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10/03/2021

Sybylline 1975-1982

Terno e violento


Tenho Raymond Macherot como um dos meus autores favoritos, que me consegue surpreender sempre, em especial pela forma como consegue combinar o grafismo simpático e ternurento de Chlorophylle ou Sibylline, pequenos habitantes de belos bosques naturais, com uma violência explícita que choca pelo contraste.
Possivelmente, para ser levado a sério e perdurar na memória de quem o leu, não poderia ser de outra forma.

26/02/2021

Le Cri du Peuple



A Grande História

18 de Março de 1871.
Cercada há quatro meses pelos prussianos, Paris acorda sob a humilhante notícia da capitulação. Face ao desejo de armistício manifestado por Adolphe Thiers, chefe do governo, a população revolta-se contra as autoridades e, durante nove semanas, vai viver a aventura da auto-governação, rapidamente baptizada de Comuna de Paris.
Tomando como ponto de partida um romance de Jean Vautrin, Jacques Tardi fez deste evento um imenso fresco em banda desenhada, considerada por muitos a sua obra-prima.

16/10/2019

Chevalier Ardent Intégrale #4

Semana dos integrais (3)



Cada vez mais, as edições integrais são o melhor caminho para quem quer conhecer obras do passado - mesmo que relativamente recente - ou recordar aquelas que marcaram a sua infância ou juventude - com todos os riscos que isso acarreta!
Por isso, esta será uma semana (quase?) toda dedicada a edições integrais, aqui em As Leituras do Pedro.
Depois de Natacha e Matt Marriott, hoje vamos ao encontro de Chevalier Ardent.

14/02/2018

Frères d’Armes


Espelho




Num mês - Janeiro - com poucas novidades, as leituras foram feitas à custa de edições deixadas para trás em 2017 ou até ‘esquecidas’ ao longo dos anos.
Na ‘limpeza desses montes’, surgiu este Frères d’Armes, compilação de duas histórias, unidas pela sua origem… indiana e pela temática comum: os conflitos regionais à sombra dos extremismos globais.

04/10/2017

Sibylline 1969-1974

Bipolar







Criação do grande Raymond Macherot, aquando da sua ‘transferência’ da Tintin para a Spirou, Sibylline - que o mestre me desculpe a ousadia - surge aqui (quase como) bipolar.

03/06/2016

Pandora #1








Por nostalgia, teimosia ou visão, a Casterman decidiu voltar às revistas, desta vez sob a égide de Pandora, uma das mulheres que Corto mais amou.

01/12/2015

Comic Con 2015 – Juan Dias Canales e Rubén Pellejero

Um autor, um livro
Sugestão de leitura para conhecer a obra dos convidados da Comic Con Portugal, que terá lugar na Exponor, em Matosinhos, de 4 a 6 de Dezembro.

 
Juan Dias Canales e Rubén Pellejero são convidados oficiais da Comic Con Portugal 2015
A minha leitura deste livro vem já a seguir.

19/01/2015

Alack Sinner: Histoires Privées













Ainda a pretexto dos 40 anos de Alack Sinner, recupero aqui o texto “O regresso de Alack Sinner”, que publiquei originalmente no Jornal de Notícias de 15 de Fevereiro de 2000.

15/11/2013

Le Temple du Soleil





Les nouvelles aventures de Tintin et Milou
Hergé
Casterman
França, 2003
287 x 232, 80 p., cor, cartonado com caixa arquivadora brochada
19,80 €


A reter
- O regresso, sempre feliz e de descoberta, a uma das melhores histórias escritas e desenhadas por Hergé.
- A possibilidade de reler a primeira versão de “Le Temple du Soleil”, tal como os leitores da revista Tintin o descobriram – extasiados, acredito – desde o seu primeiro número, com o mesmo colorido e o mesmo formato à italiana - embora numa edição (compreensivelmente) com dimensões bem menores…
- O poder comparar esta versão, publicada em prancha dupla nas páginas centrais da revista, com a versão padrão em álbum e descobrir os cortes que suprimiram vinhetas e sequências equivalentes a 16 pranchas.

