Um autor, um livro
Sugestão de leitura para conhecer a obra dos convidados da
Comic Con Portugal, que terá lugar na Exponor, em Matosinhos, de 4 a 6 de
Dezembro.
Juan Dias Canales e Rubén Pellejero são convidados oficiais
da Comic Con Portugal 2015
A minha leitura deste livro vem já a seguir.
Corto Maltese: Sous le soleil de minuit
O ‘meu’ Corto Maltese é aquele dos primeiros álbuns que
Pratt escreveu e desenhou – ao correr da escrita, ‘bandadesenhou’ parece-me o
termo apropriado…! – o marinheiro aventureiro e errante de A Balada do Mar Salgado, As
Etiópicas ou A Casa Dourada de
Samarkanda (mas não só…), correndo sem rumo ao sabor das circunstâncias,
dos encontros e desencontros e das amizades, antes do aparecimento do seu lado
(demasiado) místico. Reeencontrei-o em Sous
le soleil de minuit – um belo título!

Diaz Canales e Pellejero saem do exercício que lhes foi
proposto com uma boa nota: a errância – dos Estados Unidos ao Canadá gelado, do
(absurdo) mundo dos sonhos à (dura) realidade da vida quotidiana - é uma
constante, a amizade e um tesouro prometido são o mote da aventura, Jack London
(alma gémea de Corto), que espoleta a trama, bem como as referências à
expedição de Peary e a diversos outros factos históricos e as leituras feitas
pelas personagens ‘satisfazem’ o lado culto, a escrita fina de Canales, o humor
que a visita recorrentemente, a antítese entre brancos e indígenas, seja qual
for o local desse (inevitável) confronto, mesmo que só no campo dos credos e
saberes, dão o mote ajustado à narrativa.

Do lado de Pellejero, se de início demonstra alguma
hesitação no traço, (ainda) demasiado preso à herança de Pratt, com a
continuação, solta-se e torna-se mais fluído, ganha personalidade sem renegar
as referências ao original, várias vezes evocados em (belas) vinhetas emuladas
ao criador italiano e proporciona mesmo belas sequências – curiosamente quase
sempre mudas…
Quanto ao acrescento da cor – uma imposição comercial sem
dúvida? – o melhor elogio que se pode fazer a Pellejero, é que, tal como em
Pratt, era dispensável e as pranchas funcionavam (bem) melhor a preto e branco…
Nota final
Nada do que atrás fica escrito apaga ou esconde o que
repetidamente tenho afirmado, aqui e noutros locais: a retoma de um monumento
dos quadradinhos – como, a diferentes níveis, Blake e Mortimer, XIII,
Chlorophylle… e tantos outros – se num primeiro momento exala o prazenteiro
odor do reencontro com um velho amigo e com boas memórias, com a continuação –
e multiplicação de livros… - acaba(rá) por reduzir o mérito e esvaziar a obra
original…
Nota final 2
Segundo a ASA, a “haver edição portuguesa deste Corto
Maltese, ela só acontecerá em 2016”. Edição que - ao que parece forçada pela
(sempre saudável) concorrência - não acompanhando a versão original, chegará
sempre tarde e, para além de (mais) uma oportunidade perdida, significará
igualmente a não venda de algumas dezenas – centenas? – de exemplares a quem
entretanto comprou a versão original–
também na Comic Com Portugal, aproveitando a presença dos autores.
Se havia álbum em que isso não podia – não devia… -
acontecer, possivelmente era este…
Corto Maltese #13
Sous le soleil de minuit
Juan Diaz Canales (argumento)
Rubén Pellejero (desenho)
Casterman
França, Setembro de 2015
233 x 306 x mm, 88 p., cor, cartonada
EAN : 9782203092112
16,00 €
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá Pedro,
ResponderEliminarSabe se já há alguma previsão de publicação deste livro. Também estou tentado a comprar uma versão em outra língua.
Obrigado
Caro HLM,
EliminarEstou a aguardar resposta da editora, mas até agora nada...
Se optar pela edição espanhola, aconselho a versão a preto e branco.
Boas leituras
Obrigado pela resposta, Pedro.
ResponderEliminarDiz isso pela diferença de qualidade das edições ou pela arte do Pellejero sobressair no P&B?
As duas edições são igualmente boas, mas Corto para mim é a preto e branco! E mesmo não tendo nada contra a cor desta edição, acho que ela também não acrescenta nada e Pellejero é muito bom a pb.
EliminarBoas leituras!