Ric Hochet, o simpático jornalista parisiense com propensão para investigar crimes, criado por André-Paul Duchateau e Tibet, completou ontem 55 anos e a festa poderia ser bem maior, se o desenhador não tivesse falecido no passado dia 12 de Janeiro.
Mesmo assim, a data fica marcada pelo lançamento este mês de dois novos títulos pela Lombard.
31/03/2010
Ric Hochet, 55 anos
Leituras relacionadas
André-Paul Duchâteau,
Lombard,
Ric Hochet,
Tibet
30/03/2010
Lançamento – A Fórmula da Felicidade Vol. 2
É já depois de amanhã – ou só depois de amanhã, depende do ponto de vista, a verdade é que a curiosidade sobre esta edição é grande – que é lançado o segundo e último tomo de A Fórmula da Felicidade, um dos mais interessantes livros de banda desenhada nacionais dos últimos anos.
É no dia 1 de Abril, portanto – e o editor Mário Freitas garante que não é engano - , 5ª feira, véspera de feriado, às 18h30 na Kingpin Books (Rua Quirino da Fonseca, 16-B, à Alameda D.Afonso Henriques, em Lisboa). Presentes vão estar os autores, Nuno Duarte (argumento) e Osvaldo Medina (desenho), bem como quatro dos cinco coloristas envolvidos no projecto: Ana Freitas, Patrícia Furtado, Filipe Teixeira e Gisela Martins.
A partir das 23h, no Bar Al Souk, em Santos (Rua do Mercatudo, transversal da Av. D. Carlos I), terá lugar uma After-party aberta ao público, que poderá assim conversar um pouco com os autores, ver as pranchas originais do livro, e assistir a uma actuação ao vivo dos Cubic Nonsense, a banda onde toca Mário Freitas.
É no dia 1 de Abril, portanto – e o editor Mário Freitas garante que não é engano - , 5ª feira, véspera de feriado, às 18h30 na Kingpin Books (Rua Quirino da Fonseca, 16-B, à Alameda D.Afonso Henriques, em Lisboa). Presentes vão estar os autores, Nuno Duarte (argumento) e Osvaldo Medina (desenho), bem como quatro dos cinco coloristas envolvidos no projecto: Ana Freitas, Patrícia Furtado, Filipe Teixeira e Gisela Martins.
A partir das 23h, no Bar Al Souk, em Santos (Rua do Mercatudo, transversal da Av. D. Carlos I), terá lugar uma After-party aberta ao público, que poderá assim conversar um pouco com os autores, ver as pranchas originais do livro, e assistir a uma actuação ao vivo dos Cubic Nonsense, a banda onde toca Mário Freitas.
Leituras relacionadas
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Lançamento,
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Osvaldo Medina
29/03/2010
Dick Giordano (1932-2010)
Sábado passado, vítima de leucemia, faleceu Dick Giordano, nascido em Nova Iorque, a 20 de Julho de 1932.
Desde novo demonstrou vocação para os quadradinhos por isso, depois de estagiar no estúdio de Jerry Iger, em 1953 entrou como freelancer para a Charlton Comics, onde desenhou diversos heróis até chegar a editor administrativo e promover super-heróis como o Questão, Capitão Átomo e Besouro Azul.
No final da década de 1960, foi para a DC Comics juntamente com Jim Aparo ou o argumentista Denny O’Neil, e com este último, na década seguinte, operou uma profunda transformação em heróis como Batman, Lanterna Verde ou Arqueiro Verde, dando-lhes uma nova vida. Para além disso desenhou muitos outros heróis da DC Comics. Nos anos 80 criou o logotipo de Batman no qual as letras evocam um morcego, terminando o seu percurso na DC Comics como vice-presidente e director editorial, tendo sido um dos responsáveis pela edição de “Watchmen”, de Alan Moore e Dave Gibbons, ou “The Dark Night Returns”, de Frank Miller.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Março de 2010)
Desde novo demonstrou vocação para os quadradinhos por isso, depois de estagiar no estúdio de Jerry Iger, em 1953 entrou como freelancer para a Charlton Comics, onde desenhou diversos heróis até chegar a editor administrativo e promover super-heróis como o Questão, Capitão Átomo e Besouro Azul.
No final da década de 1960, foi para a DC Comics juntamente com Jim Aparo ou o argumentista Denny O’Neil, e com este último, na década seguinte, operou uma profunda transformação em heróis como Batman, Lanterna Verde ou Arqueiro Verde, dando-lhes uma nova vida. Para além disso desenhou muitos outros heróis da DC Comics. Nos anos 80 criou o logotipo de Batman no qual as letras evocam um morcego, terminando o seu percurso na DC Comics como vice-presidente e director editorial, tendo sido um dos responsáveis pela edição de “Watchmen”, de Alan Moore e Dave Gibbons, ou “The Dark Night Returns”, de Frank Miller.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Março de 2010)
José Antunes (1937-2010)
O autor português de banda desenhada José Antunes faleceu no passado sábado. Natural de Lisboa, nasceu a 25 de Maio de 1937, estudou desenho na Escola António Arroio e publicou os seus primeiros trabalhos na revista Flama, em 1955.
Nos anos seguintes executou diversas histórias aos quadradinhos para o Mundo de Aventuras, o Camarada e o Jornal do Exército, com heróis de sua criação como Toni Tormenta, ou biografias de figuras históricas como Luís de Camões, Marco Pólo, Martim de Freitas ou Geraldo, o sem pavor, - algumas das quais publicadas em álbuns - e em 1968 publicou "Maître Biber" no Tintin belga, sempre como argumentista e desenhador.
Autor de diversas colecções de cromos para a Agência Portuguesa de Revistas, desenhou capas e/ou cartoons para o Sempre Fixe, Cara Alegre, Pisca-Pisca ou Diário de Notícias, entre muitas outras publicações, e foi também publicista, maquetista e director artístico do Círculo de Leitores.
Uma versão de A Lenda de Moura em BD, publicada no álbum colectivo Salúquia, editada por aquela autarquia em 2009, foi o seu último trabalho em BD.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Março de 2010)
Nos anos seguintes executou diversas histórias aos quadradinhos para o Mundo de Aventuras, o Camarada e o Jornal do Exército, com heróis de sua criação como Toni Tormenta, ou biografias de figuras históricas como Luís de Camões, Marco Pólo, Martim de Freitas ou Geraldo, o sem pavor, - algumas das quais publicadas em álbuns - e em 1968 publicou "Maître Biber" no Tintin belga, sempre como argumentista e desenhador.
Autor de diversas colecções de cromos para a Agência Portuguesa de Revistas, desenhou capas e/ou cartoons para o Sempre Fixe, Cara Alegre, Pisca-Pisca ou Diário de Notícias, entre muitas outras publicações, e foi também publicista, maquetista e director artístico do Círculo de Leitores.
Uma versão de A Lenda de Moura em BD, publicada no álbum colectivo Salúquia, editada por aquela autarquia em 2009, foi o seu último trabalho em BD.
(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Março de 2010)
26/03/2010
J. Kendall –#59
Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (argumento)
Cláudio Piccoli (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Outubro de 2009)
135 x 178 mm, 132 p., pb, brochado, mensal
Resumo
A morte misteriosa de um professor colega de Júlia, associada ao desaparecimento de sua casa de uma reprodução de Mana, um ídolo asteca de duas cabeças, metade deus e metade demónio, leva a criminóloga de Garden City a encetar mais uma investigação juntamente com a policia local, ao mesmo tempo que começa a ser afectada por uma série de estranhos pesadelos.
