Esta é uma das mais atípicas histórias de Tex que já tive a
oportunidade de ler.
Por três razões principais, que passo a explicar.
A primeira prende-se com a estrutura do relato. Tex assume o
papel de narrador numa longa descrição/entrevista (abrindo-se com alguma
ingenuidade e demasiada confiança no ser humano?) a um jornalista interessado
em escrever sobre a vida do general Georges Custer, cuja lenda prevaleceu para
além da sua (trágica) morte.
Depois, temos o forte contexto histórico em que decorre a
acção: a (preparação e a) batalha de Little Big Horn onde o general Custer
perdeu a vida juntamente com (quase) todos os homens do 7.º de Cavalaria . Se
em diversas vezes Tex, Carson e os restantes parceiros se cruzaram com a
realidade, raramente – nunca? – uma aventura de Tex seguiu de tão perto essa
realidade, interagindo com ela mas, naturalmente, sem a alterar de forma
significativa.
Desta forma, descobrimos que Tex esteve em contacto com
Custer várias vezes ao longo das semanas que antecederam o seu confronto com os
índios de Cavalo Louco e fez os possíveis e impossíveis para que ele não
tivesse lugar.
O que, naturalmente, não conseguiu, o que nos leva ao
terceiro aspecto saliente desta aventura. Se estamos habituados a um Tex
dominador, que controla os acontecimentos – e quantas vezes os força – desta
vez, ele pouco mais é que um mero peão, impotente para travar o rumo dos
acontecimentos, várias vezes ultrapassado por eles e, qual joguete do destino,
correndo de uns para outros, atrás de objectivos que se revelam inalcançáveis.
Mas, mesmo assim, desta forma, Nizzi escreveu uma bela
narrativa sobre uma das mais trágicas páginas da História do Oeste, conseguindo
inserir nela Tex e Carson sem de forma alguma beliscar a realidade que já
conhecíamos.
Ao mesmo tempo, traça de Custer – o verdadeiro protagonista
de uma longa narrativa com várias figuras secundárias mas fundamentais – um
retrato que o mostra como um homem (demasiado) ambicioso, surdo à voz da razão,
disposto a tudo para conseguir os objectivos que se propôs (e que, segundo
Nizzi, passavam pela presidência dos EUA). Desta forma, se é verdade que o
desvia da imagem heróica que habitualmente lhe associamos, mostra-o bem mais
humano e, no fundo, bem menos poderoso do que se julgava, como a História se
encarregou (tragicamente) de provar.
A Morte do General Custer
Originalmente
publicada em Tex #490 a #492 (Itália, 2001)
Claudio Nizzi (argumento)
Ticci (desenho)
Mythos Editora
Brasil, Setembro de 2015
135 x 210 mm, 330 p., pb, capa mole
R$ 23,40 / 11,00 €
(Clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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