Talvez este seja - é pelo menos um deles - o livro que
melhor se adequa ao título (im)posto a esta colecção - Novela
Gráfica - porque, ao contrário do que seria expectável, não apresenta um
(único) romance (que bem que soa assim!) gráfico, mas sim cinco contos
(novelas?) curtos (para os padrões asiáticos).
O que até é questionável depois do bem
recebido e muito
aconselhável O Diário do meu Pai,
na colecção
Novela Gráfica de 2015, porque, o autor tinha outros livros/romances
longos, desde logo o (igualmente) notável Quartier
Lontain ou Le ciel radieux.
Mas, se reconheço o eventual risco da actual opção, ele é claramente
atenuado pela ligação entre os diversos contos, nos quais vamos acompanhando o
quotidiano de um casal que mora nos subúrbios de Tóquio, numa zona que acaba
por ser um pequeno paraíso rural nas proximidades da metrópole.
Os meses finais do seu velho cão, a adopção de uma gata, o
nascimento dos seus primeiros gatinhos, a renovação das rotinas com a chegada
inesperada de uma sobrinha adolescente são os temas que mostram - mais uma vez -
Taniguchi como um atento observador do quotidiano e, mais do que isso, como um
cronista excepcional dos pequenos nadas que enchem e tornam bem sucedidas as
vidas.
Ternos, calmos, repousantes - aqui e ali um pouco lamechas,
concedo, como a vida por vezes é - os quatro contos iniciais traçam um retrato
não perfeito mas verosímil e apetecível da vida em família e parecem capazes de
nos fazer esquecer o que o ser humano tem de mau e egoísta e de nos levar a acreditar
um pouco mais nele.
O último conto, de um alpinista face à irresistível chamada
das imensidões geladas do Annapurna, para além do corte (quase) radical
temático com os anteriores - a vida familiar aparece, apesar de tudo, como o
principal ponto de contacto - até pelo aspecto simbólico, quase místico, que o
leopardo das neves assume nele, aborda outra das paixões do autor japonês: o
alpinismo, embora, sempre, sob o prisma da vontade de superação e da capacidade
de adaptação e de relacionamento do ser humano.
Jiro Taniguchi
Levoir/Público
Portugal, 23 de Junho
de 2016
176 p., pb, capa dura
9,90 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as apreciar em toda a sua extensão)
A sério que ainda há bocas sobre o "romance gráfico"? Epá desculpem lá que não tenha pegado... Ficou novela gráfica. Se calhar já chega de mandar barra à parede a ver se cola. Há uma altura em que temos de ultrapassar as nossas frustações. Já é tempo de deixar de estrebuchar com o termo novela gráfica e com o Euro 2004.
ResponderEliminarRomance gráfico, novela gráfica... São termos politicamente correctos inventados pela "nata intelectual" que procura assim distanciar-se de um género que considera pueril e indigno, sem deixar de ceder à hipocrisia de, na realidade, o apreciar.
EliminarQue Deus não permita que a banda desenhada possa ser considerada como uma forma de arte literária ou artística, mas já uma novela gráfica...
Enfim, para mim, "V de Vingança" (de que gosto) ou "Terra dos Sonhos" (que não me desperta o mínimo interesse), ou os restantes títulos desta colecção, são banda desenhada, e pronto!!!
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarConcordo inteiramente. Os termos conto, novela, romance fazem sentido em literatura porque se relacionam com o numero de palavras (e não de páginas). Em banda desenhada, começaram a utilizar o termo graphic novel nos estados unidos porque a banda desenhada por lá era só para miudos e era considerada uma arte menor (até o próprio nome em inglês diz tudo, ''comics'') e houve essa necessidade de criar um termo para fazer uma distinção quando começaram a aparecer obras mais maduras e complexas. Mas a verdade é que paises sem esse tipo de complexos (frança, belgica, japão, por exemplo) não fazem essas distinções. Percebo a lógica de dar este nome a esta coleção mas espero bem que os fãs de bd em Portugal não criem os complexos dos americanos. Tenho 38 anos, gosto de banda desenhada. Quero ler contos, novelas ou romances, procuro em literatura.