08/10/2012

La dernière femme


 

 

 
 

 

Colecção écritures
Charles Masson
Casterman (França, Agosto de 2012)
170 x 240 mm, 176 p., pb, brochado com badanas
14,00 €

 

Este livro deixou-me uma sensação estranha. Apesar da leitura envolvente e bem disposta, passei o volume todo à espera do golpe de asa, da surpresa, do toque de génio. Que não aconteceu.
Assente num magnífico traço semi-caricatural, vivo e agradável, tingido com manchas de cinzento que definem volumes e ambientes, escrito com desenvoltura, algum humor, um toque erótico e um ritmo quase frenético, La dernière femme leva o leitor à boleia de Albert, na recordação das suas conquistas amorosas e das suas proezas sexuais - dos seus fracassos e separações dolorasas também - mais de duas dezenas de mulheres, mais exactamente, uma para cada letra do alfabeto, de A a Y, de Annie a Yolaine. Mas, apesar de tudo - apesar de todas - continua solteiro, solitário, com tendência para a melancolia e a auto-depreciação.
Uma vida inteira movida pela paixão pelo belo sexo, na procura deste mas também de relações mais ou menos estáveis e numa busca interior de si mesmo, sem nunca conseguir encontrar(-se verdadeiramente e à) sua “cara metade”.
A seu lado (estamos nós e) está Al, um jovem que viaja à boleia, que Albert recolhe como ouvinte privilegiado e confidente inesperado e com quem irá irá descobrir uma identificação quase total e intrigante – ou talvez não como o leitor acabará por (intuir ou) descortinar.
No final, qual sessão de psiquiatria concluída, após virar a última página deste road-movie existencial que questiona o mais interior do ser humano, sobra a tal sensação de copo meio cheio - ou vazio…

25/09/2012

Piége Nuptial

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Christian de Metter
Casterman (França, Agosto de 2012)
185 x 260 mm, 128 p., cor, brochado com badanas
18,00 €
 
 
 
Resumo
Nick, um jornalista freelancer norte-americano, em viagem pela Austrália, entre duas reportagens, descura três aspectos fundamentais para sobreviver nas suas imensas planícies:
1)      Não conduzir de noite com os faróis acesos, pois pode-se atropelar um canguru:
2)     Ao recorrer a uma garagem para reparar a viatura, não dar boleia à primeira mulher bonita que aparece e, menos ainda, não ceder aos seus encantos;
3)     Pensar bem, antes de responder a uma pergunta feita durante a noite.
 
 
Desenvolvimento
Por coincidência, os dois livros já apresentados esta semana aqui, em As Leituras do Pedro, são adaptações de obras literárias. Mais, adaptações de obras literárias contemporâneas, fugindo, assim, à habitual apetência pelos clássicos.
Depois de George R. R. Martin, ontem, hoje é a vez de Douglas Kennedy, um norte-americano nascido em 1955, autor de alguns best-sellers, entre os quais “The Dead Heart” (1988), que esteve na origem do presente livro.
Na base da trama, está o facto de Nick ter falhado os três pontos acima enumerados e, em consequência, quando procurava a liberdade e os grandes espaços, dá por si privado da sua autonomia, da sua independência e da possibilidade de circular, sozinho em Wollanup, uma pequena comunidade isolada de estrutura patriarcal e praticamente desconhecida do mundo, para onde a sua “conquista” o arrastou com o propósito de com ele casar – casar com a vítima da sua “armadilha nupcial” de que fala o título francês.
Colocado nesta situação limite e de pesadelo, após uma descida aos infernos em que quase se destruiu, Nick terá primeiro de recuperar a sua autoconfiança, depois encontrar forma de sobreviver no meio de uma comunidade hostil dominada pela força e a violência e, finalmente, agir, contando com uma inesperada ajuda.
Sem adiantar mais, para não estragar o prazer da descoberta, posso adiantar que este é um thriller psicológico que, depois de um arranque que parece banal, facilmente cativa o leitor e o arrasta para a incómoda identificação com Nick.
E que – tal como o relato de ontem – conseguiu encontrar a forma de respirar num suporte narrativo diferente. Só que enquanto “O Cavaleirode Westeros” vivia das cenas de acção e do suporte dos textos de apoio, “Piége Nuptial” assenta em diálogos curtos mas incisivos, em sequências mudas e na transmissão de emoções como o desespero e o abandono e da enorme tensão psicológica que constitui a base da segunda parte da história.
Graficamente, De Metter, tem um excelente trabalho a aguarela, com uma paleta de cores impressionante, com a qual (nos) retrata quer os vastos desertos australianos, imensos, soalheiros, quentes e poeirentos em que nos apetece embrenhar-nos, quer a penumbra dos espaços em que Nick se vê confinado, quer as muitas cenas nocturnas. Tudo com um traço algo impreciso e enquadramentos fechados em que abundam os médios e grandes planos, que reforçam o clima de tensão e de intimidação e a violência psicológica a que Nick está sujeito, sustentado longamente o suspense quanto ao seu desfecho.
 
