e as refeições – revolta os familiares do criador de Jerry Spring, pois “é sabido que o meu avo, na Bélgica, alojou muitos autores em sua casa, entre eles também Will, Jean Giraud e Mezières, alguns por períodos bem prolongados, sem nunca lhes ter pedido nada em troca”.
Curiosamente, Romain diz que “ignorava a maior parte dos pormenores desta odisseia”, tendo tido que pedir ao seu pai “esclarecimentos quando as primeiras notícias sobre o projecto começaram a circular na net”, embora conhecesse “fotos da época” (que cedeu para aqui serem reproduzidas) bem como “um velho chapéu mexicano, oferecido por Franquin” que o pai ainda guarda.
Sabe que Yann falou “com o seu pai e um tio muito antes de concretizar o projecto”, mas, depois disso “não houve mais nenhum contacto”, pelo que à sua família não foi dado qualquer conhecimento do início ou do avanço da obra.
Apesar desta oposição só ter sido tornada pública quando a Dupuis cancelou o lançamento do álbum, o neto de Jijé revela que a sua família “contactou a editora logo que a pré-publicação se iniciou” e que desde então “tem havido diversos contactos no sentido da resolver da melhor forma para todas as partes”.
A terminar, Romain, a título pessoal, considera, apesar de tudo, “que esta é uma história que deve ser contada”, não só pela popularidade de que ainda gozam os três criadores, mas também pela sua importância na história da banda desenhada franco-belga.
Se será concluída ou não, ainda não se sabe. Para já, na sua última página, pode apor-se, com uma significativa alteração um termo bem conhecido dos leitores de BD: (continua?)



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