Claudio Nizzi (argumento)
mexicanas corruptas) como se exige a um bom western.
Claudio Nizzi (argumento)
mexicanas corruptas) como se exige a um bom western.
Tex Edição Gigante #6 – A Última Fronteira
Incitado pela mãe a odiar os brancos, muitas vezes encontrando na vida razões para o fazer, cresce dividido entre esse ódio, a amizade por Nat, o seu melhor amigo da adolescência, com quem compete pelo amor (no seu caso não correspondido) da bela Sheewa. A sua história é contada em pormenor, entendemos as suas razões (mesmo não as aprovando), vemos nele um ser (bem) humano, não um dos habituais estereótipos das histórias de Tex.
Por outro lado, esta é, possivelmente, das muitas aventuras do ranger que eu já li, aquela em que ele tem menos protagonismo. Ausente em dezenas de páginas, funciona quase só como elemento de ligação entre as diversas fases da narrativa, ganhando protagonismo apenas no final, quando assume o papel de justiceiro. O que contribui para dar consistência à história e reforçar o seu interesse e permite a Nizzi espraiar-se mais na definição dos perfis psicológicos de Jesus e Nat ou mesmo de Sheewa.
Uma referência ainda para a violência inaudita (apesar de tudo invulgar neste western) com que culminam os confrontos entre Nat e Zane (pp. 200-207) e entre este e Tex (pp. 234-240).
Pena é que para um argumento desta qualidade, tenha sido escolhido não um desenhador consagrado, como é norma, mas alguém (então) quase sem experiência, o croata Goran Parlov, que denota isso mesmo. É verdade que já se adivinham algumas das qualidades, que fariam dele um dos desenhadores de Mágico Vento (com o qual J. Zane se parece bastante), nomeadamente o domínio da planificação e a capacidade de dotar de movimento a acção, mas a verdade é que “pesam” mais o “seu” Canadá, impreciso e indefinido, que poderia ser qualquer outra região, ou a forma “inacabada” de muitos rostos ou mesmo vinhetas.
- O desenho de Parlov; a história merecia melhor.
- A ausência das habituais legendas das imagens no dossier inicial.
Les Rues de Sable
encontrando com diferentes possibilidades de si próprio, sempre incapaz de fazer (novas) escolhas e opções, sempre preso a momentos, recordações, objectos que o marcaram. Tal como na sua vida real, em que as hesitações, o medo de dar o passo em frente, parecem mais fortes do que o desejo de assumir em pleno a relação amorosa.
(continua). Resta saber se o protagonista chegou – quis chegar – a tempo ao banco ou se preferiu passar (mais uma parte d)a vida preso nos seus sonhos de liberdade.
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Maurício de Sousa há poucos anos, numa das suas várias passagens pelo Festival Internacional de BD da Amadora. Com entrevista marcada, preparei-me para o pior e a minha surpresa não podia ter sido maior. Em vez da vedeta ausente e distante (como tantos, de bem menor dimensão, são), encontrei um homem simpático, afável, disponível, de sorriso fácil, conversador, que cativa de imediato.Ao contador de “histórias em quadrinhos” hábil e de mestria inegável, pude associar um contador de histórias vibrante e caloroso, informado e bom conversador, saltando de tema para tema, evocando memórias ou mostrando um brilhozinho nos olhos quando fala dos seus “filhos desenhados” e dos (muitos) projectos que sempre tem.
Um autor que se revelou também, sempre, um homem do seu tempo - deste tempo - alerta para as inovações tecnológicas, que acompanha e utiliza, e para os interesses, sempre em constante mudança, dos seus potenciais leitores, procurando-os onde estão – na net, no orkut ou no Twitter, onde é frequente encontrá-lo, ouvindo críticas e sugestões, mostrando o que está a fazer, admitindo erros, procurando novos caminhos.
E, acima de tudo, penso que posso dizê-lo, alguém que me honrou com a sua amizade e que continuou sempre disponível, nas várias ocasiões em que depois nos cruzamos, pessoalmente ou ao alcance de um “clic”, sempre com a mesma afabilidade, o mesmo calor, o mesmo brilhozinho.
Parabéns, Maurício!
