Não vem em livros, mas é do senso comum: quando um filão
está a render, há que o explorar até ao fim – até à exaustão...
Aplicando ao universo dos super-heróis aquela máxima – da
mesma forma que ela é aplicada na TV, no cinema, na literatura… - quando uma
personagem é carismática, está a ter sucesso ou caiu no goto dos leitores, há
que lhe criar um passado, um futuro, até uma(s) vida(s) alternativa(s)…
Se isso é recorrente para os ‘bons’ – conceito cada vez mais
difuso… - também é aplicável aos ‘maus’ – idem, idem, aspas, aspas…
Por isso, no início deste século, quando Joe Quesada assumiu
o controlo da Marvel e desenvolveu o selo Marvel
Knights – (também) para contar histórias mais adultas - um dos projectos
que nasceu – e que teve direito a uma equipa bem cotada - foi esta mini-série
que contou como o imponente Wilson Fisk chegou a ser o Kingpin.
Porque – sublinham a sinopse e a narrativa - ele subiu a pulso
no mundo do crime, não foi desde sempre o criminoso todo-poderosos que nós
conhecemos, não herdou esse lugar.
Por isso, mais do que uma história de super-heróis – nela
apenas encontramos um Homem-Aranha em início de ‘carreira’, ainda à procura da
sua pose e identidade - esta é uma narrativa de tom policial, que cruza bandos
de delinquentes, gangs juvenis e mafia de ascendência siciliana, com um homem
ambicioso, desejoso de subir – a pulso, porque sim e porque necessário – até se
tornar o senhor de Hell’s Kitchen e de todo o submundo de Nova Iorque.
Fá-lo com esse único propósito, indiferente a quem tem de
trucidar, desfazer ou atropelar – e tantas vezes literalmente - servindo-se dos
que o rodeiam – e mais ainda dos que rodeiam aqueles que quer atingir - para
obter os seus fins, traindo, comprando, ameaçando, chantageando, oferecendo,
enganando todos os piões – e também as peças mais importantes… - que têm o azar
de se cruzar com ele no imenso jogo de xadrez em que transformou a sua demanda.
Mini-série em 7 números – todos compilados neste volume -
que pressupunha a criação de uma série regular que nunca chegou a acontecer, Kingpin: Todos los hombres del rey,
ficou como (mais) uma história diferente e adulta – pela profusão de cenas de
cama e pela (relativa) violência que exibe, mas também, assumidamente, pelo seu
tom global - embora marginal no universo Marvel.
O argumento de Bruce Jones responde satisfatoriamente à
questão base que o originou mas graficamente, depois de termos ao dispor Fatale,
percebemos que Sean Phillips estava ainda à procura do seu registo e não conseguimos
deixar de imaginar como ficaria valorizada esta obra se ele a tivesse desenhado
mais recentemente.
Kingpin: Todos los hombres del rey
Colección 100 % Marvel
Inclui Kingpin #1 a #7
(USA, 2003)
Bruce Jones (argumento)
Sean Philips (desenho)
Klaus Janson (arte-final)
Lee Loughridge (cor)
Panini Comics
Espanha, Abril de 2016
170 x 260 mm, 176 p., cor, brochada com badanas
15,50 €
(Clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)
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