A reter
- A ideia original de “Piége Nuptial”
- A forma conseguida como De Metter transpôs para a BD este romance de Douglas Kennedy, conseguindo transmitir a tensão e a violência física e psicológica que se avolumam na segunda parte do relato até ao desfecho, de certa forma, libertador.
- O soberbo trabalho gráfico do autor.
 
Menos conseguido
- A página final, pois a visualização da cena de imediato desfaz o efeito pretendido.
 
 

11/09/2012

Crematorium

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Eric Borg (argumento)
P-H Gomont (desenho)
Casterman/KSTR (França, Agosto de 2012)
190 x 277 mm, 128 p., cor, cartonado
16 €
 
 
 
Resumo
Concretizando um reencontro há muito marcado, algures numa vilazinha perdida na França profunda, Théo e Clara evocam recordações e preparam uma vingança que esperou muitos anos.
 
Desenvolvimento
Théo e Clara são as personagens centrais deste romance negro desenhado. Claramente desequilibrados, marcados pela vida e disfuncionais, desde o início deixam o leitor em dúvida sobre os laços que os unem.
O reencontro, após a saída de Théo da prisão, é atípico, parecendo mais forte o seu objectivo do que propriamente o reatar da relação.
Com uma introdução (relativamente) longa e alguns saltos ao passado que nos ajudam a compreender – ou pelo menos a aceitar – os comportamentos errantes e anti-sociais de Théo e Clara e porque regressam a uma terra marcada pelo abandono, que os esqueceu – ou quis esquecer? – a história, apesar de um certo tom depressivo,  acaba por prender o leitor, pelas dúvidas quanto à forma como vai evoluir.
Aos poucos – também com a entrada em cena de um gang local que não hesita em utilizar meios extremos para se impor - o ritmo vai crescendo, os acontecimentos precipitam-se e a violência explode, de forma amoral, explícita mas nem sempre justificada, conduzindo o leitor para um final inesperado, cru e chocante, que obriga a uma segunda leitura à luz das revelações entretanto feitas, mas que não esconde algumas insuficiências no argumento que deixa algumas pontas por atar.
Sem deslumbrar, o traço anguloso e propositadamente pouco preciso de Gomont revela-se de uma grande agilidade e bastante expressivo, o que ajuda a dar consistência ao todo.
 
A reter
- A paleta cromática utilizada, voluntariamente limitada tons frios – mesmo quando impera o vermelho do sangue – que define o tom das cenas.
- A eficácia narrativa do traço de Gomont apesar de algumas limitações.
- O desfecho surpresa e o retrato convincente do casal que protagoniza Crematorium.
 
Menos conseguido
- Algumas oscilações de ritmo e algumas indefinições na narrativa, que complicam um pouco a vida ao leitor.
 
 

20/06/2012

en Silence













Audrey Spiry
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 277 mm, 140 p., cor, cartonado
16,00 €




Resumo
Verão, sul de França. Um grupo de amigos – dois casais, um deles com duas filhas – e um guia vão passar o dia a fazer canyoning (um desporto que consiste em explorar e descer um rio, a pé ou a nado, transpondo os diversos obstáculos físicos – rochas, quedas, rápidos – que vão surgindo).
Aquilo que parece vir a ser um dia diferente e bem passado, servirá a Juliette para repensar a sua vida e a sua relação com Luis, muito próxima do ponto de ruptura.