Desenvolvimento Se em banda desenhada, texto e desenho devem ser inseparáveis e indivisíveis, a verdade é que há obras de desenhador e outras de argumentista. J. Kendall – ou Júlia, no original italiano – é um destes últimos casos, com Berardi a apor claramente a sua marca em histórias que combinam intimismo e acção. Neste número #59, de momento distribuído nas bancas portuguesas, isto é mais uma vez evidente, pese embora o facto de ser uma narrativa atípica no conjunto da série, pelo facto de se revestir de uma forte carga onírica, mística e fantástica, de todo pouco habitual, pois o seu registo costuma ser bem realista. Mesmo assim – ou por isso? – Berardi revela mais uma vez a mestria da sua escrita, combinando a evocação da realidade histórica com uma narrativa mitológica, transportando esta última para o tempo actual, interligando-a ainda com a anedota do hacker-poeta, e inserindo-a no contexto típico das histórias de Júlia, de uma forma só aparentemente leve e descontraída, pois algumas das questões que aborda e explora merecem reflexão profunda. Piccoli, por seu lado, põe o seu traço “ao serviço do mestre”, revelando à-vontade no tratamento realista de quase todo o relato, com especial destaque para a vivacidade e expressividade de Júlia, e utilizando outros estilos gráficos para os diversos segmentos fantásticos da narrativa.
Leituras relacionadas
Claudio Piccoli,
Giancarlo Berardi,
Júlia_J. Kendall,
Lorenzo Calza,
Mythos
25/03/2010
Le dessin
Marc Antoine Mathieu (argumento e desenho)
Delcourt (França, Maio de 2001)
228 x 320 mm, 48 p., pb + cor, cartonado
Em "Le Dessin" tudo começa num cemitério, numa banal cena de um funeral. Banal, inevitável, mas custosa - são sempre difíceis os funerais. Neste, quem sofre é Émile, um pintor, pois o seu grande amigo, Édouard, deixou-o. Só. Sem os "passeios discursivos sobre o sentido da arte", sem "as controvérsias insensatas sobre as qualidades comparadas do mistério e do enigma"... Solidão que Marc-Antoine Mathieu retrata admiravelmente através das pinturas de Émile, no início de uma história, num preto e branco sóbrio mas marcante - às vezes opressivo - sobre presença e ausência.
Ausência mais presente quando a chegada de uma carta de Édouard surpreende Émile. Nela, o falecido convida-o a ir ao seu armazém de obras de arte escolher uma qualquer, para si, como última recordação da sua amizade. Após uma busca de muitas horas num "imenso armazém que parecia conter espécimes de todas as artes da humanidade", por entre obras "que lhe lembravam o olhar que Édouad tinha do mundo", a escolha recai - porquê? - "numa pequena gravura insignificante". Talvez porque o desenho "representasse o apartamento de Édouard" e tivesse um título "que o intrigava... ‘reflexão' ".
E a reflexão que Émile faz sobre o desenho, torna-se quase em obsessão. Por isso, recordado do gosto que o amigo tinha pelos enigmas, começa a analisá-lo ao pormenor, cada vez mais meticulosamente, reproduzindo - reflectindo - cada milímetro do desenho nos seus próprios quadros, numa busca incessante, iniciática, que se transforma na essência da sua existência, na sua única razão de ser, de viver, no seu destino, em que arte e vida se unem numa só realidade.
No final de uma narrativa poética e melancólica, no final, também, de uma vida de 'reflexão', de reflexões, também de reflexos - não é tudo o que fazemos e dizemos um reflexo, uma imagem da forma como vemos (reflectimos) o que nos rodeia? - Émile descobre – na cor, que nunca utilizou, para a qual o amigo o conduziu - o segredo daquele desenho - o desígnio da sua vida - que revela o seu lado infinitamente complexo e o seu lado infinitamente simples. Como também existe em tudo. Na vida.
Curiosidade
O álbum está divido em três capítulos - Le Dessin (O desenho), Le Destin (O destino), Le Dessein (O Desígnio) – cuja sonoridade é muito semelhante no original francês.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Janeiro de 2002)
Delcourt (França, Maio de 2001)
228 x 320 mm, 48 p., pb + cor, cartonado
Em "Le Dessin" tudo começa num cemitério, numa banal cena de um funeral. Banal, inevitável, mas custosa - são sempre difíceis os funerais. Neste, quem sofre é Émile, um pintor, pois o seu grande amigo, Édouard, deixou-o. Só. Sem os "passeios discursivos sobre o sentido da arte", sem "as controvérsias insensatas sobre as qualidades comparadas do mistério e do enigma"... Solidão que Marc-Antoine Mathieu retrata admiravelmente através das pinturas de Émile, no início de uma história, num preto e branco sóbrio mas marcante - às vezes opressivo - sobre presença e ausência.
Ausência mais presente quando a chegada de uma carta de Édouard surpreende Émile. Nela, o falecido convida-o a ir ao seu armazém de obras de arte escolher uma qualquer, para si, como última recordação da sua amizade. Após uma busca de muitas horas num "imenso armazém que parecia conter espécimes de todas as artes da humanidade", por entre obras "que lhe lembravam o olhar que Édouad tinha do mundo", a escolha recai - porquê? - "numa pequena gravura insignificante". Talvez porque o desenho "representasse o apartamento de Édouard" e tivesse um título "que o intrigava... ‘reflexão' ".
E a reflexão que Émile faz sobre o desenho, torna-se quase em obsessão. Por isso, recordado do gosto que o amigo tinha pelos enigmas, começa a analisá-lo ao pormenor, cada vez mais meticulosamente, reproduzindo - reflectindo - cada milímetro do desenho nos seus próprios quadros, numa busca incessante, iniciática, que se transforma na essência da sua existência, na sua única razão de ser, de viver, no seu destino, em que arte e vida se unem numa só realidade.
No final de uma narrativa poética e melancólica, no final, também, de uma vida de 'reflexão', de reflexões, também de reflexos - não é tudo o que fazemos e dizemos um reflexo, uma imagem da forma como vemos (reflectimos) o que nos rodeia? - Émile descobre – na cor, que nunca utilizou, para a qual o amigo o conduziu - o segredo daquele desenho - o desígnio da sua vida - que revela o seu lado infinitamente complexo e o seu lado infinitamente simples. Como também existe em tudo. Na vida.
Curiosidade
O álbum está divido em três capítulos - Le Dessin (O desenho), Le Destin (O destino), Le Dessein (O Desígnio) – cuja sonoridade é muito semelhante no original francês.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Janeiro de 2002)
23/03/2010
Face à l’urgence
Erik Bongers (argumento e desenho)
Office des publications de l’Union Européene (Luxemburgo, 2010)
210 x 297 mm, 40 p, cor, cartonado
Edição institucional, tem por objectivo “ilustrar o trabalho do serviço de ajuda humanitária da Comissão Europeia” face a catástrofes naturais como terramotos ou inundações. Fazendo um bom uso da linguagem dos quadradinhos, diluindo competentemente a carga informativa, narra um caso ficcional, num país imaginário, a Bordúvia, mostrando alguns dos problemas e dificuldades que se deparam passo a passo às entidades que têm por missão levar auxílio às vítimas das catástrofes.
Apesar do tom neutro, a que naturalmente está obrigado, não deixa mesmo assim de aflorar temas como a corrupção, a dificuldade de fazer a ajuda chegar a quem mais necessita ou os constantes obstáculos diplomáticos que são levantados, desvendando um pouco como a política e os interesse de minorias continuam a ser soberanos e ajudando a perceber porque motivo o auxílio demora, por vezes, tanto a chegar.
O traço do belga Erik Bongers, uma linha clara, com predominância de tons ocres, que evoca o “Jonathan” de Cosey, e que funciona melhor quando trabalha sobre registos fotográficos do que no tratamento da figura humana, cumpre razoavelmente o seu papel, sem deslumbrar:
O livro, disponível em inglês, francês, alemão, holandês e italiano, pode ser obtido gratuitamente em papel ou em versão pdf.
Office des publications de l’Union Européene (Luxemburgo, 2010)
210 x 297 mm, 40 p, cor, cartonado
Edição institucional, tem por objectivo “ilustrar o trabalho do serviço de ajuda humanitária da Comissão Europeia” face a catástrofes naturais como terramotos ou inundações. Fazendo um bom uso da linguagem dos quadradinhos, diluindo competentemente a carga informativa, narra um caso ficcional, num país imaginário, a Bordúvia, mostrando alguns dos problemas e dificuldades que se deparam passo a passo às entidades que têm por missão levar auxílio às vítimas das catástrofes.
