11/12/2025

Astérix en Lusitanie

E agora algo completamente diferente...




Acalmada a poeira mediática, feitas juras de amor assolapadas e destilados ódios e preconceitos, é a altura para mim de voltar a Astérix na Lusitânia. Ou, melhor, a Astérix en Lusitanie, na imponente versão de luxo.

A leitura no original confirmou a ideia que a versão portuguesa me deixou: se a intriga é fraca, leia-se demasiado linear e quase inexistente, a verdade é que ao nível do humor, dos trocadilhos, dos diálogos e do retrato que traça dos lusitanos, este é, possivelmente, o melhor Astérix pós-Goscinny.

Alguns poderão apontar-me um olhar subjetivo - e é sempre! - devido ao facto da história se passar no meu país, mas a verdade é que essa era uma faca de dois gumes e as expectativas tinham tudo para frustrar a leitura. Se eu, como muitos leitores, desejava esta aventura, a verdade é que a tendência seria para ser mais exigente pela proximidade do tema.

Fabcaro - e não vou repetir o que já escrevi, remeto-vos para esse texto - para lá do belo retrato dos nossos antepassados, inclui no relato um segundo nível de leitura baseado na actualidade, ao referir temáticas como a globalização crescente, o aumento da idade da reforma, o uso excessivo, absurdo e submisso de termos latinos na conversa de marketing, que evoca o excesso de termos ingleses nos nossos dias... tal como Goscinny sempre fez nas histórias do pequeno guerreiro gaulês, que eram um reflexo deformado do tempo em que eram criadas.

Da leitura da versão original destaco o achado da terminação em 'ção' (substituindo o habitual 'tion') para caracterizar e definir a forma de falar dos lusitanos e o quão estranho - mas convincente - que ele surge aos olhos de um leitor luso. Esta leitura permitiu ainda aperceber-me de uma série de outras referências e piscares de olho, que as leituras da versão portuguesa não tinham retido, como por exemplo a descoberta de uma anacrónica Torre de Belém...

Obviamente, a leitura comparada das versões francesa e portuguesa permite reter as opções da tradução e as diferenças inseridas até ao nível de nomes e toponímia - e possivelmente perceber o quão difícil é traduzir obras de humor.


Oportunidade perdida

Aqui chegados, perguntarão alguns: mas afinal o que tem de diferente esta edição de luxo?

Muito. A começar pelo formato, bastante maior (ver foto comparativa acima). Depois, a reprodução da capa alternativa na contracapa do livro. Finalmente, quase o triplo das páginas habituais: a banda desenhada em si; a totalidade das pranchas apenas com o traço a lápis de Conrad; um dossier de 30 páginas sobre a criação e os bastidores do álbum, hipóteses descartadas, opções narrativas, planificações alternativas, fotos tiradas por Fabcaro em Lisboa, curiosidades...

Sei que chegou a ser equacionada - mas foi descartada - uma edição especial portuguesa - semelhante...? - mas é pena que não tenha avançado, porque o álbum - (pel)a sua temática - justificava essa aposta por parte da editora. Uma aposta que acredito seria facilmente ganha.

Obviamente, a ASA estará sempre a tempo, nomeadamente nos próximos meses, para arrepiar caminho e apostar numa edição similar a esta ou com outro conteúdo a decidir. Afinal, se há um ano editaram a versão em formato italiano do pífio Blake e Mortimer - Assinado "Olrik", não faria muito mais sentido terem avançado com uma edição especial do 'nosso' Astérix?

Fica a provocação.


Astérix en Lusitanie - Édition de luxe
Fabcaro (argumento)
Didier Conrad (desenho)
Thierry Mébarki (cor)
Hachette
França, 23 de Outubro de 2025
260 x 365 mm, 128 p., cor, capa dura com lombada em tela
40,00 €

(imagens disponibilizadas pela Hachette; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)

1 comentário:

  1. É impressão minha ou até um Mário Soares aparece no livro (na forma do cozinheiro da prisão, que ajuda os gauleses na missão de infiltração)?

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