16/03/2010

Hellboy – Verme conquistador

Mike Mignola (argumento e desenho)
G. Floy Studio (Portugal, 2008)
170 x 256 mm, 144 p., cor, brochado com badanas


Por vezes há coisas assim.
A estreia de “Hellboy 2: O Exército Dourado” nos cinemas aconteceu em simultâneo com a chegada de mais um volume aos quadradinhos às livrarias – conjugação em que o mercado português tem sido parco, o que não abona a seu favor – o que justifica uma breve análise das razões do seu sucesso – mais marcante nas páginas impressas do que nas telas. O que facilmente se percebe, porque apesar dos muitos avanços tecnológicos, continua a haver aspectos em que a concretização dos sonhos nascidos no papel continua a ser impossível, sendo estes mais capazes de sugestionarem a mente humana.
O que primeiro atrai em Hellboy é a arte de Mike Mignola, que quase se poderia classificar como uma “linha clara” escura, já que o seu desenho plano, estilizado, desprovido de pormenores desnecessários, extremamente legível, invulgar no universo dos comics norte-americanos, é servido por tons soturnos, sombrios, mesmo quando a acção decorre em montanhas verdejantes…
Isso contribui sobremaneira para o ambiente opressivo e tenso das narrativas, onde o inesperado espreita a cada página e onde cada construção – quase sempre velhos castelos decadentes - esconde perigos inimaginados.
Mas são as narrativas, bem construídas, envolventes, alternando suspense com cenas de acção, com as pontas soltas necessárias para serem retomadas mais tarde, fazendo a ligação entre as histórias e criando uma interessante cumplicidade com o leitor, que mais surpreendem, pela conjugação de aspectos que aparentemente nada têm em comum: investigações de tom detectivesco e demónios saídos do inferno – o primeiro dos quais o próprio Hellboy -, o paranormal par a par com a ciência, a retoma da temática nazi como personalização do mal absoluto como um dos lados do eterno confronto entre este e o bem…
“Verme Conquistador”, que tem introdução de Guillermo del Toro, reúne todos aqueles aspectos, cruzando-os com diversas referências literárias, cinematográficas e televisivas agradavelmente retros, numa história que traz Hellboy de novo à velha Europa, a mais um castelo em ruínas, para evitar a concretização de um plano iniciado pelos nazis 60 anos antes, quando enviaram o primeiro ser humano para o espaço.

(Versão revista e actualizada do texto publicado no Jornal de Notícias de 8 de Setembro de 2008)

3 comentários:

  1. Hellboy é bem legal e ótimo para apreciar a arte de Mignola e "relaxar" com uma história "clean" apesar de soturna. Abraço, Pedro!

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  2. Eu leio e esqueço,diverte e tal tal e qual comos os filmes,mas não acho genial. :P

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  3. Olá Audaci, olá Manuel Frederico!
    Obrigado aos dois pela visita e por se terem dado ao trabalho de partilhar a vossa opinião comigo.
    Concordo com ambos, pois apesar de Hellboy não ser (muito) mais que um bom divertimento, isso só por si já justifica a sua leitura.
    Abraço,
    Pedro

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