Expectativas goradas mas...
Há livros sobre os quais é cruel escrever e este A Rainha dos Canibais infelizmente é um deles.
Surpreendido e seduzido pelos belos originais - e pelo seu formato! - que vi em exposição no último Amadora BD, abri-o com as expectativas em alta, embalado por um sentimento de descoberta e disposto a deixar-me surpreender.
É verdade que, graficamente, Miguel Rocha cumpre integralmente aquilo que os seus originais (me) prometeram - e ainda mais! - apresentando neste livro algumas das pranchas a preto e branco plasticamente mais belas da banda desenhada nacional, com um trabalho magnifico em termos de contrastes branco/negro, sendo admirável como consegue recriar cenários, personagens e momentos com umas poucas pinceladas aparentemente simples. E como passa - ou entremeia - pranchas profundamente negras e misteriosas, com outras de uma luminosidade que cega e desconcerta.
No entanto, em minha opinião - na minha leitura, no(s) momento(s) em que foi feita, pois não consegui levar o livro de uma ponta à outra de seguida - o argumento não está ao mesmo nível.
Entendi, claro, o intuito de combinar a homenagem a grandes clássicos da aventura com uma critica aos seus estereótipos e com um olhar actualizado sobre aquilo que expunham e defendiam. E, para além disso, com o questionar constante do colonialismo, dos imperialismos, do racismo e até do machismo, mas o exercício de estilo em que A Rainha dos Canibais acaba por se transformar, retira-lhe consistência e ligação, estendendo-se demasiado em conversas que acabam por soar longas e repetitivas . E chocam mesmo com algumas sequências mudas em que o ritmo alucina.
Pelo atrás escrito, inevitavelmente esperava mais e cheguei ao fim da leitura com um sentimento de desilusão e de expectativas goradas - parcial apesar de tudo, porque não resisti a voltar atrás e folhear de novo as belas pranchas propostas.
A
Rainha dos Canibais
Miguel
Rocha
A
Seita/Comic Heart
Portugal,
Dezembro de 2022
285
x 200
mm, 208
p., pb,
capa dura
24,00
€
(imagens disponibilizadas pelas editoras A Seita e Comic Heart; clicar nesta ligação para apreciar mais ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Gostava de perceber a mudança radical de estilo gráfico, nem parece o mesmo autor. Felizmente tem vários clássicos para reler, este passo.
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