Nota: A melhor forma de homenagear Maurício de Sousa – qualquer criador –, que hoje comemora 50 anos de carreira, é ler as suas obras. Mensalmente, chegam às nossas bancas mais de uma dezena de títulos, para (quase) todos os gostos e idades, das revistas clássicas da Mônica, Cebolinha, Cascão ou Chico Bento, para os mais conservadores, às novas versões da Turma da Mônica Jovem, da Tina ou do Ronaldinho Gaúcho. Procurem-nas e leiam-nas. Vão ver que vale a pena. Pelo humor e pela simplicidade. E pelo regresso à infância…
La Théorie du grain de sable – Tome 2
François Schuiten (desenho) e Benoit Peeters (argumento)
Casterman (França, Setembro de 2008)
300 x 204 mm, 120 p., preto, branco sujo e branco, capa com badanas
Resumo
Neste segundo tomo de ”La Théorie du Grain de Sable/A teoria do grão de areia”, Schuiten e Peeters unem as pontas que foram espalhando no primeiro tomo, para darem uma conclusão lógica aos acontecimentos que começaram a ter lugar em Brusel, a 21 de Julho de 784: o aparecimento, vindos do nada, e a posterior acumulação de grãos de areia num apartamento e de pedras de peso constante (6793 gramas, um número primo)
noutra casa ou na progressiva perda de peso, sem que no entanto emagreça, por parte de um chefe de cozinha, com os quais nos levaram a reencontrar anteriores personagens das Cidades Obscuras, como Mary Von Rathen (de "L'enfant penchée") e Constant Abeels (de "Brusel").
Desenvolvimento
Foi longa a espera – de apenas um ano, na verdade, pois foi esse o intervalo entre os dois tomos na versão original francesa - mas a curiosidade era grande após a leitura do tomo 1. E o mínimo que se pode dizer é que a expectativa não foi iludida, quer pelo final inesperado, quer pelo toque tão místico que Schuiten e Peeters dão à conclusão desta história.
A partir dos estranhos fenómenos a que Brusel assistiu, com uma fina ironia mas de forma consistente, os autores desenvolvem uma narrativa de contornos ecológicos sobre a confrontação – melhor, sobre as confrontações, cada vez em maior número, cada vez mais inevitáveis nos nossos dias – entre a civilização urbano e ocidental, com factores estranhos - nem melhores, nem piores, só diferentes - ou desconhecidos, provenientes de outros mundos, outras realidades, outras civilizações. Uma antevisão poética, talvez, mas mesmo assim criadora de dúvidas e receios legítimos, sobre o confronto ocidente/oriente, que muitos analistas consideram inevitável, e que poderá tomar muitas formas…
No caso presente, os pequenos grãos de areia surgidos do nada que vão emperrar – e quase destruir - a máquina – nem sempre bem oleada, admita-se – que faz funcionar a grande metrópole de Brusel.
Pelo caminho, pelos vários caminhos que como todos os seus álbuns também este tem – e esta minha leitura, não é mais do que isso, a minha leitura – aproveitam para homenagear o belga Victor Horta e a sua arquitectura arte-nova, representada pela sua Maison Autrique, sem dúvida personagem importante do relato, dado o lugar central que ocupa até ao seu misterioso desaparecimento e pelo seu posterior reaparecimento surpreendente, que deixo aos leitores descobrir.
Ao mesmo tempo que convido também a reverem o traço sumptuoso de Schuiten, magnífico no preto e branco sujo, pintalgado de um branco forte, aqui perturbante, ali luminoso, além revelador, no traço fino e detalhado, na utilização de sombras, manchas de negro e de fabulosos contrastes de claro/escuro, no tratamento da figura humana quanto na representação de edifícios ou de paisagens naturais, na forma como a planificação, variada e heterogénea conduz o ritmo da narrativa, condiciona a nossa leitura e nos leva numa viagem inesquecível por este universo fantástico.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no BDJornal #24, datado de Outubro de 2008)
A teoria do grão de areia - Tomo 1
Benoit Peeters (argumento) e François Schuiten (desenho)
Edições ASA (Portugal, Junho de 2009)
300 x 204 mm, 112 p., preto, branco sujo e branco, capa com badanas
Resumo
Uma série de acontecimentos insólitos, aparentemente sem ligação entre si, leva Mary Von Rathen, “coleccionadora de fenómenos inexplicáveis”, até Brusel, para os investigar.
