28/05/2018

Liga da Justiça: O Prego - A teoria do caos


Mais teoria que caos...


Proveniente do universo alternativo Elseworlds, da DC Comics, O Prego baseia-se num pressuposto aliciante: o que aconteceria se um furo na carrinha - provocado pelo tal 'prego' - impedisse o casal Martha e Jonathan Kent de encontrar o bebé que viria a ser o Super-Homem.
A resposta, no entanto, não está à sua altura.
[E atenção à continuação da leitura, desta vez há mesmo alguns spoilers daqui para a frente...]
Datada de 1998, esta história escrita e desenhada pelo veterano Alan Davis, apesar do estimulante pressuposto, agarra-se demasiado à ordem e organização do universo DC tal como o conhecemos, não se atrevendo a perturbá-las demasiado - ao contrário do que fizeram outras narrativas similares - e em Gotham, Star City e outros locais, tudo decorre mais ou menos como seria esperado.
A própria Liga da Justiça, embora sem o Super-Homem, mantém todos os seus membros, organização e meios. A única excepção à ordem (re)conhecida - não tão excepção assim, na verdade - é Metrópolis, onde Lex Luthor chegou 'legalmente' ao poder por via eleitoral graças à popularidade conseguida com um programa anti-meta-humanos.
É deste ponto que Alan Davis parte e abre o jogo e o relato, apostando num clima crescente de perseguição àqueles que até então eram super-heróis apreciados e aclamados, alimentado por um racismo primário, forças de segurança muito poderosas e uma bem orquestrada manipulação da realidade através do controlo dos media - o que vês na TV é a realidade, mesmo que não seja.
A situação vai-se agravando para a Liga e os seus aliados, mesmo que ocasionais, o clima de violência gerado é transportado para o relato com sucessivas mortes de super-heróis e vilões, mas aos poucos, graças a pistas espalhadas por Davis, na mente do leitor vai-se formando a dúvida se é Luthor que controla a situação ou se existe alguém a fazê-lo na sombra.
Num crescendo de dúvida e incerteza, O Prego encaminha-se em velocidade cada vez menos moderada para o seu final - esperado mas com algo de inesperado - que na prática afirma o que todos sabíamos (mas de que, a certo ponto, quisemos duvidar): apesar das baixas, tudo fica na mesma e a ordem que conhecemos volta ao universo DC.
Mais 'olhos que barriga', diria o povo; a mim parece-me que Davis não soube - não quis ou a DC não deixou - levar a extremos mais arriscados as consequências da sua ideia base.
Onde, aos meus olhos, ressalta a não exploração de uma ideia - só um pormenor...? - com tudo para desafiar o leitor e realmente colocar muita coisa em questão: o que poderia uma educação amish, como a que Kal-El recebeu aqui, hiper-religiosa, restritiva e fechada sobre si mesma, fazer sobre o desenvolvimento e a formação dos princípios de vida do (futuro) Super-Homem?
A resposta, sei-o bem, mesmo numa narrativa Elseworlds, não poderia ser outra: seja qual for o contexto narrativo, a educação ou a forma de vida, há coisas e seres que nunca mudam e entre eles está o Super-Homem, imutável na sua previsibilidade e na sua fidelidade aos princípios de justiça, bondade e defesa dos fracos e oprimidos que o norteiam há décadas.

Liga da Justiça: O prego - A teoria do Caos
Colecção Liga da Justiça #3
Alan Davis
Levoir/Público
Portugal, 23 de Novembro de 2017
175 x 265 mm, 152 p., cor, capa dura
10,90 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)

8 comentários:

  1. Bons tempos em que havia DC em Portugal... Agora que o ano de teste da Levoir acabou, com um claro chumbo, resta saber quem vai assumir os direitos.

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    1. Eles vão publicar DC ainda este ano só espero que os títulos sejam bem escolhidos e não escolham títulos mediocres e publiquem os grandes clássicos da editora

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    2. Muita pena de ver o superman não ter uma colecção para mim foi do mais desrespeitoso que vi este ano um personagem com tanta historia e este ano celebra 80 anos e a publicação da action comics 1000.
      A levoir tem feito um bom trabalho e este ano trouxe bons titulos mas a coleção de novelas graficas para mim vai ser mais uma coleção que vou deixar passar..
      O facto de serem detentores da DC em portugal merecia bem mais destaque e mais titulos e poderiam experimentar fases com batman green lanterns flash e até liga da justiça ao estilo da G-Floy que tem feito um excelente trabalho com a jessica jones,punho de ferro, x force e agora a Ms Marvel. Infelizmente preferiram publicar a harley quinn e nem a melhor fase da personagem publicaram...

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    3. O Pedro já escreveu aqui que não conhece planos da Levoir para a DC e que teremos novidades no fim do ano.

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    4. Sim também já li que a Goody poderia assumir a DC e se sim era uma boa escolha para publicar histórias atuais mas para coleções com materiais dedicados a personagens e coleções genéricas com mix de títulos clássicos preferido a levoir e espero que assim continue só mesmo se quem pegar nos direitos tenha um plano muito consolidado daquilo que quer fazer...
      Se a levoir continuasse com a vertigo como grande aposta isso sim seria uma notícia fantástica

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    5. Estão boas notícias a caminho... haja mais um pouco de paciência!
      Boas leituras!

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  2. Só espero poder dizer dentro de algum tempo que a espera valeu a pena.Mas penso que não haja necessidade de esperar pelo meio do ano para lançar nem que sejam umas migalhas de dc e vertigo.Espero mesmo que valha a pena esta espera.

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    1. Acredito que a espera vai valer a pena... e não vai ser tão longa quanto alguns pensarão.
      Boas leituras!

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