Trás-os-Montes,
algures, num ano da (des)graça indefinido, na primeira metade do
século passado. Numa
pequena aldeia, isolada pela neve, os cadáveres começam a
multiplicar-se. É
este o ponto de partida de Fojo,
uma co-edição a três entre a Kingpin Books, a Comic Heart e A
Seita, que vem confirmar o português Osvaldo Medina como um grande
autor completo, depois do seu díptico Kong, the King.
Quantas
mais leituras tiver um livro, mais interessante e estimulante ele
poderá ser. Poderá, porque descobrir esses vários níveis depende
também da capacidade do leitor
de as descobrir e interpretar Boarding
Pass,
do português Ricardo Santo, uma edição recente de A Seita
e da Comic Heart proporciona essa oportunidade.
Reconheço
que o sub-título acima é
redutor e até injusto para com o Ricardo Venâncio e o seu trabalho,
mas a verdade é que este álbum - como o Agá2.0
do mesmo autor e tantas histórias de localidades que a BD nacional
mais clássica e realista nos tem proposto - são obras ‘por
encomenda’. O
que não retira responsabilidade ao(s) autore(s) - até pode tornar-se
num desafio maior.
Há
livros sobre os quais é cruel escrever e
este A
Rainha
dos
Canibaisinfelizmente
é
um deles.
Surpreendido
e seduzido pelos
belos originais - e pelo seu formato! - que
vi em
exposição no
último
Amadora BD, abri-o com
as expectativas em alta, embalado
por
um sentimento
de descoberta e disposto a deixar-me surpreender.
Já
nos habituámos a isto, de tantas vezes visto: o super-herói de
serviço, no seguimento de um percalço ou uma traição, após ser
incriminado ou enganado, entra numa espiral negativa que o leva em
queda acelerada até bater no fundo. Mas…
será que é assim com o super-herói português Macho-Alfa?
George Walden nunca teve uma ideia de jeito na
vida. Resolveu, por isso, fazer um pacto com o diabo para ter todas
as ideias que quisesse. Esqueceu, no entanto, que ao negociar com o
demónio é necessário ler com atenção as letras pequeninas até
ao fim.
Da
primeira leitura que fiz do Bestiário
da Isa
- ainda na versão parcial, em edição de autor(a) - ficou-me na
memória o ritmo vivo e o bom encadeamento desenho/texto. Agora,
a leitura completa, confirmou o perfeito funcionamento como banda
desenhada de uma história, simples, divertida e... fantástica!
Com
prémios ganhos no Japão e em Portugal - o que lhe valeu a
publicação do seu primeiro livro, Weak
-
Kachisou surge agora no panorama editorial português ‘grande
público’ - era tão bom que ele
fosse assim...
- revelando uma inesperada maturidade, quer a nível gráfico, quer
narrativo, mostrando que já passou a fase do ‘querer’ e que já
‘voa’ mesmo. Porque
digo já, antes de justificar, Quero
voar é
uma obra bastante sólida e de leitura agradável.
No
mundo ideal, no que à BD diz respeito, todas as obras marcantes e
significativas estariam sempre disponíveis, regularmente, em novas
edições beneficiadas pelos avanços tecnológicos de reprodução e
impressão. No
mundo real em que vivemos, está de novo disponível Tu
és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos
(belíssimo
título!),um
dos grandes livros nacionais aos quadradinhos - embora eles sejam
raros nas suas páginas…
E
se… as histórias de super-heróis decorressem no mundo real, com
as ‘super-acções’ a terem consequências desastrosas? E
se… o super-herói perfeito fosse um menino mimado,
egoísta e malcriado em tamanho grande, habituado a fazer o que lhe
dá na gana? Da
junção destas duas hipóteses, nasceu Macho-Alfa, o único (?) português com super-poderes… Pois.
O
arranque de qualquer série é sempre complicado. Numa série de
ficção-científica, a situação agrava-se. Se como em todas as
outras, não se conhecem os intervenientes, logo não há
cumplicidade entre eles e o leitor, o desconhecimento dos
universos
fantasiosos em
que geralmente
se desenrolam,
impossibilita
qualquer
identificação com elespor
parte
de quem lê, o que não acontece em séries contemporâneas ou
historicamente datadas. É
o que acontece em alma
mãe,
o ponto de partida de Umbigo
do Mundo,
a nova série criada por Carlos Silva e Penim (Loureiro).