João Paulo Cotrim
Assírio & Alvim e El Corte Inglés (Portugal, Junho de 2010)
232 x 295 mm, 208 p., cor, cartonado
Se mais méritos não tivesse – e tem, desde logo pela (mediática) chamada de atenção para expressões artísticas (cartoon, caricatura, ilustração) raras vezes suficientemente valorizadas para além da efémera existência nas páginas de jornais e revistas – o Prémio Stuart instituído pelo El Corte Inglés, “por herança do seu fundador, num contributo à sociedade em que se insere” numa demonstração de “consciência social e esforço de preservação do património”, com o objectivo de “dignificar a obra dos clássicos do desenho de imprensa recuperando-a do esquecimento”, deu também origem a uma colecção de obras monográficas sobre os seus vencedores.
Por essa notável galeria do humor gráfico nacional já passaram clássicos - Stuart Carvalhais, Bordallo Pinheiro - ou contemporâneos cuja obra podemos admirar diariamente – João Fazenda, André Carrilho. Ou, ainda, clássicos contemporâneos, se assim se podem definir João Abel Manta ou, agora, Augusto Cid, vencedor em 2009 e tema do mais recente tomo.
Como os restantes, é da autoria de João Paulo Cotrim, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, que, enquanto argumentista, tem tido experiências episódicas nalgumas destas artes e tem sido um dos grandes responsáveis pela divulgação e credibilização da banda desenhada, do cartoon, do desenho de imprensa e da ilustração nacionais nas últimas duas décadas. É verdade que a sua escrita nem sempre é fácil – e poucas vezes linear, com uma prosa de grande carga poética, que geralmente, sugere mais do que expõe – mas que, nesta colecção, tem reduzido os seus textos ao mínimo, avançando apenas pistas de interpretação e análise, destacando características ou técnicas ou inserindo o cartoon ou a ilustração no contexto – mediático, político, artístico – em que foi criado/publicado, dando assim o máximo destaque ao trabalho gráfico do homenageado, que se encontra em profusão nas cerca de duas centenas de páginas do livro.
Por isso, se Cotrim é o autor, o protagonismo pertence a Augusto Cid, de quem são mostrados cartoons, tiras e bandas desenhadas (todos identificados e datados) de diversas épocas e temáticas: ultramar, processos, Eanes, Soares, touradas, animais, mendigos, sexo, motas, auto-retratos… Para que o seu traço personalizado, seguro e sintético, e o seu olhar mordaz, cruel, independente e provocador, cumpram o seu papel: divertir, revelar, acusar, apontar o nu. Porque Cid “mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta”; “o seu humor ultrapassou qualquer noção de bom ou mau: é bílis em estado puro” e “como bom cartoonista, ignora a culpa e aspira à mais absoluta liberdade”.
Como pode ser (re)descoberto nesta colectânea onde as criações de Cid têm hipótese de uma nova existência, evitando que o tempo as cristalize – há cartoons que continuam actuais, por situações que se repetem ou momentos que ganham nova interpretação à luz da História – para lá do papel – tantas vezes marcante e fundamental – que tiveram nas publicações periódicas que originalmente as acolheram. Colectânea que, também por isso, mais do que ser o culminar ou a súmula de uma carreira marcante, deve servir apenas como ponto de partida para novas viagens e explorações.
(Versão revista e aumentada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 23 de Agosto de 2010)
Assírio & Alvim e El Corte Inglés (Portugal, Junho de 2010)
232 x 295 mm, 208 p., cor, cartonado
Se mais méritos não tivesse – e tem, desde logo pela (mediática) chamada de atenção para expressões artísticas (cartoon, caricatura, ilustração) raras vezes suficientemente valorizadas para além da efémera existência nas páginas de jornais e revistas – o Prémio Stuart instituído pelo El Corte Inglés, “por herança do seu fundador, num contributo à sociedade em que se insere” numa demonstração de “consciência social e esforço de preservação do património”, com o objectivo de “dignificar a obra dos clássicos do desenho de imprensa recuperando-a do esquecimento”, deu também origem a uma colecção de obras monográficas sobre os seus vencedores.
Por essa notável galeria do humor gráfico nacional já passaram clássicos - Stuart Carvalhais, Bordallo Pinheiro - ou contemporâneos cuja obra podemos admirar diariamente – João Fazenda, André Carrilho. Ou, ainda, clássicos contemporâneos, se assim se podem definir João Abel Manta ou, agora, Augusto Cid, vencedor em 2009 e tema do mais recente tomo.
Como os restantes, é da autoria de João Paulo Cotrim, primeiro director da Bedeteca de Lisboa, que, enquanto argumentista, tem tido experiências episódicas nalgumas destas artes e tem sido um dos grandes responsáveis pela divulgação e credibilização da banda desenhada, do cartoon, do desenho de imprensa e da ilustração nacionais nas últimas duas décadas. É verdade que a sua escrita nem sempre é fácil – e poucas vezes linear, com uma prosa de grande carga poética, que geralmente, sugere mais do que expõe – mas que, nesta colecção, tem reduzido os seus textos ao mínimo, avançando apenas pistas de interpretação e análise, destacando características ou técnicas ou inserindo o cartoon ou a ilustração no contexto – mediático, político, artístico – em que foi criado/publicado, dando assim o máximo destaque ao trabalho gráfico do homenageado, que se encontra em profusão nas cerca de duas centenas de páginas do livro.
Por isso, se Cotrim é o autor, o protagonismo pertence a Augusto Cid, de quem são mostrados cartoons, tiras e bandas desenhadas (todos identificados e datados) de diversas épocas e temáticas: ultramar, processos, Eanes, Soares, touradas, animais, mendigos, sexo, motas, auto-retratos… Para que o seu traço personalizado, seguro e sintético, e o seu olhar mordaz, cruel, independente e provocador, cumpram o seu papel: divertir, revelar, acusar, apontar o nu. Porque Cid “mexe com o objecto, incomoda com a perspectiva e a caneta”; “o seu humor ultrapassou qualquer noção de bom ou mau: é bílis em estado puro” e “como bom cartoonista, ignora a culpa e aspira à mais absoluta liberdade”.
Como pode ser (re)descoberto nesta colectânea onde as criações de Cid têm hipótese de uma nova existência, evitando que o tempo as cristalize – há cartoons que continuam actuais, por situações que se repetem ou momentos que ganham nova interpretação à luz da História – para lá do papel – tantas vezes marcante e fundamental – que tiveram nas publicações periódicas que originalmente as acolheram. Colectânea que, também por isso, mais do que ser o culminar ou a súmula de uma carreira marcante, deve servir apenas como ponto de partida para novas viagens e explorações.
(Versão revista e aumentada do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 23 de Agosto de 2010)
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