Depois de J.Kendall #104: Sem remorsos e de The WalkingDead #7: A calma antes, volto (ainda) mais uma vez, fortuitamente, sem o
ter agendado, à questão da construção das histórias.
Desta vez, para responder à pergunta que,
possivelmente, muitos leitores de BD já (se) colocaram: quando inicia o seu
trabalho, o argumentista sabe como vai conduzir a narrativa até ao final em que
pensou?
A resposta – uma das respostas possíveis – já a
seguir.
Frequentemente leio entrevistas em que os
autores afirmam que durante o processo criativo foram introduzindo alterações –
por vezes significativas – em relação à ideia original.
Isso, possivelmente, será mais frequente quando
quem escreve o faz para mais de um desenhador em simultâneo ou quando o tempo
expectável entre o início do desenho da história e o seu término é longo. É o
caso das edições da casa Bonelli, cujas aventuras de mais de uma centena de
pranchas levam vários meses a ser desenhadas.
Nalguns casos – atrevo-me a escrever quase
sempre – raramente os desenhadores recebem de uma só vez o argumento. Dessa
forma, apesar de haver uma ideia base definida, o argumentista, ao escrever o
relato, poderá introduzir inflexões, novos desenvolvimentos e/ou personagens.
Mas – escrevo convictamente – poucas vezes tal
terá sido tão notório (para mim, pelo menos) como no caso deste Ópio!, neste momento à venda em Portugal
A trama é fácil de introduzir: um casal de
actores ambulantes, responsável pela distribuição de ópio de cidade em cidade,
mata o ranger que os investiga, provocando a entrada em cena de Tex Willer e
Kit Carson.
Em fuga, chegam a Montrose, onde apresentam o
seu relatório ao chefe dos traficantes, um chinês sanguinário que tem contas a
ajustar com a dupla de rangers e que de imediato prepara uma armadilha para os
fazer desaparecer. O confronto parece inevitável e a própria capa (anterior à
conclusão da história?) aponta claramente para isso
Só que entra então em cena (literalmente…) a mudança
em relação à ideia original: um acontecimento inesperado tem lugar em palco
durante a apresentação da companhia ambulante, o que leva a completa alteração
dos planos. De Nizzi, do mandante da armadilha, dos responsáveis pelo tráfico.
O que faz com que a história, que ao western
tradicional adiciona o envolvimento romântico de alguns dos protagonistas e um
tom dramático adequado ao meio teatral em que maioritariamente decorre, prossiga
por rumo claramente diverso.
Coerente e credível, face aos pressupostos
iniciais? Sem dúvida.
Melhor ou pior do que o que estava inicialmente
traçado? Nunca o saberemos.
Nizzi (argumento)
Venturi (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Julho de 2013
135 x 175 mm, 160 p., pb,
brochado, R$ 16,40 / 8,00 €
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