EliminarSou fiel às minhas batalhas, Adriana. Sei que não cola, mas gosto de dar alfinetadas! ;)
EliminarDigital, Eskorpiao77, sei que o termo teve uma génese específica e foi de alguma forma popularizado por Will Eisner, mas já faz parte do vocabulário de muita gente. tal como banda desenhada, muito conteestado quando surgiu por quem utilizava histórias aos quadradinhos...
É evolução cultural...
mas, plenamente de acordo. É tudo banda desenhada. tal como quando se utiliza manga, tebeos, fumetti ou comics para designar mais a origem do que o tipo de narrativa...
Boas leituras!
Ontem li este em espanhol, para ver se comprava hoje ou não. Apenas gostei da primeira história (1 de 5), pelo que decidi não comprar. Este está longe da qualidade do Diário do meu Pai. Mas este é que o Taniguchi habitual, com pouco interesse, O Diário é que é excepção.
ResponderEliminarTambém já tinha passado o V, não por não ser excelente, mas porque já tenho em inglês, que prefiro.
Assim na próxima semana vou comppar o meu primeiro desta série, o novo do Prado.
O diário do meu pai foi o livro que mais gostei da primeira colecção e, por isso, estava com espectativas altas para este. Depois do teu comentário, só me resta esperar que seja só uma questão de gosto pessoal senão vai ser um desilusão :)
EliminarPode ser só meu gosto, porque o Taniguchi tem grande clientela, eu é que não gosto. Muita contemplação e muita lamechice, e eu não gosto nada de BD de acção. Mas gostei do Diário.
EliminarDe qualquer modo o assunto das histórias foi também para mim um fator decisivo: duas histórias sobre gatos e (mais) uma sobre alpinismo. A do cão achei comovente.
Concordo com o Anti-herói: este é mais fraco que O Diário do Meu Pai, mas acredito que a temática animalística faça a diferença para muitos leitores.
EliminarO facto de não me identificar com ela. no entanto, não faz com que eu retire mérito ao taniguchi, que é um autor de que gosto bastante e que, para além de O Diário... já me proporcionou horas de magníficas leituras com outras obras.
Boas leituras!
Pedro, o seu livro também deixa ver o que está na página atrás? Fiquei insatisfeito com este livro. O preço não justifica tudo. Os outros livros não tinham uma gramagem de papel tão fraca.
ResponderEliminarOs livros desta segunda série têm EXACTAMENTE o mesmo tipo de papel da primeira colecção de Novelas Gráficas, com a mesma gramagem. Não houve qualquer alteração, de uma colecção para a outra.
ResponderEliminarÉ verdade, fiz a comparação entre o diario do meu pai e este terra de sonhos, e o tipo de papel é o mesmo, em ambos se percebe o que está na pagina contrária. O que mudou foi mesmo o numero de páginas, na primeira serie por 9.90€ compravamos 280 paginas de Taniguchi, agora pelos mesmos 9,90€ trazemos 176 :)
ResponderEliminarO preço é fixo para a colecção... e a BD não se compra à página! Reclamas quando vais ao cinema por o filme só ter 90 minutos, quando já viste pelo mesmo preço outro com 3 horas!? ;)
Eliminar(Nota mental: comparar o número de páginas, a pb e a cores, das duas colecções Novela Gráfica...!) ;)
Boas leituras!
Pedro, eu só fiz uma comparação factual e nada mais. Aliás eu comprei este livro por isso qualquer interpretação de o que disse acima ser uma reclamação é só da responsabilidade de quem a fizer. Cumprimentos.
EliminarFoi só uma brincadeira, Eskorpiao77.
EliminarSe em colecções como as da Marvel e da DC a diminuição do número de páginas tem sido uma realidade - também para fazer face ao aumentos dos custos de papel e impressão, numa colecção com as características desta, é bem mais difícil fazer essa comparação...
Boas leituras!
De facto concordo que este é mais fraco que O Diário do Meu Pai, no entanto na minha modesta opinião é de compra obrigatória, já que o "estilo" do autor é o mesmo - Taniguchi como um atento observador do quotidiano e, mais do que isso, como um cronista excepcional dos pequenos nadas"............
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