09/05/2018

Dragomante: Fogo de Dragão


Ser comercial




Com o mercado português de BD dinâmico e diversificado como nunca antes se tinha visto, é normal que surjam obras como esta, 'representativas' daquilo a que poderíamos chamar - sem qualquer desprimor - de 'banda desenhada portuguesa comercial e popular'.

Um tipo de obras que, por diversas razões - desde a dimensão do mercado aos custos financeiros da edição nacional, passando pela predisposição (natural ou forçada) dos autores para outras temáticas (históricas, didácticas, autorais...) - foram sempre residuais no que à edição de álbuns no nosso país diz respeito.
[E faço aqui um parêntesis para reforçar que não tenho nada contra a BD comercial e popular, pelo contrário, acho-a mesmo indispensável para a existência, o crescimento e a sustentação de um mercado.]
Dragomante, assume-se como uma história de 'espada, dragões e feitiçaria', um género com muitos seguidores, numa época e num universo indefinidos, mas com suficientes pontos de contacto com (outr)a(s) realidade(s), para que o leitor tenha referências suficientes. A que acrescem os textos de apoio - algo excessivos, sublinhe-se - (mas) indicadores de que esta história fechada poderá vir a ser a primeira de um universo que se adivinha vasto e com muito por onde crescer. Se vender o suficiente, que é como quem diz, se for comercial q.b., cumprindo aquilo a que se propõe.
Fogo de Dragão é uma história linear, de introdução aos protagonistas e ao universo, curiosamente desenvolvida a partir do traço e não do texto (!), equilibrada nas suas doses de acção, tensão e suspense, que dá ao leitor o que ele deseja - uns momentos (que sabem a pouco...) de distracção - com um ou outro pormenor curioso e/ou original, assinada por dois autores à vontade dentro deste género - Filipe Faria é o romancista de As Crónicas de Allarya, de Manuel Morgado falo já a seguir - que poderão fazer Dragomante crescer e evoluir, assim haja continuidade.
A edição Comic Heart/G.Floy, com bom papel, boa impressão, no formato deluxe desta última e a inclusão de um curto dossier de extras, valoriza o conjunto e torna a obra mais apetecível.

P.S. - A comparação é inevitável. Desenhado em paralelo com Greldínard, uma derivação do universo de Les Arcanes de La Lune Noire, (primeira) colaboração de 2017 de Manuel Morgado para a Dargaud (já com continuação assinada), Dragomante vence - (mais do que) aos pontos - graficamente. A planificação é mais legível (a francesa é do argumentista), o colorido mais agradável e contido, a impressão menos brilhante (berrante) e o traço beneficiou da experiência já adquirida, com melhorias (a aprofundar em trabalhos futuros) ao nível da expressividade e a dinâmica. Vantagem (no caso presente, nem sempre é assim...) da mesma pessoa - Morgado - ter assumido tudo nesta edição nacional.

Dragomante: Fogo de Dragão
Filipe Faria (argumento)
Manuel Morgado (desenho)
Comic Heart
Portugal, Março de 2018
210 x 270 mm, 56 p., cor, capa dura
13,00 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

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