Desenvolvimento
O tema não é novo – é cada vez mais recorrente em muitas obras de BD (dita de autor) recentes – mas vale sobretudo pela abordagem extremamente original utilizada por Audrey Spiry, que aqui  se estreia de forma surpreendente em banda desenhada (e onde se adivinha a sua origem no mundo da animação, onde desenvolve a sua actividade profissional).
Antes de desenvolver aquela ideia, quero dizer apenas que entre Luis e Juliette, mais do que qualquer outra coisa, foi a vida que se interpôs entre eles. A diferença de idades e a vida profissional – ela é recém-formada, em busca de emprego; ele trabalha há alguns anos no cinema e cada novo projecto ocupa-o de forma total durante meses – as ambições e os desejos – a ternura, os filhos, o conceito de família…
Isto é o que vamos apreendendo ao longo do relato – longo e bem mais denso do que a significativa ausência de texto deixa prever e que reforça o silêncio (o isolamento, a solidão) que Juliette experimenta – durante o qual vai havendo um contraponto entre o relacionamento dos dois casais e nos vamos embrenhando nos pensamentos de Juliette, da mesma forma que ela se embrenha nos labirintos do rio.
Porque, toda a narrativa é uma imensa metáfora da vida, com os seus momentos calmos e os de maior pressão e ansiedade, os diferentes caminhos que podemos escolher – ou que nos escolhem – os obstáculos e desafios que surgem, os êxitos (sempre passageiros?), as quedas (bruscas) que damos, os buracos sem fundo, o solo instável no qual nos sentimos a afundar, tudo o que nos puxa para baixo, nos oprime e nos parece tirar o ar.
Uma metáfora acentuada – assente mesmo - no desenho fluído e dinâmico da autora (feito em cor directa), que parece ter vida própria e (se) molda às situações e aos momentos, mas também às emoções e aos sentimentos, ultrapassando os limites físicos do espaço e das personagens, que distorce, molda e dilui, tornando-as esguias ou pequenas, omnipresentes ou poderosas, um ponto no espaço ou uma mancha que tudo cobre, consoante o que pensam, sentem, recordam, experimentam no rio (a vida) em que estão à superfície ou submersas.

A reter
- Confesso já ter lido muitos romances desenhados – muitos deles notáveis e marcantes - mas poucas vezes o termo “romance gráfico” fez tanto sentido para mim como no caso deste “en Silence”, no qual o grafismo tem um papel narrativo fundamental e transcendente.
- Pois, neste álbum, cada imagem ou sequência tem pelo menos duas leituras: a imediata, relacionada com a descida física do rio, e uma outra, mais profunda, que nos mostra retratados de forma visível conceitos abstractos como impressões, sensações, emoções, momentos, amor, solidão, ternura, medo, desejo, ansiedade...
- A cor (que é ao mesmo tempo traço) de Spiry, feita de tons fortes e aguados, com uma imensa paleta de tons e matizes, que dilata o autêntico convite aos sentidos que cada prancha já é.


13/06/2012

Rocher Rouge #2

Kwangala Connection











Eric Borg (argumento)
Renart (desenho)
Casterman/KSTR (França, Junho de 2012)
190 x 227 mm, 128 p., cor, cartonado
16,00 €

Resumo
A aguardada continuação de Rocher Rouge, iniciado em 2009 com uma escapada de um grupo de jovens para uma ilha deserta paradisíaca, que se transformou em horror e massacre.
Agora, descobrimos que Eva e JP escaparam ao seu destino e estão apostados em vingar-se de forma cruel e atroz dos seus carrascos de então.

Desenvolvimento
Este livro – melhor, o primeiro tomo desta série – tem para mim um significado especial. Foi devido à sua leitura – à necessidade premente que senti de partilhar essa experiência com outros - que este blog nasceu.
Não terá sido propriamente a primeira pedra de As Leituras do Pedro – porque a ideia então já há germinava há algum tempo - mas antes uma espécie de gota que fez transbordar o copo e deu o impulso de que eu necessitava.

