
Polvo (Portugal, Maio de 2010)
230 x 165 mm, 96 p., 2 cores, brochado com badanas
Desengane-se quem adivinha neste livro, por se tratar de uma banda desenhada, facilidade de leitura ou entretenimento ligeiro, pois uma das suas principais características é exigir ao leitor esforço e participação na elaboração, melhor, na interpretação da narrativa. Porque Miguel Rocha, mais do que contar uma história linear, optou por avançar algumas pistas, cabendo-nos interpretá-las e compô-las de acordo com a nossa sensibilidade, capacidade de interpretação e formação social e cultural. Porque, de cada leitura de “Hans”, facilmente resultará uma história diferente, muitas vezes díspar, até.

Adaptada da peça homónima de Francisco Campos para o Projecto Ruínas, estreada em Setembro de 2006, em Montemor-o-Novo, a banda desenhada de Miguel Rocha, assume uma forte componente teatral e dramática, até porque, muitas vezes, as personagens comportam-se como se estivessem num palco. E, na realidade, é lá que elas muitas vezes estão, havendo mesmo uma cortina a abrir e fechar o livro…
No entanto, a história de Hans em si, é apenas acessória, ou melhor, um elemento de ligação entre várias histórias, pois este livro é sobre relações (dependências?) humanas – ou a dificuldade de relacionamento entre humanos. Pois Van Hostens engravidou a irmã da mulher que amava, não consegue assumir (nem libertar-se) da relação com Ângela (que também não o consegue deixar), falha a abordagem à psiquiatra que devia avaliar Hans – e que também teve um caso mal resolvido com um dos seus pacientes…
Para esse tom surreal contribui também o virtuoso grafismo “enevoado” (digitalmente) de Miguel Rocha, mais impressivo do que expressivo, povoado de sombras e indefinições, que (logicamente…) utiliza tons cinzentos/arroxeados – em lugar das cores quentes e vivas doutros relatos – o que leva o leitor, muitas vezes, a ter que adivinhar mais do que o desenhar quis revelar.
(Versão integral do texto publicado na página de Livros do Jornal de Notícias de 26 de Julho de 2010)

Pobre cavalo inteligente!
ResponderEliminarEu ao menos falo, penso e escrevo comentários nos blogues!
Falando a sério! Li o livro e achei-o interessante!
Ass: blumm, o gato: um caso sério de inteligência!