Marcatti (argumento e desenho)
Conrad Editora (Brasil, 2007)
160 x 226 mm, 224 p., pb, brochado com badanas
Lançada em 2007 no Brasil, "A Relíquia" (Conrad Editora) é um bom exemplo de uma adaptação bem conseguida de um romance para quadradinhos. O que à partida podia ser posto em causa, dado o tom escatológico da maior parte das obras anteriores de Marcatti, aliás Francisco A. Marcatti Jr., autor underground brasileiro, nascido em São Paulo, a 16 de Junho de 1962.
Só que Marcatti fez o que deve ser feito numa adaptação: interiorizou o espírito do romance de Eça e o seu peculiar sentido de humor, na sua crítica exacerbada à Igreja Católica, aos seus fiéis fanáticos e às suas crenças e credulidades, tarnspondo-os depois para a (sua) nova linguagem. A opção de manter "a estrutura da história original" ajudou à consistência do livro, bem como a utilização, nos textos, de "uma mistura de coloquialidade e erudição para facilitar a leitura sem perder o tom clássico da obra", sem que isso o tornasse demasiado denso ou pesado. Com eles, e apesar do seu traço caricatural, conseguiu recriou em "quadrinhos" o clima tenso e opressivo que Eça deu à sua narrativa, e transmitir o estado de prostração e impotência que Raposão, o boémio sobrinho da beata Titi, sente face à rédea curtíssima com que ela o mantém e, posteriormnte, após cair em desgraça.
Paradoxalmente, é o seu traço caricatural, caracterizado por personagens de olhos vivos e grandes narizes e corpos de inusitada mobilidade, o outro trunfo incontornável do livro, pois a sua vivacidade e dinamismo opoõem-seao tom mais pausado dos textos, ao mesmo tempo que o cmplementam e aprofundam o tom da obra.
E é com ele que Marcatti marca o ritmo da narrativa e expressa à saciedade os diversos estados de espírito (veja-se a transformação de Titi em apenas 3 vinhetas na página 172), mostrando sentir-se como peixe na água na representação das cenas mais picantes, divertidas caricaturas que surgem como oásis na vida de Raposão e como aliviadoras da tensão na leitura do livro, muito bem recebida pela crítica brasileira, que Marcatti faz questão de apresentar como "a sua Relíquia".
(Versão revista e aumentada do texto publicado no BDJornal #20, de Agosto/Setembro de 2007)
(Versão revista e aumentada do texto publicado no BDJornal #20, de Agosto/Setembro de 2007)
Parabéns pelo blog
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OF
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