Apesar do tom neutro, a que naturalmente está obrigado, não deixa mesmo assim de aflorar temas como a corrupção, a dificuldade de fazer a ajuda chegar a quem mais necessita ou os constantes obstáculos diplomáticos que são levantados, desvendando um pouco como a política e os interesse de minorias continuam a ser soberanos e ajudando a perceber porque motivo o auxílio demora, por vezes, tanto a chegar.
O traço do belga Erik Bongers, uma linha clara, com predominância de tons ocres, que evoca o “Jonathan” de Cosey, e que funciona melhor quando trabalha sobre registos fotográficos do que no tratamento da figura humana, cumpre razoavelmente o seu papel, sem deslumbrar:
O livro, disponível em inglês, francês, alemão, holandês e italiano, pode ser obtido gratuitamente em papel ou em versão pdf.
22/03/2010
As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy
Filipe Melo (argumento)
Juan Cavia (desenho)
Santiago Villa (cor)
Tinta da China (Portugal, Fevereiro de 2010)
165 x 240 mm, 120 p. cor, brochado com badanas
Resumo
Vampiros, lobisomens, gárgulas e fantasmas vivem pacificamente, nas sombras, entre os humanos. Porém, no subsolo de Lisboa, o pior de todos os monstros ganha forças e prepara o seu regresso. Para isso, anda a raptar crianças na capital portuguesa.
Um jovem distribuidor de pizzas, um ex-lobisomem de meia-idade, um demónio de seis mil anos e uma cabeça de gárgula com um estranho sentido de humor serão os únicos capazes de fazer frente às forças do mal que ameaçam a Humanidade.
Desenvolvimento
E de repente, parece que a banda desenhada portuguesa descobriu que pode aliar a qualidade artística à vertente comercial, no bom sentido do termo, sem desvirtuar projectos nem fazer mais cedências do que as estritamente necessárias. Mais, assumindo o objectivo de constituir um (bom) divertimento (bem feito) e tendo como meta chegar ao máximo possível de leitores, não só ao (curto) nicho habitual.
Exemplos recentes são BRK, de Filipe Pina e Filipe Andrade, Asteroid Fighter de Rui Lacas, e, agora, este livro. Que tem génese estranha, quase tanto como a história que narra. Porque nasceu em Tondela; porque na sua origem está Filipe Melo, músico e cineasta (I’ll see you in my dreams, Um mundo catita); porque resulta de uma parceria luso/argentina (nacionalidade do desenhador e também do colorista); porque esteve para ser um filme e acabou como BD (para benefício dos leitores de quadradinhos – de todos os que lerem estes quadradinhos).
A história reúne um entregador de pizzas, um detective do oculto, um demónio que encarnou num corpo de criança e a cabeça duma gárgula, que percorrem as entranhas de Lisboa, para descobrirem quem anda a raptar as crianças lisboetas e, juntamente com um sem número de monstros e demónios, combaterem uma (nova) ameaça nazi.
O tom é tão fantástico, rocambolesco e delirante quanto o resumo deixa entender, cruzando um sem número de referências e citações, de Jackie Chan aos Gremlins, de Casablanca a Howard, the Duck, de Hellboy a Dylan Dog, do policial negro ao cinema fantástico, numa narrativa de ritmo acelerado, de cortar o fôlego, em que as surpresas e o bom humor são recorrentes página após página, até ao desfecho final que deixa tudo em aberto para uma nova BD… pela qual se fica ansiosamente à espera.
E se foi preciso ir à Argentina buscar o desenhador, ainda bem que assim foi, pois o traço de Juan Cavia, de volumes bem definidos, a um tempo semi-realista e caricatural, e de um grande dinamismo, onde se adivinha sem dificuldade a sua experiência cinematográfica, imprimiu ao relato o ritmo que ele pedia, através do uso dos mais variados planos e de uma planificação multifacetada, multiplicando vinhetas ou optando por páginas com um desenho só.
A reter
- O desenho, o ritmo, o humor, as homenagens. Uma BD muito bem feita.
- A magnífica edição da Tinta da China.
- O making of escrito por Ana Markl que ocupa as últimas páginas do livro.
Menos conseguido
- A capa, pouco chamativa, sem imagem…
Curiosidade
- Afinal qual a alcunha de Eurico Catatau? Pizza Boy, PizzaBoy (como na capa do livro) ou Pizzaboy (como Filipe Melo escreve)…?
(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 13 de Março de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Juan Cavia (desenho)
Santiago Villa (cor)
Tinta da China (Portugal, Fevereiro de 2010)
165 x 240 mm, 120 p. cor, brochado com badanas
Resumo
Vampiros, lobisomens, gárgulas e fantasmas vivem pacificamente, nas sombras, entre os humanos. Porém, no subsolo de Lisboa, o pior de todos os monstros ganha forças e prepara o seu regresso. Para isso, anda a raptar crianças na capital portuguesa.
Um jovem distribuidor de pizzas, um ex-lobisomem de meia-idade, um demónio de seis mil anos e uma cabeça de gárgula com um estranho sentido de humor serão os únicos capazes de fazer frente às forças do mal que ameaçam a Humanidade.
Desenvolvimento
E de repente, parece que a banda desenhada portuguesa descobriu que pode aliar a qualidade artística à vertente comercial, no bom sentido do termo, sem desvirtuar projectos nem fazer mais cedências do que as estritamente necessárias. Mais, assumindo o objectivo de constituir um (bom) divertimento (bem feito) e tendo como meta chegar ao máximo possível de leitores, não só ao (curto) nicho habitual.
Exemplos recentes são BRK, de Filipe Pina e Filipe Andrade, Asteroid Fighter de Rui Lacas, e, agora, este livro. Que tem génese estranha, quase tanto como a história que narra. Porque nasceu em Tondela; porque na sua origem está Filipe Melo, músico e cineasta (I’ll see you in my dreams, Um mundo catita); porque resulta de uma parceria luso/argentina (nacionalidade do desenhador e também do colorista); porque esteve para ser um filme e acabou como BD (para benefício dos leitores de quadradinhos – de todos os que lerem estes quadradinhos).
A história reúne um entregador de pizzas, um detective do oculto, um demónio que encarnou num corpo de criança e a cabeça duma gárgula, que percorrem as entranhas de Lisboa, para descobrirem quem anda a raptar as crianças lisboetas e, juntamente com um sem número de monstros e demónios, combaterem uma (nova) ameaça nazi.
O tom é tão fantástico, rocambolesco e delirante quanto o resumo deixa entender, cruzando um sem número de referências e citações, de Jackie Chan aos Gremlins, de Casablanca a Howard, the Duck, de Hellboy a Dylan Dog, do policial negro ao cinema fantástico, numa narrativa de ritmo acelerado, de cortar o fôlego, em que as surpresas e o bom humor são recorrentes página após página, até ao desfecho final que deixa tudo em aberto para uma nova BD… pela qual se fica ansiosamente à espera.
E se foi preciso ir à Argentina buscar o desenhador, ainda bem que assim foi, pois o traço de Juan Cavia, de volumes bem definidos, a um tempo semi-realista e caricatural, e de um grande dinamismo, onde se adivinha sem dificuldade a sua experiência cinematográfica, imprimiu ao relato o ritmo que ele pedia, através do uso dos mais variados planos e de uma planificação multifacetada, multiplicando vinhetas ou optando por páginas com um desenho só.
A reter
- O desenho, o ritmo, o humor, as homenagens. Uma BD muito bem feita.
- A magnífica edição da Tinta da China.
- O making of escrito por Ana Markl que ocupa as últimas páginas do livro.
Menos conseguido
- A capa, pouco chamativa, sem imagem…
Curiosidade
- Afinal qual a alcunha de Eurico Catatau? Pizza Boy, PizzaBoy (como na capa do livro) ou Pizzaboy (como Filipe Melo escreve)…?