A acção deste segundo tomo – possível mas não obrigatório face ao desfecho do primeiro – começa poucos dias depois do seu trágico final. A ligação estabelecida por Borg – que nasce logo na capa, que retoma uma das imagens fortes do primeiro livro - é credível e consistente. Pistas que aparentemente não o eram revelam o seu significado, sinais espalhados pelas últimas cenas ganham uma nova leitura.
Ao mesmo tempo, o âmbito da acção alarga-se. São reveladas ligações entre o tráfico de órgãos humanos com origem na tal ilha e o governo estabelecido de Kwangala, introduzem-se novas personagens e descobrimos que a terrível experiência vivida pelos seis jovens amigos afinal deixou dois sobreviventes, JP e Eva.
Que, de regresso à ilha, vão encontrar os seus algozes e devolver, com redobrada violência e atrocidade, mais do que aquilo que sofreram, em páginas com sangue a rodos que justificam o epíteto de terror que esta BD pode facilmente ostentar, reforçado pelo clima de tensão e a ansiedade que perpassam por muitas das suas páginas.
Só que, quando pensávamos que tudo tinha já terminado – mais uma vez – Borg tem o condão de nos voltar a surpreender, com um inesperado desenvolvimento que – e esse é o ponto mais fraco deste díptico – culminará de forma elíptica à boa maneira dos filmes de terror série B.
Neste regresso a Rocher Roug,e Borg abandona a parceria com Sanlaville (ou terá sido o contrário?), surgindo Renart como responsável gráfico da obra.
Da inevitável comparação com o primeiro tomo, se em termos de cores pouco ou nada há a dizer – pois continuam vivas, intensas e fortes, embora menos planas, perfeitamente justificadas pelo clima tropical e exótico em que a acção decorre – em termos de desenho senti algumas saudades.
O traço de Sanlaville era sensual, expressivo, preciso, quase uma linha clara um pouco distorcida.
Agora, Renart, se mantém uma planificação dinâmica e ágil – embora lhe faltem as mudanças bruscas de pontos de vista que Salanville impunha com a utilização de ousados picados e contrapicados - e apresenta um grafismo mais solto, também revela um traço menos pormenorizado, menos expressivo (, menos seguro…?), mais próximo do esboço, o que nalgumas cenas acaba por ter o efeito contrário ao desejado, diluindo num todo mais impreciso os pontos fulcrais das cenas que deveriam ter mais impacto.

A reter
- As boas recordações que este livro despertou em mim, pelo significado de Rocher Rouge na génese deste blog.
- A perfeita ligação que Borg estabelece entre a acção dos dois tomos.
- O ritmo elevado e o alto nível de suspense que se mantêm…

Menos conseguido
- … apesar do final algo simplista, daqueles que se utilizam quando não se sabe bem o que fazer …
- … e da menor espectacularidade gráfica deste volume, em perda na inevitável comparação com o tomo original.


19/04/2012

Insane











Xavier Besse (desenho)
Michael Le Galli (argumento)
Casterman (França, 28 de Março de 2012)
240 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado
13,95 €



Resumo
Luisiana, Estados Unidos, entre as duas guerras.
No dia da libertação do pai de Betty, após 10 anos de cadeia, Clarence, um jovem adulto, prepara a evasão da adolescente da clínica psiquiátrica onde estava internada desde a morte, por overdose, da mãe.
O propósito de Clarence será reuni-la ao seu progenitor ou o seu intuito é outro uma vez que, em criança, viu o pai da menina assassinar os seus pais, tornando-o naquilo que é hoje?

Desenvolvimento
Seguindo uma temática hoje muito em voga (também) por força das muitas séries televisivas que abordam estes comportamentos desviantes, “Insane” oscila entre o tom policial e o mergulho na loucura - na insanidade, seria o termo mais óbvio – que rege a vida de Clarence.
Enquanto acompanhamos a busca – a perseguição…? - do pai de Betty – que faz tudo por permanecer na sombra, por razões que o leitor descobrirá -  pelo duo a quem ligam estranhos laços não completamente esclarecidos no relato, vamos também percebendo como o passado – os traumas, a violência, a falta de laços, de afectos, de ligações estáveis – fez de Clarence e de Betty aquilo que são hoje e qual a origem de alguns dos (muitos) fantasmas que os atormentam.
Sem entrar mais na história, para não estragar o prazer da leitura, adianto apenas que o final, que deixa a sensação incómoda de que algo ficou por explicar e de que faltou aos autores o toque de genialidade para fazer da sua história algo mais do que um policial de leitura agradável, funciona como o fechar de um círculo, explicando as ligações entre os diversos protagonistas.
Graficamente, se são visíveis no desenho de Besse - e logo na capa - alguma influência de manga, não só no traço, mas também na planificação diversificada e numa boa utilização de grandes planos, justifica-se uma chamada de atenção para a utilização dos elementos gráficos condensados na terceira prancha (reproduzida abaixo), que ao longo das páginas vão balizar e marcar momentos significativos da vida de Betty. Ao mesmo tempo que funcionam como elementos de ligação entre os sucessivos saltos entre o presente e o passado, que Le Galli introduziu no relato e que  fornecem ao leitor elementos que possibilitam a compreensão da trama.


