31/08/2010

Cid

João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim e El Corte Inglés (Portugal, Junho de 2010)
232 x 295 mm, 208 p., cor, cartonado


Se mais méritos não tivesse – e tem, desde logo pela (mediática) chamada de atenção para expressões artísticas (cartoon, caricatura, ilustração) raras vezes suficientemente valorizadas para além da efémera existência nas páginas de jornais e revistas – o Prémio Stuart instituído pelo El Corte Inglés, “por herança do seu fundador, num contributo à sociedade em que se insere” numa demonstração de “consciência social e esforço de preservação do património”, com o objectivo de “dignificar a obra dos clássicos do desenho de imprensa recuperando-a do esquecimento”, deu também origem a uma colecção de obras monográficas sobre os seus vencedores.
Por essa notável galeria do humor gráfico nacional já passaram clássicos - Stuart Carvalhais, Bordallo Pinheiro - ou contemporâneos cuja obra podemos admirar diariamente – João Fazenda, André Carrilho. Ou, ainda, clássicos contemporâneos, se assim se podem definir João Abel Manta ou, agora, Augusto Cid, vencedor em 2009 e tema do mais recente tomo.
Como os restantes, é da autoria de João Paulo Cotrim, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, que, enquanto argumentista, tem tido experiências episódicas nalgumas destas artes e tem sido um dos grandes responsáveis pela divulgação e credibilização da banda desenhada, do cartoon, do desenho de imprensa e da ilustração nacionais nas últimas duas décadas. É verdade que a sua escrita nem sempre é fácil – e poucas vezes linear, com uma prosa de grande carga poética, que geralmente, sugere mais do que expõe – mas que, nesta colecção, tem reduzido os seus textos ao mínimo, avançando apenas pistas de interpretação e análise, destacando características ou técnicas ou inserindo o cartoon ou a ilustração no contexto – mediático, político, artístico – em que foi criado/publicado, dando assim o máximo destaque ao trabalho gráfico do homenageado, que se encontra em profusão nas cerca de duas centenas de páginas do livro.
Por isso, se Cotrim é o autor, o protagonismo pertence a Augusto Cid, de quem são mostrados cartoons, tiras e bandas desenhadas (todos identificados e datados) de diversas épocas e temáticas: ultramar, processos, Eanes, Soares, touradas, animais, mendigos, sexo, motas, auto-retratos… Para que o seu traço personalizado, seguro e sintético, e o seu olhar mordaz, cruel, independente e provocador, cumpram o seu papel: divertir, revelar, acusar, apontar o nu. Porque Cid “mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta”; “o seu humor ultrapassou qualquer noção de bom ou mau: é bílis em estado puro” e “como bom cartoonista, ignora a culpa e aspira à mais absoluta liberdade”.
Como pode ser (re)descoberto nesta colectânea onde as criações de Cid têm hipótese de uma nova existência, evitando que o tempo as cristalize – há cartoons que continuam actuais, por situações que se repetem ou momentos que ganham nova interpretação à luz da História – para lá do papel – tantas vezes marcante e fundamental – que tiveram nas publicações periódicas que originalmente as acolheram. Colectânea que, também por isso, mais do que ser o culminar ou a súmula de uma carreira marcante, deve servir apenas como ponto de partida para novas viagens e explorações.

(Versão revista e aumentada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 23 de Agosto de 2010)

30/08/2010

Celle que je ne suis pas

Vanyda (argumento e desenho)
Dargaud (França, Abril de 2008)
172 x 240, 192 p., cor, brochado com badanas