(Versão revista e aumentada do texto publicado originalmente a 13 de Março de 2010, na página de Livros do suplemento In’ da revista NS, distribuída aos sábados com o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias)
Leituras relacionadas
Dog Mendonça,
Filipe Melo,
Juan Cavia,
PizzaBoy,
Tinta da China
19/03/2010
Pourquoi j'ai tué Pierre
Oliver Ka (argumento)
Alfred (desenho)
Delcourt (França, Setembro de 2006)
204 x 264 mm, 112 p., cor, cartonado com sobrecapa com badanas
Olivier Ka viveu a infância e adolescência entre uns pais libertários e permissivos, defensores do sexo livre, e uns avós católicos praticantes conservadores, dividido, assim, entre dois mundos - e em temas como Deus, religião, igreja ou sexo. Aos 12 anos vai para um acampamento de férias dirigido por Pierre, um padre de esquerda, amigo dos pais - e seu amigo - que o levará (forçará…) a tocar o seu corpo. Apenas. Apenas ou tudo isso, o ponto de vista pode divergir. O nome apropriado é pedofilia e a actualidade, infelizmente, mostra que este esteve longe de ser um caso isolado.
Aquela experiência, embora breve, será profundamente traumatizante, embora só se aperceba quanto muitos anos depois. Para a apagar da sua memória - para exorcizar os seus fantasmas - teve que "matar" Pierre. Não literalmente, mas através de um texto auto-biográfico. Que, com Alfred, transformou nesta banda desenhada. Que também serve para isso.
Esta é uma história pudica e sensível, sobre uma infância traída e feridas não cicatrizadas, narrada de forma íntima e pessoal, com Alfred a gerir de forma notável o estilo do traço, a planificação e as cores consoante as situações relatadas, numa sublime e rara simbiose entre texto e desenho.
Uma obra que, começando nos 7 anos de Olivier, vai até à apresentação do projecto de livro a Pierre, num encontro inesperado e doloroso, desenhado de forma tocante, que permite a Olivier (re)encontrar a paz interior. Aos 35 anos.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Outubro de 2006)
Alfred (desenho)
Delcourt (França, Setembro de 2006)
204 x 264 mm, 112 p., cor, cartonado com sobrecapa com badanas
Olivier Ka viveu a infância e adolescência entre uns pais libertários e permissivos, defensores do sexo livre, e uns avós católicos praticantes conservadores, dividido, assim, entre dois mundos - e em temas como Deus, religião, igreja ou sexo. Aos 12 anos vai para um acampamento de férias dirigido por Pierre, um padre de esquerda, amigo dos pais - e seu amigo - que o levará (forçará…) a tocar o seu corpo. Apenas. Apenas ou tudo isso, o ponto de vista pode divergir. O nome apropriado é pedofilia e a actualidade, infelizmente, mostra que este esteve longe de ser um caso isolado.
Aquela experiência, embora breve, será profundamente traumatizante, embora só se aperceba quanto muitos anos depois. Para a apagar da sua memória - para exorcizar os seus fantasmas - teve que "matar" Pierre. Não literalmente, mas através de um texto auto-biográfico. Que, com Alfred, transformou nesta banda desenhada. Que também serve para isso.
Esta é uma história pudica e sensível, sobre uma infância traída e feridas não cicatrizadas, narrada de forma íntima e pessoal, com Alfred a gerir de forma notável o estilo do traço, a planificação e as cores consoante as situações relatadas, numa sublime e rara simbiose entre texto e desenho.
Uma obra que, começando nos 7 anos de Olivier, vai até à apresentação do projecto de livro a Pierre, num encontro inesperado e doloroso, desenhado de forma tocante, que permite a Olivier (re)encontrar a paz interior. Aos 35 anos.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 29 de Outubro de 2006)
18/03/2010
As Leituras dos Heróis – Dog Mendonça, Pizzaboy, Pazuul e Gárgula
(Segundo a opinião de Filipe Melo)
Pergunta - Se lessem banda desenhada quais seriam as preferidas de Dog Mendonça, Pizzaboy, Pazuul e Gárgula?
Resposta – Dog Mendonça: Cavaleiro Andante e Mosquito; o Eurico Catatau (Pizzaboy) mantém-se informado por causa do seu colega Vasco, que colecciona BD. As BD´s favoritas dele são Hellblazer, Hellboy, Batman - Arham Asylum, Sandman (do Neil Gaiman), Swamp Thing (do Alan Moore), Ronin e Elektra (do Frank Miller), X-Men Dark Phoenix Saga e Blueberry (de Jean Giraud e Charlier); o Pazuul só gosta do José Carlos Fernandes e a Gárgula lê Tio Patinhas, Pato Donald, Turma da Mónica e Recruta Zero.
Pergunta - Se lessem banda desenhada quais seriam as preferidas de Dog Mendonça, Pizzaboy, Pazuul e Gárgula?
Resposta – Dog Mendonça: Cavaleiro Andante e Mosquito; o Eurico Catatau (Pizzaboy) mantém-se informado por causa do seu colega Vasco, que colecciona BD. As BD´s favoritas dele são Hellblazer, Hellboy, Batman - Arham Asylum, Sandman (do Neil Gaiman), Swamp Thing (do Alan Moore), Ronin e Elektra (do Frank Miller), X-Men Dark Phoenix Saga e Blueberry (de Jean Giraud e Charlier); o Pazuul só gosta do José Carlos Fernandes e a Gárgula lê Tio Patinhas, Pato Donald, Turma da Mónica e Recruta Zero.
Leituras relacionadas
As Leituras dos Heróis,
Dog Mendonça,
Filipe Melo,
PizzaBoy
17/03/2010
Hair Shirt
Patrick McEown (argumento e desenho)
Liz Artinian (cores)
Gallimard (França, Janeiro de 2010)
170 x 240 mm, 128 p., cor, cartonado
Resumo
John e Nasomi são dois amigos de infância que a vida separou e que o acaso decide juntar, anos mais tarde, naquela fase de indefinições entre o fim da adolescência e a entrada na idade adulta. Esse reencontro faz despertar de novo o amor entre eles – ou pelo menos a estranha forma que eles têm de o mostrar. Porque, juntamente com os sentimentos, também o passado regressa, com todos os seus traumas, recordações reprimidas e medos latentes.
Desenvolvimento
“Hair shirt” – literalmente “vestido de cabelos” – é a designação de uma espécie de vestido usado por penitência. E é de penitência, de (des)encontros, de errâncias sentimentais e de sexualidade mal assumida que nos fala este romance denso e complexo, no qual, muitas vezes, o relato se confunde com os sonhos – os pesadelos – do protagonista, hesitante entre viver o presente ou deixar que os seus sentimentos de culpa, os seus medos e as suas angústias assumam o controle e o impeçam de o desfrutar.
O tempo é o presente, o local da acção uns quaisquer subúrbios (no caso canadianos…), os protagonistas jovens adultos, cujas vidas não têm rumo definido nem objectivos para lá dos imediatos.
Por isso, John, estudante de Belas Artes, com um part-time num cinema, desde que a namorada o deixou, há mais de três anos, prefere lamentar a sua vida, as oportunidades que perdeu (ou não soube/quis aproveitar), em lugar de lutar pelo momento – por cada momento – pela relação que agora vive.
O reencontro casual com Naomi, parece poder ser o factor de mudança, mas a verdade é que muita água passou sob as pontes desde que ela e a sua família mudaram de cidade na sequência da morte acidental do seu irmão Chris, implicativo, e cruel. Por isso, a par da alegria do reencontro e da possibilidade de viverem o seu amor, surgem as sombras, as memórias, os falhanços e os momentos penosos de então, que pesam mais do que a possibilidade de ser (finalmente) feliz. Não só da parte dele, mas também da parte de Naomi, perdida numa busca errante e auto-destrutiva, incapaz de se assumir e de assumir os seus sentimentos, tentando encontrar na provocação e na transgressão de limites o que ela própria não consegue dar.
Algures entre o romance psicológico e a crónica quotidiana do fim da adolescência, com um toque de fantástico, melhor de pesadelo, o relato de McEown surpreende pela densidade, pelo ambiente saturado e opressivo que consegue criar e do qual, a par dos protagonistas, não nos conseguimos libertar, mesmo nos primeiros momentos após fechar o livro. Talvez porque o autor opta por não dar todas as respostas nem aprofundar todas as explicações sobre as causas dos traumatismos de infância de John e Naomi, deixando ao leitor a possibilidade de os interpretar. Porque a história, assente em diálogos especialmente bem conseguidos e credíveis, que deixam subentendido sempre mais do que aquilo que afirmam, prende e arrasta-nos – embora recorrentemente nos obriga a voltar atrás, para (re)interpretar esta ou aquela passagem à luz dos novos acontecimentos – num turbilhão vertiginoso de sentimentos contraditórios.