A reter
- O clima tenso e misterioso que impregna “Insane”.
- A ligação gráfica feita entre os diversos momentos – alguns dos quais equiparáveis – do passado e do presente.

Menos conseguido
- Uma certa indefinição existente no desfecho do relato.



10/04/2012

Un americain en balade











Colecção écritures
Craig Thompson
Casterman (França, Janeiro de 2005)
170 x 240 mm, 224 p., pb, brochada com badanas
13,50 €




Às vezes é difícil escrever estas linhas. Especialmente se são sobre livros de que gostei muito. Talvez porque (mais ou menos) inconscientemente, sinto a obrigação de escrever “ao nível” do que li, para transmitir um pouco do que desfrutei, para convencer o (meu) leitor a lê-lo também.
Só que nem sempre a sofisticação da escrita parece suficiente para isso. Por isso, “Un americain en balade” (Casterman), esperou semanas pela minha inspiração. Quando a solução talvez pudesse ser simples: tão simples como é a escrita (em BD, entenda-se) de Craig Thompson, de uma limpidez e sinceridade desconcertantes, de um despojamento sem máscaras nem artifícios, na forma como se despe completamente perante os leitores, revelando gostos, influências, estados de espírito, desejos, ambições, medos e incertezas, o que de mais profundo há em si.
O que faz desta obra do autor canadiano, que já nos deslumbrara com o notável e emotivo “Blankets” (Casterman), mais do que o diário de uma viagem de dois meses à Europa e a Marrocos, um diário íntimo, escrito/desenhado maioritariamente em quartos de hotel, já que o autor se confessa um mau viajante e pouco dado à convivência e ao contacto com os outros.
Uma obra a ler, devagar, aos poucos, ao ritmo da própria criação de Thonmpson, para melhor a desfrutar. ´

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 19 de Junho de 2005)

Curiosidade
Este é mais um tomo da colecção écrittures, já diversas vezes presente em As Leituras do Pedro, que completou 1o anos de bons serviços no passado dia 14 de Março. Conto voltar a ela, repetidamente, nas próximas semanas.



30/03/2012

Mariko Parade





 



Colecção écritures
Frédéric Boilet e  Kan Takahama (argumento e desenho)
Casterman (França, 12 de Setembro de 2003)
173 x 240 mm, 184, pb e cor (12 p.), brochada com badanas
13,50 €




De que são feitas as relações? O que as alimenta? O que as mantém? O que as mina? O que as destrói?
“Mariko Parade”, de Frédéric Boilet e Kan Takahama, responde a estas perguntas. Ou melhor, indica pistas, adianta hipóteses. Boas ou más, depende de quem as lê e de como as interpreta.
Porque o livro, diga-se desde já, assume-o Takahama no prefácio, não conta nada, não tem princípio, meio e fim. Ou melhor, tem meio, pois apanhámos a história em andamento e somos apeados antes que ela acabe.
Por isso, também, “Mariko Parade” é um livro estranho. E também pela forma como são encadeadas na sua narrativa principal, as histórias curtas que Boilet foi publicando no Japão ao longo dos anos, como se assim tivessem sido concebidas.
Obra de contornos autobiográficos, conta a relação de um autor de BD (Boilet, francês, radicado no Japão há alguns anos) com a sua modelo (e companheira, Mariko) vinte anos mais nova. E conta-nos como esta, no seguimento de uns dias de férias anuncia que vai partir para os Estados Unidos, para estudar durante dois anos. Que vai partir no dia seguinte.
E o “nada” que nos é contado, são esses dias de férias. Calmos sossegados, aparentemente apaixonados às vezes, vazios outras. Um “nada” realçado pela forma lenta como a história flui. Lentidão consciente, que é acentuada pelos inúmeros pormenores que são objectos de vinhetas. Como um anúncio num jornal, uma folha, uma flor, um pé, descalço ou calçado, uma nuvem.
Tudo “nadas”, pequenos nadas, que às vezes se tornam tão importantes. Como os pequenos nadas que (também) mantêm as relações, embora possam parecer insignificantes. 

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 18 de Outubro de 2003)


Curiosidade
- Este é mais um tomo da colecção écritures, já diversas vezes presente aqui As Leituras do Pedro, que completou 10 anos de bons serviços no passado dia 14 de Março. Conto voltar a ela, repetidamente, nas próximas semanas.


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