Ser
comercial
Com o
mercado português de BD dinâmico e diversificado como nunca antes
se tinha visto, é normal que surjam obras como esta,
'representativas' daquilo a que poderíamos chamar - sem qualquer
desprimor - de 'banda desenhada portuguesa comercial e popular'.
Um
tipo de obras que, por diversas razões - desde a dimensão do
mercado aos custos financeiros da edição nacional, passando pela
predisposição (natural ou forçada) dos autores para outras
temáticas (históricas, didácticas, autorais...) - foram sempre
residuais no que à edição de álbuns no nosso país diz respeito.
[E
faço aqui um parêntesis para reforçar que não tenho nada contra a
BD comercial e popular, pelo contrário, acho-a mesmo indispensável
para a existência, o crescimento e a sustentação de um mercado.]
Dragomante,
assume-se como uma história de 'espada, dragões e feitiçaria', um
género com muitos seguidores, numa época e num universo
indefinidos, mas com suficientes pontos de contacto com (outr)a(s)
realidade(s), para que o leitor tenha referências suficientes. A que
acrescem os textos de apoio - algo excessivos, sublinhe-se - (mas)
indicadores de que esta história fechada poderá vir a ser a
primeira de um universo que se adivinha vasto e com muito por onde
crescer. Se vender o suficiente, que é como quem diz, se for
comercial q.b., cumprindo aquilo a que se propõe.
Fogo de Dragão é uma
história linear, de introdução aos protagonistas e ao universo, curiosamente desenvolvida a partir do traço e não
do texto (!), equilibrada nas suas doses de acção, tensão e
suspense, que dá ao leitor o que ele deseja - uns momentos (que
sabem a pouco...) de distracção - com um ou outro pormenor curioso
e/ou original, assinada por dois autores à vontade dentro deste
género - Filipe Faria é o romancista de As Crónicas de Allarya,
de Manuel Morgado falo já a seguir - que poderão fazer Dragomante
crescer e evoluir, assim haja continuidade.
A
edição Comic Heart/G.Floy, com bom papel, boa impressão, no
formato deluxe desta última e a inclusão de um curto dossier de
extras, valoriza o conjunto e torna a obra mais apetecível.
P.S. -
A comparação é inevitável. Desenhado em paralelo com Greldínard,
uma derivação do universo de Les Arcanes de La Lune Noire,
(primeira) colaboração de 2017 de Manuel Morgado para a Dargaud (já
com continuação assinada), Dragomante vence - (mais do que)
aos pontos - graficamente. A planificação é mais legível (a francesa é do argumentista), o
colorido mais agradável e contido, a impressão menos brilhante
(berrante) e o traço beneficiou da experiência já adquirida, com
melhorias (a aprofundar em trabalhos futuros) ao nível da
expressividade e a dinâmica. Vantagem (no caso presente, nem sempre
é assim...) da mesma pessoa - Morgado - ter assumido tudo nesta
edição nacional.
Dragomante: Fogo de Dragão
Filipe
Faria (argumento)
Manuel
Morgado (desenho)
Comic
Heart
Portugal,
Março de 2018
210
x 270 mm, 56 p., cor, capa dura
13,00
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em
toda a sua extensão)
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