O regresso como um grande senhor
Alix,
criação de Jacques Martin em 1948, para a Tintin
belga, foi uma das personagens marcantes do tempo áureo daquela
publicação. Adolescente, permitia que os jovens leitores se
identificassem com ele; sensato e com uma sólida base histórica,
garantia o apoio dos pais a essa leitura.
Há
alguns anos, Valérie Mangin e Thierry Démarez, imaginaram o seu
regresso em adulto, como senador romano, numa série de álbuns que a
Gradiva tem publicado com uma regularidade muito interessante, sendo
o mais recente A
Floresta Carnívora.
Nesta nova vida como um grande senhor, Alix casou, teve filhos que geralmente o acompanham para sustentar a aura adolescente do original e mostra-nos o império romano sob uma outra faceta, o das guerras internas, das conspirações políticas e das lutas sem tréguas pelo poder, numa sociedade em que a sede do ouro e a multitude de deuses e cultos contribuem para acelerar a sua decadência.
Se é verdade que estas histórias funcionam por ciclos e que ao longo dos álbuns há uma linha condutora comum que torna mais sólida a reconstrução da personagem e da época, a verdade é que este décimo álbum se lê de forma independente. Na sua origem, está um dos aspectos que tem marcado estas novas aventuras: o regresso a locais onde esteve na juventude e o reencontro com personalidades que em determinado momento da sua vida foram marcantes.
A Floresta Carnívora tem como cenário a Gália natal de Alix, onde conheceu e tentou apoiar o chefe Vercingétorix que se opunha ao invasor romano. Reminiscências desses tempos, velhas histórias por resolver e ódios latentes vão tornar este regresso perigoso e dotá-lo de contornos trágicos, parecendo mais uma vez que apenas a morte consegue apagar o que o tempo não foi capaz de fazer esquecer.
A maturidade de Alix, mais realista tematicamente, tem o devido acompanhamento gráfico com uma recriação conseguida de uma época apaixonante, em que amizades e paixões antigas, a par de rancores e conspirações, estaão longe de garantir maior tranquilidade ao protagonista.
Autónoma em si mesma, esta série Alix Senator poderá adquirir contornos mais ricos e aliciantes se a memória ainda retiver as aventuras originais de Alix ou se levar o leitor a (re)descobri-las.
Alix
Senator #10 - A Floresta Carnívora
Valérie
Mangin (argumento)
Thierry
Dmarez (desenho)
Gradiva
Portugal, Novembro de 2023
233
x 313 mm, 56
p., cor,
capa dura
20,99
€
(versão revista do texto publicado na página online do Jornal de Notícias de 27 de Janeiro de 2024 e na versão em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela Gradiva; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
Fantástico, as edições nacionais estão a 4 números do último tomo da Casterman que saiu em Outubro do ano passado, com sorte este ano publicam o resto. Mas é obra os autores conseguirem manter uma qualidade constante em termos de argumento e arte, estão de parabéns e espero que não mudem pois em equipa que ganha...
ResponderEliminarEra porreiraço se alguém publicasse o Inhumain (2020) de Valérie Mangin e outros, parece interessante.
ResponderEliminarBom seria também que publicassem os volumes que já saíram do Alix, sem ser o "senator"
ResponderEliminarNesta altura mais vale reeditar tudo desde o início, em melhor papel e capa dura e não falo aqui das edições "encolhidas" do Tintin e do Astérix que sairam nos jornais na parceria ASA/Público.
EliminarAs edições de capa dura do Alex pela ASA já têm quase 20 anos, as de capa mole que sairam por volta de 2011 já foi há quanto tempo?
EliminarNão peço tanto, podem fazer um "best-off" em capa dura mas por favor que respeitem o formato original, não gosto de ler vinhetas reduzidas com uma lupa na mão.
A treta que fizeram com o Torpedo 1936... Jordi Bernet merecia mais.