Com o manga em grande no mercado francófono, este é mais um exemplo de como este género influencia os autores locais, no caso uma belga de quase 30 anos, já com uma biografia respeitável, com um estilo próximo do da BD japonesa – deixo para outros a discussão se só é manga o que é produzido por nipónicos…
Mas onde também se notam outras leituras, no ritmo pausado, lento, do relato, que se demora em pormenores, que aprofunda as pequenas conversas, que transmite no papel tiques e hábitos do quotidiano normal, como o beijo de cumprimento, as banalidades que se trocam, o tempo de um passeio em silêncio ou pormenores de uma refeição ou de uma compra.
Mas passemos à história deste primeiro tomo de uma trilogia, protagonizada por Valentine, uma morena bonita, perdida num mundo, numa sociedade, numa família, numa escola em que não se reconhece, entre as tentativas de se integrar à força e o desejo – quase sempre reprimido - de marcar a sua diferença, de afirmar a sua individualidade, por medo da eventual rejeição subsequente.
Uma história que mostra – principalmente em relação a Valentine mas também relativamente às suas colegas e amigas – os prós e os contras das cedências que é necessário fazer para pertencer a um grupo, aquilo de que é necessário abdicar, as violências que essas escolhas exercem sobre si próprio, os efeitos que têm sobre a sua auto-imagem, numa idade – 14, 15 anos – em que a personalidade se afirma, em que as solicitações são muitas - álcool, droga, sexo, grupos – e as ajudas – em tempo de famílias desagregadas e culto da próprio umbigo - quase sempre poucas. Ou nenhumas.

(Texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)

27/08/2010

Sardine de l'espace 1 – Platine Laser














Emmanuel Guibert (argumento)
Joann Sfar (desenho)
Walter (cores)
Dargaud (França, Junho de 2007)
158 x 212 mm, 128 p, cor, brochada com badanas

25/08/2010

Fathom Digital Comics #1

Vince Hernandez (argumento)
Siya Oum (desenho)
Aspen Comics (EUA, Setembro de 2010)

A editora norte-americana Aspen Comics anunciou para o próximo mês de Setembro uma edição especial de Fathom que terá como tema de fundo a maré negra que teve lugar no Golfo do México, em Abril último e cujos efeitos ainda se fazem sentir.
Escrita pelo vice-director da Aspen, Vince Hernandez, esta banda desenhada ficará disponível apenas em formato digital, em diversas plataformas, assinalando assim também a entrada da editora neste segmento em expansão, que muitos apontam como suporte preferencial dos quadradinhos num futuro próximo.
A protagonista curvílinea de Fathom, Aspen Mathews, já tem os oceanos como seu cenário primordial pelo que, segundo o argumentista, faz todo o sentido envolvê-la com a maior catástrofe ambiental não provocada de todos os tempos, o que levará a heroína a auxiliar os seres vivos afectados pelo derrame. E como o propósito é “não só falar do que aconteceu” mas também “ajudar a combater os seus efeitos”, os lucros desta edição destinam-se ao National Wildlife Federation, um fundo dedicado à preservação da vida selvagem.
O desenho foi entregue à tailandesa Siya Oum, de 30 anos, já com experiência em comics e animação, que tentou manter-se fiel ao estilo da série criada por Michael Turner (1971-2008) em 1998, para a Top Cow.
Esta edição poderá dar um novo alento ao eventual filme baseado em Fathom, a que o nome de James Cameron chegou a estar associado. Recentemente Megan Fox mostrou-se interessada em protagonizá-lo, tendo manifestado a sua aprovação a um argumento que lhe foi submetido. As últimas notícias dão conta que a Twentieth Century Fox procura um realizador para concretizar o projecto.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Agosto de 2010)

23/08/2010

La Montagne Magique

Jiro Taniguchi (argumento e desenho)
Casterman (França, Outubro de 2007)
226 x 303 mm, 72 p., cor, cartonado


Primeira experiência em formato franco-belga (álbum cartonado, a cores, de “apenas” 72 páginas) de Jiro Taniguchi, o mais europeu dos mangakas, se desilude um pouco pois não ressalta dela qualquer ganho particular com a mudança, é uma continuação dos temas que mais têm marcado a carreira do autor japonês, que mais uma vez revisita a sua infância. Melhor algumas das suas recordações de infância, dotando-as depois de contornos ecológicos e fantásticos, que as transformam num belo conto, humano e sensível, sobre os medos infantis, a força do amor filial, a persistência, a coragem e o muito que se consegue quando acreditamos em nós próprios em prol dos outros.
Tudo começa em Tottori – terra natal do autor - onde vivem Ken’ichi, de 11 anos, e a sua irmã Sakiko, de 7, órfãos de pai e confrontados com a possibilidade de também perderem a mãe, que necessita de ser submetida a uma operação delicada, sujeita a uma longa e difícil recuperação. A dificuldade surgida aprofunda a relação entre os dois irmãos, que se tornam mais unidos e vão viver uma estranha experiência relacionada com a montanha próxima da localidade, considerada morada de seres míticos e dos guardiães daquele local, quando uma salamandra gigante, há muito prisioneira no museu, contacta telepaticamente Ken’ichi e lhe propõe realizar um desejo se ele a devolver à sua origem…

