Choque formal
Choque formal
Claudio Nizzi (argumento)
É então que Kit Willer assume o lugar do prisioneiro, servindo de engodo aos restantes assaltantes.
Em especial nas primeiras páginas, onde é possível encontrar algumas sequências (de uma ou mais pranchas), quase sempre vezes mudas, nas quais nada mais acontece do que uma personagem deslocar-se de um local para outro, muitas vezes sem que isso esteja sequer associado a momentos de suspense. Cenas que contrastam com o longo tiroteio final.
3. Finalmente, um destaque duplo: primeiro, para o belo traço fino, realista, detalhado e pormenorizado de Ferdinando Fusco, com poucas sombras mas um bem trabalhado contraste negro/branco, que – segundo ponto - está desta vez bem impresso pela Mythos. O que, diga-se em abono da justiça, tem acontecido com maior frequência.
Cláudio Nizzi (argumento)
Essa renovação surge quer a nível gráfico, com a chamada de alguns mestres – especialmente espanhóis, como Font, Ortiz ou Sommer – e de novos e talentosos autores, quer a nível temático, com a elaboração de enredos mais consistentes, com o ranger a perder um pouco da sua invencibilidade e da sua aura de intocável e com a introdução de elementos geralmente ausentes das suas aventuras.
Esta história é um bom exemplo disso.
Graficamente, Cossu apresenta um traço limpo e agradável, pouco habitual em Tex – a excepção será Civitelli – com um bom uso de tramas e pontilhados, as personagens bem proporcionadas e um bom trabalho na reconstituição dos cenários, sejam urbanos ou naturais
Que nalgumas pranchas, desculpem a comparação, que não tem qualquer tom acusatório, apenas pretende apontar uma referência, me fez lembrar o de Manara em “Quatro dedos – O Homem de papel”, um atípico western desenhado pelo mestre do erotismo. Como contra há que apontar algum estaticismo dos intervenientes, o que num western é sempre de considerar.
Como elementos inovadores no relato, há a presença de mulheres na história, com algum protagonismo, em especial a índia Flor de Inverno que – oh, heresia! - na capa surge abraçada a Tex. E em algumas poses bem sensuais, por diversas vezes, durante o relato.
Também nada habituais são as cenas de cariz sexual, como a violação com que termina o assalto inicial, logo na página 24, e as acusações de abuso que Flor de Inverno faz ao coronel que a mantinha prisioneira. Que apesar de invulgares em Tex, fazem todo o sentido no conjunto do relato, no contexto da acção e na época em que ele decorre.
Quanto à narrativa em si, ganharia se a identidade dos ladrões fosse mantida em segredo até mais perto do final, pois o facto de o leitor descobrir muito cedo a quem imputar responsabilidades retira-lhe um potencial suspense que só a beneficiaria. Fora isso tem, na generalidade, com um bom nível, os padrões habituais em Tex, ou seja: é longa e bem estruturada, com algumas inflexões se surpresas, momentos de tensão e acção q.b.. Ou seja, trezentas páginas de western que permitem passar um bom par de horas.
O preço da honra/A força do destino
Numa história recente, de 2006, como habitualmente bem narrada e estruturada, funcionando à base de constantes flash-backs, aparentemente dentro dos códigos que regem um dos mais famosos e populares westerns europeus, há uma diferença fundamental: Tex, geralmente dono e senhor da situação, infalível e (quase) omnipotente, falha estrondosamente. E logo por três vezes. Primeiro, quando não consegue evitar o fim trágico de Natay, o índio rebelde que quase lhe rouba o protagonismo da narrativa. Depois, quando não consegue que o verdadeiro criminoso, o oficial do exército corrupto, seja levado à justiça. Finalmente, quando não consegue evitar ou pelo menos atenuar o castigo (apesar de tudo justo) do seu assassino. Motivos suficientes - mas há mais, que deixo aos leitores descobrir - para mergulhar na leitura destas mais de 200 páginas.
Claudio Nizzi (argumento)
mexicanas corruptas) como se exige a um bom western.
Tex Edição Gigante #6 – A Última Fronteira
Incitado pela mãe a odiar os brancos, muitas vezes encontrando na vida razões para o fazer, cresce dividido entre esse ódio, a amizade por Nat, o seu melhor amigo da adolescência, com quem compete pelo amor (no seu caso não correspondido) da bela Sheewa. A sua história é contada em pormenor, entendemos as suas razões (mesmo não as aprovando), vemos nele um ser (bem) humano, não um dos habituais estereótipos das histórias de Tex.
