01/12/2015

Comic Con 2015 – Juan Dias Canales e Rubén Pellejero

Um autor, um livro
Sugestão de leitura para conhecer a obra dos convidados da Comic Con Portugal, que terá lugar na Exponor, em Matosinhos, de 4 a 6 de Dezembro.

 
Juan Dias Canales e Rubén Pellejero são convidados oficiais da Comic Con Portugal 2015
A minha leitura deste livro vem já a seguir.


Corto Maltese: Sous le soleil de minuit








O ‘meu’ Corto Maltese é aquele dos primeiros álbuns que Pratt escreveu e desenhou – ao correr da escrita, ‘bandadesenhou’ parece-me o termo apropriado…! – o marinheiro aventureiro e errante de A Balada do Mar Salgado, As Etiópicas ou A Casa Dourada de Samarkanda (mas não só…), correndo sem rumo ao sabor das circunstâncias, dos encontros e desencontros e das amizades, antes do aparecimento do seu lado (demasiado) místico. Reeencontrei-o em Sous le soleil de minuit – um belo título!

Depois de Tintin (?), Corto seria a série mais difícil de retomar. Pelas suas particularidades intrínsecas, pelo carisma da criação (única) de Pratt, pela (imensa) cultura geral que lhes estava subjacente, pelo humor subtil que ele cultivava, pelo grafismo tão original que as sustentava.
Diaz Canales e Pellejero saem do exercício que lhes foi proposto com uma boa nota: a errância – dos Estados Unidos ao Canadá gelado, do (absurdo) mundo dos sonhos à (dura) realidade da vida quotidiana - é uma constante, a amizade e um tesouro prometido são o mote da aventura, Jack London (alma gémea de Corto), que espoleta a trama, bem como as referências à expedição de Peary e a diversos outros factos históricos e as leituras feitas pelas personagens ‘satisfazem’ o lado culto, a escrita fina de Canales, o humor que a visita recorrentemente, a antítese entre brancos e indígenas, seja qual for o local desse (inevitável) confronto, mesmo que só no campo dos credos e saberes, dão o mote ajustado à narrativa.
A presença de Raspoutine, a abrir, e a sombra fugidia de Pandora, a fechar, com outras referências cruzadas a personagens de Pratt, estimulam as ligações afectivas dos leitores, a capa da poesia, da aventura, das grandes mulheres – também presentes - assumem o espírito do ‘verdadeiro’ Corto e fazem deste álbum não um exercício de clonagem, mas uma obra de corpo inteiro válida por si mesma, bem para além do ‘lastro’ que, inevitavelmente, lhe está inerente.
Do lado de Pellejero, se de início demonstra alguma hesitação no traço, (ainda) demasiado preso à herança de Pratt, com a continuação, solta-se e torna-se mais fluído, ganha personalidade sem renegar as referências ao original, várias vezes evocados em (belas) vinhetas emuladas ao criador italiano e proporciona mesmo belas sequências – curiosamente quase sempre mudas…
Quanto ao acrescento da cor – uma imposição comercial sem dúvida? – o melhor elogio que se pode fazer a Pellejero, é que, tal como em Pratt, era dispensável e as pranchas funcionavam (bem) melhor a preto e branco…
 
Nota final
Nada do que atrás fica escrito apaga ou esconde o que repetidamente tenho afirmado, aqui e noutros locais: a retoma de um monumento dos quadradinhos – como, a diferentes níveis, Blake e Mortimer, XIII, Chlorophylle… e tantos outros – se num primeiro momento exala o prazenteiro odor do reencontro com um velho amigo e com boas memórias, com a continuação – e multiplicação de livros… - acaba(rá) por reduzir o mérito e esvaziar a obra original…

Nota final 2
Segundo a ASA, a “haver edição portuguesa deste Corto Maltese, ela só acontecerá em 2016”. Edição que - ao que parece forçada pela (sempre saudável) concorrência - não acompanhando a versão original, chegará sempre tarde e, para além de (mais) uma oportunidade perdida, significará igualmente a não venda de algumas dezenas – centenas? – de exemplares a quem entretanto comprou  a versão original– também na Comic Com Portugal, aproveitando a presença dos autores.
Se havia álbum em que isso não podia – não devia… - acontecer, possivelmente era este…

Corto Maltese #13
Sous le soleil de minuit
Juan Diaz Canales (argumento)
Rubén Pellejero (desenho)
Casterman
França, Setembro de 2015
233 x 306 x mm, 88 p., cor, cartonada
EAN : 9782203092112
16,00 €

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá Pedro,
    Sabe se já há alguma previsão de publicação deste livro. Também estou tentado a comprar uma versão em outra língua.

    Obrigado

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    1. Caro HLM,
      Estou a aguardar resposta da editora, mas até agora nada...
      Se optar pela edição espanhola, aconselho a versão a preto e branco.
      Boas leituras

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  3. Obrigado pela resposta, Pedro.
    Diz isso pela diferença de qualidade das edições ou pela arte do Pellejero sobressair no P&B?

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    1. As duas edições são igualmente boas, mas Corto para mim é a preto e branco! E mesmo não tendo nada contra a cor desta edição, acho que ela também não acrescenta nada e Pellejero é muito bom a pb.
      Boas leituras!

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