O
subtítulo acima - por muito estranho que possa soar em relação a
uma personagem com 70 anos de existência ininterrupta e que tem
sabido actualizar-se e manter-se moderno - tem uma dupla explicação.
A
primeira, mais simples: é um piscar de olho ao texto sobre A
Lenda de Tex, que inaugurou esta colecção Bonelli Levoir/Público que resumi como 'O Outro Tex', uma vez
que as duas histórias deste modelo estão mais próximas daquele que
se poderá considerar o seu 'padrão' - o que mais uma vez pode soar
estranho em relação a uma personagem com 70 anos de existência
ininterrupta e que tem sabido actualizar-se e manter-se moderno...
A
segunda, mais complexa, diz respeito à disparidade - complementar? -
de conceitos que os dois argumentistas deste volume - Mauro Boselli e
Claudio Nizzi - aplica(ra)m ao ranger. Não quero repetir aqui o que
Mário João Marques tão bem escreveu na sua conseguida introdução
a este volume - que aconselho a ler atentamente, pelo atrás exposto
e pela espreitadela à forma de trabalhar da Sergio Bonelli Editore -
por isso vou abordar apenas as histórias em si, apesar dessas
diferenças, exemplos mais prementes do que Tex realmente é e do que
ele representa.
Porque
apesar das diferenças, é o mesmo Tex que as protagoniza. Um Tex
inflexível, determinado, violento quando necessário, solidário e
capaz de confiar nos seus parceiros quando as situações a isso
obrigam. O Tex que tem fãs determinados por todo o mundo, o Tex que
se mantém vivo nas bancas - e agora também livrarias - italianas há
décadas.
E
porque, apesar dessas diferenças, ambas são exemplos de um western
moderno, embora de pendor clássico; um western puro e duro, apesar
das variações, nomeadamente o trabalho quase de detective dos dois
rangers em O Assassino de índios. Um western com tudo para
agradar aos apreciadores do género, mas também capaz de seduzir
outros leitores que gostam de uma banda desenhada de aventuras bem
escrita e desenhada.
Porque,
mais uma vez nesta colecção Bonelli, o trabalho gráfico dos
desenhadores merece ser destacado. A inciar-se em Tex, Venturi - que
já vimos no magnífico Dylan
Dog: A Saga de Johnny Freak - apesar de aqui e ali revelar
alguma rigidez e de o sentirmos preso a modelos, revela também as
qualidades que fazem dele, hoje, um dos grandes desenhadores de Tex.
Mas é
Carlos Gomez quem mais brilha, com um traço deslumbrante, mais sujo
e impreciso, mas também de volumes mais definidos e mais
pormenorizado. E não posso terminar, sem chamar a atenção para a
longa sequência inicial de A pista dos fora-da-lei, que
decorre toda ela sob uma forte tempestade e a forma Gomez a
aproveita, tirando partido da chuva e da iluminação dos relâmpagos
para orquestrar um magnífico jogo de luz e sombras.
P.S. -
De regresso da Anadia, da 5.ª Mostra do Clube Tex, alguém (exterior
à BD), a quem mostrava os autógrafos que de lá trouxe, ao ver um
dos Tex em formatinho da Mythos, disse-me: “Não sei como lês
essas coisas...!”
Em
resposta - a ele, a todos aqueles que torcem o nariz (com uma certa
razão) a esse tipo de edição - mostrei-lhe os três primeiros
tomos desta colecção Bonelli Levoir/Público, cuja qualidade ele
admirou, tendo de seguida ficado surpreendido quando lhe expliquei
que a origem das histórias era a mesma, mas tinham uma 'embalagem'
diferente. Sim, sem dúvida, o tamanho importa!
Tex
Colecção Bonelli #6
A pista dos fora-da-lei
Mauro Boselli (argumento)
Carlos Gomez (desenho)
O Assassino de Índios
Claudio Nizzi (argumento)
Andrea Venturi (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 17 de Maio de 2017
190
x 260 mm, 216 p., pb, capa dura
10,90
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
Caro Pedro ,leio a Bonelli da mythos há 20 anos, no formatinho, e vou continuar.
ResponderEliminarO que releva é a qualidade do conteúdo.
Cumprimentos.
P.s. Comentários de quem não lê bd?...
Gostaria de acrescentar que também estou a adquirir a coleção da levoir.
ResponderEliminarO conteúdo é bom.