Por outro lado, esta é, possivelmente, das muitas aventuras do ranger que eu já li, aquela em que ele tem menos protagonismo. Ausente em dezenas de páginas, funciona quase só como elemento de ligação entre as diversas fases da narrativa, ganhando protagonismo apenas no final, quando assume o papel de justiceiro. O que contribui para dar consistência à história e reforçar o seu interesse e permite a Nizzi espraiar-se mais na definição dos perfis psicológicos de Jesus e Nat ou mesmo de Sheewa.
Uma referência ainda para a violência inaudita (apesar de tudo invulgar neste western) com que culminam os confrontos entre Nat e Zane (pp. 200-207) e entre este e Tex (pp. 234-240).
Pena é que para um argumento desta qualidade, tenha sido escolhido não um desenhador consagrado, como é norma, mas alguém (então) quase sem experiência, o croata Goran Parlov, que denota isso mesmo. É verdade que já se adivinham algumas das qualidades, que fariam dele um dos desenhadores de Mágico Vento (com o qual J. Zane se parece bastante), nomeadamente o domínio da planificação e a capacidade de dotar de movimento a acção, mas a verdade é que “pesam” mais o “seu” Canadá, impreciso e indefinido, que poderia ser qualquer outra região, ou a forma “inacabada” de muitos rostos ou mesmo vinhetas.
- O desenho de Parlov; a história merecia melhor.
- A ausência das habituais legendas das imagens no dossier inicial.
Tex Anual #9 - Forte Saara
Tex #468 – A sentinela do passado
Tex #469 – A volta do soldado
Carson são obrigados a embrenhar-se numa meseta rochosa. Aí, após enfrentarem uma série de perigos naturais - e outros nem tanto -, descobrem um ex-soldado sulista, John Rickfiekld, que não sabe que a guerra acabou há já duas dezenas de anos.
Trazendo-o de volta à civilização, decidem acompanhá-lo a Atlanta, a sua cidade natal, onde acabam por descobrir que a sua família foi assassinada pelo homem forte local, que é também candidato ao cargo de Governador.
Nesta primeira parte, o grande destaque vai, no entanto, para o traço de Repetto, agreste como a montanha pede, pormenorizado, detalhado, capaz de a desenhar sempre diferente, eficaz sob sol intenso como debaixo do temporal.
Mas, ainda nas páginas finais do Tex #468, o ritmo e o clima criado, perdem-se rapidamente, quando, livres do primeiro perigo, Tex e Carson levam o homem que encontraram de volta à civilização, descobrindo que a sua herança tinha sido usurpada. Como é hábito, de imediato dispõem-se a fazer justiça, acompanhando-o à sua cidade natal, episódio que ocupa toda a edição #469.
Uma vez chegados a Atlanta, confirmam que o responsável pelo assassinato da família Rickfiekld foi o tirano local que impõe pela força uma lei de silêncio sobre o passado. No entanto, em pouco tempo e até com relativa facilidade acabam por o derrotar e repor a justiça.
Se o traço de Repetto mantém o alto nível demonstrado, revelando-se igualmente à vontade no tratamento da figura humana ou animal como no das paisagens naturais ou construídas pelo homem, a história esvazia-se rapidamente para cair numa história banal de Tex, algo forçada e bem pouco inspirada até…
- Não sendo um grande especialista de Tex, li o suficiente para reconhecer que tem havido um esforço para o modernizar, esforço esse patente nas histórias mais recentes, isto sem que se proceda à sua descaracterização. Neste sentido, a primeira parte de “A sentinela do passado”, é mais um (bom) exemplo, mostrando os dois rangers mais em confronto com a natureza (apesar do inimigo invisível) do que com outros seres humanos, o que, pela extensão do episódio, traz uma agradável nota de originalidade.
- O desenho de Repetto, como já deixei suficientemente claro atrás.
Na segunda vinheta da página 43 do Tex #469, Willer diz a Carson: “No cruzamento, vamos virar à direita!”. Na vinheta seguinte, chegados ao tal cruzamento, viram de imediato… à esquerda! Erro de tradução, como me confirmou o amigo José Carlos, pois “no original italiano, Tex diz a Carson para virarem à "sinistra" (esquerda) no cruzamento”.