Loopings
Voar
é desde sempre um dos grandes sonhos da humanidade. Olhando para as
aves no céu, logo
os
primeiros homens desejaram imitá-las.
Ícaro
pagou com a vida a sua ambição; pioneiros
sonhadores e destemidos criaram os primeiros engenhos voadores. Hoje,
qualquer um de nós, gostaria de poder deixar o carro parado e
simplesmente saltar pela janela e voar rumo ao infinito - ou mais
além… - ou simplesmente ir até ao trabalho ou à pastelaria do
bairro sem trânsito nem
confusões, acima
da poluição
que
domina as
cidades.
Mas
tudo não passa de sonhos e/ou as coisas não são assim tão
simples. Álvaro e José Pinto Carneiro primam por transformar esse
sonho num
pesadelo.
Lançado por alturas do Amadora BD 2021, este Homem Voador compila as pranchas, tiras e ilustrações inicialmente publicadas online. Esse é o seu principal defeito, já que a narrativa inicial, que parecia apontar para uma história com princípio, meio e fim, aos poucos vai-se perdendo e dispersando, e a série transforma-se numa série de tiras ou meias páginas soltas, em torno do protagonista, das suas habilidades - ou da falta delas. Não sendo grave numa publicação online que se adivinha de periodicidade (ir)regular e consulta ocasional, em livro torna-se notório, perdendo alguma da unidade que se adivinhava.
Como contrapartida, algumas dessas tiras e pranchas só poderiam existir de forma autónoma e seria uma pena não terem sido criadas/editadas. A meio caminho, quanto mais não fosse para esta publicação em livro, poderiam - parece-me a mim - ter sido reordenadas, com uma sequência longa mais homogénea e o restante material à parte dela. Mas isto são divagações minhas.
Por isso, volto um pouco atrás, ao ponto por onde poderia - deveria? - ter começado. Esta é a história de um típico funcionário das Finanças que um dia, movido pelo seu bom coração, decide levar para casa um típico cãozinho que encontra na rua.
Só que, apesar de aparentemente típico, o quadrúpede não é bem o que parece e, para além da capacidade de falar, decide compensar o seu benfeitor com a realização de um desejo. Parvamente - como irá descobrir - o homem decide pedir a capacidade de voar, abrindo a janela a um sem número de problemas que, mais do que a opressão sobre os funcionários públicos ou a alienação dos adolescentes, passam pela proibição de percorrer os ares sem licença à inexistência destas para ‘homens voadores’, ou pela descrença - e desinteresse - da mulher e da filha, às tentativas de abate por parte da CIA. Deste modo, a sua vida dá, não uma volta, mas antes uma série de loopings, ficando completamente algures entre de pernas para o ar e com a cabeça nas nuvens.
Bem disposto, muito divertido, surpreendente e com uma boa dose de absurdo, com algumas das piadas com destinatários reconhecíveis e outras impagavelmente universais, contando para mais com a participação benevolente - e involuntária… - de alguns dos mais conhecidos super-heróis do planeta, este Homem Voador, que nos é servido com o traço ágil, dinâmico e nervoso de Álvaro, embora comece por parecer um tiro nos sonhos mais profundos do ser humano, acaba por revelar todas as potencialidades - uma, invejável, pelo menos - de poder voar como os pássaros - ou pelo menos poder deslocar-se acima do chão.
Homem
Voador
José
Pinto Carneiro (argumento)
Álvaro
(desenho)
Insónia
Portugal,
Setembro
de 2021
240
x 170
mm, 64
p., pb, capa cartão
11,00
€
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui mostradas para as aproveitar em toda a sua extensão)
Sem comentários:
Enviar um comentário