E se McEown não é, longe disso, um virtuoso do desenho, é, no entanto, um excelente narrador aos quadradinhos, com o seu traço falsamente inseguro, vivo, dinâmico, expressivo e preciso na definição de momentos e estados de espírito, bem servido por cores frias que acentuam a sensação de impotência e queda que perpassa todo o livro.
A reter
- A bela surpresa que a leitura deste livro constituiu, dando bem mais do que aquilo que parecia oferecer à primeira vista.
Curiosidade
- Patrick McEown, natural de Otava, no Canadá, onde nasceu em 1968, trabalhou na Dark Horse com Matt Wagner (Grendel: War Child) e Mike Mignola (Zombie World), na DC Comics (Batman – Beyond) e na Marvel (X-Men: Evolution).
Liz Artinian (cores)
Gallimard (França, Janeiro de 2010)
170 x 240 mm, 128 p., cor, cartonado
Resumo
John e Nasomi são dois amigos de infância que a vida separou e que o acaso decide juntar, anos mais tarde, naquela fase de indefinições entre o fim da adolescência e a entrada na idade adulta. Esse reencontro faz despertar de novo o amor entre eles – ou pelo menos a estranha forma que eles têm de o mostrar. Porque, juntamente com os sentimentos, também o passado regressa, com todos os seus traumas, recordações reprimidas e medos latentes.
Desenvolvimento
“Hair shirt” – literalmente “vestido de cabelos” – é a designação de uma espécie de vestido usado por penitência. E é de penitência, de (des)encontros, de errâncias sentimentais e de sexualidade mal assumida que nos fala este romance denso e complexo, no qual, muitas vezes, o relato se confunde com os sonhos – os pesadelos – do protagonista, hesitante entre viver o presente ou deixar que os seus sentimentos de culpa, os seus medos e as suas angústias assumam o controle e o impeçam de o desfrutar.
O tempo é o presente, o local da acção uns quaisquer subúrbios (no caso canadianos…), os protagonistas jovens adultos, cujas vidas não têm rumo definido nem objectivos para lá dos imediatos.
Por isso, John, estudante de Belas Artes, com um part-time num cinema, desde que a namorada o deixou, há mais de três anos, prefere lamentar a sua vida, as oportunidades que perdeu (ou não soube/quis aproveitar), em lugar de lutar pelo momento – por cada momento – pela relação que agora vive.
O reencontro casual com Naomi, parece poder ser o factor de mudança, mas a verdade é que muita água passou sob as pontes desde que ela e a sua família mudaram de cidade na sequência da morte acidental do seu irmão Chris, implicativo, e cruel. Por isso, a par da alegria do reencontro e da possibilidade de viverem o seu amor, surgem as sombras, as memórias, os falhanços e os momentos penosos de então, que pesam mais do que a possibilidade de ser (finalmente) feliz. Não só da parte dele, mas também da parte de Naomi, perdida numa busca errante e auto-destrutiva, incapaz de se assumir e de assumir os seus sentimentos, tentando encontrar na provocação e na transgressão de limites o que ela própria não consegue dar.
Algures entre o romance psicológico e a crónica quotidiana do fim da adolescência, com um toque de fantástico, melhor de pesadelo, o relato de McEown surpreende pela densidade, pelo ambiente saturado e opressivo que consegue criar e do qual, a par dos protagonistas, não nos conseguimos libertar, mesmo nos primeiros momentos após fechar o livro. Talvez porque o autor opta por não dar todas as respostas nem aprofundar todas as explicações sobre as causas dos traumatismos de infância de John e Naomi, deixando ao leitor a possibilidade de os interpretar. Porque a história, assente em diálogos especialmente bem conseguidos e credíveis, que deixam subentendido sempre mais do que aquilo que afirmam, prende e arrasta-nos – embora recorrentemente nos obriga a voltar atrás, para (re)interpretar esta ou aquela passagem à luz dos novos acontecimentos – num turbilhão vertiginoso de sentimentos contraditórios.
E se McEown não é, longe disso, um virtuoso do desenho, é, no entanto, um excelente narrador aos quadradinhos, com o seu traço falsamente inseguro, vivo, dinâmico, expressivo e preciso na definição de momentos e estados de espírito, bem servido por cores frias que acentuam a sensação de impotência e queda que perpassa todo o livro.
A reter
- A bela surpresa que a leitura deste livro constituiu, dando bem mais do que aquilo que parecia oferecer à primeira vista.
Curiosidade
- Patrick McEown, natural de Otava, no Canadá, onde nasceu em 1968, trabalhou na Dark Horse com Matt Wagner (Grendel: War Child) e Mike Mignola (Zombie World), na DC Comics (Batman – Beyond) e na Marvel (X-Men: Evolution).
16/03/2010
Hellboy – Verme conquistador
Mike Mignola (argumento e desenho)
G. Floy Studio (Portugal, 2008)
170 x 256 mm, 144 p., cor, brochado com badanas
Por vezes há coisas assim.
A estreia de “Hellboy 2: O Exército Dourado” nos cinemas aconteceu em simultâneo com a chegada de mais um volume aos quadradinhos às livrarias – conjugação em que o mercado português tem sido parco, o que não abona a seu favor – o que justifica uma breve análise das razões do seu sucesso – mais marcante nas páginas impressas do que nas telas. O que facilmente se percebe, porque apesar dos muitos avanços tecnológicos, continua a haver aspectos em que a concretização dos sonhos nascidos no papel continua a ser impossível, sendo estes mais capazes de sugestionarem a mente humana.
O que primeiro atrai em Hellboy é a arte de Mike Mignola, que quase se poderia classificar como uma “linha clara” escura, já que o seu desenho plano, estilizado, desprovido de pormenores desnecessários, extremamente legível, invulgar no universo dos comics norte-americanos, é servido por tons soturnos, sombrios, mesmo quando a acção decorre em montanhas verdejantes…
Isso contribui sobremaneira para o ambiente opressivo e tenso das narrativas, onde o inesperado espreita a cada página e onde cada construção – quase sempre velhos castelos decadentes - esconde perigos inimaginados.
Mas são as narrativas, bem construídas, envolventes, alternando suspense com cenas de acção, com as pontas soltas necessárias para serem retomadas mais tarde, fazendo a ligação entre as histórias e criando uma interessante cumplicidade com o leitor, que mais surpreendem, pela conjugação de aspectos que aparentemente nada têm em comum: investigações de tom detectivesco e demónios saídos do inferno – o primeiro dos quais o próprio Hellboy -, o paranormal par a par com a ciência, a retoma da temática nazi como personalização do mal absoluto como um dos lados do eterno confronto entre este e o bem…
“Verme Conquistador”, que tem introdução de Guillermo del Toro, reúne todos aqueles aspectos, cruzando-os com diversas referências literárias, cinematográficas e televisivas agradavelmente retros, numa história que traz Hellboy de novo à velha Europa, a mais um castelo em ruínas, para evitar a concretização de um plano iniciado pelos nazis 60 anos antes, quando enviaram o primeiro ser humano para o espaço.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Setembro de 2008)
G. Floy Studio (Portugal, 2008)
170 x 256 mm, 144 p., cor, brochado com badanas
Por vezes há coisas assim.
A estreia de “Hellboy 2: O Exército Dourado” nos cinemas aconteceu em simultâneo com a chegada de mais um volume aos quadradinhos às livrarias – conjugação em que o mercado português tem sido parco, o que não abona a seu favor – o que justifica uma breve análise das razões do seu sucesso – mais marcante nas páginas impressas do que nas telas. O que facilmente se percebe, porque apesar dos muitos avanços tecnológicos, continua a haver aspectos em que a concretização dos sonhos nascidos no papel continua a ser impossível, sendo estes mais capazes de sugestionarem a mente humana.
