Um dos factores comuns a (praticamente) todas* as obras de
Prado, é a crítica social. Mas, possivelmente, ela nunca foi tão dura e
violenta como em Presas Fáceis.
Isso deve-se, creio eu, a diversos aspectos. O mais
importante, a ausência de humor neste livro. Enquanto na maioria da sua obra,
predominava um olhar satírico e mordaz, saliente no absurdo das situações
apresentadas, no humor – quantas vezes negro – dos diálogos e no traço
utilizado, em Presas Fáceis nada
disso está presente.
Depois, há a considerar também a proximidade da situação mostrada
– que se tem multiplicado um pouco por toda a parte, geograficamente falando,
como um dos malefícios da globalização – apresentada de forma crua e despida de
adereços gráficos ou narrativos atenuantes, o que torna mais pungente a denúncia
e o eco dos seus efeitos.
Há ainda o preto e branco, melhor, os (magníficos) cinzentos
que dão corpo à obra, que surge assim aos olhos do leitor despojada da cor, à
imagem das situações que evoca.
Segundo policial da carreira de Prado – se classificarmos desse modo o poético Manuel Montano – Presas
Fáceis é um policial bem construído, uma história de (triste e
inconsequente…) vingança, que parte do aparecimento de sucessivas vítimas
profissionalmente ligadas à banca para uma denúncia premente de um mal social
actual e incontornável, a que as sucessivas crises financeiras e bancárias e a
procura do lucro a qualquer custo pelas instituições a elas ligadas dão corpo.
À parte este ‘acrescento’ de realismo, Pado continua a ser o
autor soberbo que já conhecemos, magnífico no traço personalizado e expressivo,
com uma planificação sóbria mas diversificada e extremamente funcional e, acima
de tudo, mestre na gestão dos diálogos, que combinam os elementos necessários
para o relato avançar com conversas quotidianas, banais e acessórias que
introduzem um elemento extra de credibilidade. Essa credibilidade é reforçada
com outros pormenores ‘quotidianos, banais e acessórios’, sejam eles a
localização em locais reais, apontamentos gráficos espalhados pelas páginas, ou
a verosimilhança dos avanços e recuos da investigação policial.
O leitor não sabe à partida – não deve saber para melhor
usufruir da leitura – mas essa denúncia – violenta, sim, mas também assertiva,
actual e bem direccionada – começa logo no título e na (enigmática) capa, e por
isso aconselho a que, uma vez terminado o livro, voltem ao início e entendam –
então – todo o significado e alcance de ambos.
Nota 1
Há algumas excepções ao que escrevi no início: Manuel Montano, Traço de Giz, De profundis,
Ardálen… Curiosamente – ou talvez não
– as obras mais pessoais e poéticas do autor galego…
Nota 2
Antecipo já as críticas por o livro ‘só’ ter 96 páginas. As
grandes obras não se medem ao metro e poder ler Presas Fáceis em português, menos de dois meses após a edição
original, é também um aspecto a ter em conta. Até porque, se não tivesse sido
incluído nesta colecção, se porventura viesse a ser editado entre nós, duplicaria
certamente de preço.
Presas Fáceis
Miguelanxo Prado
Introdução de Rui
Tavares
Levoir/Público
30 de Junho de 2016
96 p., cinzentos, capa dura
9,90 €
(imagens disponibilizados pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Este comprei logo no dia que saiu, e para compensar não ter comprado nenhum dos anteriores comprei logo dois exemplares um para mim e outro para oferecer a um amigo que não lê BD. Tanto eu como o presenteado já lemos o livro e a gostámos bastante.
ResponderEliminarEste livro era à partida a estrela da coleção, e não desiludiu. Não quer dizer que não possa haver outros melhores na coleção, a ver vamos.
O livro pode dividir-se em duas componentes, o conteúdo central focado nos dramas e moralidades dos famosos processos de lesados bancários, e o suporte usado para a história, que me fez lembrar muito a série televisiva Castle, de que eu era fã e que acabou recentemente. O livro pode por isso agradar por qualquer uma das duas compoennte, ou por ambas.
O único defeito que encontrei foi uma grande gafe na contra-capa: "Prado é um dos maiores autores de banda desenahda espanhola." Correção: Prado é o maior autor de banda desenhada espanhola de sempre, e um dos 10 maiores autores mundiais de smepre, não ficando na parte inferior da lista de 10.
Prado é um grande autor, independentemente das sempre subjectivas listas, Anti-Herói, e este livro magnífico prova-o mais uma vez.
EliminarBoas leituras!
Embora concorde com a observação, há afirmações subjectivas e "excessivamente" peremptórias para se usarem num texto de contracapa que é sempre um texto institucional (ao contrário do que poderia ser um prefácio ou uma crítica), e numa colecção constituída por MUITOS "maiores autores de banda desenhada..." é mais diplomático nunca afirmar que é O maior (até porque temos outro GRANDE autor na colecção, o Paco Roca). Não melindremos os autores desnecessariamente!
ResponderEliminarNinguém vai sair defraudado depois de ler este agradável álbum de banda desenhada. As expetativas estavam todas a top…………………e é natural pois trata-se de um dos melhores autores da 9ª arte da actualidade………………..Prado consegue continuar a contar-nos histórias com o seu magnifico “traço”.
ResponderEliminarÉ uma excelente obra, sem dúvida, Pedro Rita, e um dos grandes títulos desta segunda colecção Novela Gráfica.
ResponderEliminarBoas leituras!