(Texto publicado originalmente no BDJornal #24, de Outubro de 2008)

20/08/2010

Este céu cheio de terra

Max Tilmann (argumento e desenho)
Campo das Letras (Portugal, Outubro de 2006)
170 x 237 mm, 128 p., cor, cartonado


Memória. A capacidade de retermos/recordarmos. Independentemente da nossa vontade. Porque tanto recordámos o que nos agrada, como, ironicamente, aquilo que mais queríamos esquecer…
Assim é a memória de cada um. A memória colectiva não funciona bem assim. É mais condicionada. Pelo que nos querem fazer lembrar e pelo que nos querem fazer esquecer - são sucessivos os "branqueamentos" históricos, políticos, religiosos, promovidos pelas mais diversas instituições, partidos, credos, e que ainda hoje existem, mais subtis, às vezes - pelo que nos querem apresentar como verdade…
As memórias são fundamentais para sabermos quem somos, quem fomos - para nos ajudar a definir o que queremos ser e fazer, apesar dos condicionalismos, das imposições. Por isso, recordar o passado é fundamental para construir o futuro - adivinhando-o, antecipando-o…
Por isso, também recordar Auschwitz é fundamental. Pelos branqueamentos/apagamentos cada vez mais frequentes que alguns (demasiados) querem fazer a um dos maiores actos de barbárie de que a espécie humana foi capaz - como foi capaz de queimar nas fogueiras da inquisição, de exterminar civilizações nas Américas, de tratar seres humanos como animais em África, como mata aos milhares - aos milhões - nos dias de hoje.
Max Tilmann (ou apenas M.T., que também se pode ler como Terry Morgan, ou Tom McCay, ou Murai Toynobu, ou …, tantos são os múltiplos heterónimos em que se tem desdobrado Manuel Tiago) em "este céu cheio de terra" recorda Auschwitz de A a Z (as letras inicial e final do local onde os nazis gasearam e cremaram milhões de judeus), através de um conjunto de aguarelas. Aguarelas imprecisas como que se dissolvidas por uma brisa, um vento ligeiro (o branqueamento que alguns pretendem?).
Mas aguarelas que, mesmo assim, ficam como uma névoa incómoda (o fumo dos fornos crematórios?) que não deixa esquecer, que acirra as nossas memórias e as faz voltar.
Aguarelas que, mesmo imprecisas - talvez não o sejam tanto assim… - nos contam uma história, uma história terrível e terrífica, em contraponto com as belezas naturais desta Terra não cheia de céu, muitas vezes um autêntico inferno. Como foi Auschwitz.
Aguarelas que nos mostram como fica esse céu, enevoado e sujo, cheio de terra, cheio das barbáries humanas desta terra.
Aguarelas que, parecendo desenhos soltos - podendo ser vistas assim - postas em sequência - uma vaga banda desenhada…? - contam uma história, em que soldados nazis, apenas vagos contornos, sem consistência (sem alma?), guardam e conduzem, presos (a cheio - gente, portanto…), quais animais em rebanho ordenado, para o inexorável final. Uma sequência narrativa sem palavras, sem mais palavras do que aquelas que a nossa memória for capaz de lhe apor, acreditando que a nossa memória - cada memória - ainda é capaz de as identificar e relacionar.
Durante quanto tempo mais, num mundo em que o momentâneo, o acessório, o imediato, são senhores e reis, e em que a tendência para a desculpabilização, a todos os níveis, é assustadora? Não sei responder, mas acredito que este livro possa contribuir para prolongar estas memórias mais um pouco. Menos, com certeza, infelizmente, do que era necessário. Mas mais algum, o que já fará com que cumpra a sua missão.

(Texto publicado originalmente no BDJornal #17, de Fevereiro/Março de 2007)

18/08/2010

Filme “A Origem” inspirado em BD Disney?


