Um vicking de sorriso inofensivo e feliz – Ano 1
Um pai desiludido e amargurado – Ano 2
Dik Browne (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Julho e Novembro de 2008)
170 x 235 mm, 128 p. e 144 p., pb, brochado com badanas
Manuel Caldas, em paralelo com a notável restauração das pranchas originais dos primeiros volumes do “Príncipe Valente”, do western humanista “Lance”, do “Tarzan” original de Hal Foster, tudo obras realistas, e de selecção de clássicos como “Krazy Kat” e “Os Meninos Kin-Der”, propõe também o humor de “Ferd’nand” e de “Hägar, o horrendo”, este um clássico das tiras diárias norte-americanas. Comum a todos estes projectos é o cuidado apaixonado posto nas edições e o grande respeito pelas obras originais e (consequentemente) pelos autores.
Hägar é um vicking atípico, ou não divida ele o tempo entre as actividades inerentes à sua “profissão” – invadir, pilhar, saquear – e as banais tarefas domésticas quotidianas a que Helga, a sua mulher – que usa cornos maiores, símbolo do poder entre os vickings de Browne - o obriga.
Com um universo reduzido - inspirado na sua família e amigos – que junta a Hägar e Helga, Hamlet, o filho letrado, Honi, a filha que sonha com proezas guerreiras, Lute, o trovador pacifista que aspira ao seu coração, Eddie (nada) Felizardo, companheiro de batalhas, um médico/curandeiro charlatão e poucos mais, Browne explana um humor simples mas eficaz, assente num traço arredondado, simpático, expressivo e desprovido de pormenores desnecessários, com divertidos anacronismos e desfechos sempre surpreendentes, parodiando não só a época de Hägar mas também o quotidiano de todas as épocas, mostrando que dentro de cada um de nós há um pouco deste vicking permanentemente insatisfeito e rude mas também submisso, e transformando as pilhagens e massacres cometidos pelos vickings, um dos mais violentos povos da História, em algo divertido por que ansiamos página após página.
Menos conseguido
- Expliquem quem for capaz, mas a verdade é que os leitores portugueses não aderiram a Hägar e as vendas destes dois tomos foram muito baixas. Por esse motivo, dificilmente mais verão a luz do dia…
Curiosidade
- Não é vulgar, mas quando Dik Browne (1917-1989) imaginou Hägar, em 1973, já passara os 55 anos. Até aí, tivera uma carreira mediana, com um Prémio Reuben (1963) para a tira familiar “Hi and Lois”, criada e escrita por Mort Walker, como ponto alto.
E sem alguns problemas de visão, que o levaram a querer precaver o futuro da família, talvez Hägar nunca tivesse saltado duma folha de papel para 1900 jornais de todo o mundo, privando-o do Reuben de 1973, da fama e dinheiro que nunca tivera e da completa realização pessoal e artística.
(Versão revista e actualizada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 21 de Julho de 2008)
Um pai desiludido e amargurado – Ano 2
Dik Browne (argumento e desenho)
Libri Impressi (Portugal, Julho e Novembro de 2008)
170 x 235 mm, 128 p. e 144 p., pb, brochado com badanas
Manuel Caldas, em paralelo com a notável restauração das pranchas originais dos primeiros volumes do “Príncipe Valente”, do western humanista “Lance”, do “Tarzan” original de Hal Foster, tudo obras realistas, e de selecção de clássicos como “Krazy Kat” e “Os Meninos Kin-Der”, propõe também o humor de “Ferd’nand” e de “Hägar, o horrendo”, este um clássico das tiras diárias norte-americanas. Comum a todos estes projectos é o cuidado apaixonado posto nas edições e o grande respeito pelas obras originais e (consequentemente) pelos autores.
Hägar é um vicking atípico, ou não divida ele o tempo entre as actividades inerentes à sua “profissão” – invadir, pilhar, saquear – e as banais tarefas domésticas quotidianas a que Helga, a sua mulher – que usa cornos maiores, símbolo do poder entre os vickings de Browne - o obriga.
Com um universo reduzido - inspirado na sua família e amigos – que junta a Hägar e Helga, Hamlet, o filho letrado, Honi, a filha que sonha com proezas guerreiras, Lute, o trovador pacifista que aspira ao seu coração, Eddie (nada) Felizardo, companheiro de batalhas, um médico/curandeiro charlatão e poucos mais, Browne explana um humor simples mas eficaz, assente num traço arredondado, simpático, expressivo e desprovido de pormenores desnecessários, com divertidos anacronismos e desfechos sempre surpreendentes, parodiando não só a época de Hägar mas também o quotidiano de todas as épocas, mostrando que dentro de cada um de nós há um pouco deste vicking permanentemente insatisfeito e rude mas também submisso, e transformando as pilhagens e massacres cometidos pelos vickings, um dos mais violentos povos da História, em algo divertido por que ansiamos página após página.
Menos conseguido
- Expliquem quem for capaz, mas a verdade é que os leitores portugueses não aderiram a Hägar e as vendas destes dois tomos foram muito baixas. Por esse motivo, dificilmente mais verão a luz do dia…
Curiosidade
- Não é vulgar, mas quando Dik Browne (1917-1989) imaginou Hägar, em 1973, já passara os 55 anos. Até aí, tivera uma carreira mediana, com um Prémio Reuben (1963) para a tira familiar “Hi and Lois”, criada e escrita por Mort Walker, como ponto alto.
E sem alguns problemas de visão, que o levaram a querer precaver o futuro da família, talvez Hägar nunca tivesse saltado duma folha de papel para 1900 jornais de todo o mundo, privando-o do Reuben de 1973, da fama e dinheiro que nunca tivera e da completa realização pessoal e artística.
(Versão revista e actualizada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 21 de Julho de 2008)
Muito obrigado pela divulgação. E viva o Hagar!
ResponderEliminar"Expliquem quem for capaz, mas a verdade é que os leitores portugueses não aderiram a Hägar e as vendas destes dois tomos foram muito baixas. Por esse motivo, dificilmente mais verão a luz do dia…"
ResponderEliminarEu ficaria espantado se fosse ao contrario.
Caro Manuel,
ResponderEliminarPossivelmente não ficaria, se soubesse que as vendas necessárias andam na ordem das poucas centenas de exemplares...
Abraço!
Olá, bom dia.
ResponderEliminarSobre Hagar, gostaria de saber a sua opinião sobre o livro editado há uns anos pela Livros do Horizonte. Não sei se essas histórias serão as mesmas das dos livros que acima comenta. Muito obrigado pela atenção.
Paulo Martins
Caro Paulo Martins,
ResponderEliminarObrigado pela sua visita.
A edição dos Livros Horizonte de que fala, datada de 1993, tem um formato ligeiramente maior (192 x 265 mm) do que a da Libri Impressi, 48 páginas e publica apenas pranchas dominicais remontadas a quatro tiras por página.
Tanto quanto me pude aperceber ao folheá-la de forma não exaustiva, não possui pranchas em comum com a edição do Manuel Caldas e também não respeita qualquer cronologia.
Quanto às pranchas em si, são um bom resumo do que é Hägar, herói que me diverte e com quem tenho um longo historial, pelo que a minha apreciação será sempre suspeita...
Espero tê-lo esclarecido!
Boas leituras... de Hägar!