Esta obra é uma alegoria sobre a ditadura, a resistência e a
liberdade.
Uma alegoria dura, intensa e amoral que, no final da
leitura, deixa mais dúvidas do que certezas.
A história está ambientada na Inglaterra, no final do século
XX, após uma guerra nuclear que reduziu o país a uma ditadura rígida e implacável,
que tudo vê, ouve e controla, sem dúvida inspirada no 1984, de George Orwell.
V de Vingança
centra-se numa enigmática personagem – V - que usa sempre a máscara de
porcelana que nos nossos dias foi celebrizada pelos Anonymous. Tendo por exemplo Guy Fawkes, um revolucionário que fez
explodir o parlamento britânico em 1605, V organiza e lava a cabo uma série de
acções de destruição e sabotagem com o intuito de minar e derrubar o poder
instituído.
No decorrer de uma das suas acções recolhe a jovem Evey, a
quem vai tentar moldar à sua imagem e semelhança, estabelecendo uma relação
dúbia com a jovem e chegando a utilizar métodos que, no limite, pouco ou nada
ficam a dever aos postos em prática pelo poder estabelecido, o que pode levar o
leitor a questionar o revolucionário enquanto tal e, globalmente, o sentido das
acções que protagoniza, naquele que é um dos pontos mais fortes do argumento de
Alan Moore.
Viagem às profundezas do ser humano e ao âmago de uma
ditadura decadente, assente em pessoas que buscam exclusivamente o seu próprio
bem, V de Vingança, é uma obra
fundamental dos anos 1980 – foi criada ao longo dessa década - e tem uma trama
cerebral com a marca forte de Alan Moore, que recria um ambiente opressivo,
castrador e incómodo que é acentuado pelas cores de David Lloyd – estranhas para
os nossos dias – em que predominam os tons escuros e as muitas sombras, transformando
a sua leitura num exercício ambiguamente difícil mas compensador…
… e finalmente disponível em português, numa edição com
alguns extras, que se apresenta, nesta distribuição com o jornal, na inauguração
da nova
colecção Novela Gráfica, a um preço que pode ser considerado quase
simbólico.
Uma referência final para a
presença do desenhador em Lisboa, para o lançamento do livro, o que realça
a importância da obra em geral e em particular desta edição e também da
colecção.
Alan Moore (argumento)
David Lloyd (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 16 de Junho de 2016
296 páginas, cor, capa dura
9,90€
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
apreciar em toda a sua extensão)
Uma obra fundamental e um óptimo artigo, Pedro. Só uma correcção se me permite, V for Vendetta não foi criada nos anos 90 mas sim nos anos 80. Os primeiros capitulos foram publicados ente 82 e 85 e os restantes entre 88 e 89.
ResponderEliminarObrigado pela leitura atenta, Eskorpiao77!
EliminarFoi erro de digitação, já corrigido!
E, sim , é uma obra fundamental e uma das grandes edições deste ano em Portugal.
Boas leituras
Uma questão e um comentário:
ResponderEliminar- a tradução em PT, quem leu o que achou?
- apesar de ser em capa dura, e as dimensões idênticas às originais, penso que poderia ter sido uma boa oportunidade para fazer num formato maior. Não digo no formato Absolute, mas no formato deluxe que costuma ser um pouco maior que os TPBs e HCs normais.
Dinis,
EliminarGlobalmente acho que estamos perante uma tradução perfeitamente aceitável, embra, como sempre, se posa aponar um ou outro pormenor...
Quanto ao formato, ao preço a que a obra foi publicada - por estar incluída numa colecção - pedir mais parece-me exagerado...
Boas leituras!
A tradução está razoavelzita. Se procurares pela internet vais ver algumas críticas, que se justificam pela importância da obra, mas está legível. Algumas gralhas, algumas invenções, mas, no geral, dir-te-ia que está ao nível dos 10 euros que pagaste pelo livro.
ResponderEliminarDiria que na tradução se perdeu um dos mais simbólicos momentos do livro:
ResponderEliminarRemember, remember the 5th of November. Ficou tão estranho e irreconhecível.
E porque não "Vos Recordo, vos relembro, o 5 de Novembro"?
Optámos por não usar numerais. E se olhar bem para o balão, entenderá também os constrangimentos de espaço. "Na memória lembrem de Novembro o quinto dia, de pólvora e traição o conspirar, não sei por que razão, a pólvora da traição... se deveria olvidar!" parece-me uma tradução perfeitamente aceitável. Fica irreconhecível para quem lê inglês e conhece bem a rima, mas o leitor novo português não precisa de "reconhecer" uma rima inglesa, precisa de ter o sentido e, no caso, um ritmo e rimas que evoquem o mesmo tipo de linguagem. Podíamoster colocado "Lembrem-se, lembrem-se, do cinco de Novembro, de pólvora e traição o conspirar, não sei por que razão, a pólvora da traição... se deveria olvidar!", por exemplo, mas acho que atraiçoa o "soar" da rima e é menos elegante.
ResponderEliminarE interessantemente, em TODOS os casos em que alguém se queixa de uma opção (como o Fernando se queixou desta), temos pessoas a elogiar EXACTAMENTE a mesma opção.
Não é um bocadinho estranho dizer que "optaram por não usar numerais" para depois se queixarem de falta de espaço?
EliminarPor acaso, tendo em atenção que em inglês é ''Remember, remember the 5th of November'' a mim soa-me muito melhor "Lembrem-se, lembrem-se, do cinco de Novembro'' do que "Na memória lembrem de Novembro o quinto dia'' principalmente no que ao ritmo diz respeito. Mas traduzir poemas ou rimas populares deve ser mesmo do trabalho mais complicado que um tradutor pode ter e por isso respeito inteiramente a opção.
EliminarSem sombra de qualquer duvida.............uma excelente obra..............que dá inicio à colecção Novela Gráfica II com o "pé direito"..............a beleza do desenho supera quaisquer tipo de "problemática da tradução"............9,90€ muito bem investidos
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