O filme A Origem (Inception) , actualmente em exibição, realizado por Chris Nolan e com Leonardo DiCaprio no papel principal, poderá ser inspirado numa banda desenhada Disney protagonizada pelo Tio Patinhas.
A notícia, que circula na internet, aponta as coincidências entre os argumentos do filme e de “The Dream of a Lifetime”, uma BD com 26 páginas, originalmente publicada na Noruega, em 2002. E que em Portugal, sob o título “Uma vida de sonho”, integrou o volume 2 da colecção “Obras-Primas da BD Disney”, “Episódios Extraordinários”. O seu autor é Keno Don Rosa, um dos mais conceituados autores Disney, responsável por estabelecer uma cronologia detalhada da vida do Tio Patinhas, na multipremiada história “The Life and Times of Scrooge McDuck” (de 1992), que em Portugal foi publicada como “A Saga do Tio Patinhas”. Aliás, o episódio agora em causa, que pode ser lido gratuitamente no site da Disney
.
é um capítulo extra da biografia do pato mais rico do mundo.
Nele, os Irmãos Metralha roubam uma máquina inventada pelo professor Pardal, para entrarem nos sonhos do Tio Patinhas e descobrirem o segredo para entrar na caixa-forte. Para os impedir, Donald utiliza o mesmo equipamento, numa perseguição atribulada pelas memórias do Tio Patinhas, em cenários em constante mudança, como o velho oeste, as planícies australianas ou o Titanic.
No filme, também escrito por Nolan, um bando de assaltantes invade os sonhos das suas vítimas para se apoderar dos seus segredos. O realizador norte-americano já contestou a notícia, afirmando que começou a desenvolver a ideia há cerca de dez anos, mas a verdade é que alguns sites já colocam em causa uma eventual nomeação do filme ao Óscar de Melhor Argumento Original.

(Versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 10 de Agosto de 2010)

17/08/2010

Leituras Bonelli de Agosto

Com as edições previstas para Julho a chegarem só agora às bancas nacionais, devido a um atraso alfandegário, eis a lista dos títulos Bonelli da Mythos Editora (Brasil) que deverão ser distribuídos no final do corrente mês.

Tex 458
Tex Colecção #250
Grandes Clássicos de Tex #21
Tex Edição Histórica #76
Zagor Especial #24
Zagor Extra #71
Zagor #107
J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga #64
Mágico Vento #93
Leo Pulp #2 (de 2)

16/08/2010

Leituras da Turma da Mónica de Julho

Títulos da Turma da Mônica editados pela Panini Comics (Brasil) distribuídos este mês nas bancas portuguesas:

Mônica #38
Cebolinha #38
Cascão #38
Chico Bento #38
Magali #38
Ronaldinho Gaúcho e Turma da Mônica #38
Turma da Mônica – Uma aventura no parque #38
Almanaque da Magali #19
Almanaque do Chico Bento #19
Almanaque Temático – Magali #13
Turma da Mônica - Clássicos do Cinema #18 – Homem-Aranho
Turma da Mónica – Saiba mais #29 – Oswaldo Cruz
Turma da Mónica – Historinhas de uma página #5
Turma da Mônica Jovem #20

13/08/2010

Leituras DC Comics de Julho

Títulos da DC Comics editados pela Panini Comics (Brasil) distribuídos este mês nas bancas portuguesas:

Batman #86
Superman #86
Superman & Batman #54
Liga da Justiça #85

12/08/2010

Leituras Marvel de Agosto

Títulos da Marvel editados pela Panini Comics (Brasil) distribuídos este mês nas bancas portuguesas:

Homem-Aranha #97
Os Novos Vingadores #72
X-Men #97
Avante Vingadores #36
Universo Marvel #54
Wolverine #61

11/08/2010

Hägar




















Um vicking de sorriso inofensivo e feliz – Ano 1
Um pai desiludido e amargurado – Ano 2
Dik Browne (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Julho e Novembro de 2008)
170 x 235 mm, 128 p. e 144 p., pb, brochado com badanas

