03/12/2021

Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos

No mundo real


No mundo ideal, no que à BD diz respeito, todas as obras marcantes e significativas estariam sempre disponíveis, regularmente, em novas edições beneficiadas pelos avanços tecnológicos de reprodução e impressão.
No mundo real em que vivemos, está de novo disponível Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos (belíssimo título!), um dos grandes livros nacionais aos quadradinhos - embora eles sejam raros nas suas páginas…

Obra única, de uma modernidade que se continua a afirmar duas décadas depois, surge numa nova edição, um pouco maior, em capa dura com nova ilustração, com melhor papel e um conjunto de esboços, desenhos preparatórios, páginas do guião e uma consistente entrevista de André Oliveira aos dois autores, que ajuda a contextualizar a obra no seu tempo - se bem que o tempo dela continue a ser este.

E um pormenor que não é de somenos importância: o acrescentar de uma frase à obra que, não mudando nada de substancial, lhe confere um outro sentido - e aos leitores outro sentimento.

E se Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos mantém hoje toda a modernidade, actualidade e prazer de leitura, sem que se note a passagem do tempo, penso que posso dizer o mesmo do texto que na época da primeira edição, então pela Polvo, publiquei no Jornal de Notícias de 12 de Dezembro de 2000, que reproduzo parcialmente já a seguir:


[Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos] ‘...para além de ter um belo título, é um relato com uma expressividade e um realismo poucas vezes vistos entre nós.

Como pretexto, a história de um casal de artistas: ela, pintora em busca de mecenas; ele (candidato a) escritor, em busca de editor para o seu romance, e de inspiração para uma banda desenhada. Inspiração que acaba por encontrar na sua própria vivência, numa óbvia mas bem sustentada referência a um dos caminhos - a temática autobiográfica - mais usado pela BD alternativa contemporânea.

O motivo real desta intensa história de Pedro Brito, simultaneamente sensível e violenta, é uma reflexão sobre a convivência dos casais e a falibilidade das relações, quando a felicidade existente é superada pelos conflitos criados pela incapacidade de aceitação das diferenças, trocada pelo desejo de incertas carreiras e pela perseguição de sonhos que, normalmente, não passam disso, embora o autor sugira (sonhando?) o contrário.

João Fazenda, o desenhador, nascido em Lisboa há 21 anos, complementa um traço fino, quase só esboço, com elegantes pinceladas de vermelho que dão cor, volume e substância ao desenho (…) O seu traço ‘inacabado’ retrata na perfeição a busca , a insegurança e a incerteza dos protagonistas que perpassa por toda a narrativa, bem como o lado onírico de algumas sequências.’


Tu és a mulher da minha vida, ela a mulher dos meus sonhos
Pedro Brito (argumento)
João Fazenda (desenho)
Portugal, Outubro de 2021
180 x 250 mm, 120., preto, branco e vermelho, capa dura
17,00 €

(imagens disponibilizadas pela Comic Heart e A Seita; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui mostradas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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