Mostrar mensagens com a etiqueta Calamity Jane. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Calamity Jane. Mostrar todas as mensagens

23/03/2022

Wild West #2: Wild Bill

Lendas...

'Há já muito tempo que não tenho ilusões sobre a natureza humana.'

Wild Bill in Wild West #2

Repito o que escrevi, aquando da análise do primeiro volume desta série: "O subtítulo deste livro é As origens de uma lenda do Oeste mas, como todos sabemos, quando alguém chega ao estatuto intangível de ‘lenda’, destrinçar entre a realidade (histórica) e os ‘pontos’ que lhe foram sendo acrescentados por todos os que narraram a sua história é difícil, se não mesmo impossível.
Pouco importa, se a narrativa for boa… e contribuir para fazer crescer a lenda."

06/09/2021

Wild West #1 - Calamity Jane

Origens…?


O subtítulo deste livro é As origens de uma lenda do Oeste mas, como todos sabemos, quando alguém chega ao estatuto intangível de ‘lenda’, destrinçar entre a realidade (histórica) e os ‘pontos’ que lhe foram sendo acrescentados por todos os que narraram a sua história é difícil, se não mesmo impossível.
Pouco importa, se a narrativa for boa… e contribuir para fazer crescer a lenda.
É o caso deste primeiro tomo de Wild West, dedicado a um dos poucos heróis de saias do Oeste selvagem.

15/05/2013

Lucky Luke: Calamity Jane











René Goscinny (argumento)
Morris (desenho)
ASA/Público
Portugal, 15 de Maio de 2013
215 x 285 mm, 48 p., cor, brochado com badanas
4,95 €



Se, como muitos, teria muitas outras séries e/ou colecções a sugerir – e que preferia, de longe - para serem editadas pelo jornal Público e a ASA, penso que esta segunda colecção de Lucky Luke foi uma boa escolha. Porque, convém que a minoria que compra regularmente BD se lembre, estas colecções não são só para eles, mas tentam também chegar – e chegam com certeza, senão as suas vendas não as sustentariam - a um público mais genérico.
Sob este ponto de vista, a reedição de um excelente lote de títulos clássicos de Lucky Luke – do melhor que a série tem – há muito esgotados entre nós, com a benesse de um preço muito convidativo (em tempo de crise), só pode ser louvada.


Posto isto, deixo uma breve análise a “Calamity Jane”, que encerra com chave de ouro esta colecção. Se em Lucky Luke, as mulheres em papéis com algum protagonismo são uma raridade, este álbum é uma digna excepção, mesmo que dificilmente se reconheça Calamity Jane (aliás  Martha Jane Cannary) como uma boa representante do sexo dito belo e frágil. Porque, reconheça-se, ela não é uma coisa nem outra.
Figura lendária do oeste – cuja lenda, ao que parece, ela própria alimentou como neste álbum é reforçado – Calamity Jane – que a BD já tratou de outras formas – serve a Goscinny para explorar em tom mordaz as diferenças entre sexos e os estereótipos geralmente ligados ao feminino, num tempo e num meio onde imperavam a violência, a falta de cortesia e mesmo de respeito.
O banho de Lucky Luke, as experiências culinárias, a hipocrisia das beatas, o episódio do professor de etiqueta ou o chá com a nata da sociedade feminina, são mais uma série de momentos irresistíveis, numa história em que se chega a ter pena dos facínoras que o cowboy que dispara mais rápido do que a própria sombra desta vez enfrenta.

Nota final: (Re)li “Calamity Jane” na edição da Meribérica/Líber de 1989, e foi de lá que extraí as imagens que ilustram este texto.


17/05/2012

Martha Jane Cannary

Les dernières années 1877-1903










Christian Perrissin (argumento)
Mathieu Blanchin (desenho)
Futuropolis (França, 13 de Abril de 2012)
215 x 29o mm, 112 p., branco e sépia, cartonado
22,50 €


Este álbum, último de uma trilogia, pode ser encarado de duas formas: a destruição ou a humanização de um mito.
Porque, disso não duvido, Martha Jane Cannary, aliás Calamity Jane, é uma daquelas figuras do Velho Oeste que o tempo, a tradição e as artes –a literatura, o cinema, a BD – se encarregaram de mitificar. Mesmo para aqueles que com ela puderam conviver. Um dos muitos mitos - e um dos mais fortes - que a sua época e o local (enquanto conceito alargado) em que viveu se encarregaram de desenvolver.
A intenção de Perrissin e Blanchin, no entanto, não é endeusá-la, mas sim mostrá-la na sua profunda humanidade. O que é mais evidente neste tomo da trilogia que lhe dedicaram (e que está também disponível num único tomo integral) que encerra a biografia romanceada aos quadradinhos de Martha Jane, porque corresponde aos seus anos finais, à época do seu declínio (acentuado) provocado pela solidão, o alcoolismo, a velhice e as doenças que o seu estilo de vida propiciou.
Por isso, longe da exploradora audaz e da atiradora ímpar que, possivelmente a nossa memória associava à sua imagem e que os tomos anteriores de certa forma privilegiaram, encontramos uma mulher a lutar pela sua vida – que no entanto preza pouco – como cozinheira, dona de uma lavandaria, enfermeira, artista de feira ou de circo, ou pouco mais (menos), minada pelas suas dúvidas, com saudades da filha que um dia abandonou, arrependida dessa atitude que a marcou e à qual foi incapaz de se declarar como mãe (embora por razões nobres e que vão além da sua vergonha…).
Não que não seja, mesmo assim, apesar de tudo isto, uma mulher à frente do seu tempo – com um pouco do “pêlo na venta” que Goscinny tãobem traduziu na caricatura de Calamity com que Lucky Luke se cruzou – com uma inextinguível sede de liberdade e de independência, emancipada e autónoma num mundo de homens – dos quais precisa e aos quais se entrega, aos quais se submete e com quem tem filhos que o seu abuso de álcool matou ou de quem mais cedo ou mais tarde se desligou – uma mulher de força, de vontade, de uma vivência única e marcante. Mas também uma mulher, profundamente humana, com muitas dúvidas e incertezas, em busca de reconhecimento e aceitação – em especial de si própria - minada, destruída pela vida que levou.
Combinando a narrativa directa com as cartas que escreveu à filha mas nunca enviou e com apontamentos – estranhos no tom geral do relato – do endeusamento que os escritores de folhetins então promoveram, Perrissin propõe-nos uma obra ritmada, bem documentada e credível. Para isso contribui de forma decisiva o traço semi-realista de Blanchin, com uma boa reconstrução de época, embora as personagens enquanto centro da narrativa se sobreponham aos cenários, traçada em sombrios tons de sépia, em que o realismo sobrepuja (logicamente) algumas passagens ficcionadas-
O conjunto, propicia uma leitura forte e emotiva, que assenta principalmente na dualidade – inerente a todo o ser humano – entre a realidade de cada um – e a ideia que cada um faz de si - e a impressão que provoca nos outros, aqui toldada, distorcida pela dimensão do mito face à pequenez do ser humano.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...