Manuel Caldas, em paralelo com a notável restauração das pranchas originais dos primeiros volumes do “Príncipe Valente”, do western humanista “Lance”, do “Tarzan” original de Hal Foster, tudo obras realistas, e de selecção de clássicos como “Krazy Kat” e “Os Meninos Kin-Der”, propõe também o humor de “Ferd’nand” e de “Hägar, o horrendo”, este um clássico das tiras diárias norte-americanas. Comum a todos estes projectos é o cuidado apaixonado posto nas edições e o grande respeito pelas obras originais e (consequentemente) pelos autores.
Hägar é um vicking atípico, ou não divida ele o tempo entre as actividades inerentes à sua “profissão” – invadir, pilhar, saquear – e as banais tarefas domésticas quotidianas a que Helga, a sua mulher – que usa cornos maiores, símbolo do poder entre os vickings de Browne - o obriga.
Com um universo reduzido - inspirado na sua família e amigos – que junta a Hägar e Helga, Hamlet, o filho letrado, Honi, a filha que sonha com proezas guerreiras, Lute, o trovador pacifista que aspira ao seu coração, Eddie (nada) Felizardo, companheiro de batalhas, um médico/curandeiro charlatão e poucos mais, Browne explana um humor simples mas eficaz, assente num traço arredondado, simpático, expressivo e desprovido de pormenores desnecessários, com divertidos anacronismos e desfechos sempre surpreendentes, parodiando não só a época de Hägar mas também o quotidiano de todas as épocas, mostrando que dentro de cada um de nós há um pouco deste vicking permanentemente insatisfeito e rude mas também submisso, e transformando as pilhagens e massacres cometidos pelos vickings, um dos mais violentos povos da História, em algo divertido por que ansiamos página após página.

Menos conseguido
- Expliquem quem for capaz, mas a verdade é que os leitores portugueses não aderiram a Hägar e as vendas destes dois tomos foram muito baixas. Por esse motivo, dificilmente mais verão a luz do dia…

Curiosidade
- Não é vulgar, mas quando Dik Browne (1917-1989) imaginou Hägar, em 1973, já passara os 55 anos. Até aí, tivera uma carreira mediana, com um Prémio Reuben (1963) para a tira familiar “Hi and Lois”, criada e escrita por Mort Walker, como ponto alto.
E sem alguns problemas de visão, que o levaram a querer precaver o futuro da família, talvez Hägar nunca tivesse saltado duma folha de papel para 1900 jornais de todo o mundo, privando-o do Reuben de 1973, da fama e dinheiro que nunca tivera e da completa realização pessoal e artística.

(Versão revista e actualizada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 21 de Julho de 2008)

09/08/2010

Astroboy #3

Osamu Tezuka (argumento e desenho)
ASA (Portugal, Agosto de 2010)
127 x 182 mm, 208 p., pb, brochada


Se a recensão dos tomos #1 e #2 já deixou diversas pistas de leitura, a presença nas livrarias do terceiro tomo de Astroboy justifica mais estas curtas linhas em período de férias (também aqui nas Leituras).
Porque se trata de (mais) Tezuka – em português – um autor de referência e incontornável, que todos devem conhecer, sejam fãs de manga ou não, e porque significa que a ASA cumpriu o programa editorial que se tinha proposto. O que (infelizmente) tem sido algo raro entre nós na edição de BD, mas não deixa de ser um sinal positivo para os leitores, mais a mais tendo em vista o lançamento – previsivelmente em Outubro – do primeiro volume de Dragon Ball, uma série de outro fôlego para a qual a periodicidade será factor fundamental para agarrar (o seu) público.

06/08/2010

Mundo dos Super-Heróis #19

Editora Europa (Brasil, Novembro de 2009)
210 x 280 mm, 100 p., cor, brochada, 3,90 €

Já está disponível nas bancas e quiosques nacionais esta revista, especialmente dedicada aos comics de super-heróis, cujo dossier principal é dedicado a heroínas como Mulher-Maravilha, Fénix, Supergirl, Poderosa, Feiticeira Escarlate, Mary Marvel, Miss Marvel, Promethea, Mulher-Aranha, Tempestade, Mulher-Hulk ou Donna Troy.
Do sumário constam também artigos sobre a Vertigo, Arqueiro Verde, Zorro, os Heróis Disney ou Loki e uma entrevista com Ig Guara.