O que primeiro atrai em Hellboy é a arte de Mike Mignola, que quase se poderia classificar como uma “linha clara” escura, já que o seu desenho plano, estilizado, desprovido de pormenores desnecessários, extremamente legível, invulgar no universo dos comics norte-americanos, é servido por tons soturnos, sombrios, mesmo quando a acção decorre em montanhas verdejantes…
Isso contribui sobremaneira para o ambiente opressivo e tenso das narrativas, onde o inesperado espreita a cada página e onde cada construção – quase sempre velhos castelos decadentes - esconde perigos inimaginados.
Mas são as narrativas, bem construídas, envolventes, alternando suspense com cenas de acção, com as pontas soltas necessárias para serem retomadas mais tarde, fazendo a ligação entre as histórias e criando uma interessante cumplicidade com o leitor, que mais surpreendem, pela conjugação de aspectos que aparentemente nada têm em comum: investigações de tom detectivesco e demónios saídos do inferno – o primeiro dos quais o próprio Hellboy -, o paranormal par a par com a ciência, a retoma da temática nazi como personalização do mal absoluto como um dos lados do eterno confronto entre este e o bem…
“Verme Conquistador”, que tem introdução de Guillermo del Toro, reúne todos aqueles aspectos, cruzando-os com diversas referências literárias, cinematográficas e televisivas agradavelmente retros, numa história que traz Hellboy de novo à velha Europa, a mais um castelo em ruínas, para evitar a concretização de um plano iniciado pelos nazis 60 anos antes, quando enviaram o primeiro ser humano para o espaço.
(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Setembro de 2008)
Leituras relacionadas
G. Floy Studio,
Hellboy,
Mignola
15/03/2010
Entrevista com Filipe Melo
Chamam-se Dog Mendonça e Pizza Boy e correm o risco de fazer história nas histórias aos quadradinhos nacionais porque acabam de salvar o mundo, num relato delirante acabado de chegar às livrarias. Mas a verdade, é que o principal responsável por isto é Filipe Melo, “pianista de jazz de profissão”, que apesar de querer “ter mais tempo para melhorar” a sua música, mete-se “em aventuras que não deixam muito tempo para o piano, como o cinema” – onde realizou o mais famoso filme de zombies nacional, “I'll see you in my dreams” e a série televisiva “Mundo Catita” – e agora “também a banda desenhada”. Para esta última, transportou as suas influências do cinema fantástico - de “Gremlins” a “Regresso ao Futuro”, de “Matrix” às obras de John Landis, que prefacia o livro – e de outro mais sério, como “Casablanca”, e da BD, de “Hellboy” a “Dylan Dog”.
Durante uma conversa numa sessão de promoção do livro, que teve lugar na livraria Central Comics, no Porto, dia 6 de Março, revelou que tudo começou por um sem número de ideias “anotadas em post-its, até o conjunto começar a tomar forma. Depois, seguiu-se um retiro “em Tondela, onde em cerca de 20 dias” escreveu “de forma muito detalhada o guião do que deveria ser um filme”, pois demorou muito tempo “a perceber que esta história tinha que ser contada em BD”. Hoje, satisfeito com o resultado final de uma “obra feita pelas razões certas, por gosto, não para ganhar dinheiro”, pensa que “teria dado um mau filme, pois não haveria dinheiro suficiente para os efeitos especiais necessários!”.
Depois do seu argumento passar por uma série de pessoas pois acredita “que se ganha muito no plano colaborativo”, e ter tido algumas “alterações superficiais”, após uma série de peripécias, acabou por “encontrar o desenhador na Argentina”, com quem trabalhou ao longo de um ano, através de mails e do Skype. Pessoalmente, só se conheceram “há dias, quando o desenhador chegou ao nosso país”, para participar numa série de eventos de promoção do livro.
Livro para o qual imagina como banda sonora “um grande arranjo orquestral” em que os seus (invulgares) heróis – que incluem um demónio encarnado no corpo de uma criança e uma gárgula - têm de “salvar o mundo e tentar conquistar uma rapariga”, combatendo um eventual regresso do Quarto Reich. E tudo acontece em Lisboa, “baseado no facto de durante a II Guerra Mundial a capital portuguesa ter fervilhado de espiões e refugiados”.
E se a hipótese de ver publicados os seus heróis noutros mercados já lhe passou pela cabeça, primeiro quer tratar da promoção nacional e de tentar esgotar “o mais rápido possível os 1300 exemplares desta edição”. Depois de cumprir esta missão, pode ser que “mande uns mails e faça uns contactos, para tentar que o livro seja publicado noutro sítio, nem que seja no Sri lanka!”.
Entretanto, qual bom zombie, está morto… “por convencer toda a gente a fazer a sequela”. Que até já tem título – “Apocalipse” – e que parte das mesmas premissas: “acontecimentos muito estranhos, Lisboa como ponto de partida e a missão de salvar o mundo em 12 horas”. Começará “cinco anos depois da primeira história” e nela “o Pizza Boy, que não teve muitas mais oportunidades de salvar o planeta, teve que ir trabalhar para um call-center, a única actividade mais deprimente do que ser entregador de pizzas”. E como foi pensada desde a sua génese como “novela gráfica, isso permite destruir muito mais coisas!” Por isso, Filipe Melo revela que no seu final “Portugal vai ficar feito em cacos!”
(Versão alargada do texto publicado no Jornal de Notícias de 11 de Marços de 2010)
14/03/2010
Vulcão dos Capelinhos
António Bulcão (argumento)
Paulo Neves (desenho)
OMA – Observatório do Mar dos Açores (Portugal, Setembro de 2007)
210 x 297 mm, 36 p., cor, brochado
O recente temporal que se abateu sobre a Madeira com as consequências (sobejamente…) conhecidas (e exploradas…) levou a que – como é hábito - fossem feitos levantamentos, mais ou menos exaustivos sobre outros acontecimentos similares no território nacional, mais ou menos próximos no tempo.
Entre eles surgiu a erupção do Vulcão dos Capelinhos, nos Açores, que durou entre Setembro de 1957 e Outubro de 1958, de que existe esta narração em banda desenhada.
Editada pelo OMA – Observatório do Mar dos Açores, está disponível no site daquela organização, ou seja, é mais uma daquelas obras aos quadradinhos, editadas neste país, com uma tiragem – assinalável – de 1500 exemplares, mas sem distribuição nem visibilidade, que muitas vezes nem os próprios aficionados do género sabem que existe.
De carácter didáctico e destinado a um público infanto-juvenil, a narrativa de António Bulcão utiliza (bem) como estratégia um peixe como narrador, conseguindo dessa forma apontar de forma ficcionada os factos mais marcantes, transmitindo a informação necessária mas sem ser de todo maçador.
O desenho foi entregue a Paulo Neves que revela alguma insegurança do traço – na linha do estilo cómico franco-belga – possivelmente devido a pouca experiência nesta área, o que se nota também na utilização de cores demasiado vivas, que acabaram prejudicadas na reprodução, especialmente ao nível da capa, que resultou demasiado escura. No entanto, Paulo Neves apresenta um certo domínio da planificação, com algumas soluções interessantes (como na prancha aqui reproduzida), e algum dinamismo narrativo que contribuem sem dúvida para ritmar a obra.
Paulo Neves (desenho)
OMA – Observatório do Mar dos Açores (Portugal, Setembro de 2007)
210 x 297 mm, 36 p., cor, brochado
O recente temporal que se abateu sobre a Madeira com as consequências (sobejamente…) conhecidas (e exploradas…) levou a que – como é hábito - fossem feitos levantamentos, mais ou menos exaustivos sobre outros acontecimentos similares no território nacional, mais ou menos próximos no tempo.
Entre eles surgiu a erupção do Vulcão dos Capelinhos, nos Açores, que durou entre Setembro de 1957 e Outubro de 1958, de que existe esta narração em banda desenhada.
Editada pelo OMA – Observatório do Mar dos Açores, está disponível no site daquela organização, ou seja, é mais uma daquelas obras aos quadradinhos, editadas neste país, com uma tiragem – assinalável – de 1500 exemplares, mas sem distribuição nem visibilidade, que muitas vezes nem os próprios aficionados do género sabem que existe.
