28/12/2021

Family Tree

A narrativa, senhores...




Chegado a este Family Tree com o mínimo de informação que, nos dias de hoje, as redes sociais e a circulação de informação permite, cheguei ao fim da leitura com a confirmação de algo que há muito defendo: muitas vezes, a forma como é contada, é mais importante que a história.
E, sem dúvida, Jeff Lemire é um narrador por excelência.

Até me podem dizer - de forma crua mas realista - que neste livro, acontece pouco e as respostas dadas ficam aquém das (minhas?) expectativas levantadas pelo conceito, mas a premissa de base, o ritmo imposto, com saltos constantes entre o passado e o presente, as sucessivas surpresas, a adrenalina a rodos provocada pelas muitas perseguições e confrontos, o elevado nível a que chegam as emoções, compensam - e concordo que este termo soa muito redutor… - largamente o que apontei antes.

Porque, reforço, Jeff Lemire é um narrador por excelência e a forma como nos leva do ponto A ao B - do início do livro ao seu final, o que neste caso não é equivalente a levar-nos do início ao fim da história… - é que nos seduz, alicia e enche os nossos corações de leitores compulsivos e empedernidos - e dos outros também…

Na origem de Family Tree está uma curiosa malformação que afecta alguns humanos, cujos corpos progressivamente vão assumindo outra forma, sendo por isso perseguidos por uma grupo apostado em evitar ‘a destruição da humanidade’. Centrada em 5 pessoas da mesma família (completamente desagregada, que a situação vai aproximar): o avô, o pai e a mãe e dois filhos, afectados ou não e em diferentes graus pelo fenómeno, a obra relata a sua fuga dos perseguidores e a sua adaptação à ‘nova realidade’, num tom que a espaços se assemelha muito a um road movie.

Se para alguns esta pode ser uma narrativa p-ecologista com foco na revolta da natureza contra a humanidade, prefiro lê-la apenas como uma bela história de acção, em que o momento e as situações limite realçam o melhor - ou o pior… - de cada um.


Family tree?

Percebo a manutenção do título original - e a dificuldade de o traduzir de forma apelativa ou subsequentemente intrigante para português - mas numa altura em que qualquer edição nacional rapidamente ‘atrai como moscas’ as edições originais em determinada cadeia de livrarias - a FNAC - não haver na capa nada que identifique a edição como sendo em português parece-me um erro de marketing e um fechar da porta a vendas superiores.


Family Tree

Jeff Lemire (argumento)

Phil Hester, Eric Gapstur e Ryan Cody (desenho)

G. Floy

Portugal, Dezembro de 2021

190 x 280 mm, 292 p., cor, capa cartão

32,00 €

(imagens disponibilizadas pela G. Floy; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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