04/08/2010

Hans, o cavalo inteligente






Miguel Rocha (argumento e desenho)
Polvo (Portugal, Maio de 2010)
230 x 165 mm, 96 p., 2 cores, brochado com badanas


Desengane-se quem adivinha neste livro, por se tratar de uma banda desenhada, facilidade de leitura ou entretenimento ligeiro, pois uma das suas principais características é exigir ao leitor esforço e participação na elaboração, melhor, na interpretação da narrativa. Porque Miguel Rocha, mais do que contar uma história linear, optou por avançar algumas pistas, cabendo-nos interpretá-las e compô-las de acordo com a nossa sensibilidade, capacidade de interpretação e formação social e cultural. Porque, de cada leitura de “Hans”, facilmente resultará uma história diferente, muitas vezes díspar, até.
Na sua génese está o caso verídico, datado do final do século XIX, do equídeo alemão Der Kluge Hans (Hans inteligente), pertença do frenólogo Wilhelm Van Hostens, supostamente capaz de realizar operações matemáticas - incluindo o cálculo de raízes quadradas - que dava a resposta batendo com a pata tantas vezes quanto o resultado pretendido. Rapidamente transformado num popular fenómeno circense, originou a criação de uma comissão – a Hans Kommission - para avaliar se se tratava ou não de um embuste, que acabou por concluir que o animal era especialmente sensível à linguagem corporal dos espectadores, conseguindo pelas suas reacções “adivinhar” os resultados.
Adaptada da peça homónima de Francisco Campos para o Projecto Ruínas, estreada em Setembro de 2006, em Montemor-o-Novo, a banda desenhada de Miguel Rocha, assume uma forte componente teatral e dramática, até porque, muitas vezes, as personagens comportam-se como se estivessem num palco. E, na realidade, é lá que elas muitas vezes estão, havendo mesmo uma cortina a abrir e fechar o livro…
No entanto, a história de Hans em si, é apenas acessória, ou melhor, um elemento de ligação entre várias histórias, pois este livro é sobre relações (dependências?) humanas – ou a dificuldade de relacionamento entre humanos. Pois Van Hostens engravidou a irmã da mulher que amava, não consegue assumir (nem libertar-se) da relação com Ângela (que também não o consegue deixar), falha a abordagem à psiquiatra que devia avaliar Hans – e que também teve um caso mal resolvido com um dos seus pacientes…
Histórias que vão sendo contadas em flash-backs constantes, ao longo dos cinco capítulos (actos) do livro (das suas divisórias e das magníficas “páginas publicitárias” finais, ao estilo das que Alan Moore e Kevin O’Neil criaram para “A Liga dos Cavalheiros Extrardinários”), com os diálogos entrecortados com textos (declamações?) que conferem um tom algo surreal ao todo. Com todos os elementos do livro objecto a fazerem parte do relato enquanto tal.
Para esse tom surreal contribui também o virtuoso grafismo “enevoado” (digitalmente) de Miguel Rocha, mais impressivo do que expressivo, povoado de sombras e indefinições, que (logicamente…) utiliza tons cinzentos/arroxeados – em lugar das cores quentes e vivas doutros relatos – o que leva o leitor, muitas vezes, a ter que adivinhar mais do que o desenhar quis revelar.

(Versão integral do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 26 de Julho de 2010)






02/08/2010

As Melhores leituras de Julho

Moby Dick, a baleia branca (C.M. Moura), de Fernando Bento

O Cortiço (Editora Ática), de Rodrigo Rosa (argumento) e Ivan Jaf (desenho)

Le Fils D’Hitler (Glénat), de Pieter De Poortere

J. Kendall – Aventuras de uma criminóloga #62 e #63 (Mythos Editora), de Giancarlo Berardi, Lorenzo Calza e Maurizio Mantero (argumento) e Roberto Zaghi, Ernesto Michelazzo e Laura Zuccheri (desenho)

Gaston #1 – Os arquivos do Lagaffe (ASA + Público) , de Franquin

Astroboy #2 (ASA), de Osamu Tezuka

Corps de Pierre (Delcourt), de Joe Casey (argumento) e Charlie Adlard (desenho)

Hans, o cavalo inteligente (Polvo), de Miguel Rocha

Murena #1 e #2 (ASA) e #4 (Dargaud), de Dufaux (argumento) e Delaby (desenho)

Pérolas a Porcos #8 (Bizâncio), de Stephan Pastis
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