Penso
que já o escrevi por aqui: apesar de ter lido todos os álbuns
publicados em português - e de ter tido até o privilégio de
traduzir parte deles, o que potencia sempre uma leitura mais
profunda, completa e atenta - nunca fui fã absoluto de Alix
e a série nunca foi uma das minhas referências, embora lhe
reconheça todos os méritos e qualidades - tal como algumas
fraquezas. Curioso,
a princípio em relação a Alix Senator,
a cada novo álbum dou por mim mais rendido a esta inteligente e
consistente sequela.
Alix,
criação de Jacques Martin em 1948, para a Tintin
belga, foi uma das personagens marcantes do tempo áureo daquela
publicação. Adolescente, permitia que os jovens leitores se
identificassem com ele; sensato e com uma sólida base histórica,
garantia o apoio dos pais a essa leitura. Há
alguns anos, Valérie Mangin e Thierry Démarez, imaginaram o seu
regresso em adulto, como senador romano, numa série de álbuns que a
Gradiva tem publicado com uma regularidade muito interessante, sendo
o mais recente A
Floresta Carnívora.
Intitulei a análise aos dois álbuns anteriores de Alix Senator como 'Inusitada violência', mas estava longe de imaginar o que me esperava neste sétimo tomo,
que encerra um ciclo de
quatro álbuns e, mais do que isso, um primeiro arco alargado numa
série que, álbum após álbum se apresenta como de leitura muito
aconselhável.
Li
Alix
esparsamente na adolescência, depois, de forma mais regular nas
colecções das Edições 70 e da ASA - tendo tido nesta última o
privilégio de traduzir a obra máxima de Jacques Martin. Entre
qualidades e defeitos - sobre que escrevo já a seguir - assenta o
retomar do (então jovem) protagonista como adulto maduro em Alix
Senator,
numa abordagem bastante curiosa e conseguida, que neste novo ciclo
ostenta uma inusitada violência.
Funcionando
por arcos contidos - mas com uma saudável e desejável continuidade;
não poderia ser de outra forma...
- Alix
Senator, que a Gradiva está a editar a bom ritmo, continua a afirmar-se como uma interessante série de aventuras, no
melhor espírito franco-belga.
Poderá
não surpreender muito - embora as surpresas ocorram aqui e ali - mas
também dificilmente desilude pois quem o procura, sabe o que
esperar.
Depois
de um início prometedor - pela nova abordagem a um herói clássico
- mas ainda incerto
e com arestas a limar,
estes dois volumes de Alix
Senator
revelam um ganho de consistência e uma solidificação da sua base
que justifica uma leitura atenta - e não só por quem em tempos
apreciou a série original.
Repito, quase palavra a palavra, a introdução que escrevi ontem a propósito de Mister No Revolution: ‘Dentro
do leitor que eu sou, coexistem duas correntes de pensamento
contraditórias. Por um lado, defendo a propriedade das séries pelos
seus autores, por outro, entusiasmo-me com variações e leituras
ousadas dessas mesmas séries. Reconheço, que com o passar dos anos
estou menos intransigente. E, também, que há casos e casos. Porque
quando foi esse o princípio desde sempre - na Marvel, na DC, na
Bonelli, em séries como Spirou…
- a retoma - de forma pontual ou continuada - por outros autores,
afigura-se-me como natural. Mas,
quando falámos de obras de um autor (dupla de autores) só, o caso
muda de figura. Tintin
- à cabeça, obviamente - Blake
e Mortimer
- já é muito tarde, eu sei… - o próprio Astérix
- que nem devia ter sobrevivido a Goscinny… - são os exemplos mais
(mediáticos e) evidentes. E Alix
era outro. Até ler este Alix
Senator.'