Oásis
Podia ter terminado o ano - e muito bem - com o Family Tree de ontem, mas a verdade é que neste ano se acentuou a minha necessidade de, pontualmente, mergulhar nestes oásis de genuína ingenuidade e génio narrativo que são as grandes séries clássicas franco-belgas, por isso esta opção por este volume integral de Benoîr Brisefer para fechar o ano aqui em As Leituras do Pedro, no que às análises de obras diz respeito.
Numa época em que o politicamente correcto mutila, limita e retrai autores e editoras, é um prazer ver um herói a mentir a todos os que o rodeiam ou uma velhinha a ser sucessivamente espancada, sem sucessivos pedidos de esculpas, mas apenas e tão só porque, narrativamente, isso funciona e é necessário. Mesmo que obviamente escrito assim possa soar bem pior do que é…!
Benoît Brisefer é um miúdo com uns 6/8 anos, sempre de boina preta e cachecol azul, que tem super-força, conseguindo também dar enormes saltos ou correr a grande velocidade… excepto quando está constipado. Escondendo as suas capacidades daqueles que lhe são mais próximos, a sua vontade de ajudar os outros acaba por o meter em sarilhos - e em investigações em que supera a polícia de Vivejoie-la-Grande, onde habita.
[Estreado em Portugal na Pisca-Pisca, e com passagens pela Nau Catrineta, Jacaré e dois álbuns da União Gráfíca, no nosso país foi rebaptizado como Kim Kebranoz 0u João Valentão. Para além de duas histórias curtas, foram cá editados os três álbuns que compõem este integral. A título de curiosidade, adianto que no primeiro álbum da série, Les Taxis Rouges, o herói tem uma passagem - breve de 5 tiras - por terras lusas]
Nesta obra - como em tantas outras da época - é notória uma espontaneidade, um humor e um sentido na narrativa exemplares, o que comprovam o génio de Peyo - já às voltas com os Schtroumpfs quando criou este ‘super-herói’, o que justifica outro dos motivos de interesse das obras desta época: a cooperação entre os (grandes) autores de então.
Na verdade, em Les Taxis Rouges, o criador da série escreveu o argumento e desenhou as personagens - que até foram originalmente esboçadas por Franquin! - cabendo o desenho dos cenários a Gos. Já em Madame Adolphine, estes últimos foram entregues ao cuidado de Will, enquanto que na terceira narrativa longa, Les Douze Travaux de Benoît Brisefer, Peyo teve a colaboração de Delporte no argumento e de Whaltéry no desenho. Equipas criativas fantásticas, portanto, o que se reflecte inevitavelmente na qualidade final da obra - mesmo que originalmente apenas o nome de Peyo surgisse nas revistas e álbuns...
Aventuras movimentadas, plenas de acção, surpresas e um delicioso sentido de humor, terão sempre um sabor nostálgico mesmo para quem só as descobrir agora, bem como algumas marcas - ligeiras - da passagem do tempo, o que só vinca e comprova o epíteto de clássicas que é normal associar-lhes.
Benoît Brisefer L’Intégrale 1
Peyo e Yvan Delporte (argumento)
Peyo, Gos, Will e François Whaltéry (desenho)
Le Lombard
França, Abril de 2018
218
x 300
mm, 224
p., cor, capa cartão
ISBN: 9782803671717
25,50 €
(imagens disponibilizadas pela Le Lombard; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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