Uma interminável sucessão de dias
Enquanto se aguarda pela sequela cinematográfica de A Velha Guarda, que a Netflix estará a preparar para este ano, a G. Floy editou em português, mesmo no final de 2022, Força multiplicada, o segundo volume da série de banda desenhada, cujo tomo inicial - Abrir fogo - esteve na origem do filme que Charlize Theron protagonizou em 2020.
O conceito base desta obra criada por Greg Rucka é fácil de explicar: existem no nosso planeta algumas pessoas que são imortais. Ou quase. Podem ser esfaqueadas, baleadas, explodidas ou sofrer qualquer outro tipo de ataque, que possuem a capacidade de se reconstituir e recuperar. Esse poder vai-se deteriorando com o tempo e um dia, passadas dezenas, centenas ou milhares de anos, acabarão por não conseguir ressuscitar.
Esta premissa permitiu a Rucka, e ao desenhador Leandro Fernández, criarem uma série de acção explosiva e espectacular, extremamente dinâmica e com adrenalina a sair por todos os poros. O filme dirigido por Gina Prince-Bythewood conseguiu transpor para o ecrã o ritmo vibrante do original e recriar algumas das cenas mais marcantes, mas esta sequela, Força multiplicada, pelos níveis de violência e destruição física atingidos, promete levantar grandes dificuldades aos técnicos de efeitos especiais.
Este segundo volume, centrado no combate a uma rede de tráfico humano, fica também marcado pelo aparecimento de Noriko que, no seguimento de um naufrágio, passou os últimos cinco séculos no fundo do mar a ressuscitar e a afogar-se num interminável, traumatizante e horrível ciclo sem fim. Revoltada por se sentir abandonada por Andy, que estava com ela na altura da tragédia, vem disposta a fazê-la pagar pelo que aconteceu.
A par dos vibrantes excessos visuais que fazem dela uma excelente banda desenhada de aventura e acção de contornos fantásticos, mais uma vez A Velha Guarda vem questionar temáticas como a vida e a morte e a solidão associada à imortalidade, quando desaparecem todos aqueles que num determinado momento amaram e foram amados e/ou importantes, levados pela voragem do tempo.
E também o que fazer com essa imortalidade. Visitar lugares, acumular conhecimento, ajudar pessoas, trabalhar pelo bem comum… podem ser algumas respostas positivas - que poderão sempre ter o oposto em negativo - mas mesmo isto pode acabar por parecer inútil e vazio quando a sucessão de dias não tem fim.
A
Velha Guarda #2 Força Multiplicada
Greg
Rucka (argumento)
Leandro
Fernández (desenho)
G.
Floy
Portugal,
Dezembro de 2022
180
x 275 mm, 168 p., cor, capa dura
24,00€
(versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias online a 13 de Janeiro de 2023 e na edição em papel do dia seguinte; imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui mostradas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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