Proveniente
do universo alternativo Elseworlds, da DC Comics, O Prego
baseia-se num pressuposto aliciante: o que aconteceria se um furo na
carrinha - provocado pelo tal 'prego' - impedisse o casal Martha e
Jonathan Kent de encontrar o bebé que viria a ser o Super-Homem.
A
resposta, no entanto, não está à sua altura.
Datada
de 1998, esta história escrita e desenhada pelo veterano Alan Davis,
apesar do estimulante pressuposto, agarra-se demasiado à ordem e
organização do universo DC tal como o conhecemos, não se atrevendo
a perturbá-las demasiado - ao contrário do que fizeram outras
narrativas similares - e em Gotham, Star City e outros locais, tudo
decorre mais ou menos como seria esperado.
A
própria Liga da Justiça, embora sem o Super-Homem, mantém todos os
seus membros, organização e meios. A única excepção à ordem
(re)conhecida - não tão excepção assim, na verdade - é
Metrópolis, onde Lex Luthor chegou 'legalmente' ao poder por via
eleitoral graças à popularidade conseguida com um programa
anti-meta-humanos.
É
deste ponto que Alan Davis parte e abre o jogo e o relato, apostando
num clima crescente de perseguição àqueles que até então eram
super-heróis apreciados e aclamados, alimentado por um racismo
primário, forças de segurança muito poderosas e uma bem
orquestrada manipulação da realidade através do controlo dos media
- o que vês na TV é a realidade, mesmo que não seja.
A
situação vai-se agravando para a Liga e os seus aliados, mesmo que
ocasionais, o clima de violência gerado é transportado para o
relato com sucessivas mortes de super-heróis e vilões, mas aos
poucos, graças a pistas espalhadas por Davis, na mente do leitor
vai-se formando a dúvida se é Luthor que controla a situação ou
se existe alguém a fazê-lo na sombra.
Num
crescendo de dúvida e incerteza, O Prego encaminha-se em
velocidade cada vez menos moderada para o seu final - esperado mas
com algo de inesperado - que na prática afirma o que todos sabíamos
(mas de que, a certo ponto, quisemos duvidar): apesar das baixas,
tudo fica na mesma e a ordem que conhecemos volta ao universo DC.
Mais
'olhos que barriga', diria o povo; a mim parece-me que Davis não
soube - não quis ou a DC não deixou - levar a extremos mais
arriscados as consequências da sua ideia base.
Onde,
aos meus olhos, ressalta a não exploração de uma ideia - só um
pormenor...? - com tudo para desafiar o leitor e realmente colocar
muita coisa em questão: o que poderia uma educação amish, como a
que Kal-El recebeu aqui, hiper-religiosa, restritiva e fechada sobre
si mesma, fazer sobre o desenvolvimento e a formação dos princípios
de vida do (futuro) Super-Homem?
A
resposta, sei-o bem, mesmo numa narrativa Elseworlds, não
poderia ser outra: seja qual for o contexto narrativo, a educação
ou a forma de vida, há coisas e seres que nunca mudam e entre eles
está o Super-Homem, imutável na sua previsibilidade e na sua
fidelidade aos princípios de justiça, bondade e defesa dos fracos e
oprimidos que o norteiam há décadas.
Liga
da Justiça: O prego - A teoria do Caos
Colecção
Liga da Justiça #3
Alan
Davis
Levoir/Público
Portugal,
23 de Novembro de 2017
175
x 265 mm, 152 p., cor, capa dura
10,90
€
(imagens
disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda
a sua extensão)
Bons tempos em que havia DC em Portugal... Agora que o ano de teste da Levoir acabou, com um claro chumbo, resta saber quem vai assumir os direitos.
ResponderEliminarEles vão publicar DC ainda este ano só espero que os títulos sejam bem escolhidos e não escolham títulos mediocres e publiquem os grandes clássicos da editora
EliminarMuita pena de ver o superman não ter uma colecção para mim foi do mais desrespeitoso que vi este ano um personagem com tanta historia e este ano celebra 80 anos e a publicação da action comics 1000.
EliminarA levoir tem feito um bom trabalho e este ano trouxe bons titulos mas a coleção de novelas graficas para mim vai ser mais uma coleção que vou deixar passar..
O facto de serem detentores da DC em portugal merecia bem mais destaque e mais titulos e poderiam experimentar fases com batman green lanterns flash e até liga da justiça ao estilo da G-Floy que tem feito um excelente trabalho com a jessica jones,punho de ferro, x force e agora a Ms Marvel. Infelizmente preferiram publicar a harley quinn e nem a melhor fase da personagem publicaram...
O Pedro já escreveu aqui que não conhece planos da Levoir para a DC e que teremos novidades no fim do ano.
EliminarSim também já li que a Goody poderia assumir a DC e se sim era uma boa escolha para publicar histórias atuais mas para coleções com materiais dedicados a personagens e coleções genéricas com mix de títulos clássicos preferido a levoir e espero que assim continue só mesmo se quem pegar nos direitos tenha um plano muito consolidado daquilo que quer fazer...
EliminarSe a levoir continuasse com a vertigo como grande aposta isso sim seria uma notícia fantástica
Estão boas notícias a caminho... haja mais um pouco de paciência!
EliminarBoas leituras!
Só espero poder dizer dentro de algum tempo que a espera valeu a pena.Mas penso que não haja necessidade de esperar pelo meio do ano para lançar nem que sejam umas migalhas de dc e vertigo.Espero mesmo que valha a pena esta espera.
ResponderEliminarAcredito que a espera vai valer a pena... e não vai ser tão longa quanto alguns pensarão.
EliminarBoas leituras!