Geralmente dinâmicos, muitas vezes espectaculares, os comics
de super-heróis, em termos gráficos, poucas vezes têm explorado a diferença e a
inovação.
O arco de Hawkeye (ou Gavião Arqueiro ou Ojo de Halcón)
iniciado com Matt Fraction e David Aja, é um desses casos raros que –
surpreendentemente para mim – até tem tido bem aceite.
Os porquês do que atrás fica escrito vêm já a seguir.
Vamos por partes. Acho surpreendente este sucesso – merecido
em meu entender - porque os comics de super-heróis são produzidos ‘industrialmente’
– com tudo o que isso tem de bom e de mau – para uma grande faixa de leitores,
que procura aquilo a que está habituado, bem mais do que a diferença ou a
inovação.
Evidentemente, no grande grupo dos que lêem super-heróis, há
franjas de leitores receptivos a outras propostas – e é isso que tem garantido
a existência recorrente de obras ‘marginais’ como este Hawkeye para o qual, em
termos gráficos, só encontro paralelo no Batman:
Ano Um, escrito por Frank Miller e
desenhado por um outro David, no caso o Mazzucchelli.
Claro está, este ciclo de um super-herói que foi de alguma
forma recuperado – e subiu de divisão – à custa das recentes versões
cinematográficas dos Vingadores – apenas continua (a fazer sentido) porque
intrinsecamente vale mais do que a sua inovação gráfica.
A abordagem de Matt Fraction é feita em torno de Clint
Barton - a identidade (não muito) secreta – de Hawkeye, ou seja, centrando-se
no seu quotidiano humano. Aliás, para quem desconhecesse a origem super-heróica
do protagonista, este volume – que compila os comics #7 a #12 e o anual #1 da
versão americana – poderia quase passar por banda desenhada de autor – na sua
concepção mais alargada – pois se é verdade que existem Vingadores e uma ou outra
cena um pouco mais dinâmica e extraordinária – a verdade é que são os problemas
rotineiros de Barton e o seu relacionamento com os que lhe são mais próximos
que imperam nas narrativas.
Fraction – como já fizera, por exemplo, em Casanova: Lujúria – demonstra por vezes algumas falhas na explanação das suas histórias, que
obrigam o leitor a atenção redobrada (o que por si só estaria longe de ser mau)
e a voltar atrás, por vezes, para encaixar peças que pareciam desgarradas.
Apesar disso, a forma como vai construindo o (pequeno) mundo de Barton – e também
de Kate Bishop (uma outra Hawkeye) - é mais do que suficientemente atractiva
para cativar o leitor, com uma série de pormenores que se revelam bem
gratificantes.
O grafismo do espanhol, David Aja, uma linha clara, de cores
lisas, de traço bem depurado e planificação baseada em múltiplas vinhetas, se é
instantaneamente agradável – digo eu –
obriga a uma leitura diferente, mais atenta e participativa do que as
narrativas de super-heróis de traço mais ‘tradicional’.
Aja, neste volume nalgumas das narrativas cede os lápis a
outros autores, com traços distintos e individualmente reconhecíveis que, se
mantêm a série no caminho da diferença, nalguns casos tornam esta menos notória.
É o caso de Steve Liber, cujo desenho é mais realista e duro
– e os tons que lhe aplicam mais sombrios que os que servem o de Aja – e de Francesco
Francavilla, que acentua ainda mais as características de Liber. Quanto a Javier
Pulido, finalmente, é o que mais se aproxima do original de Aja. Do conjunto,
fica a sensação de que as escolhas foram feitas em função do tom narrativo
pretendo, o que só abona em favor de um dos mais interessantes comics de
super-heróis – e autorais… – do momento.
Uma referência final para Lo mío es la pizza (Hawkeye vol. 4, #11), uma narrativa
completamente muda, apresentada sob o ponto de vista de Fortu, o cão de Barton,
em que o traço de david Aja brilha em grande estilo.
E que é mais um motivo para justificar que se espreite este Pequeños Aciertos, espreitadela após a
qual – estou certo – não serão capazes de largar o volume até o lerem
integralmente, tal como aconteceu comigo…
Coléccion 100 %
Ojo de Halcón: Pequeños aciertos
Matt Fraction (argumento)
David Aja, Steve Liber, Francesco Francavilla e Javier Pulido (desenho)
Matt Hollingsworth e Francesco Francavilla (cor)
Panini Comics
Espanha, Março de 2014
170 x 260 mm, 144 p., cor, brochada com badanas
14,50 €
Pedro, trata-se de uma edição original espanhola? Ou, sendo americana, qual é o original? Thks
ResponderEliminarOlá RC,
EliminarNão, a edição original é americana.
Podes ver o volume #1 do Hawkeye do Fraction e do Aja aqui: http://marvel.com/comics/collection/47490/hawkeye_vol_1_hc_hardcover
Boas leituras!
Este equivale ao segundo volume da edição americana por isso não sei se a edição espanhola é igual há americana mas acho que ainda te falta ler o primeiro volume .
EliminarO link que envias-te equivale a um volume HC que junta o primeiro e o segundo livros já lançados .
Este é o primeiro volume:
http://www.amazon.com/Hawkeye-Vol-Life-Weapon-Marvel/dp/0785165622/ref=tmm_pap_title_0?ie=UTF8&qid=1399043286&sr=8-3