Li
Alix
esparsamente na adolescência, depois, de forma mais regular nas
colecções das Edições 70 e da ASA - tendo tido nesta última o
privilégio de traduzir a obra máxima de Jacques Martin.
Entre
qualidades e defeitos - sobre que escrevo já a seguir - assenta o
retomar do (então jovem) protagonista como adulto maduro em Alix
Senator,
numa abordagem bastante curiosa e conseguida, que neste novo ciclo
ostenta uma inusitada violência.
Volto então atrás.
Ao Alix de Jacques Martin, reconheço facilmente os méritos: histórias muito consistentes, o espírito de aventura, um grande rigor histórico e de reconstrução de época, a importância de ‘obra fundadora’ do género histórico no pós-II Guerra Mundial, a responsabilidade pela paixão de muitos pelo período romano...
Mas, da mesma forma, também lhe aponto alguns aspectos mais fracos: a irritante pose sempre correcta do protagonista, os maniqueísmos próprios da época, alguns excessos verbais, a amizade de contornos excessivos entre Alix e Enak...
De uns e outros - ou seja, de méritos e fraquezas - é feita também esta retoma em Alix Senator. O rigor histórico, a reconstrução de época e capacidade de apaixonar o leitor pela época mantêm-se, bem como o mais vincado espírito de aventura. A partilha de protagonismo entre Alix, o seu filho e Khephren (filho de Enak) revisita alguns dos maniqueísmos que eram desnecessários, embora a relação entre os dois últimos esteja longe da (bela) amizade entre Alix e Enak - e ambos tenham (naturalmente) os olhos bem mais abertos para a vida e para os seus prazeres do que os seus antecessores. Aliás a relação entre os dois - o quase ódio que Khephren vota a Alix e a Enak e, de certa forma, por extensão, ao filho daquele, são um dos pontos mais interessantes dos argumentos de Valèrie Mangin, pela colocação do principal inimigo no seio familiar do protagonista.
É aliás a sede de poder - e o desejo de vingança - que o levam longe de mais em O Uivo de Cibele e potenciam o despertar da tal inusitada violência que referi acima. Uma violência natural, no enquadramento militar e religioso em que surge - e que surge sempre que aquelas instituições são desafiadas ou se sentem ameaçadas - mas que atinge proporções inimagináveis - e permanentes! - numa série que apesar de tudo poucos classificariam como para adultos. Uma violência com repercussões ao nível físico e, principalmente, ao nível mental e psicológico cujas consequências irão com certeza arrastar ainda mais Khephren para o mais profundo dos infernos, movido pela sua ambição desmedida e pelas feridas que a vida já lhe provocou.
Com este tríptico - Os Demónios de Esparta, O Uivo de Cibele e A Montanha dos Mortos - lido de uma assentada, numa história apaixonante e movimentada, no final ficou a (desagradável) surpresa do segundo ciclo de Alix Senator encerrar apenas no próximo volume, O Poder e a Eternidade, que se espera a Gradiva edita rapidamente como, urge reconhecer, tem feito até aqui.
Alix
Senator
#5
O Uivo de Cibele
#6
A Montanha dos Mortos
Baseado
na obra de Jacques Martin
Valérie
Mangin (argumento)
Thierry
Démarez (desenho e cor)
Gradiva
Portugal,
Agosto de 2022
233
x
313 mm, 48
p.,
cor,
capa dura
18,00
€
(imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nesta ligação para apreciar mais pranchas ou nas aqui mostradas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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