De carácter didáctico e destinado a um público infanto-juvenil, a narrativa de António Bulcão utiliza (bem) como estratégia um peixe como narrador, conseguindo dessa forma apontar de forma ficcionada os factos mais marcantes, transmitindo a informação necessária mas sem ser de todo maçador.
O desenho foi entregue a Paulo Neves que revela alguma insegurança do traço – na linha do estilo cómico franco-belga – possivelmente devido a pouca experiência nesta área, o que se nota também na utilização de cores demasiado vivas, que acabaram prejudicadas na reprodução, especialmente ao nível da capa, que resultou demasiado escura. No entanto, Paulo Neves apresenta um certo domínio da planificação, com algumas soluções interessantes (como na prancha aqui reproduzida), e algum dinamismo narrativo que contribuem sem dúvida para ritmar a obra.
Leituras relacionadas
António Bulcão,
Fora das Livrarias,
OMA,
Paulo Neves
13/03/2010
Jérôme K. Jérôme Bloche - L'intégrale - tome 1
Alain Dodier, Serge Le Tendre e Makyo (argumento)
Alain Dodier (desenho)
Dupuis, Bélgica, Fevereiro de 2010)
174 x 244 mm, 160 p., cor, cartonado, 19,00 €
Resumo
Jérôme K. Jérôme Bloche é um detective privado, criado por Alain Dodier, em 1982, para a revista belga “Spirou”, como evoca no prefácio Alain De Kuyssche, então chefe de redacção daquela publicação.
Este tomo, integrado na nova colecção “Intégrales petit format”, reúne as suas três primeiras aventuras, “L'Ombre qui tue", "Les Êtres de papier", "À la vie, à la mort", e ainda “L’anniversaire”, uma história curta de quatro páginas.
Desenvolvimento
Admirador de Humphrey Bogart e de Robert Mitchum, JKJ Bloche é um detective privado parisiense, do tipo tradicional, daqueles de chapéu mole e gabardina, que tem como marca distintiva uns óculos redondos de aro fino e usar como transporte preferencial uma bicicleta, a sua “Solex”. Que é juntamente com a sua amiga Babette, as únicas personagens recorrentes nas várias histórias deste livro. Apesar dos seus esforços, a sagacidade e a capacidade de dedução não são os pontos fortes de Bloche, que é mais do género sonhador e distraído, parecendo que mais do que confiar nos seus méritos, o (aprendiz de) detective conta mais com a ajuda do destino para deslindar os casos que lhe são entregues.
No seu primeiro caso – a primeira história deste livro – a investigação que leva a cabo, funciona, de certa maneira, como tese de graduação, pois tem que investigar o assassino do professor que lhe ensinava as bases do ofício. Como suspeitos, surgem todos os outros colegas de curso, num caso que acaba por se (con)fundir com o aparecimento em Paris de diversas pessoas assassinadas com flechas envenenadas lançadas por uma misteriosa sombra emplumada que após cada morte parece dissolver-se no ar.
Segue-se um interessante conto, no qual Bloche é chamado a descobrir quem ameaça o Barão de Verville, deslocando-se por isso para o seu castelo, um local onde todos parecem esconder algo e onde nada parece corresponder ao que aparenta, até o detective descobrir que o caso em que se encontra envolvido não passa de uma bem conseguida encenação. Na sua terceira aventura, o simpático protagonista desloca-se a casa dos seus tios e da sua avó, para investigar quem anda a ajustar contas em nome de um passado que muitos dos habitantes locais parecem recear.
Comum às três histórias é o grande número de personagens que orbitam em volta dos casos (e por arrastamento) do protagonista, contribuindo para adensar os mistérios e tornar mais complicada a sua resolução.
Neste início de vida do detective, que hoje já conta 21 tomos com as suas andanças, percebe-se alguma inexperiência dos autores, ainda em busca de definir os traços da personalidade do seu herói e o tom certo para as suas histórias, que são rodeadas de um certo ambiente fantástico e de um tom humorístico que se hão-de atenuar com o desenrolar da série. Esta, assumirá antes um carácter calmo, terno e tranquilo, sem dúvida estranho para um registo policial, mas compreensível pelo tom humano que progressivamente adquire.
Aliás, uma das vantagens desta reedição em forma de integrais, é permitir que se assista à evolução de protagonistas e autores. Por isso, apesar de nalguns casos ser necessário voltar atrás para acompanhar o raciocínio de Bloche, as três histórias são consistentes, estruturadas e, até, bastante originais, contribuindo para prender o leitor e deixando antever um bom futuro para o protagonista, como se veio a verificar.
Graficamente, a evolução também é notória, quer na forma como os tons se vão suavizando, quer no aperfeiçoamento gráfico de Dodier, que progressivamente se afasta de algumas influências humorísticas, a caminho de uma linha clara semi-realista, cada vez mais legível e funcional, cujo futuro já se adivinha na BD curta que encerra o volume.
A reter
- A evolução da série, aventura a aventura.
- As intrigas originais e bem imaginadas…
Menos conseguido
- … pese embora alguma confusão pontual na sua estruturação.
Curiosidades
- Jérôme K. Jérôme Bloche recebeu o Prix de la Série (Fauve d’Angoulême), em Janeiro último, pelo seu 21º tomo, “Déni de Fuite”.
- Companheiros de Dodier no início do seu percurso, Le Tendre co-assinaria apenas os dois primeiros episódios de Jérôme K. Jérôme Bloche, enquanto que Makyo “resistiria” até ao quinto tomo. A partir daí Dodier prosseguiu como único autor.
- A colecção “Intégrales petit format”, cujo número de páginas oscila entre as 160 e as 264, e o preço entre 18 e 27 euros, neste seu início de vida, integra também os títulos “Jessica Blandy”, “Ethan Ringler”, “Le Choucas” e “Kogaratsu”.
Alain Dodier (desenho)
Dupuis, Bélgica, Fevereiro de 2010)
174 x 244 mm, 160 p., cor, cartonado, 19,00 €
Resumo
Jérôme K. Jérôme Bloche é um detective privado, criado por Alain Dodier, em 1982, para a revista belga “Spirou”, como evoca no prefácio Alain De Kuyssche, então chefe de redacção daquela publicação.
Este tomo, integrado na nova colecção “Intégrales petit format”, reúne as suas três primeiras aventuras, “L'Ombre qui tue", "Les Êtres de papier", "À la vie, à la mort", e ainda “L’anniversaire”, uma história curta de quatro páginas.
Desenvolvimento
Admirador de Humphrey Bogart e de Robert Mitchum, JKJ Bloche é um detective privado parisiense, do tipo tradicional, daqueles de chapéu mole e gabardina, que tem como marca distintiva uns óculos redondos de aro fino e usar como transporte preferencial uma bicicleta, a sua “Solex”. Que é juntamente com a sua amiga Babette, as únicas personagens recorrentes nas várias histórias deste livro. Apesar dos seus esforços, a sagacidade e a capacidade de dedução não são os pontos fortes de Bloche, que é mais do género sonhador e distraído, parecendo que mais do que confiar nos seus méritos, o (aprendiz de) detective conta mais com a ajuda do destino para deslindar os casos que lhe são entregues.
No seu primeiro caso – a primeira história deste livro – a investigação que leva a cabo, funciona, de certa maneira, como tese de graduação, pois tem que investigar o assassino do professor que lhe ensinava as bases do ofício. Como suspeitos, surgem todos os outros colegas de curso, num caso que acaba por se (con)fundir com o aparecimento em Paris de diversas pessoas assassinadas com flechas envenenadas lançadas por uma misteriosa sombra emplumada que após cada morte parece dissolver-se no ar.
Segue-se um interessante conto, no qual Bloche é chamado a descobrir quem ameaça o Barão de Verville, deslocando-se por isso para o seu castelo, um local onde todos parecem esconder algo e onde nada parece corresponder ao que aparenta, até o detective descobrir que o caso em que se encontra envolvido não passa de uma bem conseguida encenação. Na sua terceira aventura, o simpático protagonista desloca-se a casa dos seus tios e da sua avó, para investigar quem anda a ajustar contas em nome de um passado que muitos dos habitantes locais parecem recear.
Comum às três histórias é o grande número de personagens que orbitam em volta dos casos (e por arrastamento) do protagonista, contribuindo para adensar os mistérios e tornar mais complicada a sua resolução.
