Diferentes mas iguais
Esta homenagem a Os Túnicas Azuis é uma das primeiras grandes surpresas - e leituras - deste ano, desde logo pelo lote de autores que reúne: entre outros, José-Luis Munuera, Aimée de Jongh, Denis Lapière, Olivier Schwartz, Eric Maltaite, Zidrou e… Blutch (!), que também assina a capa.
Redescobertos aquando da colecção ASA/Público, Os Túnicas Azuis têm-se-me revelado uma série capaz de fazer conviver humor inteligente e mordaz com a realidade e os horrores da guerra, privilegiando aquele sem esquecer a denúncia destes. E, ao mesmo tempo, são uma lição da História norte-americana durante a Guerra da Secessão, com muitos dos episódios inspirados em acontecimentos reais.
Série criada em 1968 por Raoul Cauvin e Louis Salvérius (falecido em 1972 e substituído por Willy Lambil), que conta mais de seis dezenas de álbuns - cerca de um terço dos quais editados em português, aos quais tenho acrescentado irregular e pontualmente algumas edições originais - as oscilações de qualidade são normais, embora seja obrigatório reconhecer uma qualidade média muito assinalável e a certeza do que vamos encontrar em cada álbum narrativas bem ritmadas, sem repetições mas com situações recorrentes com diferentes desfechos cómicos, e um traço humorístico eficaz, dinâmico e expressivo.
A sua principal força e qualidade é o duo de protagonistas, o covarde e mordaz cabo Blutch, pacifista e cuidadoso com a sua pele, e o aparentemente corajoso sargento Chesterfield, mais imbuído de um profundo sentido do dever patriótico, do que propriamente desejoso de participar nas atrocidades que a guerra civil fez brotar por todo o território norte-americano.A química entre ambos - ou a falta dela - e o contraste gritante entre ambos, com evidentes efeitos cómicos, sempre superados pela amizade inabalável - que ambos negam - são uma base forte e consistente, à volta da qual gravitam uma série de personagens secundárias bem características e caracterizadas.
A leitura deste Les Tuniques Bleus par, criado para assinalar os 60 anos da série, revelou-me um dos melhores conjuntos de histórias curtas de homenagem que já li, nos mais variados estilos gráficos, do traço humorístico quase infantil ao semi-realista contido, e sob as mais variadas inspirações temáticas, do humor puro e directo a abordagens adultas ou emotivas, e veio relembrar(-me) e realçar ou fazer redescobrir as muitas qualidades da série original.
Les Tuniques Bleues par
Zidrou, Lapuss, Gloris, Collin, Schwartz, Dutto, Sti, Clarke, De Jongh, Munuera, Lapière, Blutch, Chamblain (argumento)
Dutto , Goulet, Pau, Schwartz, Maltaite, Frasier, Collin, Clarke, Baba, Munuera, De Jongh, Blutch e Bodart (desenho)
Dupuis
Bélgica, 2016
220 x 305 mm, 120 p., cor, capa dura
19,00€
(imagens disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão; clicar nos textos a cor diferente para saber mais sobre os temas destacados)
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