30/04/2014

Ojo de Halcón: Pequeños aciertos








Geralmente dinâmicos, muitas vezes espectaculares, os comics de super-heróis, em termos gráficos, poucas vezes têm explorado a diferença e a inovação.
O arco de Hawkeye (ou Gavião Arqueiro ou Ojo de Halcón) iniciado com Matt Fraction e David Aja, é um desses casos raros que – surpreendentemente para mim – até tem tido bem aceite.
Os porquês do que atrás fica escrito vêm já a seguir.

Vamos por partes. Acho surpreendente este sucesso – merecido em meu entender - porque os comics de super-heróis são produzidos ‘industrialmente’ – com tudo o que isso tem de bom e de mau – para uma grande faixa de leitores, que procura aquilo a que está habituado, bem mais do que a diferença ou a inovação.
Evidentemente, no grande grupo dos que lêem super-heróis, há franjas de leitores receptivos a outras propostas – e é isso que tem garantido a existência recorrente de obras ‘marginais’ como este Hawkeye para o qual, em termos gráficos, só encontro paralelo no Batman: Ano  Um, escrito por Frank Miller e desenhado por um outro David, no caso o Mazzucchelli.
Claro está, este ciclo de um super-herói que foi de alguma forma recuperado – e subiu de divisão – à custa das recentes versões cinematográficas dos Vingadores – apenas continua (a fazer sentido) porque intrinsecamente vale mais do que a sua inovação gráfica.
A abordagem de Matt Fraction é feita em torno de Clint Barton - a identidade (não muito) secreta – de Hawkeye, ou seja, centrando-se no seu quotidiano humano. Aliás, para quem desconhecesse a origem super-heróica do protagonista, este volume – que compila os comics #7 a #12 e o anual #1 da versão americana – poderia quase passar por banda desenhada de autor – na sua concepção mais alargada – pois se é verdade que existem Vingadores e uma ou outra cena um pouco mais dinâmica e extraordinária – a verdade é que são os problemas rotineiros de Barton e o seu relacionamento com os que lhe são mais próximos que imperam nas narrativas.
Fraction – como já fizera, por exemplo, em Casanova: Lujúria – demonstra por vezes algumas falhas na explanação das suas histórias, que obrigam o leitor a atenção redobrada (o que por si só estaria longe de ser mau) e a voltar atrás, por vezes, para encaixar peças que pareciam desgarradas. Apesar disso, a forma como vai construindo o (pequeno) mundo de Barton – e também de Kate Bishop (uma outra Hawkeye) - é mais do que suficientemente atractiva para cativar o leitor, com uma série de pormenores que se revelam bem gratificantes.
O grafismo do espanhol, David Aja, uma linha clara, de cores lisas, de traço bem depurado e planificação baseada em múltiplas vinhetas, se é instantaneamente agradável – digo eu  – obriga a uma leitura diferente, mais atenta e participativa do que as narrativas de super-heróis de traço mais ‘tradicional’.
Aja, neste volume nalgumas das narrativas cede os lápis a outros autores, com traços distintos e individualmente reconhecíveis que, se mantêm a série no caminho da diferença, nalguns casos tornam esta menos notória.
É o caso de Steve Liber, cujo desenho é mais realista e duro – e os tons que lhe aplicam mais sombrios que os que servem o de Aja – e de Francesco Francavilla, que acentua ainda mais as características de Liber. Quanto a Javier Pulido, finalmente, é o que mais se aproxima do original de Aja. Do conjunto, fica a sensação de que as escolhas foram feitas em função do tom narrativo pretendo, o que só abona em favor de um dos mais interessantes comics de super-heróis – e autorais… – do momento.
Uma referência final para Lo mío es la pizza (Hawkeye vol. 4, #11), uma narrativa completamente muda, apresentada sob o ponto de vista de Fortu, o cão de Barton, em que o traço de david Aja brilha em grande estilo.
E que é mais um motivo para justificar que se espreite este Pequeños Aciertos, espreitadela após a qual – estou certo – não serão capazes de largar o volume até o lerem integralmente, tal como aconteceu comigo…

Coléccion 100 %
Ojo de Halcón: Pequeños aciertos
Matt Fraction (argumento)
David Aja, Steve Liber, Francesco Francavilla e Javier Pulido (desenho)
Matt Hollingsworth e Francesco Francavilla (cor)
Panini Comics
Espanha, Março de 2014
170 x 260 mm, 144 p., cor, brochada com badanas
14,50 €

3 comentários:

  1. Pedro, trata-se de uma edição original espanhola? Ou, sendo americana, qual é o original? Thks

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    Respostas
    1. Olá RC,
      Não, a edição original é americana.
      Podes ver o volume #1 do Hawkeye do Fraction e do Aja aqui: http://marvel.com/comics/collection/47490/hawkeye_vol_1_hc_hardcover

      Boas leituras!

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    2. Anónimo2/5/14 16:09

      Este equivale ao segundo volume da edição americana por isso não sei se a edição espanhola é igual há americana mas acho que ainda te falta ler o primeiro volume .
      O link que envias-te equivale a um volume HC que junta o primeiro e o segundo livros já lançados .
      Este é o primeiro volume:
      http://www.amazon.com/Hawkeye-Vol-Life-Weapon-Marvel/dp/0785165622/ref=tmm_pap_title_0?ie=UTF8&qid=1399043286&sr=8-3

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