Neste início de vida do detective, que hoje já conta 21 tomos com as suas andanças, percebe-se alguma inexperiência dos autores, ainda em busca de definir os traços da personalidade do seu herói e o tom certo para as suas histórias, que são rodeadas de um certo ambiente fantástico e de um tom humorístico que se hão-de atenuar com o desenrolar da série. Esta, assumirá antes um carácter calmo, terno e tranquilo, sem dúvida estranho para um registo policial, mas compreensível pelo tom humano que progressivamente adquire.
Aliás, uma das vantagens desta reedição em forma de integrais, é permitir que se assista à evolução de protagonistas e autores. Por isso, apesar de nalguns casos ser necessário voltar atrás para acompanhar o raciocínio de Bloche, as três histórias são consistentes, estruturadas e, até, bastante originais, contribuindo para prender o leitor e deixando antever um bom futuro para o protagonista, como se veio a verificar.
Graficamente, a evolução também é notória, quer na forma como os tons se vão suavizando, quer no aperfeiçoamento gráfico de Dodier, que progressivamente se afasta de algumas influências humorísticas, a caminho de uma linha clara semi-realista, cada vez mais legível e funcional, cujo futuro já se adivinha na BD curta que encerra o volume.
A reter
- A evolução da série, aventura a aventura.
- As intrigas originais e bem imaginadas…
Menos conseguido
- … pese embora alguma confusão pontual na sua estruturação.
Curiosidades
- Jérôme K. Jérôme Bloche recebeu o Prix de la Série (Fauve d’Angoulême), em Janeiro último, pelo seu 21º tomo, “Déni de Fuite”.
- Companheiros de Dodier no início do seu percurso, Le Tendre co-assinaria apenas os dois primeiros episódios de Jérôme K. Jérôme Bloche, enquanto que Makyo “resistiria” até ao quinto tomo. A partir daí Dodier prosseguiu como único autor.
- A colecção “Intégrales petit format”, cujo número de páginas oscila entre as 160 e as 264, e o preço entre 18 e 27 euros, neste seu início de vida, integra também os títulos “Jessica Blandy”, “Ethan Ringler”, “Le Choucas” e “Kogaratsu”.
12/03/2010
BD para ver – Alex Gozblau na Mundo Fantasma
Amanhã, sábado, dia 13 de Março, a galeria Mundo Fantasma, situada inaugura uma exposição de Alex Gozblau intitulada “Má Raça”, composta por “22 ilustrações originais retratando, no seu estilo inconfundível, um conjunto de personagens e situações oriundas de universos nocturnos e fantásticos”, lê-se no comunicado de imprensa.
Natural de Perugia, Itália, onde nasceu em 1971, Gozblau, galardoado com o Grande Prémio de Ilustração do Prémio Stuart de Desenho de Imprensa em 2009, está há vários anos radicado em Portugal, onde tem construído a sua carreira artística na área da banda desenhada, da ilustração para jornais e revistas – Expresso, Público, Sábado - e de livros para a infância e juventude – como “Romance do 25 de Abril”, escrito por João Pedro Mésseder -, tendo também incursões na escrita de banda desenhada - “Março”, com desenho de Miguel Rocha – e no cinema de animação – “Café”, com João Fazenda.
Esta exposição ficará patente naquela galeria portuense, integrada na loja especializada em BD com o mesmo nome, no Shopping Center Brasília, 1º. Andar, Loja 509/510, até dia 25 de Abril.
Natural de Perugia, Itália, onde nasceu em 1971, Gozblau, galardoado com o Grande Prémio de Ilustração do Prémio Stuart de Desenho de Imprensa em 2009, está há vários anos radicado em Portugal, onde tem construído a sua carreira artística na área da banda desenhada, da ilustração para jornais e revistas – Expresso, Público, Sábado - e de livros para a infância e juventude – como “Romance do 25 de Abril”, escrito por João Pedro Mésseder -, tendo também incursões na escrita de banda desenhada - “Março”, com desenho de Miguel Rocha – e no cinema de animação – “Café”, com João Fazenda.
Esta exposição ficará patente naquela galeria portuense, integrada na loja especializada em BD com o mesmo nome, no Shopping Center Brasília, 1º. Andar, Loja 509/510, até dia 25 de Abril.
Leituras relacionadas
Alex Gozblau,
BD para ver,
Mundo Fantasma
11/03/2010
Tex Anual #10 – O esquadrão infernal
Cláudio Nizzi (argumento)
Ugolino Cossu (desenho)
Mythos Editora (Brasil, Dezembro de 2008)
136 x 176 mm, 332 páginas, preto e branco, capa brochada
Resumo
Tex Willer e Kit Carson são enviados para o Colorado, onde um misterioso bando de ladrões semeia o terror e a morte, desaparecendo misteriosamente após cada investida.
Desenvolvimento
Se não se pode falar de revolução, mesmo que tranquila, a verdade é que nos últimos anos Tex tem passado por uma renovação, para uma maior adequação ao tempo em que vivemos, embora sem perder as características marcantes que lhe permitiram resistir durante 60 anos.
Essa renovação surge quer a nível gráfico, com a chamada de alguns mestres – especialmente espanhóis, como Font, Ortiz ou Sommer – e de novos e talentosos autores, quer a nível temático, com a elaboração de enredos mais consistentes, com o ranger a perder um pouco da sua invencibilidade e da sua aura de intocável e com a introdução de elementos geralmente ausentes das suas aventuras.
Esta história é um bom exemplo disso.
Graficamente, Cossu apresenta um traço limpo e agradável, pouco habitual em Tex – a excepção será Civitelli – com um bom uso de tramas e pontilhados, as personagens bem proporcionadas e um bom trabalho na reconstituição dos cenários, sejam urbanos ou naturais Que nalgumas pranchas, desculpem a comparação, que não tem qualquer tom acusatório, apenas pretende apontar uma referência, me fez lembrar o de Manara em “Quatro dedos – O Homem de papel”, um atípico western desenhado pelo mestre do erotismo. Como contra há que apontar algum estaticismo dos intervenientes, o que num western é sempre de considerar.
Como elementos inovadores no relato, há a presença de mulheres na história, com algum protagonismo, em especial a índia Flor de Inverno que – oh, heresia! - na capa surge abraçada a Tex. E em algumas poses bem sensuais, por diversas vezes, durante o relato. Também nada habituais são as cenas de cariz sexual, como a violação com que termina o assalto inicial, logo na página 24, e as acusações de abuso que Flor de Inverno faz ao coronel que a mantinha prisioneira. Que apesar de invulgares em Tex, fazem todo o sentido no conjunto do relato, no contexto da acção e na época em que ele decorre.
Quanto à narrativa em si, ganharia se a identidade dos ladrões fosse mantida em segredo até mais perto do final, pois o facto de o leitor descobrir muito cedo a quem imputar responsabilidades retira-lhe um potencial suspense que só a beneficiaria. Fora isso tem, na generalidade, com um bom nível, os padrões habituais em Tex, ou seja: é longa e bem estruturada, com algumas inflexões se surpresas, momentos de tensão e acção q.b.. Ou seja, trezentas páginas de western que permitem passar um bom par de horas.
A reter
- O traço de Cossu, em especial quando aplicado nos cenários.
Menos conseguido
- Volto ao tema. Eu conheço e compreendo as razões da Mythos para optarem pelo “formatinho” em lugar do formato original italiano (160 x 210 mm) para as suas edições Bonelli: menor desperdício de papel e, consequentemente, preço de capa bem mais baixo. Mas será que, pelo menos pontualmente – por exemplo, no caso desta colecção anual ou no do especial colorido dos 60 anos de Tex – não seria possível abrir uma excepção e oferecer aos leitores o formato maior – como está a acontecer agora no Brasil com a edição colorida - que permitiria desfrutar melhor e apreciar com mais justiça a parte gráfica?
Curiosidade
- Não apostaria, mas possivelmente esta é uma das poucas capas de Tex em que aparece uma mulher. Possivelmente, uma das raras em que ela abraça Tex. Fico o desafio aos admiradores do ranger para descobrirem quantas são!
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