Estreia amanhã nas salas portuguesas o filme Noé que -
muitos não saberão – tem como ponto de partida a banda desenhada homónima.
Esta, apresenta como curiosidade ter sido foi escrita por Daren
Aronofsky, realizador do filme, que encontrou (primeiramente) na BD – e numa
editora francófona – o meio para narrar uma história que há muito o
acompanhava.
Já a seguir, descubram como Aronofsky (em parceria com Ari
Handel) fez do relato bíblico um épico com uma nova dimensão humana.
Suponho que a história de Noé é conhecida – ainda que
superficialmente - de todos: perante a maldade do mundo, Deus ordenou ao
patriarca que construísse uma enorme arca, onde deveria entrar com a sua
família e dois animais de cada espécie, para assegurar a sua sobrevivência
quando o dilúvio se abatesse sobre a terra.
Ele assim fez e, durante 40 dias e 40 noites não parou de
chover, até que todos os continentes ficaram submersos e toda a vida no
exterior da arca foi extinta, possibilitando um novo recomeço para a criação.
A esta base, seguida de perto, os argumentistas conferiram
um curioso tom ecologista e, mais ainda, uma enorme dimensão humana.
Desde logo porque esvazia bastante a questão teológica – Noé
não recebe as ordens directamente de Deus, tem visões que, na sua humanidade
falível, deve interpretar.
Mas, mais do que isso, Noé é assolado por sucessivas dúvidas,
de quem deve conhecer a tragédia que está para vir à construção da arca, de
quem nela deve entrar a – até – a quem dela deve sair…
Pelo meio, tem que enfrentar o tirano local, que primeiro
tenta assassina-lo porque sente que a sua mensagem pode erodir o seu poder,
depois quando, perante as evidências que confirmam a mensagem de Noé, tenta
tomar a arca à força.
Subjugado pelo fardo imenso do conhecimento que retém, das
decisões que deve tomar, das escolhas que está obrigado a fazer, o protagonista
tem opções que parecem raiar a loucura – ou pelo menos o fanatismo e que, na
prática, ameaçam pôr em causa o objectivo primário da arca.
É no periclitante equilíbrio entre a missão – sobrenatural?
- que é conferida a Noé e a sua falibilidade humana que a narrativa ganha um
tom épico e entusiasmante, deixando o leitor suspenso do desfecho que,
evidentemente, não vou aqui adiantar.
Inicialmente publicado em quatro álbuns, agora compilados
num único volume integral, Noé conta com o traço inspirado do canadiano Niko
Henrichon, que os portugueses conhecem do magnífico Fábula de Bagdad.
O seu desenho em Noé não é tão cuidado e belo como naquele livro, antes assume
um tom mais duro, mais agreste, muitas vezes mais selvagem, adequando-se ao tom
da obra e contribuindo decisivamente para o arrebatamento que ela provoca.
Noé
L’Intégrale
Daren Aronofsky e Ari Andel (argumento)
Niko Henrichon (desenho)
Le Lombard
Bélgica, 14 de Março de 2014
222 x 295 mm, 264 p., cor, cartonado, 29,90 €
Olá Pedro!
ResponderEliminarOnde conseguiste encontrar esse exemplar cá em Portugal?
Obrigado.
Abraço,
João Eugénio
Olá JOão,
EliminarPodes encomendá-lo na livraria Dr. Kartoon, em Coimbra, ou então através da FNAC ou da Amazon...
Boas leituras!