Desenvolvimento
Universo fantástico, só possível em BD,
paralelo ao nosso, com múltiplos pontos de contacto, referências ou desenvol-vimentos, combinando presente, passado e futuro e dotado de cidades (quase) com vida própria - as verdadeiras protagonistas de cada livro - onde se distinguem alguns habitantes, atentos ou desencadeadores dos pormenores que despoletam cada história, a série "As cidades obscuras", associa o traço sumptuoso - mas extremamente legível e funcional - de François Schuiten, que cria e recria arquitecturas e mundos, e os argumentos inteligentes, ao mesmo tempo profundos e claros, de Benoit Peeters.
Neste álbum, que começa com alguns factos insólitos aparentemente sem interligação, mas que se vão acentuando com o passar do tempo - a morte por atropelamento de um estrangeiro de aspecto bárbaro, a acumulação regular de grãos de areia num apartamento e de pedras de peso constante (6793 gramas, um número primo) noutra ou a progressiva perda de peso, sem que no entanto emagreça, por parte de um chefe de cozinha - mostrando o perigo do aumento descontrolado de pequenos problemas de fácil solução na sua origem, Peeters e Schuiten constroem uma fábula ecológica que alerta para os perigos do aquecimento global, ao mesmo tempo que mostram que o que vem de fora (da Europa comunitária…) não tem que ser obrigatoriamente mau, só porque é diferente.
Nele, reencontramos a (já não) pequena Mary Von Rathen (de "A menina inclinada"), chamada de Phâry para conduzir o inquérito sobre os estranhos acontecimentos, e Constant Abeels (de "Brusel"), anos depois das histórias que (co-)protagonizaram, que vão ser observadores privilegiados dos insólitos fenómenos que dão um toque de fantástico, até aqui praticamente ausente na série, e que contrasta com o traço hiper-realista com que Schuiten, a pincel, construiu os cenários, e pontuam a acção deste livro, em formato italiano (deitado), que marca o regresso ao preto e branco (e branco - puro, uma "terceira" cor, de que só os leitores e Mary se apercebem, mas cuja mancha vai
crescendo página a página), numa obra que reafirma a vontade de Schuiten e Peeters inovarem constantemente, pondo sempre em causa todas as soluções anteriormente experimentadas nas Cidades Obscuras e questionando continuamente o universo que criaram.
A reter
- O traço primoroso de Schuiten.
- O desenvolvimento em crescendo do ritmo da narrativa, paralelo aos efeitos dos fenómenos em Brusel.
- A forma como é utilizada a cor “branca”, a par do preto e do branco sujo, para acentuar os fenómenos fantásticos que dão o mote à história.
- A bela edição da ASA, em tudo fiel à original.
Menos conseguido
- O único senão a apontar é o facto de este ser o primeiro de dois tomos, restando-nos aguardar pelo segundo, que está prometido até final do corrente ano. Com impaciência.
Curiosidade
- A edição à venda na FNAC é acompanhada do “DVD de Presse” francês, que inclui um documentário sobre o making-of do álbum. (Versão revista e actualizada do texto publicado a 11 de Julho de 2009 no suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Gil Jourdan – L’Intégrale #1


Lance – Volume 2 (de 4)
responsabilidade do português Manuel Caldas que gastou em média 15 horas no restauro de cada prancha da obra a partir de páginas de jornais da época, obtidas no Ebay, pois já não existem as provas originais.
do sentido do dever, sempre ao lado dos mais fracos e desfavorecidos, e as paixões amorosas que vai desencadeando. Neste volume, entre o combate à ofensiva desencadeada pelo chefe índio Nariz Partido e a tentativa de ajudar os caçadores montanheses ao lado da jovem e fogosa Valle, com quem acaba por casar, sobra tempo para um curto mas belíssimo interlúdio, compostos pelas pranchas 79 a 85, que revelam toda a mestria narrativa e gráfica do traço clássico de Tufts, a sua soberba aplicação de cores e a sua invulgar capacidade de emprestar emoções bem humanas aos seus heróis de papel.
- É inacreditável que o primeiro volume de Lance não tenha vendido em Portugal os míseros 700 exemplares necessários para o pagar e garantir novo tomo. Depois queixem-se que não há banda desenhada em português. Quando há – e com esta qualidade - não a compram! Bem podemos agradecer aos nossos vizinhos espanhóis a possibilidade de ler este volume #2.
Tex Anual #9 - Forte Saara
Turma da Mônica Jovem #6
- Lance Volume 2 (de 4) (Libri Impressi), Warren Tufts